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Portugal Anos 90

Uma viagem nostálgica pelo universo infanto-juvenil português dos anos 90, em todas as suas vertentes.

Portugal Anos 90

Uma viagem nostálgica pelo universo infanto-juvenil português dos anos 90, em todas as suas vertentes.

03.02.24

As saídas de fim-de-semana eram um dos aspetos mais excitantes da vida de uma criança nos anos 90, que via aparecerem com alguma regularidade novos e excitantes locais para visitar. Em Sábados alternados (e, ocasionalmente, consecutivos), o Portugal Anos 90 recorda alguns dos melhores e mais marcantes de entre esses locais e momentos.

Já aqui anteriormente falámos dos jogos tradicionais de rua, cujas regras e rituais são passados de uma geração para a seguinte quase que como por osmose, não havendo, até hoje, nenhuma 'leva' de crianças que não os saiba, instintivamente, jogar; chega, agora, a hora de falar de uma outra actividade, adjacente embora não pertencente a esse grupo, mas que partilha muitas das características do mesmo – as brincadeiras de roda.

8-brincadeira-infantil-de-roda-iStock.jpg

Embora menos populares do que jogos como as escondidas, apanhada, 'Macaquinho do Chinês' ou 'Mamã Dá Licença' – e embora se encontrassem já em declínio em finais do século XX – os jogos de roda foram, ainda, a tempo de divertir a maioria das crianças da geração 'millennial', que terão tido contacto com uma actividade deste tipo pelo menos uma vez na vida, quer organicamente, quer através de actividades de grupo (era surpreendentemente popular como exercício de aquecimento em grupo em aulas de artes marciais para crianças, por exemplo) ou aulas de Educação Física. E se estas últimas insistiam, muitas vezes, no formato tradicional (excluindo, apenas, as características músicas que se cantariam se a roda fosse feita no recreio), as brincadeiras mais espontâneas tinham, na maioria das vezes, alguns desvios, como a adição de jogos de palminhas em permeio à roda em si, transformando o jogo numa espécie de 'dois-em-um' de brincadeiras de recreio, e tornando-o, assim, automaticamente mais interessante do que as rodas 'à moda antiga' que divertiam os pais e avós das crianças dos 'noventas'.

Escusado será dizer que, ao contrário do que aconteceu com alguns dos outros jogos seus contemporâneos, as rodas nunca chegaram a desfrutar de um regresso à popularidade, havendo hoje em dia muito poucas crianças que sequer saibam do que se trata tal conceito; cabe, pois, aos ex-jovens daquela época não deixar cair no esquecimento esta brincadeira nostálgica que, sem nunca ser 'primeira escolha', era ainda assim capaz de proporcionar bons momentos durante um Sábado aos Saltos.

02.02.24

Um dos aspetos mais marcantes dos anos 90 foi o seu inconfundível sentido estético e de moda. Em sextas alternadas, o Anos 90 recorda algumas das marcas e modas mais memoráveis entre os jovens da ‘nossa’ década.

Os anos 80 e 90 do século passado assistiram àquele que talvez tenha sido o primeiro grande influxo de marcas estrangeiras para o nosso País. Embora os produtos importados, entre eles peças de vestuário, sempre tenham chegado a Portugal, a abertura do mercado nacional ao exterior, como consequência do fim da ditadura e posterior adesão à CEE, fez com que as importações aumentassem substancialmente de volume, e apresentou os jovens portugueses a uma série de marcas e modelos de roupa anteriormente apenas vistos em filmes ou séries de origem estrangeira, e que rapidamente se tornaram favoritos entre a demografia em causa.

Não quis isto dizer, no entanto, que as 'alternativas' nacionais ou ibéricas já existentes no mercado tenham perdido o seu espaço, pelo menos não no imediato; pelo contrário, os primeiros anos da década de 90 viam, ainda, marcas portuguesas ou espanholas conviver harmoniosamente com as suas recém-chegadas congéneres estrangeiras no guarda-fatos dos jovens portugueses. Uma dessas marcas – talvez a mais famosa e conhecida – era oriunda da zona de São João da Madeira, no Norte de Portugal (a mesma de onde saíriam, mais tarde, as não menos icónicas mochilas Monte Campo) e havia sido responsável por calçar a juventude nacional em épocas transactas, com aquilo que era, para todos os efeitos, uma versão portuguesa dos popularíssimos ténis Converse All-Star; falamos, é claro, da Sanjo, que, apesar da perda de preponderância durante o período em causa, não deixa de ser nostálgica para os membros da geração 'X' e para os 'millennials' mais velhos.

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O icónico modelo K100 da marca.

Fundada em 1933, a Sanjo rapidamente se havia estabelecido no mercado nacional como fabricante de calçado com uma relação qualidade-preço acima da média; as famosas sapatilhas de sola de borracha, em particular (material que, à época, constituía ainda uma inovação no ramo em causa), vir-se-iam a tornar sinónimas com a marca em décadas subsequentes, sendo já o calçado por excelência de grande parte da população jovem em finais dos anos 40. Pouco antes, em 1944, a Sanjo abandonara já a sua sede inicial na Companhia Nacional de Chapelaria em favor de uma fábrica própria, de onde ainda saíam as sapatilhas que os jovens das décadas de 80 e 90 envergavam no seu dia-a-dia.

Conforme referido mais acima, no entanto, a Sanjo teria dificuldade em competir com as marcas internacionais que principiavam a entrar no País após a abolição da ditadura, um paradigma que nem mesmo a sua associação a agremiações desportivas históricas, como a local Associação Desportiva Sanjoanense, viria a conseguir inverter. Assim, e apesar de muitos jovens de finais do Segundo Milénio ainda terem vestido as icónicas e inconfundíveis sapatilhas da marca, as vendas da Sanjo entrariam, durante esse período, num declínio do qual não mais recuperariam, e que culminaria na extinção da empresa, em simultâneo com a sua chapelaria irmã, em 1996.

Não terminaria aqui, no entanto, a História da Sanjo, que dedicaria a década e meia seguintes a estudos de mercado, a fim de perceber o que a juventude 'millennial' e da chamada geração 'Z' pretendia de um sapato de ténis; os conhecimentos assim adquiridos informariam, posteriormente, o regresso da marca ao mercado, no ano de 2010, com os seus familiares modelos K100 e K200. Pelo caminho, no entanto, havia ficado a produção cem por cento nacional, vendo-se a marca obrigada a exportar a produção das icónicas solas vulcanizadas para a China; este problema seria, posteriormente, ratificado com uma ligeira alteração na confecção das mesmas, que permitiu trazer o processo de manufactura de volta para solo nacional, paradigma que se mantém até aos dias de hoje.

Apesar deste ressurgimento, no entanto, seria desonesto afirmar que a Sanjo continua a ser uma referência no mercado do calçado nacional; hoje em dia, a marca vive, sobretudo, da reputação adquirida no Portugal de meados do século XX, e do reconhecimento que lhe está associado. Ainda assim, quem fez parte da última geração a usar recorrentemente as tradicionais sapatilhas da marca pode, actualmente, 'recuperar' essa parte da sua juventude numa qualquer loja de desporto ou centro comercial – o que coloca, instantaneamente, a Sanjo num patamar superior ao de tantas outras marcas da época, hoje em dia totalmente desaparecidas; e apesar de ser pouco provável que a companhia alguma vez volte a gozar dos níveis de sucesso que viveu na sua época áurea, não deixa de ser possível que essa vertente nostálgica ajude a 'alavancar' as vendas dos seus icónicos sapatos, e lhe permita manter-se em actividade durante mais alguns anos...

01.02.24

Todas as crianças gostam de comer (desde que não seja peixe nem vegetais), e os anos 90 foram uma das melhores épocas para se crescer no que toca a comidas apelativas para crianças e jovens. Em quintas-feiras alternadas, recordamos aqui alguns dos mais memoráveis ‘snacks’ daquela época.

No que toca a marcas e empresas alimentares praticamente sinónimas com os anos 90 em Portugal, a Dan Cake fica, talvez, apenas atrás da Matutano no imaginário sócio-cultural das gerações 'X' e 'millennial'. Tal como a empresa das batatas fritas, a magnata das bolachas e bolos industriais deixou na memória de quem foi jovem à época uma série de produtos, com destaque para os alfajores de chocolate (as famosas Cake Bar) como por um outro produto, talvez mais lembrado pela embalagem do que pelo conteúdo em si, e ainda hoje instantaneamente reconhecível para as gerações em causa.

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A versão da icónica lata que muitos conheceram nos anos 80 e 90. (Crédito da foto: OLX)

Falamos das bolachas de manteiga (ou Danish Butter Cookies), com a sua icónica e inconfundível caixa de lata azul, tantas vezes utilizada, depois de vazia, como 'estojo' para os materiais de costura lá de casa – uma tradição cuja origem se perde nas 'brumas do tempo', mas que terá sido partilhada pela grande maioria da população infanto-juvenil portuguesa das duas últimas décadas do século XX. De facto, e como acima mencionámos, este aspecto da utilização da embalagem é, indubitavelmente, mais recordado hoje em dia do que as bolachas em si, o que não deixa de ser um pouco injusto para as mesmas, que apresentavam um excelente sortido, com variedade suficiente para agradar a qualquer gosto, de bolachas que se desfaziam na boca a outras mais firmes e rijas, e até algumas polvilhadas de açúcar cristalizado ou com sabores adicionais, como coco. Na verdade, o facto de as caixas tão rapidamente passarem a repositórios de agulhas e linhas devia-se, precisamente, à velocidade a que os conteúdos no seu interior 'voavam', particularmente no contexto de festa ou convívio em que este tipo de 'guloseima' tendia a surgir.

Tal como tantos outros produtos que abordamos nestas páginas, no entanto, também os sortidos Dan Cake foram, gradualmente, perdendo preponderância em inícios do século XX, ao mesmo ritmo do que a própria companhia, hoje longe da expressão que já teve no mercado alimentar nacional. Assim, e apesar de ainda hoje haver sortidos de bolachas das mais diversas marcas à venda por todo o País, algumas, inclusivamente, em latas muito semelhantes às da Dan Cake, as actuais 'costureiras amadoras' ter-se-ão visto forçadas a 'engendrar' outro tipo de recipiente improvisado para guardar os seus materiais. De facto, é de duvidar se as actuais crianças e jovens da Geração Z alguma vez se terão sorrateiramente aproximado de uma lata de bolachas 'em repouso' sobre um balcão e prateleira, aberto a mesma com o intuito de 'sacar' subrepticiamente umas quantas, e tido a desilusão de apenas agarrar na mão carretos de linhas – uma experiência que continua fresca na memória dos seus pais e que, para muitos deles, ficará para sempre conotada com este tipo de bolachas...

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