Um dos aspetos mais marcantes dos anos 90 foi o seu inconfundível sentido estético e de moda. Em sextas alternadas, o Anos 90 recorda algumas das marcas e modas mais memoráveis entre os jovens da ‘nossa’ década.
Os anos 80 e 90 do século passado assistiram àquele que talvez tenha sido o primeiro grande influxo de marcas estrangeiras para o nosso País. Embora os produtos importados, entre eles peças de vestuário, sempre tenham chegado a Portugal, a abertura do mercado nacional ao exterior, como consequência do fim da ditadura e posterior adesão à CEE, fez com que as importações aumentassem substancialmente de volume, e apresentou os jovens portugueses a uma série de marcas e modelos de roupa anteriormente apenas vistos em filmes ou séries de origem estrangeira, e que rapidamente se tornaram favoritos entre a demografia em causa.
Não quis isto dizer, no entanto, que as 'alternativas' nacionais ou ibéricas já existentes no mercado tenham perdido o seu espaço, pelo menos não no imediato; pelo contrário, os primeiros anos da década de 90 viam, ainda, marcas portuguesas ou espanholas conviver harmoniosamente com as suas recém-chegadas congéneres estrangeiras no guarda-fatos dos jovens portugueses. Uma dessas marcas – talvez a mais famosa e conhecida – era oriunda da zona de São João da Madeira, no Norte de Portugal (a mesma de onde saíriam, mais tarde, as não menos icónicas mochilas Monte Campo) e havia sido responsável por calçar a juventude nacional em épocas transactas, com aquilo que era, para todos os efeitos, uma versão portuguesa dos popularíssimos ténis Converse All-Star; falamos, é claro, da Sanjo, que, apesar da perda de preponderância durante o período em causa, não deixa de ser nostálgica para os membros da geração 'X' e para os 'millennials' mais velhos.
O icónico modelo K100 da marca.
Fundada em 1933, a Sanjo rapidamente se havia estabelecido no mercado nacional como fabricante de calçado com uma relação qualidade-preço acima da média; as famosas sapatilhas de sola de borracha, em particular (material que, à época, constituía ainda uma inovação no ramo em causa), vir-se-iam a tornar sinónimas com a marca em décadas subsequentes, sendo já o calçado por excelência de grande parte da população jovem em finais dos anos 40. Pouco antes, em 1944, a Sanjo abandonara já a sua sede inicial na Companhia Nacional de Chapelaria em favor de uma fábrica própria, de onde ainda saíam as sapatilhas que os jovens das décadas de 80 e 90 envergavam no seu dia-a-dia.
Conforme referido mais acima, no entanto, a Sanjo teria dificuldade em competir com as marcas internacionais que principiavam a entrar no País após a abolição da ditadura, um paradigma que nem mesmo a sua associação a agremiações desportivas históricas, como a local Associação Desportiva Sanjoanense, viria a conseguir inverter. Assim, e apesar de muitos jovens de finais do Segundo Milénio ainda terem vestido as icónicas e inconfundíveis sapatilhas da marca, as vendas da Sanjo entrariam, durante esse período, num declínio do qual não mais recuperariam, e que culminaria na extinção da empresa, em simultâneo com a sua chapelaria irmã, em 1996.
Não terminaria aqui, no entanto, a História da Sanjo, que dedicaria a década e meia seguintes a estudos de mercado, a fim de perceber o que a juventude 'millennial' e da chamada geração 'Z' pretendia de um sapato de ténis; os conhecimentos assim adquiridos informariam, posteriormente, o regresso da marca ao mercado, no ano de 2010, com os seus familiares modelos K100 e K200. Pelo caminho, no entanto, havia ficado a produção cem por cento nacional, vendo-se a marca obrigada a exportar a produção das icónicas solas vulcanizadas para a China; este problema seria, posteriormente, ratificado com uma ligeira alteração na confecção das mesmas, que permitiu trazer o processo de manufactura de volta para solo nacional, paradigma que se mantém até aos dias de hoje.
Apesar deste ressurgimento, no entanto, seria desonesto afirmar que a Sanjo continua a ser uma referência no mercado do calçado nacional; hoje em dia, a marca vive, sobretudo, da reputação adquirida no Portugal de meados do século XX, e do reconhecimento que lhe está associado. Ainda assim, quem fez parte da última geração a usar recorrentemente as tradicionais sapatilhas da marca pode, actualmente, 'recuperar' essa parte da sua juventude numa qualquer loja de desporto ou centro comercial – o que coloca, instantaneamente, a Sanjo num patamar superior ao de tantas outras marcas da época, hoje em dia totalmente desaparecidas; e apesar de ser pouco provável que a companhia alguma vez volte a gozar dos níveis de sucesso que viveu na sua época áurea, não deixa de ser possível que essa vertente nostálgica ajude a 'alavancar' as vendas dos seus icónicos sapatos, e lhe permita manter-se em actividade durante mais alguns anos...