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Portugal Anos 90

Uma viagem nostálgica pelo universo infanto-juvenil português dos anos 90, em todas as suas vertentes.

Portugal Anos 90

Uma viagem nostálgica pelo universo infanto-juvenil português dos anos 90, em todas as suas vertentes.

20.09.24

NOTA: Este 'post' é respeitante a Quinta-feira, 19 de Setembro de 2024.

Todas as crianças gostam de comer (desde que não seja peixe nem vegetais), e os anos 90 foram uma das melhores épocas para se crescer no que toca a comidas apelativas para crianças e jovens. Em quintas-feiras alternadas, recordamos aqui alguns dos mais memoráveis ‘snacks’ daquela época.

De todas as indústrias a sofrerem desenvolvimentos consideráveis e significativos desde os anos 90, uma das mais esquecidas é a alimentar. Há três décadas, a maioria das regras e restrições hoje impostas aos fabricantes e comerciantes de produtos alimentares eram, quer inexistentes, quer bastante menos rígidas, permitindo a mercados como o das guloseimas introduzir 'experiências' que talvez já não tivessem sido possíveis em janelas temporais posteriores. Um dos exemplos mais flagrante deste género de produto - e que surpreendentemente subsiste até à actualidade – é o dos rebuçados e chupa-chupas que 'pintam' a língua ao serem comidos, através do uso de um corante especial, dos quais os representantes mais famosos talvez sejam os icónicos Finibons.

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Essencialmente uma mistura entre as pastilhas Bubbaloo, os chupa-chupas azedos e os referidos 'pinta-línguas', os Finibons – assim chamados por serem bonbons comercializados pela popular marca espanhola Fini – consistiam, simplesmente, de rebuçados duros que, uma vez trincados, revelavam um interior líquido e ácido, o qual, por sua vez, deixava um 'rasto' colorido na língua de quem comia até mesmo um só destes rebuçados. Uma junção de factores que, evidentemente, não podia deixar de agradar à demografia a que estes doces apontavam, sempre pronta a 'apadrinhar' produtos declaradamente pouco saudáveis, mas em que o simples acto de comer já constituía toda uma experiência.

Não é, pois, de estranhar que os Finibons tenham sido, nos anos da viragem de Milénio, tão populares como haviam sido os Push Pop ou Melody Pops alguns anos antes, e deixado memórias nostálgicas à grande maioria da geração 'millennial' portuguesa. Para esses, boas notícias – tal como acima referido, continua a ser possível adquirir Finibons em diversos locais e por diversos meios, pelo que um 'trintão' ou 'quarentão' que queira reviver a infância ou adolescência, ou mesmo 'apresentar' aos filhos a guloseima favorita de quando tinha a mesma idade, poderá fazê-lo com relativa facilidade - e, quiçá, ajudar a reviver o estatuto icónico destes rebuçados entre a juventude portuguesa..

19.09.24

NOTA: Este post é respeitante a Quarta-feira, 18 de Setembro de 2024.

A banda desenhada fez, desde sempre, parte da vida das crianças e jovens portugueses. Às quartas, o Portugal Anos 90 recorda alguns dos títulos e séries mais marcantes lançados em território nacional.

Já aqui anteriormente dedicámos algum espaço à carreira e obra de Luís Louro, um dos principais nomes da BD nacional contemporânea; e visto que uma das suas obras mais conhecidas completa este ano três décadas sobre o seu lançamento (além de ter temática e nome semelhantes à do filme abordado na nossa última Sessão de Sexta) nada melhor do que gastar agora algumas linhas a falar da mesma.

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Lançado algures em 1994 (a data de 1 de Janeiro veiculada pelo Goodreads não é, necessariamente, fidedigna), 'O Corvo' quase parece uma paródia da BD americana do mesmo nome que viria a inspirar uma série de filmes de acção com clima gótico. Isto porque, em comum com os heróis torturados mas 'durões' d''O Corvo' americano, o protagonista de Luís Louro – carteiro de profissão, introvertido e meio 'xoninhas' – só tem mesmo o nome de código e o estatuto de vigilante mascarado, no caso das ruas de Lisboa. Em tudo o restante, o Corvo português falha em toda a linha, muitas vezes causando problemas e situações mais graves do que aquelas que tentava, à partida, resolver, nas quais se vê, ele próprio, frequentemente envolvido. Uma abordagem puramente cómica, portanto, sem quaisquer pretensões a tornar Vicente num herói 'sério', ficando o mesmo mais próximo do Pato da Capa Preta do que do 'outro' Corvo ou de Batman, inspiração inevitável para qualquer história deste tipo.

É possível que quem não souber à partida que se trata de uma paródia se deixe 'enganar', no entanto, já que as ilustrações dos já sete tomos desta colecção (o último dos quais lançado já este ano) poderiam perfeitamente fazer parte de um 'comic' independente americano, ou de um álbum de BD franco-belga dos mais 'sérios', em nenhum momento dando a entender que tanto o herói como as suas aventuras têm teor cómico. Talvez por isso o produto final resulte tão bem, extraindo o habitual humor inerente a dicotomias deste tipo, e criando um super-herói 'à portuguesa' - com tudo o que isso acarreta – que, apesar da pouca sorte e ainda menor aptidão, se tem conseguido manter no activo há já três décadas, motivo mais que suficiente para que celebremos as suas origens nas páginas deste nosso blog nostálgico.

18.09.24

NOTA: Este 'post' é respeitante a Terça-feira, 17 de Setembro de 2024.

Porque nem só de séries se fazia o quotidiano televisivo das crianças portuguesas nos anos 90, em terças alternadas, este blog dá destaque a alguns dos outros programas que fizeram história durante aquela década.

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Já aqui anteriormente falámos do papel preponderante do humorista Herman José na televisão portuguesa de finais do século XX, tanto na sua vertente 'de origem' como na função por que foi mais conhecido durante a década de 90, a de apresentador de concursos vespertinos e, mais tarde, de 'talk shows'. De facto, a personalidade afável, bonacheirona e ligeiramente brejeira de Herman prestava-se maravilhosamente ao cargo de anfitrião deste tipo de programas, papel no qual várias gerações de espectadores nacionais o viram 'brilhar' , desde logo ao leme da mìtica adaptação portuguesa de 'Roda da Sorte'. Quando o referido programa atingiu a sua conclusão natural, no entanto, era necessário manter 'em alta' a 'estrelinha' de Herman, pelo que foi sem surpresas que os fãs do apresentador o viram regressar, alguns meses depois, com um novo formato, onde se fazia acompanhar dos seu 'cúmplices' - a 'voz' da 'Roda', Cândido Mota, e a icónica assistente, Ruth Rita.

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O 'trio maravilha' d''A Roda da Sorte' seguiria junto no novo formato.

Intitulado 'Com a Verdade M'Enganas', este novo concurso, estreado logo nos primeiros dias do ano de 1994, era, explicitamente, tematizado em torno de mentiras, equívocos e enganos, temas que inspiravam várias das provas a que os concorrentes se deviam submeter semanalmente, com destaque para aquela em que deveriam identificar a afirmação incorrecta sobre o parceiro, de entre as mencionadas pelo apresentador, e para aquelas em que deviam corrigir textos e letras de canções previamente lido, de forma correcta, por Cândido Mota. As restantes provas eram mais corriqueiras (ficando próximas do concurso que notabilizara Herman, com perguntas de cultura geral à mistura com leilões de letras) mas uma delas voltava a adicionar um toque de originalidade, consistindo basicamente de um 'jogo do sério', em que cada concorrente deveria fazer o outro rir. Tudo isto conduzia, claro está, ao 'puzzle' final, onde o desafio era decifrar uma palavra-chave, bem ao estilo da 'Roda'. A equipa vencedora levaria para casa uma soma em dinheiro que poderia ascender a 600 mil escudos, enquanto os perdedores não sairiam de 'mãos a abanar', tendo direito a uma 'bateria' de electrodomésticos - um prémio quase tão útil quanto o próprio dinheiro, e bastante mais prático!

Um formato, como se pode ver, bastante próximo do que celebrizara Herman enquanto animador de concursos, mas que, talvez por esse cariz pouco original, não almejou o mesmo sucesso, mantendo-se no ar durante um ano e meio, mas não suscitando hoje em dia o género de memórias associado ao seu antecessor. Ainda assim, no momento, 'Com a Verdade M'Enganas' foi uma maneira eficaz de manter Herman relevante e bem presente no quotidiano televisivo dos portugueses – algo que, como também já aqui documentámos, levaria mais tarde a certos desenvolvimentos importantes no panorama programático nacional, os quais não teriam sido possíveis sem este algo esquecido concurso, que merece assim um 'agradecimento' e pequena homenagem nas páginas deste nosso blog.

O último episódio do concurso, transmitido em Julho de 1995, exactos dezoito meses após a estreia do mesmo.

17.09.24

NOTA: Este 'post' é respeitante a Segunda-feira, 17 de Setembro de 2024.

Qualquer jovem é, inevitavelmente, influenciado pela música que ouve – e nos anos 90, havia muito por onde escolher. Em segundas alternadas, exploramos aqui alguns dos muitos artistas e géneros que faziam sucesso entre as crianças daquela época.

Já aqui anteriormente abordámos a forte influência brasileira na música portuguesa de cariz mais popular, vulgo música 'pimba', fosse através de simples influência rítmica (com bases adaptadas, ou mesmo directamente 'roubadas', a estilos como o forró e o axé) ou da presença de artistas naturais de além-mar entre o lote de nomes associados ao género, bastando neste último caso lembrar Roberto Leal, Iran Costa ou mesmo Netinho. A esta lista há, também, que juntar uma dupla de cantores cómicos que qualquer jovem português de finais dos anos 90 se lembra de ver figurar nos interlúdios musicais do 'Super Buereré', e que conseguiram fazer com que uma das suas músicas entrasse na 'rotação' musical dos recreios nacionais da época.

 

Falamos de Salsicha e Mário Jorge, duo surpreendentemente Esquecido Pela Net, sendo quase impossível encontrar informações pessoais ou biográficas sobre qualquer dos dois elementos. Resta, pois, analisar a discografia do par, que consiste de apenas dois discos, lançados com nada menos do que duas décadas (!) entre si, e dos quais o primeiro é, evidentemente, aquele que mais directamente concerne a este blog. Isto porque foi de 'Dá Dá Dá', lançado algures em 1997, que saiu o grande 'hit' da dupla nas escolas portuguesas, o qual, ao contrário do que muitos imaginavam na época, não é homónimo do disco, tendo o título oficial de 'Dá Coração'.

Tal como as restantes nove músicas do disco – que acaba por ser mais EP do que LP, com os seus escassos vinte e sete minutos de duração – trata-se de um tema de cariz abertamente 'azeiteiro', baseado no ritmo e melodia do clássico 'La Bamba', com vastas doses de humor à mistura (patentes sobretudo nas interpretações caricaturais dos dois vocalistas) e uma daquelas letras que nunca deveriam ter sido ouvidas, e ainda menos repetidas, por crianças em idade pré-adolescente - as quais, verdade seja dita, mal tinham noção do que estavam a cantar, à semelhança do que acontecera com as letras dos Mamonas Assassinas um par de anos antes.

Salsicha e Mário Jorge podiam, aliás, quase ser vistos como uns 'Mamonas Assassinas do 'pimba'', já que apresentavam igual pendor para indumentárias multi-coloridas e chamativas (mais parecidas com fatos de circo ou roupas de personagens animados do que com vestuário real) e para uma pose entre o brejeiro, o irreverente e o teatral, bem evidenciada pelas letras e interpretações. De distinto do grupo paulista, o duo tinha a imagem andrógina, bem explícita na peruca feminina envergada por um dos membros e na versão de 'O Vira', êxito dos Secos & Molhados, grupo liderado pelo maior artista andrógino da História da música brasileira, o incomparável Ney Matogrosso. Para o público infantil, no entanto, nada disto interessava, ficando a referida demografia perfeitamente satisfeita só com a oportunidade de cantar e dançar ao som de 'Dá Coração', fosse durante os 'bonecos' de Domingo de manhã, no contexto de uma festa ou evento, ou simplesmente no pátio da escola.

Tal como tantos outros artistas 'da moda' entre as crianças, no entanto, também Salsicha e Mário Jorge rapidamente caíram no esquecimento, substituídos pela próxima 'sensação de recreio' oriunda do movimento 'pimba' ou 'europop'. É, portanto, com surpresa que se regista o regresso do duo com um segundo disco, mais de vinte anos após o primeiro! 'O Melhor Amigo do Homem', de 2018, segue as passadas do seu antecessor, e aproxima ainda mais o duo do legado dos Mamonas, com títulos como 'Revolution Gay' e uma versão de 'Sabão Crá-Crá' logo a abrir. Ao contrário do primeiro, no entanto, este álbum passou despercebido em Portugal, onde o panorama musical estava já muito, muito distante do contexto vivido em meados dos anos 90, e não tinha espaço para uma 'importação' do género 'pimba-cómico' de que as crianças haviam gostado durante cerca de um ano, três décadas antes. Quem viveu aqueles momentos musicais do Super Buereré por volta de 1997 já estará, certamente, a trautear aquele que era um dos grandes 'hinos' infantis da época, e que constituirá para sempre o legado deste duo brasileiro em terras lusitanas.

15.09.24

Aos Domingos, o Portugal Anos 90 recorda alguns dos principais acontecimentos e personalidade do desporto da década.

No futebol, como em qualquer ramo profissional, existem figuras incontornáveis, de que qualquer adepto, de qualquer época da História, terá pelo menos ouvido falar. A grande maioria delas são, logicamente, jogadores; no entanto, existem também pelo Mundo fora muitos e variados exemplos de personalidades que, sem terem brilhado dentro de campo, se destacaram com louvor do 'outro lado' das quatro linhas, como técnicos ou treinadores. Uma dessas figuras – uma das maiores, ao nível de um Alex Ferguson – foi um simpático e invariavelmente educado sueco que, em meio a uma carreira nada menos que ilustre, acabou por 'tocar' também os adeptos portugueses com a sua cortesia e carisma. Falamos, claro, de Sven-Goran Eriksson, três vezes campeão nacional pelos encarnados do Benfica, cuja morte devida a cancro do pâncreas, há cerca de três semanas, deixou um vazio pronunciado nos meandros do desporto-rei. Este Domingo Desportivo não poderia, pois, deixar de constituir um epitáfio a um dos grandes nomes da História do futebol, através de uma retrospectiva da sua breve mas marcante passagem por Portugal.

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Um jovem Eriksson com duas outras lendas do Benfica, Toni e Eusébio.

Chegado ao Benfica já com louros de campeão sueco e vencedor da Taça da Suécia e Taça UEFA ao serviço do Gotemburgo. Em Portugal, os excelentes auspícios deixados por esse início de carreira técnica – após discreta carreira dentro das quatro linhas, nos anos 60 e 70 – vir-se-iam não só a confirmar como a ampliar, com Eriksson a levar o Benfica ao bi-campeonato nas suas duas épocas como técnico, em 1982-83 e 1983-84, tendo também assegurado a Taça de Portugal na primeira das duas, na qual atingiu ainda os quartos de final da então chamada Taça das Taças.

Era, pois, em glória que o treinador sueco saía para Itália, no defeso de Verão do ano de 1984, naquela que acabaria por ser a mais discreta fase da sua carreira, com passagens 'sem história' por Roma e Fiorentina a culminarem no regresso a Portugal, onde o seu antigo clube o acolheu de braços abertos, radiante por poder novamente contar com tão histórica figura no comando. E a verdade é que, nesta segunda passagem pelos campeonatos nacionais, Eriksson voltou a ser feliz, adicionando mais um título de campeão ao seu currículo, em 1990-91, além da Supertaça conquistada no ano anterior. Uma última época menos bem conseguida não manchava a reputação do treinador, que, no final da temporada 1991-92, rumava novamente a Itália, desta vez para uma experiência algo mais positiva, com conquistas várias ao serviço da Sampdoria e Lazio, com quem se sagraria campeão italiano nos primeiros meses do Novo Milénio. Daí, o percurso do treinador levá-lo-ia a Inglaterra, onde também chegou a ser ídolo - dando mesmo a cara e nome a um 'clone' de Championship Manager lançado para PC e PlayStation - e depois à China, país onde viria a encerrar a carreira em 2017, ao serviço do Shenzen.

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Com antigos colegas e jogadores durante uma homenagem no Estádio da Luz.

Apesar de nunca ter voltado a Portugal, no entanto, o sueco nunca deixou de ser calorosamente recordado pelos adeptos nacionais – sobretudo, mas não apenas, do Benfica – pelo seu conhecimento táctico, espírito de vitória, desportivismo e cordialidade, e por ser um 'gentleman' 'à moda antiga' – aspectos que vão já escasseando (e que fazem falta) não só no desporto-rei como na sociedade em geral. Que descanse em paz.

15.09.24

NOTA: Este post é respeitante a Sábado, 14 de Setembro de 2024.

As saídas de fim-de-semana eram um dos aspetos mais excitantes da vida de uma criança nos anos 90, que via aparecerem com alguma regularidade novos e excitantes locais para visitar. Em Sábados alternados (e, ocasionalmente, consecutivos), o Portugal Anos 90 recorda alguns dos melhores e mais marcantes de entre esses locais e momentos.

Apesar de normalmente constituirem mundos firmemente separados, ocasionalmente, as actividades levadas a cabo nas aulas de Educação Física extravasam os muros da escola para se tornarem formas verdadeiramente válidas de uma criança ou jovem ocupar os tempos livres. Já aqui, anteriormente, falámos de uma dessas excepções à regra – o futebol humano – e, para a Saída de Sábado desta semana, escolhemos centrar-nos sobre outra, a qual, apesar de mais divisiva do que o referido jogo, não deixava de fazer as delícias da parcela mais 'aventureira' de jovens lusitanos dos anos 90 e 2000.

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Uma 'aventura' que nem todos arriscavam, mesmo em paredes de tamanho reduzido

De facto, não era qualquer pessoa que 'encarava' o desafio de trepar uma parede de escalada, fosse esta de tamanho infantil ou à escala 'real' utilizada pelos adultos; pelo contrário, a maioria dos mais pequenos apenas subia a uma destas estruturas por obrigação, no contexto de uma aula, e procurando apenas atingir a altura mínima desejada pelo instrutor antes de rapidamente voltar a descer para 'terra firme'. Para quem tinha apetência por tal tipo de actividade, no entanto, a simples visão de uma destas paredes fazia brilhar os olhos e saltar um sorriso, sendo também este o tipo de jovem que seria visto na 'linha da frente' de uma qualquer demonstração pública interactiva de escalada, as quais ocorriam com considerável frequência durante a época em causa. Escusado será dizer que a ascensão completa de uma destas paredes era uma daquelas proezas que, em tempos mais simples, suscitaria a admiração e inveja dos pares, o que ainda oferecia mais motivação a espíritos mais competitivos para tentarem superar o desafio.

Apesar desta popularidade, e de constituirem visão relativamente comum no Portugal da viragem do Milénio, as paredes de escalada sofreram, curiosamente, um declínio acentuado de relevância desde esse período, passando a ser vistas cada vez menos frequentemente, até estarem 'confinadas' sómente a contextos de eventos como festivais de música e encontros. Praticamente a meio da terceira década do século XXI, estas outrora prolíferas estruturas não passam já de uma memória, uma das muitas que a geração 'millennial' procura, com maior ou menor sucesso, partilhar com os 'Z' e 'Alfas', muitos dos quais jamais terão visto tal coisa na 'vida real'. Para quem conviveu com o auge destas paredes, no entanto, as mesmas continuam vivas na memória como parte integrante da experiência de ser criança ou adolescente nesse tempo único e irrepetível que foi o Portugal dos anos 90 e 2000.

14.09.24

NOTA: Este 'post' é respeitante a Sexta-feira, 13 de Setembro de 2024.

NOTA: Por motivos de relevância, esta será novamente uma Sessão de Sexta. As Sextas com Style voltarão na próxima semana.

Os anos 90 estiveram entre as melhores décadas no que toca à produção de filmes de interesse para crianças e jovens. Às sextas, recordamos aqui alguns dos mais marcantes.

Um dos muitos elementos definidores da década de 80 no tocante ao cinema foram as séries de filmes de terror que, após um primeiro capítulo bem conseguido e muitas vezes inovador, entraram numa espiral descendente de infinitas sequelas, cada uma pior do que a outra, até darem um 'último suspiro' inglório, ignorados ou ridicularizados pelos mesmos fãs que tão entusiasticamente haviam acolhido o primeiro capítulo. Os exemplos deste paradigma são inúmeros, mas qualquer fã de terror da época imediatamente identificará três franquias que perfeitamente o exemplificam: 'Halloween', 'Pesadelo em Elm Street' e 'Sexta-Feira, 13'. Normalmente agrupadas numa só categoria, pelas suas semelhanças, todas as três séries possuem vilões do mais icónico que o género do terror 'slasher' ofereceu ao cinema, e todas seguiram o padrão descrito no início deste texto, vindo a ter fim já em meados dos anos 90, com filmes variavelmente péssimos, antes de serem 'revitalizadas' com 'reinícios', já no Novo Milénio. E porque esta Sexta-feira calhou, precisamente, num dia 13, nada melhor do que relembrar o único filme de Jason Voorhees produzido nos anos 90.

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Infelizmente, essa memória será, mais do que provavelmente, negativa, já que 'Jason Goes To Hell: The Final Friday' (que não parece ter sido lançado em Portugal, nem mesmo no habitual formato VHS) é universalmente considerado fraquíssimo, ainda pior do que as continuações de 'Halloween' e 'Pesadelo em Elm Street' e ao nível das últimas de 'Hellraiser' – ou seja, recomendado apenas a quem gosta da vertente mais 'noventista' dos filmes de série B de orçamento baixíssimo e feitos às 'três pancadas' para tentar fazer algum dinheiro com o nome a eles associado. Porque é isso, nem mais nem menos, que esta 'Sexta-feira Final' apresenta, com a absurda história sobre Jason Voorhees a possuir o corpo do médico legista que come o seu coração (!!!) a tirar desde logo de cena o icónico vilão (cujo corpo é destruído logo no início do filme) removendo assim o único ponto de interesse para os fãs da série! O que sobra é um 'slasher' vulgar, com enredo absurdo e realização técnica abaixo da média, que nem tão-pouco cumpre a promessa, feita pelo título, de mostrar Jason no Inferno a combater demónios, e que mais parece feito para o mercado do vídeo do que para exibição nas salas de cinema. De facto, sem a lucrativa e chamativa ligação à franquia 'Sexta-Feira 13', o filme de Adam Marcus certamente passaria despercebido – embora tal situação fosse, talvez, mais desejável do que a 'barragem' de críticas negativas (bem merecidas) de que o filme foi, e continua a ser, alvo.

Em suma, a nona (!) parte de 'Sexta-feira 13' constitui um final ainda mais inglório para Jason Voorhees do que os vividos por Freddy Krueger e Michael Myers nas suas franquias; felizmente, todos os três carismáticos assassinos veriam a sua credibilidade reinstaurada com uma série de bons filmes no século XXI – entre eles aquele em que Krueger e Voorhees se enfrentam directamente, num duelo que entusiasmou muitos fãs do género em inícios do século XXI. Quanto ao filme de 1993, o esquecimento é mesmo o destino que mais merece, e ao qual foi votado pelos fãs da franquia 'Sexta-feira 13', e do seu personagem principal.

14.09.24

NOTA: Este 'post' é respeitante a Quinta-feira, 12 de Setembro de 2024.

Os anos 90 viram surgir nas bancas muitas e boas revistas, não só dirigidas ao público jovem como também generalistas, mas de interesse para o mesmo. Nesta rubrica, recordamos alguns dos títulos mais marcantes dentro desse espectro.

Em marcado contraste com a 'morte lenta' de que padece hoje em dia, nos anos da viragem do século XX para o XXI, a imprensa portuguesa encontrava-se num período de expansão que via surgirem novas publicações a um ritmo relativamente frequente, enquanto as existentes cimentavam ainda mais os seus números de tiragem e vendas. Tal paradigma possibilitava, por sua vez, a exploração de novas 'avenidas' dentro do mercado, oferecendo margem para 'experiências' que, alguns anos antes, seriam consideradas por demais arriscadas; ese algumas destas tentativas acabavam mesmo por falhar a curto prazo, outras revelavam ter 'pernas para andar', e tornavam-se marcos do jornalismo português da época. De entre estas, uma das principais nascia há exactos vinte e três anos – em Setembro de 2001 – e tinha sobre o panorama nacional impacto suficiente para justificar uma 'escapadinha' aos primeiros anos do Novo Milénio, a fim de relembrar a sua origem.

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Falamos do jornal 'Destak', o primeiro periódico gratuito 'a sério' a surgir em Portugal (as tentativas anteriores ficavam algures entre a 'gazeta' de bairro e a secção de classificados de um qualquer jornal) criado por António Stilwell Zilhão, Francisco Pinto Barbosa e Gonçalo Sousa Uva, e distribuído gratuitamente em estações de Metro e comboio, centros comerciais e hospitais das duas grandes áreas metropolitanas do País (cada uma das quais tinha a sua própria edição, distinta da da 'concorrente') primeiro com frequência semanal e, uma vez estabelecido, com periodicidade diária. Uma 'aventura' nunca antes tentada em Portugal, mas que acabou por se revelar extremamente bem sucedida, tendo os milhares de passageiros diários dos referidos meios de transporte apreciado a ideia de ter algo com que se 'entreter' durante a viagem sem para isso ter de pagar ou trazer material de leitura de casa – até porque, à época, os telemóveis eram, ainda, demasiado rudimentares para potenciar a disputa de jogos em Java ou sequer a leitura de PDFs ou artigos na Internet. Aliada à qualidade mais do que aceitável dos conteúdos do jornal (de cariz ligeiro e pouco aprofundado, mas bem escritos e relevantes, e em tudo superiores aos veiculados por alguns jornais pagos da mesma época, como o '24 Horas') esta característica ajudou a fazer do 'Destak' um fiel companheiro dos utilizadores de transportes públicos ou serviços de saúde de Lisboa e Porto durante toda a década de 2000, e até meados da seguinte.

De facto, seria apenas em Setembro de 2016 – exactos quinze anos após a sua fundação, e no dealbar da irrevocável mudança de paradigma trazido pela imprensa digital – que o jornal se despediria dos 'viajantes' portugueses, numa altura em que o seu raio de acção se estendia já ao país irmão, o Brasil (onde era editado nas regiões de São Paulo, Rio de Janeiro e Recife) e em que disputava já espaço com um não menos bem-sucedido concorrente internacional, o 'Metro', oferecendo uma escolha invejável aos leitores nacionais. Ainda assim, sem o pioneiro trabalho do 'Destak', é possível que o 'Metro' jamais tivesse conquistado o seu espaço, ou sequer pensado em penetrar no mercado português, pelo que é mais que justo lembrar o seu homólogo nacional como pioneiro da imprensa gratuita no nosso País, e potenciador de todo um sub-sector que persistiria – e manteria informada uma parte significativa da população nacional - durante as duas décadas seguintes.

13.09.24

NOTA: Este 'post' é respeitante a Quarta-feira, 11 de Setembro de 2024.

NOTA: Por razões de relevância temporal, a Quarta aos Quadradinhos fica adiada para a próxima semana.

Em quartas-feiras alternadas, falamos sobre tudo aquilo que não cabe em nenhum outro dia ou categoria do blog.

A premissa por detrás da criação deste blog era simples: oferecer uma perspectiva nostálgica e leve sobre algumas das frivolidades que ocupavam a infância da geração 'millennial' portuguesa, sobretudo entre os anos de 1989 e 2000. No entanto, até o mais rígido dos conceitos encontra, forçosamente, situações em que é preciso 'contornar' um pouco as regras em nome de um tema ou efeméride tão importante e impactante que praticamente obriga a que lhe seja feita menção; e, para a juventude portuguesa de finais do século XX e inícios do seguinte, talvez a mais significativa dessas excepções tenha tido lugar a 11 de Setembro de 2001, o dia em que o Mundo parou para assistir a uma catástrofe que (espera-se) nunca mais será igualada.

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A primeira imagem que muitos associam ao 11 de Setembro.

Qualquer cidadão velho o suficiente para ter tido noção do ocorrido sabe exactamente como responder à famosa pergunta 'onde é que estavas no 11 de Setembro?' Em Portugal, era já o início da tarde quando o primeiro dos três aviões capturados por terroristas embatia com uma das torres gémeas do World Trade Center, pelo que não faltam histórias sobre estar a almoçar, a trabalhar, ou mesmo na praia, a gozar os últimos dias de férias antes do regresso às aulas, como era o caso com o autor deste 'blog'. Fosse qual fosse o contexto ou local, ninguém jamais esquecerá a famosa imagem da coluna de fumo a emergir das torres nova-iorquinas, símbolo da destruição da mentalidade capitalista que as mesmas representavam, por parte de uma facção terrorista do Médio Oriente. Mesmo antes de se saberem detalhes da impressionante tragédia (como o número de mortos) aquela primeira imagem deixava já a sensação de se estar a viver, em directo, uma mudança no quotidiano do Mundo – a qual se viria, nos anos seguintes, a acentuar através de uma série de aspectos irremediavelmente alterados, como o processo de verificação das bagagens nos aeroportos (a famosa 'segurança' que tanto incomoda os viajantes aéreos frequentes) e o aumento da politização entre artistas dos mais diversos campos, muitos dos quais condenavam o Presidente dos Estados Unidos da América, George W. Bush, por ter dado azo ao horrendo acto com os seus interesses económicos no Médio Oriente.

Não faltaram, também, teorias da conspiração, com os habituais argumentos de que o atentado havia sido orquestrado pelo próprio Governo americano, como pretexto para atacar o Iraque e ali explorar as reservas de petróleo, e de que o homem capturado como sendo Osama Bin Laden (suposto líder da Al Qaeda e ideólogo do golpe) não passava de um sósia inocente feito de 'bode expiatório' pelos ianques, encontrando-se o verdadeiro ainda a monte. Teorias nunca comprovadas, e que dificilmente ajudam a atenuar, contextualizar, e muito menos explicar um acto difícil de conceber por qualquer cidadão ocidental, e sobretudo pelos habitantes de um pacato 'recanto' à beira-mar na cauda da Europa, como é Portugal. Talvez por isso o 11 de Setembro continue a constituir uma marca tão profunda na memória e psique de uma geração que nunca havia visto nada semelhante, e que, espera-se, nunca mais torne a ver, fazendo da tragédia norte-americana um daqueles momentos capazes de mudar toda a percepção relativamente à vida e ao quotidiano de qualquer criança ou jovem. Que nunca esqueçamos, e que nunca mais tenhamos que voltar a passar pelo mesmo.

12.09.24

A década de 90 viu surgirem e popularizarem-se algumas das mais mirabolantes inovações tecnológicas da segunda metade do século XX, muitas das quais foram aplicadas a jogos e brinquedos. Às terças, o Portugal Anos 90 recorda algumas das mais memoráveis a aterrar em terras lusitanas.

Uma das grandes máximas de qualquer propriedade intelectual dirigida ao público infanto-juvenil das últimas cinco décadas é que haverá pelo menos um videojogo licenciado alusivo à mesma. De facto,desde o aparecimento e popularização dos sistemas electrónicos caseiros, em finais dos anos 70, poucos foram os produtos dirigidos a um público mais jovem a não marcar presença numa qualquer consola ou computador pessoal, tendo até as franquias mais insuspeitas – como 'Rua Sésamo', 'Teletubbies' ou 'Artur' – aderido a este paradigma. Infelizmente, a esmagadora maioria destes títulos pauta-se pela mediania, tendo mesmo dado origem a um 'meme' entre os fãs de videojogos, que postula que um título licenciado jamais poderá ter qualidade; e ainda que vários jogos ao longo dos anos tenham conseguido negar essa afirmação (bastando recordar os jogos da Disney publicados pela Virgin Interactive e Capcom durante os anos 90), muitos continuam a dar razão a quem torce o nariz a qualquer jogo 'oficial' de uma franquia. O título que abordamos neste 'post' faz parte deste último grupo, sendo até hoje lendário pela sua (falta de) qualidade, que lhe vale um lugar na lista dos piores jogos alguma vez lançados.

Falamos da adaptação interactiva de 'The Crow: City of Angels', primeira das três sequelas da franquia de acção gótica noventista 'O Corvo', editada pela Acclaim (de 'Mortal Kombat') para PC, Sega Saturn e Playstation nos primeiros meses de 1997, tendo a consola da SEGA acolhido o lançamento europeu em Fevereiro, e os restantes dois sistemas em Abril. E a verdade é que, com os seus argumentos centrados em histórias de vingança e ambientes escuros e atmosféricos, a série de filmes em causa prestava-se magnificamente a uma transição para um formato interactivo, o que leva a questionar o que se terá passado para o único jogo d''O Corvo' alguma vez lançado ser tão irremediavelmente fraco.

À primeira vista, 'The Crow: City of Angels', o videojogo, até não tem nada de particularmente errado: o título aposta num formato não só adequado ao material que adapta, mas também extremamente em voga à época de lançamento (concretamente, a mistura de acção e luta em ambientes 3D popularizada por títulos como 'Nightmare Creatures' ou o posterior 'Fighting Force') e procura recriar a ambientação que torna 'O Corvo' distinto de qualquer outra franquia de acção. Infelizmente, os problemas rapidamente se revelam uma vez iniciado o jogo, ficando o mesmo mais próximo de um protótipo ou versão 'beta' do que de um jogo finalizado e lançado comercialmente a 'preço completo'. De facto, os aspectos técnicos são tão pobres que a Revista Playstation original inglesa atribuiu ao jogo uma inaudita nota de 1% (UM POR CENTO) na sua análise oficial – a qual, sem dúvida, terá mais tarde sido 'copiada' pela versão portuguesa, quiçá com o mesmo texto, apenas traduzido. E se esta recepção extremamente pobre fez com que o jogo caísse no esquecimento no imediato, a falta de qualidade do mesmo acabou por se revelar uma 'faca de dois gumes' no dealbar da era digital, quando vários analistas de videojogos no YouTube (com James Rolfe, o Angry Video Game Nerd, à cabeça) redescobriram o título e o utilizaram como 'alvo fácil' para alguns dos seus vídeos.

Mesmo este reavivar de interesse, no entanto, não foi suficiente para colocar 'City of Angels' no panteão de jogos 'tão maus que são bons', ao lado das versões para NES de 'Back to the Future' ou 'Bill and Ted's Excellent Adventure', ou do infame 'Bubsy 3D', para PlayStation. Pelo contrário, o jogo voltou a cair no esquecimento, subsistindo sobretudo como prova do rápido declínio da Acclaim após a série que a notabilizou no mundo dos videojogos. Uma pena para os fãs da franquia, que viram assim o único título alusivo à mesma alguma vez lançado virar (merecidamente) objecto de escárnio da comunidade em geral, afirmando-se como ainda mais medíocre do que o filme que o inspirou – algo que, para quem viu 'O Corvo: Cidade dos Anjos', poderá parecer uma proeza e tanto, mas uma que a versão electrónica consegue, de alguma maneira, almejar. Quem não acreditar, que comprove por si mesmo no vídeo abaixo, que deixa a nu todos os defeitos e carências desta desapontante adaptação.

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