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Portugal Anos 90

Uma viagem nostálgica pelo universo infanto-juvenil português dos anos 90, em todas as suas vertentes.

Portugal Anos 90

Uma viagem nostálgica pelo universo infanto-juvenil português dos anos 90, em todas as suas vertentes.

14.10.24

Qualquer jovem é, inevitavelmente, influenciado pela música que ouve – e nos anos 90, havia muito por onde escolher. Em segundas alternadas, exploramos aqui alguns dos muitos artistas e géneros que faziam sucesso entre as crianças daquela época.

De entre as muitas salas de espectáculos e bares da noite lisboeta, o Rock Rendez-Vous foi, a par do Johnny Guitar, uma das mais históricas e influentes, e continua até hoje a ser das que mais memórias e nostalgia despertam entre os portugueses de uma certa idade e com gosto pela música. E ainda que os muitos concertos ali realizados tenham uma palavra a dizer no tocante a esse estatuto, é inegável que grande parte do mesmo se devia ao histórico Concurso de Música Moderna, tão sinónimo com o espaço que muitas vezes se confunde com o mesmo, naquilo a que hoje se chama um 'efeito Mandela'.

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O livre-trânsito de uma das bandas a concurso, os Gritos Oleosos.

De facto, foi o referido concurso - realizado consecutivamente entre 1984 e 1989 – que deu a conhecer grupos como os Mler Ife Dada (vencedores da primeira edição), Ritual Tejo e Sitiados, todos os quais tiveram oportunidade de gravar para a Dansa do Som, a editora ligada ao concurso e ao próprio Rock Rendez-Vous em si. Assim, não é de estranhar que, cinco anos após a última edição anual, a competição tenha sido 'revivida' a título esporádico, e proporcionado uma despedida 'em alta' para um dos grandes eventos musicais do Portugal oitentista. Isto porque o sétimo e último Concurso de Música Moderna do Rock Rendez-Vous - levado a cabo há quase exactos trinta anos, a 16 de Outubro de 1994 - teve honras de transmissão na RTP, um facto que demonstra bem a importância cultural e mediatismo que o evento havia adquirido desde a sua criação, dez anos antes.

Curiosamente, esta última edição do concurso manteve a tendência, verificada na esmagadora maioria dos seus antecessores, de atribuir a vitória a bandas que acabariam por nunca singrar, pese embora o disco lançado como prémio pela classificação no concurso. Para a História, nesta 'reencarnação' do evento, ficavam Drowning Men (mais tarde Geração X, e depois Os Vultos), Jardim Letal e Neura, nenhum dos quais é hoje lembrado ou conhecido pela esmagadora maioria da população nacional, até mesmo a que era já viva à época. O único nome 'sonante' desta edição de 1994 seria, assim, o dos Ornatos Violeta, que levavam para casa o último Prémio de Originalidade alguma vez atribuído pelo Rock Rendez-Vous, saindo assim como nome destacado da última edição de um certame histórico do panorama musical português.

A extinção do Concurso de Música Moderna não significaria, no entanto, o fim do nome Rock Rendez-Vous, o qual seria 'repescado', já no Novo Milénio, para título de uma compilação de novos talentos lançada pela Worten, em homenagem às edições do mesmo tipo que a Dansa do Som fazia sair durante o seu período áureo. E apesar de o local em si, bem como o nome, terem entretanto voltado a mergulhar nas 'brumas' da memória, haverá sempre uma certa faixa etária de portugueses para quem aquelas três palavras meio 'estrangeiradas', e o concurso que lhes estava associado, serão, eternamente, sinónimas com o melhor que se fazia, e fez, no meio pop-rock e alternativo em Portugal.

13.10.24

Aos Domingos, o Portugal Anos 90 recorda alguns dos principais acontecimentos e personalidade do desporto da década.

Numa era em que o desporto-rei se encontra mercantilizado ao extremo, com valores salariais e de transferência cada vez mais absurdos, é já praticamente impossível encontrar jogadores que, ao longo da carreira, apenas representem menos de uma mão-cheia de emblemas, por vezes ficando-se mesmo pelo clube do coração. Há três décadas, no entanto, o panorama era algo mais 'inocente', e muitos futebolistas deixavam, ainda, que o coração falasse mais alto, fidelizando-se às poucas agremiações nas quais faziam carreira. Já aqui abordámos alguns desses nomes, como foi o caso de Serifo, Kasongo, Litos ou Martelinho, e este Domingo Desportivo adicionamos mais um atleta a essa ilustre lista, na pessoa de Bruno Alexandre Vaza Ferreira, também por vezes conhecido apenas pelo seu apelido mais 'invulgar', Bruno Vaza.

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Com a camisola do primeiro dos seus dois clubes...

Nascido em Torres Vedras e formado no histórico clube local, o médio chegaria à equipa principal do mesmo ainda em finais dos anos 80, ainda como opção periférica. Não tardaria muito, no entanto, até o jogador mostrar o seu valor e se tornar peça-chave da equipa para a primeira época completa da década de 90, no decurso da qual contribuiu activamente para a primeira promoção do Torreense à então I Divisão em vinte e sete anos – curiosamente, sucedendo ao próprio pai, que fizera parte da última equipa torreense a conseguir a subida ao escalão principal, em 1964/65.

Tão-pouco perderia o médio preponderância durante as épocas passadas pelos rubro-celestes na 'Primeira'; antes pelo contrário, nas quatro épocas seguintes, apenas uma (a primeira no escalão principal) viu Vaza fazer menos de trinta jogos pela equipa da sua terra, tendo mesmo assim participado ainda em cerca de metade dos jogos do Torreense durante a referida temporada, e deixado a sua marca com dois golos. Nas temporadas subsequentes, o médio voltaria a agarrar a titularidade, tendo os seus números sido exactamente iguais para ambas: trinta e um jogos e dois golos em cada uma.

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...e com a do segundo.

A constância e qualidade exibicional demonstrada pelo médio não passavam, aliás, despercebidas, e foi com pesar que os adeptos torreenses viram o 'filho da terra' dar o 'salto' para um clube de maiores dimensões, rumando a Norte para representar aquele que viria a ser o segundo de apenas dois clubes representados por Vaza durante toda a sua carreira, no caso o Sporting de Braga, onde chegou a partilhar plantel com nomes como Eduardo, Quim, Ricardo Rocha, Miklos Feher, Carlitos (todos mais tarde do Benfica) Tiago ou Luís Filipe (que se notabilizaram no Sporting) ou ainda a eterna 'estrela' bracarense, Karoglan. Ali, o médio deu de imediato continuidade ao bom trabalho realizado no Oeste, justificando a sua contratação e afirmando-se como elemento importante do plantel alvirrubro a longo prazo. De facto, foram nada menos do que sete as temporadas passadas pelo médio no Minho, quase todas como titular quase indiscutível, tendo a sua contribuição esmorecido apenas já nos últimos meses do século XX, em que uma lesão grave o levou a registar apenas sete aparições pela equipa principal e uma pela equipa B. Após uma primeira época do Novo Milénio passada 'a zeros', o médio percebeu que era altura de regressar a 'casa', e foi com prazer, orgulho e satisfação que os adeptos do Torreense viram regressar uma das suas 'estrelas' noventistas, ainda bem a tempo de deixar o seu contributo nas campanhas, agora bem mais modestas, do clube do Oeste.

Infelizmente, o médio que pendurou a camisola no balneário do Estádio no final do Verão de 2001 não era, já, o mesmo que o deixara rumo a Braga alguns anos antes. A lesão contraída durante a estadia no Minho condicionava fortemente o jogador, impedindo-o de deixar o seu contributo como fazia em tempos passados, e tornando Bruno sobretudo num daqueles 'jogadores de balneário' cuja função é transmitir aos colegas a mística do clube. E ainda que esta fosse uma posição honrosa, não era manifestamente a mais desejável para um atleta de apenas trinta e um anos, e que normalmente teria ainda um par de épocas pela frente antes de 'pendurar as botas'; assim, e ainda a ressentir-se da lesão, Vaza viria mesmo a terminar a carreira de forma prematura no final da época 2001/2002, tendo vestido por apenas duas vezes a camisola que, em tempos, tão honrosamente representara. Um final triste para uma carreira que se pautou pelo profissionalismo, dedicação e verdadeiro 'amor à camisola', numa época em que essa expressão era já tão 'abusada'.

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Bruno Vaza na actualidade, em programa do Canal 11.

Ao contrário da maioria dos colegas a quem dedicamos espaço nestas páginas, Bruno Vaza não enveredou por cargos técnicos, nem tão-pouco ficou ligado à estrutura de qualquer dos seus dois clubes, tendo-se afastado por completo do mundo do futebol; o seu legado, no entanto, não se ficou por aí, já que o filho, Rodrigo Vaza (que chegou a passar pelas camadas jovens do Sporting) iniciou a carreira sénior com a mesma camisola do pai – a do clube da terra natal – antes de rumar aos Estados Unidos para prosseguir a carreira na Major League Soccer. Quanto a Bruno, é hoje um cidadão perfeitamente comum, que certamente terá, algures no decurso do seu quinquagésimo-quarto aniversário, recordado os tempos em que era Grande dos Pequenos na antiga I Divisão Portuguesa. Parabéns, e que conte ainda muitos.

12.10.24

As saídas de fim-de-semana eram um dos aspetos mais excitantes da vida de uma criança nos anos 90, que via aparecerem com alguma regularidade novos e excitantes locais para visitar. Em Sábados alternados (e, ocasionalmente, consecutivos), o Portugal Anos 90 recorda alguns dos melhores e mais marcantes de entre esses locais e momentos.

Uma edição recente desta mesma rubrica foi dedicada à Quinta Pedagógica dos Olivais, espaço que comemorou há pouco tempo três décadas de existência, durante os quais trouxe às crianças citadinas um 'cheirinho' dos ares do campo, com a sua colecção de animais, plantas e árvores de fruto típicas do cultivo nacional (e não só). O que, nessa ocasião, ficou por referir é que a instalação em causa dividia, até recentemente, o seu espaço com uma outra, de tanto ou maior interesse para o público-alvo: a Bedeteca Nacional, o maior arquivo de banda desenhada (física e digital) do nosso País.

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Concebida pela primeira vez em 1990, por um grupo de jovens de Ramalde, na zona do Grande Porto, a Bedeteca viria, no entanto, a encontrar a sua 'casa' definitiva na capital, concretamente no Palácio do Contador-Mor, edifício ainda hoje da propriedade da família Van Zeller, e que se pensa ter sido a inspiração para a famosa 'Toca', a casa descrita por Eça de Queirós como o 'ninho de amor' de Carlos e Maria Eduarda na obra-prima 'Os Maias'. Haja ou não fundamento para esse rumor, a verdade é que, em finais do século XX, o edifício viria a servir uma função marcadamente diferente, albergando múltiplas salas dedicadas à preservação e divulgação da banda desenhada em todas as suas formas. De facto, a Bedeteca procurava ir além de uma simples biblioteca ou arquivo (não obstante serem estes os seus aspectos primários) e oferecer também recursos digitais e instalações para exposições temporárias, mostras do trabalho de autores independentes e até palestras ou convenções, afirmando-se assim como local de 'romaria' obrigatória para os aficionados de BD lisboetas, senão mesmo de todo o País.

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Infelizmente, após ter feito as delícias dos entusiastas dos 'quadradinhos' durante mais de três décadas, a Bedeteca encontra-se, actualmente, encerrada para remodelações, as quais se estendem já há algum tempo, levando alguns interessados a ponderar se a mesma se encontrará definitivamente extinta. Para já, no entanto, a posição oficial é a de que a Bedeteca voltará, sim, a funcionar, exactamente no mesmo espaço do que anteriormente, podendo o seu acervo ser, nos entrementes, visitado e consultado numa secção especialmente reservada para o efeito, na Biblioteca de Marvila, também em Lisboa. Esperemos, pois, que se trate verdadeiramente de uma situação temporária, e que os 'bedéfilos' portugueses possam, em breve, voltar a desfrutar daquele que tem, desde sempre, sido o 'seu' espaço de eleição para Saídas ao Sábado; até lá, fica a 'homenagem' a uma infra-estrutura mais importante do que possa, à primeira vista, parecer, e que vem, desde há três décadas, dando um contributo importante para o panorama cultural lisboeta, e do País como um todo.

11.10.24

Os anos 90 estiveram entre as melhores décadas no que toca à produção de filmes de interesse para crianças e jovens. Às sextas, recordamos aqui alguns dos mais marcantes.

De entre os muitos géneros cinematográficos a gozar de uma 'idade de ouro' nos últimos anos do século XX e inícios do seguinte, um dos mais notáveis foram as comédias adolescentes, quer na vertente mais 'javarda' (de que é epítome 'American Pie – A Primeira Vez', que em breve aqui terá o seu espaço) quer na mais leve e romântica, a exemplo de 'Ela É Demais'. Escusado será dizer que estes dois géneros dividiam o seu público-alvo praticamente a meio, com o primeiro - de enredos e piadas centrados nos inuendos sexuais e funções corporais - a apelar sobretudo à parcela masculina, e o segundo – com a pitada de drama decorrente das relações interpessoais dos personagens – a cativar sobretudo as jovens do sexo feminino. Tal dicotomia resultava, por sua vez, em inúmeros debates à porta do cinema, ou no sofá durante uma Sessão de Sexta, normalmente ganhos pelas raparigas, que assim sujeitavam os namorados ou familiares masculinos a duas horas de Freddie Prinze Jr ou outro galã semelhante.

De quando em vez, no entanto, surgia um filme que - por balancear as duas vertentes ou simplesmente 'suavizar' o romance – acabava por encontrar consenso entre os dois sexos. Destes, o melhor exemplo talvez seja uma película que acaba de celebrar, há cerca de um mês, um quarto de século sobre a sua estreia em Portugal, e que continua a ser dos títulos mais respeitados dentro do género da comédia romântica para adolescentes; nada melhor, pois, do que elencar as Coisas Que Odiamos (ou antes, Amamos) sobre o mesmo.

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Chegado às salas de cinema portuguesas a 3 de Setembro de 1999, 'Dez Coisas Que Odeio Em Ti' insere-se na breve e bizarra fornada de adaptações de peças de Shakespeare a um formato contemporâneo e juvenil, que também deu ao Mundo filmes como 'Esquece...E Siga' (baseado em 'Sonho de Uma Noite de Verão') ou a adaptação 'mafiosa' de 'Romeu + Julieta' por Baz Luhrmann, esta em registo mais dramático. No caso de 'Dez Coisas...', a peça-base é 'A Fera Amansada', da qual o filme mantém o enredo-base, centrado num rapaz que deve arranjar um pretendente para a irmã da jovem em que está interessado, sob pena de não poder estabelecer uma relação romântica com a mesma. Aqui, esse papel cabe a Joseph Gordon-Levitt - hoje um actor conceituado mas, à época, ainda conhecido sobretudo como o Tommy de 'Terceiro Calhau a Contar do Sol' – com a então musa das 'rom-coms' Julia Stiles no papel da irmã 'megera' e um jovem bem-parecido e talentoso de nome Heath Ledger como o 'escolhido' para a procurar seduzir. Juntamente com Gabrielle Union (no papel da melhor amiga de Bianca, a jovem pretendida pelo protagonista) os três ajudam a elevar o filme acima da comum das comédias românticas, com excelentes prestações que mantêm o espectador cativo até ao inevitável desfecho final ao som dos Letters to Cleo (que contribuem com várias das suas músicas para a banda sonora do filme).

Também a favor de 'Dez Coisas...' está o seu guião, que mistura os habituais momentos típicos de qualquer comédia romântica adolescente com um sentido de humor algo mais 'politicamente incorrecto', bem ilustrado na cena em que Heath Ledger não só faz um 'figurão' como quase causa um incidente na sua escola com a escolha infeliz de uma letra de Aerosmith como 'canção de amor'. A própria Bianca, por quem o Cameron de Gordon-Levitt nutre a paixão que precipita o restante argumento, é retratada como algo superficial e falha em inteligência, por oposição à irmã, mais sarcástica, ponderada, e definitivamente 'não como as restantes raparigas'.

Estes pequenos e inesperados toques ajudam a alargar o apelo do filme, transformando-o numa das poucas 'rom-coms' que muitos rapazes não só não se importavam de ver, como viam com activo prazer, como era o caso com o autor deste 'blog'. E apesar de o filme ter algumas vertentes 'problemáticas' nos dias que correm, o mesmo continua, ainda assim, a constituir uma excelente Sessão de Sexta 'a dois' (ou mesmo a 'solo'), bem como uma óptima maneira de 'apresentar' Shakespeare aos jovens de forma 'encoberta' e num formato que lhes seja apelativo. Razões mais que suficientes para assinalarmos, ainda que tardiamente, o quarto de século desta obra-prima da comédia romântica, em que nem sequer uma coisa conseguimos encontrar para odiar, quanto mais dez...

10.10.24

Todas as crianças gostam de comer (desde que não seja peixe nem vegetais), e os anos 90 foram uma das melhores épocas para se crescer no que toca a comidas apelativas para crianças e jovens. Em quintas-feiras alternadas, recordamos aqui alguns dos mais memoráveis ‘snacks’ daquela época.

Já aqui anteriormente falámos de como os anos 90 foram a década por excelência para a experimentação no ramo das guloseimas. Sem estarem ainda manietadas pelos regulamentos e restrições actuais, as fabricantes de chupa-chupas, gomas, rebuçados, pastilhas e afins tinham 'carta branca' para criar conceitos tão mirabolantes quanto apelativos para o público-alvo, de chupa-chupas que serviam como uma espécie de flauta ou apito ou que se podiam guardar para comer em 'tranches' a rebuçados que pintavam a língua de azul, 'drops' que se guardavam e retiravam da cabeça de um personagem da cultura popular infantil ou pastilhas que 'explodiam' na boca. Em meio a toda esta chamativa e colorida inovação, no entanto, um produto bastante mais modesto e discreto conquistava o coração dos jovens portugueses com o seu conceito simples, mas verdadeiramente eficaz.

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Não, não são alucinogéneos encapotados...apenas guloseimas para crianças.

Falamos dos vulgarmente chamados 'chupa-chupas azedos', que consistiam, precisamente, do que esse nome poderia fazer adivinhar – nomeadamente, um vulgar chupa-chupa de fruta sobre o qual era polvilhado um pó de gosto marcadamente acre, o qual se misturava com a doçura da base para criar uma experiência gustativa única e demarcada, que qualquer pessoa que tenha alguma vez provado um destes doces certamente recordará de imediato. Mais – além de bem conseguida, a combinação em causa afirmava-se também como algo 'viciante', levando a que os 'chupas azedos' se tornassem parte integrante da rotina quotidiana de muitas crianças e jovens em finais dos anos 90 e inícios do Novo Milénio – entre os quais se conta o autor deste 'blog', que, nos primeiros anos do século XXI, encetava 'romarias' diárias à tabacaria ao lado da escola secundária em busca da referida guloseima.

A boa notícia é que, ao contrário de muitos dos produtos de que falamos nesta rubrica, continua a ser possível às crianças e jovens actuais viver em 'primeira pessoa' esta experiência, já que os 'chupas azedos' continuam até hoje a ser comercializados, sendo apenas preciso saber onde procurar. Resta saber se a combinação de sabores única e própria destas guloseimas fará tanto sucesso junto das gerações 'Z' e 'Alfa' quanto conseguiu no tempo das suas antecessoras – embora, ao contrário da maioria das outras circunstâncias que vimos abordando nesta e noutras rubricas, é de crer que tal seja o caso, já que a junção doce-azedo é suficientemente universal e intemporal para continuar a agradar a papilas gustativas de tenra idade...

09.10.24

A banda desenhada fez, desde sempre, parte da vida das crianças e jovens portugueses. Às quartas, o Portugal Anos 90 recorda alguns dos títulos e séries mais marcantes lançados em território nacional.

Quem era fluente em Inglês nos anos de viragem do Milénio talvez se lembre de ver, nas poucas tabacarias e bancas que vendiam banda desenhada importada, os 'comics' americanos da mascote da SEGA, o porco-espinho azul Sonic, e do seu 'melhor inimigo', Knuckles, que criavam toda uma nova mitologia não só para ambos os personagens, mas para todo o mundo de origem dos mesmos, o planeta Mobius. O que muitos dos que folheavam e adquiriam os volumes da Archie Comics não saberiam, no entanto, era que essa não era a única adaptação das aventuras do personagem a banda-desenhada, nem tão-pouco a primeira; de facto, alguns anos antes de os 'comics' da Archie chegarem a Portugal, já a Porto Editora editara um par de álbuns de capa dura com histórias alusivas ao porco-espinho e ao seu companheiro, o raposinho Tails, retiradas de uma revista de BD inglesa apadrinhada pela própria SEGA.   

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'Sonic The Hedgehog Vence os Badniks' e 'Sonic The Hedgehog - Ataque em Tornado' (este último derivado de uma tradução incorrecta de 'spin attack', que faz parecer que Sonic adquiriu a habilidade de marca do Diabo da Tasmânia, personagem da franquia Looney Tunes) chegavam às livrarias portuguesas em 1994, trazendo no seu interior uma selecção de histórias de 'Sonic: The Comic', publicação lançada no ano anterior pela inglesa Fleetway Editions, e que marcou a primeira tentativa de trazer Sonic e outros personagens da SEGA para os painéis de uma página de BD. Os dois volumes da Porto eram uma reprodução exacta, apenas traduzida, de álbuns semelhante lançados no Reino Unido, cada um constituído por quatro histórias da autoria de Nigel Kitching, retiradas de oito dos nove primeiros volumes da referida revista, ficando apenas em falta o número 7, por razões não especificadas em qualquer das fontes consultadas. Qualquer dos dois livros constituía, pois, uma excelente introdução 'condensada' ao universo do porco-espinho azul, além de aprofundar a história dos jogos lançados até então, agradando assim tanto a leitores 'novatos' como aos fãs da franquia.

No fundo, e à distância de quase exactos trinta anos, 'Sonic The Hedgehog Vence os Badniks' e 'Sonic The Hedgehog - Ataque em Tornado' (bem como a revista de onde foram retirados os seus conteúdos) pode ser visto como uma espécie de versão em BD do primeiro desenho animado de Sonic, 'Adventures of Sonic the Hedgehog', oferecendo relativamente à publicação da Archie o mesmo contraste que aquela série estabelecia com as 'sucessoras' 'Sonic The Hedgehog' e 'Sonic Underground', de tom mais sério e menos abertamente cómico: produtos diferentes, mas ambos mais do que válidos, e capazes de encontrar o 'seu' público, sedento de mais conteúdos relativos a um dos personagens de videojogos mais 'em alta' não só à época, como historicamente. Curiosamente, no entanto, os álbuns da Porto Editora tiveram o fim oposto, encontrando-se hoje relativamente Esquecidos Pela Net e retendo pouca nostalgia junto dos 'millennials' lusitanos, talvez por surgirem em formato de álbum (com o proibitivo preço de mil quinhentos e cinquenta escudos, mais do que uma mesada para o jovem médio da época) e não gozarem da mesma distribuição das revistas da Marvel e DC, Turma da Mônica ou Disney. Ainda assim, quem, à época, chegou a ter algum destes álbuns (ou ambos) certamente os terá 'devorado', logo antes (ou depois) de ligar a Mega Drive e tentar mais uma vez passar 'aquele' nível complicado de 'Sonic 2' ou 'Sonic & Knuckles'...

08.10.24

NOTA: Por razões de relevância temporal, esta Terça será de TV, e a próxima Tecnológica.

Porque nem só de séries se fazia o quotidiano televisivo das crianças portuguesas nos anos 90, em terças alternadas, este blog dá destaque a alguns dos outros programas que fizeram história durante aquela década.

A chegada a Portugal da TV Cabo, na ponta final da década de 90, veio terminar definitivamente com a hegemonia dos canais abertos, completando um processo de transição e expansão iniciado aquando da criação dos dois canais privados, SIC e TVI, alguns anos antes. Pela primeira vez, o panorama televisivo português contava com uma amplitude e liberdade anteriormente inimagináveis, as quais abriam possibilidades nunca antes pensadas, nomeadamente no tocante à criação de 'alternativas' menos generalistas aos quatro canais originais. Escusado será dizer que este paradigma não tardou a ser explorado, tendo os primeiros anos do serviço assistido ao aparecimento de toda uma gama de novos canais 'feitos em Portugal', muitos deles tematizadas. E se algumas destas novas adições ditariam o 'mote' para o próximo quarto de século de emissões por cabo, outras tantas ficariam 'pelo caminho', destinadas a permanecer confinadas à memória dos primeiros adoptantes da TV Cabo. Entre estes, contava-se um canal sobre cujas primeiras emissões se acabam de celebrar, há coisa de três semanas,vinte e cinco anos, e que demonstrava as supramencionadas possibilidades do novo sistema televisivo nacional.

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Falamos do Canal de Notícias de Lisboa, vulgarmente abreviado para CNL, que surgia pela primeira vez nos ecrãs portugueses a 15 de Setembro de 1999, pela mão da SIC e da Portugal Telecom, que assim adquiria o seu segundo canal, depois da Sport TV. Por comparação com os canais generalistas abertos, o CNL apresentava um foco mais regional, explícito no próprio nome, e uma marcada e assumida aposta em jornalistas e 'pivots' mais jovens, que fazia com que os seus programas fossem mais bem aceites por espectadores de faixas etárias mais baixas, os quais se sentiam talvez mais 'representados' do que anteriormente. Esta opção pela juventude estendia-se, aliás, também aos programas de entrevista e debate, tendo o CNL entrado para a História da televisão portuguesa como o canal que albergou o formato original de um dos mais icónicos programas entre os portugueses da geração 'millennial', o famoso Curto Circuito. Por entre os diversos blocos informativos, havia ainda lugar a algumas 'bizarrias' difíceis de imaginar na grelha de outros canais, como o programa que fechava cada emissão, 'Morfina'.

Uma das consequências da inovação, no entanto, é o potencial para o insucesso – factor que, infelizmente, viria a afectar irremediavelmente o CNL, o qual, no seu formato original, não chegaria a completar um ano e meio de vida, sofrendo uma reestruturação menos de dezasseis meses após ir ao ar, a 8 de Janeiro de 2001. Desengane-se, no entanto, quem pensar que o canal se extinguiu; antes pelo contrário, o mesmo continua a marcar presença diária em muitos lares portugueses, embora agora sob um novo nome – SIC Notícias. Não deixa de ser curioso perceber, no entanto, que um dos maiores canais especificamente noticiosos da televisão portuguesa talvez não tivesse sido possível sem aquela 'aventura' de um ano e três meses, que acabou por 'desbravar' caminho a tanto do que se seguiu ao nível da informação por cabo...

 

 

07.10.24

Em Segundas alternadas, o Anos 90 recorda algumas das séries mais marcantes para os miúdos daquela década, sejam animadas ou de acção real.

Na passada edição desta rubrica, falámos de 'Zás Trás', uma das muitas produções portuguesas da década de 90 a procurar emular o sucesso da icónica 'Rua Sésamo' com recurso a uma fórmula muito semelhante, centrada no 'edutenimento' veiculado através de segmentos que combinavam fantoches e marionetas com acção real. No entanto, de todas as referidas séries (e foram várias) apenas uma logrou aproximar-se da popularidade e notabilidade da original, ainda que ficando mesmo assim a uma certa distância: o 'Jardim da Celeste'.

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Surgida pela primeira vez nos ecrãs portugueses algures em 1997, no bloco infantil da RTP1, a série produzida, tal como a antecessora, pela RTP centrava-se na titular Celeste, interpretada por Ana Brito e Cunha, uma educadora que viajava por todo o País numa carrinha mágica (embora não a da série homónima) acompanhada pelo seu cão, Sócrates, e interagia tanto com os fantoches seus 'alunos' como com crianças reais, exactamente como sucedia com as personagens humanas de 'Rua Sésamo'. A demografia-alvo era, também, claramente a mesma – crianças em idade pré-escolar – embora esta série não tivesse o 'apelo universal' da antecessora, sendo pouco provável que tenha conquistado muitos fãs fora desse espectro etário. Por comparação com a antecessora, 'Jardim da Celeste' tão pouco deu origem ao mesmo volume de 'merchandising' e produtos relacionados ou complementares (não chegaria, por exemplo, a haver uma revista alusiva a esta série) embora tenha chegado a ser editada em vídeo ainda durante a sua transmissão original.

Ainda assim, para quem foi criança no momento certo para dela desfrutar, tratou-se de uma série de qualidade e que terá, sem dúvida, deixado tão boas memórias quanto 'Rua Sésamo' criara aos (ligeiramente) mais velhos, enquanto a sua frequente repetição nos diversos canais da RTP a terá, sem dúvida, ajudado a encontrar novos fãs desde então. Razões mais que suficientes para lhe dedicarmos um espaço próprio neste nosso 'blog' dedicado a tudo o que de melhor teve a década de 90.

06.10.24

Os Sábados marcam o início do fim-de-semana, altura que muitas crianças aproveitam para sair e brincar na rua ou no parque. Nos anos 90, esta situação não era diferente, com o atrativo adicional de, naquela época, a miudagem disfrutar de muitos e bons complementos a estas brincadeiras. Em Sábados alternados, este blog vai recordar os mais memoráveis de entre os brinquedos, acessórios e jogos de exterior disponíveis naquela década.

Ser criança é gostar de se divertir, e por isso, em Domingos alternados, o Anos 90 relembra algumas das diversões que não cabem em qualquer outra rubrica deste blog.

Já aqui anteriormente falámos dos jogos 'para adultos' recriados à escala dos 'mais pequenos', com o bilhar/snooker e os matraquilhos à cabeça, mas passando também pela petanca. No entanto, consta dessa lista outro tipo de jogo, até agora nunca por nós mencionado, e que, ao contrário dos outros, era (e continua a ser) capaz de proporcionar tanto um Sábado aos Saltos como um Domingo Divertido, dependendo do contexto em que é utilizado; falamos dos conjuntos de bólingue para crianças, muito populares nos anos 90 e que continuam a ser possíveis de adquirir, num formato muito semelhante (senão mesmo idêntico) até aos dias que correm.

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Feitos de plástico ultra-leve (por oposição à madeira dos 'artigos genuínos') para que possam ser facilmente derrubados com recurso mínimo à força, estes conjuntos permitem, em tudo o resto, recriar o jogo autêntico - embora com menor número de pinos – continuando o objectivo a passar por derrubar o maior número possível dos referidos pinos com apenas um lançamento da icónica bola perfurada, a qual, tal como os próprios alvos, é leve e fácil de manusear por mãos pequeninas. Quem tivesse familiaridade com o sistema de pontuações do bólingue podia mesmo ir 'marcando' no seu cartão os diferentes lançamentos, para mais tarde os comparar com os dos irmãos ou vizinhos. Não era, no entanto, necessário contar com jogadores adicionais para desfrutar destes conjuntos, nem tão-pouco esperar por dias mais amenos para organizar partidas; a natureza destes equipamentos (leves e de dimensões muito menores que os originais) permitiam que fossem utilizados tanto no exterior como no interior, tornando-os numa distracção ideal tanto para um Sábado de sol como para um Domingo mais chuvoso.

Tal como referimos, estes conjuntos de pinos e bola de bólingue em plástico continuam, até hoje, a ser comercializados em lojas chinesas, de brinquedos, e mesmo em grandes superfícies, embora a sua popularidade tenha, naturalmente, decrescido com o acréscimo de opções digitais ao dispor das gerações Z e Alfa. Ainda assim, o apelo do faz-de-conta e do 'brincar aos adultos' continua a ser muito forte, mesmo entre as demografias digitais, pelo que não será descabido pensar que, algures em Portugal, haja ainda crianças que passem parte do seu fim-de-semana a organizar torneios de bólingue no chão do quarto, com o mesmo tipo de equipamentos que, em tempos, divertiu do mesmo modo os seus pais...

05.10.24

NOTA: Este 'post' é respeitante a Sexta-feira, 4 de Outubro de 2024.

Um dos aspetos mais marcantes dos anos 90 foi o seu inconfundível sentido estético e de moda. Em sextas alternadas, o Anos 90 recorda algumas das marcas e modas mais memoráveis entre os jovens da ‘nossa’ década.

Uma das muitas marcas populares e relevantes nos anos finais do século XX mas 'esquecidas' com o advento do Novo Milénio foi a Kappa, marca alemã de equipamentos e vestuário que em tempos marcara presença frequente nas prateleiras de lojas de desporto e secções de desporto de hipermercados ou lojas especializadas. No entanto, ao contrário de algumas outras que temos vindo a abordar nestas páginas, a mesma nunca chegou a desaparecer totalmente, tendo simplesmente perdido preponderância no seio da sociedade 'mainstream', portuguesa e não só. Prova disso é o facto de, no Verão de 2024, a Kappa se ter aliado à mais famosa cadeia de 'fast fashion' da actualidade – a incontornável Primark – para uma colaboração que poderá ajudar a outrora popular marca a recuperar o 'fôlego', e penetrar uma vez mais na consciência popular ocidental.

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No entanto, nem tudo deverá ser assim tão simples, já que a etiqueta alemã conta, em certos países, com um estigma semelhante ao da Burberrys, sendo frequentemente associada a estratos sociais mais baixos e indesejáveis – tal como, aliás, sucede também com o próprio Primark. Resta, pois, saber se esta será uma colaboração mutuamente benéfica ou se, pelo contrário, a mesma apenas interessará à demografia acima delineada, em nada alterando a reputação de qualquer das partes junto do público em geral. Entretanto, quem estiver interessado em reviver uma das marcas da sua infância e juventude poderá, desde há cerca de seis semanas, adquirir toda uma gama de itens com o logotipo da mesma em qualquer loja Primark, ou mediante compra 'online' no 'site' da mesma. Fica a 'dica' para os mais saudosistas...

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