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Portugal Anos 90

Uma viagem nostálgica pelo universo infanto-juvenil português dos anos 90, em todas as suas vertentes.

Portugal Anos 90

Uma viagem nostálgica pelo universo infanto-juvenil português dos anos 90, em todas as suas vertentes.

31.01.24

Em Segundas alternadas, o Anos 90 recorda algumas das séries mais marcantes para os miúdos daquela década, sejam animadas ou de acção real.

Quando utilizada correctamente, e realizada com verdadeiro cuidado e talento, a banda desenhada institucional constitui uma excelente ferramenta para atrair e sensibilizar as gerações mais jovens para certos temas, ou simplesmente transmitir informações ou conhecimentos. E embora nem todas as instituições compreendam esse facto – o que ajuda a explicar a reputação algo 'duvidosa' deste tipo de publicação – tem havido, ao longo dos anos, vários exemplos bem-sucedidos de álbuns de banda desenhada ligados a empresas ou instituições, e destinadas tão-somente a veicular informações sobre a História e funcionamento das mesmas. Um dos mais notáveis foi lançado há exactos vinte e sete anos, em Janeiro de 1997, por uma instituição cultural que não precisava de o fazer, dado ser já um dos principais locais de 'romaria' para as crianças e jovens nacionais, sobretudo os residentes na Grande Lisboa; e, no entanto, a tentativa de contar a 'História do Jardim Zoológico em Banda Desenhada' constitui, ainda hoje, um exemplo de como fazer BD institucional.

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Capa e contra-capa da publicação.

Da autoria do malogrado José Garcês, veterano em contar História em formato desenhado, e financiado pelo grupo NovaRede (então parceiro do próprio Zoo) o álbum em causa apresenta precisamente aquilo que o título sugere – isto é, uma reconstituição em formato de novela gráfica dos principais acontecimentos que levaram à fundação do Zoo (na altura localizado na zona do Parque, no terreno hoje adjacente à Fundação Calouste Gulbenkian), à sua posterior expansão para o actual recinto em Sete Rios, e a todos os restantes marcos históricos que a instituição vivera à altura da publicação. Mais do que apenas um veículo de 'propaganda' para o Zoo, no entanto, o álbum em causa pretendia também oferecer uma visão geral da evolução da apresentação de animais em cativeiro ao longo da História de Portugal (culminando, como é óbvio, na abertura da instituição celebrada na publicação), transmitindo assim informações não apenas relativas ao Jardim Zoológico, mas de relevância histórica e cultural para o próprio País, de forma cativante e divertida – um dos grandes objectivos de qualquer BD institucional.

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Exemplo da arte e argumento da obra.

Não é, pois, de surpreender que este excelente álbum tenha reunido consenso suficiente entre os visitantes do Zoo para justificar a produção de uma 'sequela' aquando dos cento e vinte e cinco anos da instituição, em 2009, novamente com José Garcês como único responsável, e desta vez dando maior foco aos próprios animais do Zoológico. Tal edição não tivesse, talvez, sido possível sem a experiência bem-sucedida que foi a sua antecessora, que cativou os 'putos' apaixonados por animais da geração 'millennial' e os incentivou a conhecer melhor a História de um recinto que lhes era já bem querido, atingindo assim o objectivo último de qualquer boa BD institucional – uma classificação que esta 'História do Jardim Zoológico em Banda Desenhada' sobejamente merece.

30.01.24

Porque nem só de séries se fazia o quotidiano televisivo das crianças portuguesas nos anos 90, em terças alternadas, este blog dá destaque a alguns dos outros programas que fizeram história durante aquela década.

O fenómeno da repetição de formatos televisivos não é, de todo, inédito; pelo contrário, qualquer programa que consiga alguma tracção entre a sua audiência-alvo verá, inevitavelmente, surgirem um sem-número de 'cópias' mais ou menos directas, geralmente com algum elemento diferenciador, prontas a conquistarem essa mesma demografia. Menos comum, embora também bem documentado, é o surgimento de duas transmissões quase exactamente idênticas (por vezes até criadas pelo mesmo grupo de pessoas) em dois canais rivais – e, no entanto, só o Portugal dos 90s viveu em primeira mão não um, mas dois desses casos. Do primeiro, relativo aos 'Apanhados' da RTP e ao 'Minas e Armadilhas' da SIC, já aqui aludimos; chega agora a vez de falar do outro embate directo, no caso entre a emissora estatal e a TVI, travado entre 1994 e 1996, e que teve como epicentro o programa 'A Escolha É Sua', veiculado pela estação de Queluz.

Isto porque, como o próprio nome já permite adivinhar, o referido programa derivava forte inspiração do 'Agora, Escolha', 'campeão' de audiências da RTP em início dos anos 90, e ainda hoje lembrado pelos 'X' e 'millennials' lusitanos pela sua secção central, em que a carismática Vera Roquette lia cartas e exibia desenhos de pequenos leitores, como forma de introduzir um bloco de desenhos animados quase mais popular do que a própria emissão em que se inseria. Este último elemento era, aliás, mesmo a única coisa em falta na 'cópia' directa da 'Quatro', que preferia visar um público mais declaradamente adulto; de resto, o formato do programa era em tudo idêntico, centrando-se em torno da votação em tempo real (numa linha de valor acrescentado, claro, ou não estivéssemos em meados dos 'noventa') entre dois conteúdos previamente propostos, com o mais popular a ser exibido no final do programa. A fazer as vezes de Vera Roquette estava Carmen Godinho, nome menos sonante e (presumivelmente) menos carismático do que a loira da RTP, embora tenha também chegado a apresentar, na mesma época, o 'Clube Barbie'.

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Carmen Godinho ao 'leme' do Clube Barbie.

E dizemos 'presumivelmente' porque 'A Escolha É Sua' faz parte do cada vez maior grupo dos Esquecidos Pela Net, resumindo-se a sua 'pegada' digital a um parágrafo na Wikipédia, uma entrada no IMDb, e o vídeo que acima partilhamos, de pouco mais de um minuto de duração. Assim, quaisquer impressões sobre o programa inserem-se no reino da conjectura – embora seja relativamente seguro dizer, face ao curto ciclo de vida do programa por comparação com o seu antecessor, e à falta de tentativas subsequentes de o revitalizar, que o ''Agora, Escolha' da TVI' terá dado razão ao lema da Kellogg's que diz que 'o original é sempre o melhor'. Sejam quais forem as razões para este paradigma – a pouca originalidade do conceito, a falta de desenhos animados, o valor acrescentado das chamadas, a ausência de patrocínio por parte de uma mascote empresarial, ou até o menor carisma de Godinho por comparação com Roquette – a verdade é que, três décadas volvidas, a única página alusiva a este programa da TVI acaba de ser publicada, e chega agora à sua conclusão natural; prova de que nem sempre uma cópia directa de um formato de sucesso é, por si só, garantia de bons resultados...

 

29.01.24

Qualquer jovem é, inevitavelmente, influenciado pela música que ouve – e nos anos 90, havia muito por onde escolher. Em segundas alternadas, exploramos aqui alguns dos muitos artistas e géneros que faziam sucesso entre as crianças daquela época.

Em tempos o meio de comunicação de massas por excelência, a rádio encontra-se, hoje em dia, desprovida da grande maioria do seu poder e influência na sociedade ocidental, tendo os mesmos passado, em definitivo, para o domínio das plataformas de 'streaming' e de 'download' digital. De facto, sensivelmente a meio da terceira década do século XXI, o 'media' anteriormente capaz de fazer disparar uma música para o topo das tabelas de vendas encontra-se relegada para uma posição de simples 'barulho de fundo' para viagens de carro ou dias de trabalho no escritório – sendo que, mesmo nesses contextos, acaba muitas vezes por ser suplantada por 'playlists' curadas ou por uma qualquer função aleatória do Spotify ou YouTube.

Em finais do século passado, no entanto, o paradigma era diametralmente oposto: com a Internet ainda demasiado incipiente para sequer sonhar com as potencialidades actuais, a rádio afirmava-se, ainda, como grande veiculadora de novos talentos musicais, e moldadora da opinião pública nesse campo. Portugal não era excepção a essa regra, antes pelo contrário - à entrada para o século XXI, continuavam a surgir novas estações para fazer frente às 'perenes' Antenas, TSF, RFM, Rádio Renascença ou Rádio Comercial, além da então todo-poderosa e mega-popular Rádio Cidade, a emissora por excelência para quem queria ouvir música pop ou electrónica, que chegou a ter direito a uma série de colectâneas campeãs de vendas no nosso País. Um desses 'novos talentos' fazia a sua estreia nas ondas FM há pouco mais de vinte e cinco anos, em Setembro de 1998, e viria a marcar a infância e adolescência de toda uma geração.

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O icónico logo oficial da emissora.

Falamos da Mega FM, icónica 'subsidiária' da Rádio Renascença que se destacava das restantes emissoras nacionais por se dirigir aberta e especificamente ao público jovem, De facto, toda a apresentação da estação, do logotipo aos apresentadores capazes de comunicar com a demografia-alvo 'ao seu nível', passando por uma selecção de músicas com grande ênfase no 'rock' alternativo, procurava desmarcar a nova emissora das suas contemporâneas, e posicioná-la como uma alternativa ao estilo mais 'convencional' das mesmas – uma estratégia que viria, mais tarde, a informar o nascimento de outro meio de comunicação icónico entre a juventude 'millennial', a ainda vigente (mas irreconhecível) SIC Radical.

Escusado será dizer que, como naquele caso, a estratégia resultou em cheio, tendo a Mega FM entrado no último ano do século XX como 'companheira' e banda sonora das sessões de estudo da maioria dos jovens portugueses, responsável por dar a conhecer à referida demografia bandas como The Offspring, Green Day, Blink-182, Wheatus, New Radicals, Limp Bizkit ou até Slipknot, que dificilmente teriam 'tempo de antena' nas rádios tradicionais. Até mesmo a metade mais convencionalmente 'radiofónica' da 'playlist' da 'Mega' apresentava nomes ligeiramente 'ao lado' do que se ouvia em outras emissoras da altura, com bandas como The Corrs, Sixpence None The Richer, Eagle-Eye Cherry, Lenny Kravitz, The Cranberries ou The Cardigans a não destoarem tanto quanto se poderia pensar ao lado das suas congéneres mais 'barulhentas'.

Ao longo dos anos, esta tendência manter-se-ia, com artistas como The Hives e Andrew WK a tomarem o lugar das bandas mais 'demissionárias' ou saídas de moda, sem no entanto desvirtuar a abordagem 'alternativa' da emissora, que continuava a conseguir cativar um público, muitas vezes, desprovido de opções às poucas músicas veiculadas pela maioria das estações. Quase a meio da primeira década do Novo Milénio, a 'Mega' era, ainda, uma potência no meio radiofónico português, e uma das grandes responsáveis por informar e moldar o gosto musical dos jovens lusitanos da época.

Como diz o ditado, no entanto, 'tudo o que é bom acaba', e o passar dos anos veria a Mega FM – como a SIC Radical – transformar-se numa emissora cada vez mais próxima das convenções vigentes, e ser suplantada, no campo 'alternativo', pela Best Rock FM, uma rádio de proposta e abordagem muito semelhantes. Assim, e apesar de ainda hoje existir – agora sob o nome Mega Hits FM – a emissora ficará, para grande parte da população nacional – para sempre ligada àqueles anos da viragem do Milénio, em que 'colou' ao rádio ou aparelhagem a última geração a ser verdadeiramente influenciada pelas ondas de FM, e lhes 'ensinou', ao longo de muitas sessões de estudo matinais ou vespertinas, de que bandas gostavam e que discos precisavam de comprar...

28.01.24

Aos Domingos, o Portugal Anos 90 recorda alguns dos principais acontecimentos e personalidade do desporto da década.

Apesar de ser o elemento que menos participa num jogo de futebol, o guarda-redes não deixa de ser uma figura tão ou mais digna de nota do que os seus companheiros de campo, não só por ser sua a responsabilidade directa de não deixar entrar golos na sua baliza, como também por constituir, muitas vezes, uma voz de comando dentro das quatro linhas, função para a qual é necessária uma personalidade muito particular; os melhores guarda-redes tendem, pois, a ser figuras carismáticas e até um pouco excêntricas, às quais seria impossível passar despercebidas em campo.

Os anos 90 não foram, de todo, excepção neste particular, antes pelo contrário; até o adepto mais 'distraído' seria capaz de nomear pelo menos uma dúzia de guardiães memoráveis do futebol da época, tanto a nível interno como internacional. De Bento, Baía, William e Preud'Homme a Schmeichel, Chilavert, Rogério Ceni, Taffarel, Barthez, Songo'o ou Peruzzi – para citar apenas alguns dos nomes mais destacados – é longa a lista de 'figurões' responsáveis pela defesa das balizas das maiores equipas da época.

A esta lista há, também, que juntar o nome de um cabo-verdiano naturalizado português, o qual – não fosse a morte prematura, a poucos meses de completar sessenta anos – teria celebrado este fim-de-semana o seu aniversário, talvez fomentando a sua 'segunda paixão' através de uma sessão de 'karaoke'.Falamos de Adelino Augusto da Graça Barbosa Barros, mais conhecido na cultura popular portuguesa pelo apelido de Neno, o lendário guardião das balizas de Benfica e Vitória de Guimarães durante as épocas de 80 e 90 que era tão conhecido pelo seu sorriso 'de gaiato' como pela sua apetência para o canto, que lhe valia as alcunhas de 'guarda-redes cantor' e 'Julio Iglesias português', tendo-lhe mesmo valido uma presença em palco ao lado desse seu ídolo.

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No clube que o notabilizou.

Nascido em Cabo Verde, mas formado nas escolas do histórico Barreirense, Neno passaria os seus três primeiros anos de sénior com as cores do conjunto alvirrubro, afirmando-se como guardião titular na sua segunda época completa, ainda antes de completar vinte anos. As boas exibições durante as duas temporadas seguintes valer-lhe-iam o interesse de um outro clube alvirrubro, este de maior dimensão, e a subsequente transferência no início da época 1983/84.

Neno nem chegaria, no entanto, a 'aquecer o banco' do Benfica antes de regressar ao Barreiro, agora por empréstimo, para ali realizar mais uma época. A temporada seguinte veria o guardião ser novamente emprestado, desta feita ao Vitória de Setúbal, onde se voltou a impôr, realizando vinte e cinco partidas. Seria o último empréstimo da carreira do guardião, que, na época 1985/86, seria reintegrado no plantel das 'Águias', embora apenas como opção de banco ao titularíssimo Manuel Bento. Passar-se-iam assim duas temporadas, após as quais Neno decidiu dar novo rumo à sua carreira, e aceitar a proposta do Vitória de Guimarães.

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Com a camisola do Guimarães.

E o mínimo que se pode dizer é que essa foi uma opção acertada, já que – após uma primeira época com pouco espaço – Neno viria a tornar-se num 'histórico' dos alvinegros, cujas cores defenderia durante o resto da década de 80 e nos primeiros meses da de 90, sempre como titular. Esta boa fase da carreira valer-lhe-ia o 'regresso a casa' em inícios da temporada de 1990/91, desta vez como figura bastante mais destacada dentro do plantel, contestando a posição de primeira escolha para a baliza encarnada com Silvino, e sendo mesmo o titular indiscutível durante a época de 1993/94, que viu o Benfica sagrar-se campeão nacional.

Infelizmente para Neno, a chegada à Luz, em 1994, de outra figura incontornável da História das 'Águias', o lendário Michel Preud'Homme, viu o cabo-verdiano ser novamente relegado para uma posição secundária e de 'banco'. Face a este retrocesso na carreira, o guardião não hesitaria em fazer 'ouvidos moucos' ao provérbio popular e regressar ao lugar onde já fora feliz, voltando a assinar pelo Vitória de Guimarães no Verão de 1995, exactos cinco anos após ter deixado o Estádio D. Afonso Henriques. Seguir-se-iam mais duas épocas como titular indiscutível da baliza vimaranense antes de, já com idade avançada, o cabo-verdiano se ver forçado a aceitar nova posição como 'segunda escolha', a qual ocuparia durante as quatro últimas épocas da sua carreira – duas delas passadas na equipa de Veteranos do clube – antes de 'pendurar' oficialmente as chuteiras, já no Novo Milénio, aos trinta e nove anos de idade.

Esta seria, normalmente, a fase da carreira de um futebolista moderno em que o mesmo enveredaria por um cargo técnico, potencialmente num dos clubes 'do coração'; em inícios do Novo Milénio, no entanto, tal opção não era, ainda, tão comum, e como tal, Neno contentar-se-ia com uma vida pacata na zona da Polvoreira, em Guimarães, cidade que o conquistara a ponto de ali se estabelecer durante as duas últimas épocas da sua vida, até a doença o 'levar' prematuramente no Verão de 2021. Como legado, o luso-caboverdiano deixava duas décadas como um dos melhores e mais reconhecidos guarda-redes dos campeonatos nacionais da Primeira Divisão (tendo, inclusivamente, sido escalonado por nove vezes para defender as cores da Selecção Nacional, entre 1989 e 1996), e uma reputação como cantor que lhe valera, inclusivamente, a gravação de um álbum musical, em 1999. Que descanse em paz.

27.01.24

As saídas de fim-de-semana eram um dos aspetos mais excitantes da vida de uma criança nos anos 90, que via aparecerem com alguma regularidade novos e excitantes locais para visitar. Em Sábados alternados (e, ocasionalmente, consecutivos), o Portugal Anos 90 recorda alguns dos melhores e mais marcantes de entre esses locais e momentos.

Já aqui mencionámos anteriormente que, apesar de serem locais de visita assídua durante uma Saída de Sábado, os museus dos anos 90 nem sempre tinham especial interesse para as demografias mais jovens; a apresentação 'à antiga', em particular, tornava o sucesso da visita directamente proporcional às áreas de interesse do próprio visitante, sendo que um museu sem grandes motivos de fascínio constituía uma experiência algo aborrecida. Foi, talvez, com isso em mente que, ainda durante a referida década, uma instituição tentou marcar a diferença, e afirmar-se como Saída de Sábado privilegiada para todos os jovens nacionais; a 'dica' estava no próprio nome – Museu da(s) Criança(s).

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As instalações actuais do museu, no recinto do Jardim Zoológico de Lisboa.

Inaugurado há cerca de trinta anos – algures em 1994 – num anexo do Museu da Marinha, na zona de Belém, em Lisboa, o Museu da Criança (ou 'das Crianças', dependendo da fonte) almejava a mais do que apenas uma experiência museológica tradicional, procurando fundir essa vertente com um aspecto de descoberta e interacção por parte dos próprios visitantes, o qual fomentava a pedagogia activa, por oposição à abordagem mais passiva dos museus tradicionais. Significava isto que quem visitasse o espaço, ou uma das exposições temporárias que ali se fixavam periodicamente, era encorajado a mexer, experimentar e interagir com os diferentes expositores e áreas que constituíam cada mostra, ao invés de apenas admirar objectos dispostos em configurações pré-definidas – um estilo de aprendizagem, tradicionalmente, bem mais apetecível para o público mais jovem do que o seu oposto. Assim, não é de surpreender que uma visita àquele espaço se parecesse, na maior parte das vezes, mais com uma tarde de brincadeira do que com a típica 'ida ao museu', deixando vontade de regressar e repetir a experiência num futuro próximo.

Tal foi o seu sucesso, de facto, que o Museu da Criança acabou mesmo por deixar as suas humildes instalações iniciais em favor de uma localização ainda mais apetecível, na 'zona franca' adjacente ao Jardim Zoológico de Lisboa, onde decerto continuará a fazer as delícias dos mais pequenos, contribuindo para aquela que é já, por si só, uma das melhores experiências disponíveis para uma criança ou jovem residente na zona da capital. Mesmo na sua forma original, no entanto, o museu em causa destacava-se já pela tentativa bem-sucedida de apresentar algo diferente do habitual, que o ajudava a conquistar o seu público-alvo e fazia com que valesse bem a pena uma visita – um paradigma, aliás, que se continua a verificar até aos dias de hoje...

26.01.24

Os anos 90 estiveram entre as melhores décadas no que toca à produção de filmes de interesse para crianças e jovens. Às sextas, recordamos aqui alguns dos mais marcantes.

Os anos 80 e 90 foram décadas de excelência para o cinema de acção, responsáveis por uma série quase infindável de 'blockbusters' capitaneados por 'heróis' tão conhecidos como Arnold Schwarzenegger, Jean-Claude Van Damme ou Sylvester Stallone. Este último, em particular, há muito que deixara os contornos independentes da sua estreia com 'Rocky' (que também realizara) ou com o primeiro filme da série 'Rambo', e se acomodara à figura de herói musculado, carrancudo e de poucas palavras a que a sua caracterização deste último personagem o associara. Em inícios da década de 90, este era já, praticamente, o único tipo de papel para o qual Stallone era escalado – excepção feita à ocasional comédia de acção, à semelhança do congénere Schwarzenegger – o que não invalidava que o actor e realizador tentasse, ainda assim, injectar alguma variedade à sua filmografia, nomeadamente através de incursões por outros géneros.

Destes, era a ficção científica a que mais frequentemente captava a atenção do astro, que, só no ano de 1993, participaria em duas super-produções do género – primeiro a pouco unânime adaptação da banda desenhada 'Juiz Dredd', em 'O Juiz', e depois 'Homem Demolidor', um filme de estética e enredo muito semelhantes e que, em conjunto com o seu antecessor, ajudou a que o nome de Stallone fosse, durante alguns meses, sinónimo com o género da acção futurista.

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E se, em 'O Juiz', o carrancudo herói de acção surgia acompanhado de Rob Schneider, no papel de coadjuvante com veia cómica, aqui a co-estrela é bem mais inesperada, e bem menos irritante: trata-se, nada mais nada menos, do que de Wesley Snipes, o futuro 'Blade', aqui no papel de antagonista do polícia futurista de Stallone. O trio de personagens centrais do filme completa-se com Sandra Bullock, mais tarde reconhecida por filmes como 'Speed – Perigo a Alta Velocidade' ou 'Miss Detective', e que aqui interpreta a parceira de Stallone no caso que este investiga.

O resultado são duas horas acima da média no tocante a ficção científica noventista (uma fasquia que apenas seria elevada no final da época) que foram, à época, consideradas um 'regresso à forma' para Stallone, após uma série de filmes menos conseguidos, e que tiveram mesmo honras de adaptação oficial em livro, publicada em Portugal pela inevitável Europa-América, magnata deste género de publicação no nosso País.

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Capa nacional da novelização da trama, lançada pela inevitável Europa-América.

Grande parte deste sucesso, e do apelo do filme, ter-se-à devido à veia satírica do enredo, que ajudava a destacá-lo dos outros filmes 'de explosões' futuristas que povoavam os cinemas e videoclubes da época. Quase exactos trinta anos após a sua estreia nacional (a 21 de Janeiro de 1994, dois meses e meio após 'abrir' nos Estados Unidos) 'Homem Demolidor' é, decididamente, um produto do seu tempo, mas ainda apresenta qualidade suficiente para poder ser considerado um dos melhores exemplos do género de ficção científica pré-'Matrix', e para entreter qualquer fã do género disposto a contextualizá-lo correctamente.

25.01.24

Os anos 90 viram surgir nas bancas muitas e boas revistas, não só dirigidas ao público jovem como também generalistas, mas de interesse para o mesmo. Nesta rubrica, recordamos alguns dos títulos mais marcantes dentro desse espectro.

As décadas de 90 e 2000 representaram, possivelmente, o auge da imprensa infanto-juvenil em Portugal. Entre as inúmeras revistas aos quadradinhos e a profusão de publicações especializadas nos mais diversos ramos, difícil era encontrar uma criança ou jovem da altura que não comprasse pelo menos um dos muitos títulos disponíveis. De igual forma, o mercado mais 'adulto' viu também surgirem, durante este período, publicações como a Visão, a Sábado ou o menos duradouro mas não menos icónico 24 Horas, a juntar à panóplia de revistas e jornais estabelecidos já existentes, um panorama que, infelizmente, se alterou diametralmente nos últimos anos.

Em meio a toda esta oferta, no entanto, uma demografia ficava um pouco esquecida – a dos jovens mais velhos, já saídos da adolescência, mas a quem a abordagem mais política dos títulos supramencionados ainda não interessava particularmente. Foi com esse mercado em mente que surgiu, já em finais da década, uma publicação centrada na transmissão e debate de temas de interesse para a juventude, mas sob uma perspectiva mais evoluída, e com toques de humor e sarcasmo à mistura; e embora a mesma não tenha vingado, 'sobrevivendo' apenas durante cerca de um ano, há ainda assim que reconhecer o esforço dos envolvidos, entre os quais se contam nomes sonantes do humor lusitano, ligados às miticas Produções Fictícias.

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A original francesa que informava a 'versão' nacional.

Falamos da revista '20 Anos', a localização em português da revista francesa do mesmo nome, e um daqueles títulos completamente Esquecidos Pela Net que só tem teve contacto directo relembra, não havendo dela qualquer registo fotográfico digitalizado, nem tão-pouco os habituais leilões do OLX. Neste caso, devemos as (poucas) informações que temos ao Pedro Serra, que, apesar de fora da demografia-alvo, tinha acesso às revistas através da irmã mais velha (por aqui, a irmã era mais nova, sendo o autor também demasiado jovem para ter interesse na referida publicação). É, pois, graças ao relato em primeira mão do nosso homónimo e leitor assíduo que ficamos a saber que a '20 Anos' não se focava apenas num tema, propondo uma gama abrangente de conteúdos, sendo o denominador comum a irreverência e o humor. O próprio Pedro refere as 'tirinhas' de banda desenhada e os famosos 'testes de personalidade' tão típicos da época como os grandes destaques, tendo estes últimos a particularidade de serem redigidos por dois ex-alunos de Comunicação Social da Universidade Católica, de seus nomes Miguel Góis e Ricardo Araújo Pereira...

É também o Pedro quem sugere que a curta vida da revista se terá devido à dificuldade em encontrar a sua audiência, o que se afigura peculiar, dado serem, à época, muito poucas as publicações que 'fizessem a ponte' entre o universo das Super Pop, Bravo, Ragazza ou Super Jovem e os periódicos mais adultos, pelo menos de uma perspectiva generalista; por outras palavras, em teoria, pareceria haver mercado para uma 'versão jovem' de algo como a revista 'Guia', que parecia ser a proposta da '20 Anos'. Sejam quais tenham sido as razões por detrás do seu 'falhanço', no entanto, a verdade é que haverá pouco quem recorde aquela que tentou ser uma publicação revolucionária para a sua época, mas acabou como apenas uma 'nota de rodapé' meio 'apagada' na História da melhor fase de sempre da imprensa periódica portuguesa...

24.01.24

Em quartas-feiras alternadas, falamos sobre tudo aquilo que não cabe em nenhum outro dia ou categoria do blog.

Na última Quarta de Quase Tudo, recordámos a colecção de livros do Jovem Indiana Jones publicada pela Europa-América algures nos anos 90. A associação da editora ao herói criado por Steven Spielberg e George Lucas não se ficou, no entanto, apenas por essa colecção, antes pelo contrário; além da série de histórias com 'Indy' como aventureiro, o catálogo da Europa-América incluía também uma trilogia de livros em que o protagonista aparecia já adulto, tal como os fãs o conheciam da 'outra' trilogia que ancorava, a cinematográfica. Nada mais justo, portanto, do que utilizarmos a rubrica desta semana para nos debruçarmos sobre esse trio de tomos, e concluirmos assim a nossa exploração da bibliografia de Indiana Jones em Portugal.

Presença assídua nas prateleiras de livros das lojas dos 'trezentos', tal como a sua série-irmã – ou não fosse a editora de ambos sinónima com o abastecimento literário de tais estabelecimentos – a referida trilogia de aventuras, assinada por Rob MacGregor e editada em Portugal entre 1989 e 1992, tem, desde logo, a particularidade de não coincidir com a sua congénere cinematográfica. Isto porque, apesar de os dois primeiros tomos serem novelizações dos dois primeiros filmes da saga, o terceiro desvia-se desse padrão, apresentando uma aventura original, 'Indiana Jones e os Perigos em Delfos', no lugar do que deveria ter sido a adaptação em livro de 'Indiana Jones e o Templo Perdido'.

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O terceiro volume da série apresentava uma aventura original, ambientada em Delfos, na Grécia.

As razões para esta escolha são, infelizmente, muito pouco claras, sendo ainda hoje incerto se a referida novelização alguma vez existiu, não tendo simplesmente sido traduzida para Português, ou se existem outras aventuras inéditas nas mesmas condições – até mesmo o 'site' da Livraria Bertrand lista só e apenas estes três volumes como parte da colecção. Assim, iremos tomar a liberdade de considerar esta colecção uma trilogia, com uma inexplicável mudança de rumo no último volume.

Em termos do conteúdo em si, qualquer dos três volumes assinados por MacGregor oferece precisamente aquilo que se poderia esperar de uma publicação da Europa-América deste período: literatura fácil, destinada a um público jovem, e tornada mais difícil e morosa de absorver pelo tipo de tradução quase propositadamente complexa que pautava os títulos de ficção científica e aventura da editora na época em causa. Quem conseguir ultrapassar esse factor, e tiver os dois filmes adaptados como parte da colecção, irá, certamente, apreciar a forma como os seus enredos e cenas-chave foram transpostos para a página, e ainda mais a existência de uma aventura original na qual se embrenhar; no entanto, esta pecha – comum à maioria dos títulos 'menores' da editora – poderá mesmo ser difícil de ultrapassar para leitores cujo grau de exigência é mais alto, mesmo para com títulos 'fáceis' como estes.

Ainda assim, e apesar desta 'pecha' em comum com tantos outros títulos da editora, é de crer que os três livros de Indiana Jones da Europa-América terão chegado a um número suficiente de crianças e jovens portugueses de finais do século XX e inícios do seguinte para justificarem um lugar nas memórias nostálgicas preservadas por este blog, e das quais o aventureiro de Spielberg e Lucas já faz, definitivamente, parte integrante...

24.01.24

NOTA: Este post é respeitante a Terça-feira, 23 de Janeiro de 2024.

A década de 90 viu surgirem e popularizarem-se algumas das mais mirabolantes inovações tecnológicas da segunda metade do século XX, muitas das quais foram aplicadas a jogos e brinquedos. Às terças, o Portugal Anos 90 recorda algumas das mais memoráveis a aterrar em terras lusitanas.

Apesar de a prática de confiar diferentes versões de um mesmo título interactivo a companhias diferentes não ser inédita, quer no Mundo das consolas, quer no dos PC's, não é, de todo, habitual ver os jogos subsequentes serem tratados como duas entidades completamente distintas; de facto, tal fenómeno tende a ocorrer apenas quando as referidas versões têm diferenças significativas e aparentes, seja a nível de género ou de jogabilidade (como sucedeu, por exemplo, com os primeiros jogos de Harry Potter em inícios dos anos 2000). No entanto, há quase exactamente trinta anos, verificava-se o caso mais famoso e mediático deste género de ocorrência, quando as rivais de 16-bits, Super Nintendo e Mega Drive, recebiam dois jogos subordinados à mesma licença que, apesar de à primeira vista idênticos, eram de facto substancialmente diferentes uma vez iniciada a experiência de jogo.

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Comparação gráfica entre os jogos de Super Nintendo (esquerda) e Mega Drive (direita)

Tratavam-se dos jogos alusivos ao filme 'Aladdin', um dos vários mega-sucessos de que a Walt Disney gozou durante a sua chamada 'renascença' em finais do século XX, e o segundo a ter honras de adaptação a videojogo, após 'A Pequena Sereia', em inícios da década. Lançados no Inverno de 1993/94 (em Novembro de 1993 no caso do título da Sega, e em finais de Janeiro de 94 no caso do da Nintendo), ambos se inseriam no género de acção e plataformas que era quase sinónimo com jogos licenciados da época; no entanto, a jogabilidade de ambos apresentava diferenças consideráveis, resultantes da abordagem escolhida por cada um dos dois estúdios responsáveis – a Virgin Interactive, que assinava o jogo de Mega Drive e que viria também, mais tarde, a ser responsável pelo excelente jogo d''O Rei Leão', e a Capcom, que já na altura dispensava apresentações como criadora de jogos de acção com vertente 'arcade'. O resultado eram dois jogos tão diferentes quanto excelentes, que fomentam ainda hoje debates sobre qual dos dois será o melhor.

Algumas das principais diferenças entre os dois títulos prendem-se com a utilização de uma espada por parte de Aladdin (que não consta da versão para Super Nintendo), a existência de níveis diferentes e exclusivos em cada versão, e sistemas de pontuação, saúde e 'vidas' diferentes, que tornam cada um dos dois jogos numa experiência distinta. A decisão sobre qual deles é superior torna-se, assim, numa questão de simples preferência, já que do ponto técnico são igualmente excelentes, com a ressalva de a versão para Mega Drive ter sido o primeiro jogo interactivo desenhado à mão, com a colaboração de uma equipa de artistas da própria Disney - o que revela o cuidado posto em cada faceta desse merecido clássico.

Ainda assim, e apesar de grande parte dos jogadores que tiveram contacto com o título da Super Nintendo o defender acerrimamente, foi mesmo a versão para Mega Drive que perdurou no imaginário dos ex-jovens da época, por ter servido de base à maioria das outras versões do jogo lançadas tanto na mesma época (para PC e Game Boy, por exemplo) como em anos subsequentes (para consolas como o Game Boy Color). A excepção é a versão para Game Boy Advance, lançada em 2004, e que tem por base o título da Capcom.

Seja qual for a preferência, no entanto, qualquer das duas versões continua, mesmo nos dias de hoje, a assegurar uma experiência de jogo desafiante e divertida, como era sinónimo dos jogos da Disney à época; prova disso mesmo, aliás, é que versões tanto destes jogos como dos d''O Rei Leão' continuam, até hoje, a ser lançadas para cada nova geração de consolas, e a conquistar fãs entre os 'gamers' da 'geração Z', tal como o fizeram durante o seu 'ciclo de vida' original. Motivo mais que suficiente para lhes darmos destaque (a ambos!) nestas páginas, quando se celebram três décadas sobre o seu lançamento inicial nas 'rivais' de 16-bits.

 

23.01.24

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O post desta Segunda-feira, 22 de Janeiro de 2024, seria o milésimo postado neste nosso blog nostálgico. Assim, ao invés de falarmos do tema planeado, deixamos antes este espaço para uma celebração de mil dias (mais coisa menos coisa) a celebrar o que de mais nostálgico e saudoso havia/houve no Portugal dos anos 90.

Gostaríamos de agradecer a todos os que leram nem que fosse um post aqui escrito, e em especial aos nossos 'regulares', como o Pedro Serra, o Marco e o Miguel Silva (bem como todos os amigos 'anónimos', pessoais ou não, que sabemos que prestam atenção), por ajudarem este 'blog' a crescer e a estabelecer-se num panorama que já contém três 'grandes', mas que 'arranjou' espaço para um quarto, ainda em ascensão, mas com algum potencial - por assim dizer, um 'Sporting de Braga' da nostalgia noventista. Da nossa parte, tudo faremos para que se celebrem mais mil artigos - esperamos que nos continuem a acompanhar nesta viagem nostálgica pela nossa infância e adolescência, sempre a partir desta mesma 'estação'...

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