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Portugal Anos 90

Uma viagem nostálgica pelo universo infanto-juvenil português dos anos 90, em todas as suas vertentes.

Portugal Anos 90

Uma viagem nostálgica pelo universo infanto-juvenil português dos anos 90, em todas as suas vertentes.

31.01.23

A década de 90 viu surgirem e popularizarem-se algumas das mais mirabolantes inovações tecnológicas da segunda metade do século XX, muitas das quais foram aplicadas a jogos e brinquedos. Às terças, o Portugal Anos 90 recorda algumas das mais memoráveis a aterrar em terras lusitanas.

Os jogos de computador e consola posicionam-se, por natureza, como veículos de escape, permitindo aos jogadores assumirem, mesmo que temporariamente, novas e mais emocionantes personalidades, de pilotos de corrida a desportistas, lutadores de artes marciais, soldados do exército americano, fuzileiros espaciais futuristas, espiões de elite, ou simplesmente os seus heróis de ficção preferidos.

Sendo um dos ícones mais duradouros das duas últimas categorias, não deixa, portanto, de ser natural ver James Bond, 007 – o espião britânico criado por Ian Fleming – servir de inspiração a diversos títulos interactivos desde os primórdios do género; afinal, a vida de Bond, tal como foi e é retratada nos seus inúmeros filmes e nos livros originais de Fleming, presta-se perfeitamente à premissa de um jogo de acção ou espionagem – géneros em que se inseriam e inserem a esmagadora maioria dos jogos com o agente secreto como protagonista lançados nas últimas quatro décadas. De facto, desde os tempos dos computadores Commodore e ZX Spectrum que os aficionados de videojogos têm podido encarnar Bond, e enfrentar alguns dos seus mais icónicos inimigos em ambiente virtual – não tendo os anos 90 sido excepção a esta regra, pese embora o hiato de mais de meia década por que a série de filmes passou nesse período.

Pelo contrário, logo à entrada da década, os referidos computadores da década transacta recebiam um título de acção e condução baseado no filme 'O Espião Que Me Amava'; não tendo grande tradição com este tipo de máquinas, no entanto, o primeiro contacto de muitos portugueses dessa geração com um videojogo baseado no agente secreto terá sido 'James Bond 007: The Duel', lançado em 1992 para as consolas da SEGA da altura, e baseado na interpretação de Timothy Dalton do personagem. Tratava-se de um jogo de acção em 2D, bem típico da época, em que o jogador conduzia Bond através de alguns dos cenários habitualmente associados ao agente secreto, procurando libertar reféns e plantar bombas para explodir bases, até à confrontação final com o vilão Jaws – que, neste caso, não é o Tubarão de Steven Spielberg, mas sim o grande antagonista do referido 'O Espião Que Me Amava'. Um título bem dentro da média para o que a SEGA apresentava na altura, e que passou despercebido entre os entusiastas da companhia nipónica.

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Exemplo dos gráficos do jogo

Menos despercebido passaram os jogos de James Bond Jr lançados para as consolas da Nintendo no ano anterior, e que conseguem a proeza de ser, hoje em dia, muito mais recordados do que a série animada em que se baseiam. Como seria de prever, tratam-se de jogos de plataformas - embora a versão para Super Nintendo inclua também níveis de condução e vôo – que ficam, igualmente, dentro da média de ambas as consolas, proporcionando momentos de diversão 'sem mais'.

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A versão para SNES de James Bond Jr.

Da aventura seguinte de James Bond no mundo virtual já pouco há a dizer que não tenha sido dito; grande sucesso de vendas e um dos principais 'chamarizes' para a compra da Nintendo 64, GoldenEye 007' dispensa apresentações, tendo servido, à época, de elo de ligação entre os FPS típicos da altura, como 'Quake II', e a nova geração que em breve lhes tomaria o lugar. Ao contrário dos jogos que anteriormente abordámos, este titulo envelheceu extremamente bem, sendo ainda hoje popular ao ponto de ter motivado o inevitável 'remake' em alta definição para as consolas modernas, lançado em 2010. Um jogo icónico, que deixou marca no seu género, e que se pode considerar o primeiro grande sucesso interactivo de Bond na 'era moderna'.

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O icónico 'GoldenEye 64'

(Curiosamente, este jogo foi também lançado em formato LCD, não uma, mas DUAS vezes, primeiro no formato tradicional associado a este tipo de jogos, e mais tarde como 'jogo embutido' numa réplica de pistola que servia de comando!)

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As duas versões do LCD de 'GoldenEye'

O sucesso de GoldenEye motivou, inevitavelmente, a criação de outros títulos baseados nos filmes seguintes da 'era Pierce Brosnan', embora desta feita para PlayStation, por oposição à Nintendo 64. O primeiro destes foi 'Tomorrow Never Dies', lançado em 1998 e inserido na categoria de acção em terceira pessoa num ambiente 3D, muito popular nas consolas da era 32 bits. Como seria de esperar, este título apresentava muitas das cenas e cenários do filme em formato interactivo, e propunha a mistura de tiroteios com espionagem por que o agente secreto britânico ficou conhecido.

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'Tomorrow Never Dies', primeira de duas aventuras do agente secreto na PlayStation

Bem recebido pela crítica, o jogo não conseguiu, no entanto, evitar 'perder-se' na vasta e excelente biblioteca da consola da Sony, aparecendo anos mais tarde como parte de um 'pack' de dois jogos com o seu sucessor directo, 'The World Is Not Enough', lançado dois anos depoois. Também lançado para N64, este título retomava o formato 'FPS' de 'GoldenEye', suscitando assim inevitáveis comparações com aquele título, ao qual não se superiorizava; ainda assim, para utilizadores de PlayStation, tratava-se da alternativa mais próxima ao lendário jogo da Nintendo, para além de um título de mérito próprio a nível técnico, tendo assim conseguido alguma 'tracção' entre os fãs da consola da Sony.

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A versão para PlayStation de 'The World Is Not Enough'.

À margem destes dois títulos, era ainda lançado, em 1998, o singelamente intitulado 'James Bond 007' para o Game Boy clássico. Tratava-se de um jogo de acção com vista aérea (ao estilo dos RPGs lançados para a consola, como Pokémon) em que Bond tinha de 'se haver' com uma série de vilões clássicos, de Oddjob ao 'repetente' Jaws, bem como com o malvado general russo Golgov, o grande antagonista do jogo. Como os restantes títulos atrás abordados, tratou-se de um jogo competente, mas sem nada que o fizesse destacar-se de entre a vasta galeria de títulos para a portátil da Nintendo.

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James Bond em formato portátil.

A década seguinte continuou a ver Bond servir de inspiração a diversos títulos, quase todos na categoria de acção na primeira ou terceira pessoa, embora '007 Racing', ainda na época dos 32 e 64 bits, tivesse representado uma tentativa, gorada, de oferecer algo diferente; no entanto, já desde '007 Legends', de 2012, que o agente secreto não surge como protagonista de um titulo interactivo. Um projecto actualmente em desenvolvimento parece, no entanto, disposto a mudar essa situação, e trazer o sofisticado britânico de volta aos ecrãs de computadores e consolas um pouco por todo o Mundo, provando que a relevância de Bond como herói de acção 'apetecível' se encontrava apenas esmorecida, e ainda não totalmente extinta...

30.01.23

Em Segundas alternadas, o Anos 90 recorda algumas das séries mais marcantes para os miúdos daquela década, sejam animadas ou de acção real.

Sendo um dos maiores e mais duradouros ícones da cultura popular infanto-juvenil e não só, não foi de todo estranho ver o agente secreto britânico James Bond servir de inspiração a um desenho animado durante a década em que tal tratamento era dado a toda e qualquer propriedade intelectual que agradasse aos mais novos; a surpresa, neste caso, prendeu-se com o facto de o referido programa não ser directamente alusivo ao próprio personagem (como acontecia, na mesma altura, com outro herói icónico, Rambo) mas sim a um seu familiar, criado propositadamente para protagonizar e dar nome à série.

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Tratava-se de James Bond, Jr., o suposto sobrinho do verdadeiro 007 e que – como seria de esperar num conceito deste tipo – vivia versões apropriadas à idade das aventuras do tio, enfrentando o terrível cartel terrorista SCUM ao lado dos colegas da escola de espionagem Warfield, IQ e Gordo Leiter, respectivamente filhos de Q (o 'homem da tecnologia' de 007) e do colega de Bond, Felix Leiter – todos com visuais bem 'radicais', como convinha a qualquer adolescente televisivo dos anos 90.

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Escusado será dizer que, à semelhança de outras séries do mesmo tipo (como o referido 'Rambo' ou o desenho animado de 'Highlander – Os Imortais') esta série pouca marca deixou aquando da sua passagem pelas televisões portuguesas, algures na década de 90. Apesar de os 65 episódios produzidos indicarem algum sucesso nos seus EUA natais, as aventuras do agente secreto júnior passaram quase despercebidas no nosso País, sendo inclusivamente difícil encontrar informação mais detalhada sobre canais e anos de tranmissão (e muito menos 'clips' ou episódios completos retirados da TV portuguesa), ao contrário do que sucede com séries como Dragon Ball Z ou Samurai X.

E a verdade é que o programa pouco mais merecia, não passando de uma série animada mediana, daquelas que se vêem se 'estiver a dar', mas que não fazem ninguém mudar de canal especificamente para as ver – e isto apesar da chancela da Metro-Goldwyn-Mayer... Em suma, no que toca a conquistar os corações das crianças e jovens portugueses (e não só), James Bond Jr foi significativamente menos bem sucedido do que o tio, provando que há certas missões que devem, mesmo, ser deixadas para os adultos...

29.01.23

Aos Domingos, o Portugal Anos 90 recorda alguns dos principais acontecimentos e personalidade do desporto da década.

Cada época da História contemporânea teve, e continua a ter, os seus desportistas lendários, não tendo os anos 90 sido excepção a esta regra. Pelo contrário, não faltaram às crianças e jovens daquela época nomes para admirar dentro do Mundo do desporto, dos inevitáveis futebolistas a condutores de Fórmula 1 ou exímios praticantes de outras modalidades, como as atletas Rosa Mota e Fernanda Ribeiro ou os basquetebolistas da NBA (e, dentro de portas, também Carlos Lisboa).

No entanto, apesar desta diversidade, é inegável que o futebol centrava, naquela época como agora, a maioria das atenções, e produzia os mais exaltados ídolos, quer dentro de portas, quer a nível mais global – e, destes últimos, um dos mais destacados durante aquela década foi o homem que hoje completa cinquenta e sete anos de idade, e que muitos adultos hoje na casa dos 'trintas' e 'quarentas' se habituaram a ver 'fuzilar' redes de balizas um pouco por todo o Mundo: Romário de Souza Faria (vulgarmente conhecido apenas pelo seu primeiro nome), um dos mais prolíficos atacantes da História do futebol moderno e que, durante a primeira metade da década, foi esteio de uma das melhores selecções nacionais de sempre.

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Uma imagem que se tornou comum entre os adeptos dos anos 90.

Nascido, como tantos outros seus compatriotas, nos bairros pobres do Rio de Janeiro, Romário destacou-se desde tenra idade pelo seu invulgar talento, tendo sido recrutado pelo Vasco da Gama em 1981, aos catorze anos, após ter brilhado no seu clube local, o Olaria, na época anterior. A estreia profissional, essa, deu-se quatro anos depois, a meio da década de 80, lançando uma carreira que excederia todas e quaisquer expectativas; com uma média de golos por jogo mirabolante, Romário rapidamente se encontrou em trajectória ascendente, não tendo o tão cobiçado 'salto' europeu (objectivo máximo de qualquer futebolista brasileiro) tardado a surgir – apenas três anos após o seu primeiro jogo como sénior, e com já mais de oitenta golos marcados ao serviço do Vasco, Romário seria o escolhido para reforçar o ataque do PSV Eindhoven, do campeonato holandês.

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O jogador no clube que o notabilizou a nível europeu.

E rapidamente se constatou que a veia goleadora do atacante não se limitava ao 'Brasileirão', tendo Romário logrado apontar uma centena de golos nas cinco épocas em que representou os neerlandeses, e sido parte fulcral da conquista de três títulos de campeão nacional durante o mesmo período; uma marca que, naturalmente, conduziu a novo 'salto' na carreira. Desta vez, o destino era Barcelona, em Espanha, onde o brasileiro teria a honra de integrar um dos mais fortes plantéis do futebol mundial da época, ao lado de outro 'enorme' avançado da época, Hristo Stoichkov, e de nomes como Michael Laudrup ou Ronald Koeman. Mesmo em meio a tal 'chuva de estrelas', no entanto, Romário continuou a destacar-se, conseguindo trinta e quatro golos nos quarenta e seis jogos que realizou pelos 'blaugrana' entre 1993 e 1995, trinta dos quais na sua primeira época, incluindo um 'hat-trick' contra os 'eternos rivais' do Real Madrid, e uma 'cueca' ao 'enorme' Peter Schmeichel (mais tarde guardião do Sporting campeão nacional da época 99/2000) em pleno Old Trafford. Actuações como estas, e como as que realiou ao serviço da 'canarinha' no Mundial de 1994, valeram-lhe inclusivamente o merecido prémio FIFA de Jogador do Ano relativo a 1994. Este 'estado de graça' viria, no entanto, a terminar abruptamente logo em Janeiro do ano seguinte, quando um desentendimento com o técnico Johan Cruyff veria Romário abandonar o Barcelona e (numa decisão surpreendente) regressar ao Brasil, agora para representar o Flamengo.

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Romário durante a sua curta e frustrante passagem pelo Valência.

Sessenta golos em outros tantos jogos rapidamente lhe valeram, no entanto, o regresso a Espanha, para vestir a camisola do Valência. No entanto, pela primeira vez na sua carreira, Romário viria a não se afirmar num clube, fazendo apenas onze partidas pelos espanhóis (em que marcaria cinco golos) antes de voltar ao clube de onde recentemente saíra, agora por empréstimo, a fim de jogar com mais regularidade e manter os índices físicos em alta na preparação para o Mundial de França '98 – torneio que, ironicamente, viria a falhar por lesão muscular. Apesar deste relativo 'falhanço' no regresso a Espanha, no entanto, no Brasileirão, os golos continuariam a surgir em catadupa: vinte e dois em vinte e um jogos pelo Flamengo em 1997, e trinta e quatro em sessenta e cinco partidas na época seguinte.

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No Flamengo, o 'Baixinho' voltou a fazer o que melhor sabia.

O novo Milénjo veria Romário voltar à casa que o vira 'nascer' para o futebol, qual filho pródigo, e contribuir com quase oitenta golos para as campanhas de 2000/2001 e 2001/2002 do Vasco da Gama. Seguiu-se novo regresso ao 'Flu' (com passagem breve e pouco memorável pelo Al-Sadd, do Qatar) antes do retorno ao Vasco, ainda a tempo de marcar trinta e cinco tentos em cinquenta jogos na época 2005/2006. Já a nível internacional, a carreira do 'Baixinho' corria menos bem, tendo o mesmo sido deixado de fora do plantel da 'Canarinha' para a Copa América de 2001 e para o Mundial de 2002, por problemas disciplinares.

Apesar destes reveses, no entanto, os anos pareciam não passar pelo avançado o qual, aos quase quarenta anos, continuava a ser o mesmo goleador de classe mundial que se revelara ao mundo três décadas antes; de facto, até ao final de carreira em 2009, aos quarenta e três anos (!!), Romário representaria, ainda, quatro clubes, dois no estrangeiro (o Miami FC, da Major League Soccer norte-americana, e o Adelaide United, da Austrália, por empréstimo deste último) e dois dentro de portas: o seu Vasco do coração, ao qual regressaria pela quarta vez em 2007 (ainda a tempo de marcar treze golos em quinze jogos) e o América do Rio de Janeiro, pelo qual faria uma única partida, a sua última como jogador profissional. Um ponto final estranhamente discreto para um dos nomes 'de monta' do futebol noventista, dono de uma carreira que, em vários pontos, tocara as estrelas.

Penduradas as botas, Romário escolheu seguir, não a carreira de treinador escolhida por tantos dos seus contemporâneos, mas uma bastante mais inesperada: a de político. O 'Baixinho' tornou-se deputado e, mais tarde, Senador do Congresso brasileiro pelo Partido Socialista (de Lula), tendo passado a 'fuzilar' com a língua, em vez de com os pés. O seu alvo mais notável, a este respeito, talvez tenha sido o Mundial de 2014, realizado no seu país natal, e sobre o qual procurou denunciar os problemas de corrupção e lavagem de dinheiro em torno do evento. Mais tarde, o 'Baixinho' viria a trocar de 'lado' político, juntando-se primeiro ao partido Podemos, do qual foi presidente, e mais tarde aos Liberais de Jair Bolsonaro, ao qual chegou a declarar publicamente o seu apoio. Uma mancha, dirão alguns, na carreira de um homem que, apesar de alguns problemas derivados de uma forte personalidade, foi, e mereceu ser, idolo de muitos durante os seus anos áureos nos relvados mundiais. Parabéns, 'Baixinho'!

28.01.23

As saídas de fim-de-semana eram um dos aspetos mais excitantes da vida de uma criança nos anos 90, que via aparecerem com alguma regularidade novos e excitantes locais para visitar. Em Sábados alternados (e, ocasionalmente, consecutivos), o Portugal Anos 90 recorda alguns dos melhores e mais marcantes de entre esses locais e momentos.

A infância e adolescência das crianças e jovens portugueses nascidos até ao início da década de 90, inclusivé, ficou marcada pela existência de uma série de espaços com os quais a geração pós-Milénio já não teve a oportunidade de conviver. E se, hoje em dia, conceitos como o de uma loja dedicada exclusivamente ao aluguer de vídeos, de uma salinha fumarenta apinhada de máquinas de jogos, ou de um espaço esconso e escuro repleto de lojas e até salas de cinema parecem perfeitamente mirabolante para quem tem menos de vinte e cinco anos, a ideia de um espaço comercial dedicado, única e exclusivamente, à venda de artigos 'das antigas' não fica muito atrás no que toca ao fantasismo. A única diferença é mesmo que estes espaços continuam, em certos pontos do País, a resistir ainda e sempre ao invasor (no caso, as grandes superfícies) afirmando-se como um dos últimos bastiões do verdadeiro comércio tradicional.

Falamos das drogarias – aquelas lojinhas que, via de regra, se 'apertavam' numa frente-loja de área bastante limitada, e onde se podia adquirir de tudo um pouco, desde os expectáveis perfumes e materiais de limpeza até pequenos electrodomésticos, jogos, brinquedos, bolas, equipas de Subbuteo ou mesmo figuras para o Presépio; em suma, autênticos 'supermercados' em ponto pequeno, invariavelmente chefiados por um comerciante sorridente, atencioso e tão 'à moda antiga' quanto os seus produtos, que oferecia garantias de qualidade e fazia valer a (por vezes considerável) diferença de preços em relação ao supermercado.

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Uma drogaria de configuração bem típica.

Para uma criança daquela época – para quem uma visita ao referido supermercado, ou ao café do bairro, constituía por si só toda uma experiência – estas drogarias surtiam o mesmo efeito que as lojas de brinquedos tradicionais, parecendo autênticas 'caixinhas de surpresas' que dava vontade de explorar – mesmo que o único 'tesouro' encontrado fosse uma barra de sabão azul-e-branco. E apesar de ser muito pouco provável que a nova geração se entusiasme com algo tão singelo e mundano, a verdade é que - conforme referimos no início deste post - as drogarias tradicionais continuam a existir em diversos pontos do nosso País, prontos a servir os mesmos clientes que, as visitam com regularidade desde há várias décadas, e constituindo um dos últimos verdadeiros 'elos de ligação' ao Portugal de antigamente ainda existentes nos dias de hoje.

27.01.23

Os anos 90 estiveram entre as melhores décadas no que toca à produção de filmes de interesse para crianças e jovens. Às sextas, recordamos aqui alguns dos mais marcantes.

Algumas figuras da chamada 'cultura pop' podem ser consideradas imortais, atravessando e influenciando várias gerações de crianças e jovens. De Zorro e Sherlock Holmes a Doctor Who e Harry Potter, a lista destes heróis é mais vasta do que, à partida, possa parecer – e um dos mais incontornáveis nomes nela contidos é o do agente secreto britânico James Bond.

De facto, apesar de ser pouco provável que algum jovem – português ou não – do último meio século tenha lido as obras escritas originais de Ian Fleming, é um dado quase adquirido que o mesmo terá visto pelo menos um dos filmes que, desde essa altura, vêm sendo dedicados ao herói. Com origem nos anos 60 – quando eram, ainda, contemporâneos dos próprios livros, e os mesmos estavam, ainda, a ser lançados – a franquia 007 conseguiu a proeza de, exactos sessenta anos após aquela primeira incursão com 'Dr. No' (de 1962) continuarem a atrair espectadores às salas de cinema, com o mais recente filme da série, lançado em 2021, a continuar a tendência de obras que, sem serem revolucionárias ou espectaculares, se traduzem ainda assim em duas horas de entretenimento de qualidade.

Esta definição pode, sem dúvida, aplicar-se a qualquer dos quatro filmes da era em que o agente foi interpretado por Pierce Brosnan (até então conhecido, sobretudo, pelos seus papéis em comédias familiares) os quais ajudaram a introduzir Bond a toda uma nova audiência, que era talvez demasiado nova para ter visto a última incursão do agente secreto no grande ecrã, 'Licença Para Matar', de 1989, e com Timothy Dalton no papel principal. De facto, para a geração nascida ou crescida nos anos 90 e 2000, Pierce Brosnan FOI James Bond – pelo menos até Daniel Craig herdar e redefinir o papel do agente britânico, já em pleno Novo Milénio. Assim, numa altura, em que o segundo destes filmes acaba de celebrar vinte e cinco anos sobre a sua estreia nacional (a 18 de Dezembro de 1997), nada melhor do que recordar, ainda que brevemente, a era em que o actor irlandês vestia o 'smoking' do distinto aficionado de Martinis.

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As bases para a 'fórmula´ dos filmes da era Brosnan seriam estabelecidas com 'GoldenEye', filme de 1995 que, hoje em dia, é mais lembrado pela actuação de Sean Bean, no papel do vilão Trevelyan, e pela extremamente bem sucedida adaptação electrónica lançada para Nintendo 64 em 1996. De resto, trata-se do típico 'filme-pipoca', com muitas explosões, cenas de acção mirabolantes e argumento simultaneamente simplista e complexo em demasia, que marcaria tanto esta franquia quanto a 'concorrente' 'Missão Impossível', de Tom Cruise.

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Esta mesma 'receita' alavancaria os dois filmes seguintes, 'O Amanhã Nunca Morre' (de 1997) e 'O Mundo Não Chega' (de 1999), duas obras muito semelhantes (até ao nível dos cartazes, como se pode constatar nesta mesma publicação) e que, como tal, se tendem a confundir na mente dos fãs mais 'casuais' de Bond. Ainda assim, e conforme referido no início desta publicação, qualquer dos dois representa uma excelente forma de 'matar' duas horas numa tarde ou noite mais 'preguiçosa', sobretudo para fãs da referida 'Missão Impossível' ou da franquia 'Kingsman'.

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A quadrilogia Brosnan encerrar-se-ia já no novo milénio, e de forma algo controversa, já que 'Morre Noutro Dia', de 2002, é geralmente tido como um dos piores filmes não só dessa era, mas de toda a série; ainda assim, o filme (que seguia a mesma fórmula dos anteriores) foi relativamente bem-sucedido, ainda que não o suficiente para prolongar a 'era Brosnan' – o filme seguinte, 'Casino Royale', de 2005, marcaria a estreia do quinto (e, até hoje, último) actor a vestir a pele do agento britânico, Daniel Craig. E ainda que o declarado afastamento deste último após o filme de 2021 marque o fim de mais uma era para a franquia, não é de crer que a mesma venha a terminar tão cedo – afinal, como o próprio título daquele filme indicava, o espião britânico encontra-se, regra geral, 'Sem Tempo Para Morrer'

26.01.23

Trazer milhões de ‘quinquilharias’ nos bolsos, no estojo ou na pasta faz parte da experiência de ser criança. Às quintas, o Portugal Anos 90 recorda alguns dos brindes e ‘porcarias’ preferidos da juventude daquela época.

De entre todos os produtos industrializados com oferta de brindes na embalagem comercializados em Portugal nos anos 90, o Bollycao (e outros produtos da Panrico) estiveram entre os mais consistentemente populares, ocupando um honroso e bem cimentado segundo lugar, atrás da 'criadora de febres' Matutano. E apesar de nunca ter conseguido concorrer, em termos de popularidade, com os Tazos, as Matutolas, as Caveiras Luminosas e os Pega-Monstros, a panificadora não deixou de ser responsável por algumas linhas de brindes bem memoráveis para quem cresceu naquele tempo, como os lendários autocolantes dos 'Tou's, as Janelas Mágicas, os cromos e tatuagens temporárias das Tartarugas Ninja, ou o jogo de que se fala hoje, os Bollykaos.

2014951481-cromo-nixi-o-diabo-bollykaos-the-legendUma das cartas da colecção

Lançado já na segunda metade do século XX, e contando com duas 'séries' - subituladas 'The Game' e 'The Legend' - respectivamente este jogo mais não era do que uma versão graficamente mais interessante das icónicas 'Super Cartas' da Majora, que substituía os motivos de motas, aviões, carros de corrida ou jipes por monstros e criaturas alienígenas, bem ao gosto do público-alvo.

 

Havia, ainda, uma tentativa de diversificar um pouco a forma de jogar, através do uso da chamada 'Pirâmide de Poder' - na verdade, um dado losangular, ao estilo dos usados no famoso 'Dungeons and Dragons', cujo suposto objectivo era ditar qual das quatro características de cada criatura (Ataque, Defesa, Inteligência ou Velocidade) deveria ser comparado; o vencedor deveria, ainda, gritar 'Kao' como forma de declarar o seu direito às restantes cartas em jogo (um pouco ao estilo do que acontecia no 'Uno!'), sendo que só após este acto poderia recolher os seus 'ganhos'.

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As regras do jogo e as 'Pirâmides de Poder' (crédito das imagens: OLX)

Estas regras, que procuravam dar ao jogo um carácter diferenciado, sucumbiam, no entanto, à tendência das crianças para adoptar, instintivamente, fórmulas conhecidas, sendo que a maioria dos jogadores se limitava a utilizar as regras das referidas 'Super Cartas' (ou do muito semelhante, jogo com temática do Dragon Ball Z oferecido pela Matutano alguns anos antes), dispensando o uso da tal 'Pirâmide do Poder' – um brinde que, apesar de grátis (tal como a caixa para guardar as cartas – ou antes, 'Kartas') poucas crianças tinham (ou, pelo menos, se davam ao trabalho de carregar consigo, no bolso.)

Assim, para quem era fã das cartas, esta foi uma colecção 'gira', mas sem grande novidade, enquanto que quem era um pouco mais novo, ou nunca tinha tido contacto com os baralhos da Majora, terá tido por meio deste brinde a sua introdução a esse tipo de jogo. Fosse qual fosse a circunstância, no entanto, os Bollykaos deixaram a sua marca entre a juventude da época, merecendo o seu lugar no panteão de promoções e brindes memoráveis dos anos 90 e 2000.

 

25.01.23

A banda desenhada fez, desde sempre, parte da vida das crianças e jovens portugueses. Às quartas, o Portugal Anos 90 recorda alguns dos títulos e séries mais marcantes lançados em território nacional.

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Capa da antologia dedicada ao autor, lançada pela Escorpião Azul.

Na era pré-Internet, em que qualquer criador se via forçado a 'fazer nome' utilizando os parcos e escassos meios ao seu dispôr, um dos melhores veículos para novos nomes se tentarem tornar conhecidos eram as fanzines – títulos criados, como o nome indica, por e para fãs do estilo, e editadas de forma totalmente independente e, muitas vezes, claramente amadora, num daqueles casos em que a vontade era suficiente para superar a falta de recursos. E a verdade é que esta táctica acabava, esporadicamente, por render dividendos, tendo alguns nomes posteriormente conhecidos do mundo da música, literatura ou banda desenhada tido o seu início de carreira em publicações deste tipo.

No caso da banda desenhada, um desses nomes é Pedro Pereira, mais comummente conhecido pela sua alcunha, Pepedelrey, e que apesar de ser hoje um nome de culto nos meios 'bedéfilos' portugueses, apenas após o Novo Milénio conseguiu publicar trabalhos em nome próprio. Até esse ponto, a carreira deste artista e argumentista (iniciada em 1985) havia-se desenrolado, exclusivamente, à base de participações em 'fanzines' e antologias de BD lançadas por editoras cada uma mais obscura do que a outra.

À luz destes factos, e tendo em conta a época da História em que os mesmos se desenrolavam, a carreira almejada pelo artista natural de Oeiras não se pode considerar menos do que invejável; o facto de Pepedelrey ser, hoje, um artista conceituado (e fundador do célebre Lisbon Studio, um dos maiores estúdios de BD do País) após ter logrado progredir a um nível de tal modo independente durante mais de quinze anos, é um testamento não só da qualidade do trabalho deste autor, mas também da sua força de vontade, que o ajudou a almejar um estatuto de culto no meio da banda desenhada portuguesa logo nos anos 90, e a mantê-lo até aos dias de hoje.

24.01.23

Porque nem só de séries se fazia o quotidiano televisivo das crianças portuguesas nos anos 90, em terças alternadas, este blog dá destaque a alguns dos outros programas que fizeram história durante aquela década.

Os anos 90 constituíram uma verdadeira 'época áurea' no que tocou aos blocos de programação infantil em Portugal, tendo visto nascer alguns dos mais memoráveis exemplos deste formato da História da televisão portuguesa; do 'Buereré' da SIC à 'Casa do Tio Carlos' e, mais tarde, o 'Batatoon' e 'Mix Max' (todos na TVI) as crianças portuguesas daquela década tiveram muito por onde escolher no tocante a programas que intercalavam a exibição de desenhos animados e séries infantis com jogos, passatempos e interlúdios musicais, com animação a cargo de um ou mais apresentadores carismáticos e bem-dispostos.

No caso da RTP, o representante deste tipo de programa começou por ser 'A Hora do Lecas', passando depois a chamar-se 'Brinca Brincando' (termo que se aplicou a uma série de formatos, sendo o mais memorável 'Os Segredos do Mimix') até, em 1993, se fixar como 'Um-Dó-Li-Tá', nome pelo qual o bloco infantil da emissora estatal seria conhecido até praticamente ao final da década.

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Alternando, durante os seus cinco anos de vida, entre a RTP1 e a RTP2, o programa foi alvo de várias re-estuturações de formato, por vezes concomitantes com estas mudanças. A proposta inicial não andava longe da das concorrentes, consistindo em desenhos animados intercalados com segmentos moderados por dois apresentadores - no caso Francisco Barbosa e Vera Roquette, esta última já bem querida da 'pequenada' devido à sua associação com o 'Agora Escolha', programa onde revelara uma aptidão especial para comunicar com os mais novos.

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Vera Roquette foi a primeira apresentadora do programa. (Crédito da foto: Desenhos Animados Anos 90)

Mais tarde, em 1994, a 'apresentação' passaria a ficar a cargo de dois bonecos, o 'Umdó' e a 'Litá', duas molas com vida que, nos anos finais do programa, foram substituídos por outros dois bonecos, HumHum e Benzé, que ocupariam o 'cargo' até à extinção do formato, em 1998, num caso óbvio de discriminação contra humanos...

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As molas animadas Umdó e Litá substituiriam os apresentadores humanos a partir de 1994

O que não se alterou ao longo do tempo de vida do programa foram a duração, que se manteve nas duas horas, e a aposta em conteúdos nacionais, como 'Rua Sésamo', 'Os Amigos de Gaspar' ou 'No Tempo dos Afonsinhos', à mistura com as habituais séries estrangeiras. Um formato perfeitamente 'seguro', sem grandes inovações, e sem a agitação frenética dos concorrentes directos (aproximava-se mais do ambiente tranquilo de 'A Casa do Tio Carlos' do que do 'espalhafato' de Ana Malhoa ou Batatinha) mas perfeitamente capaz de lhes fazer frente, até por dispôr de alguns bons argumentos a nível de séries e programas – e, como tal, bem digno de homenagem num ano em que se comemoram, simultaneamente, os trinta anos da sua estreia e os vinte e cinco da sua última emissão...

Dois excertos de eras diferentes do programa.

 

23.01.23

Qualquer jovem é, inevitavelmente, influenciado pela música que ouve – e nos anos 90, havia muito por onde escolher. Em segundas alternadas, exploramos aqui alguns dos muitos artistas e géneros que faziam sucesso entre as crianças daquela época.

No dealbar do ano de 1998, um álbum dominava os tops nacionais de música – um álbum que se viria a tornar um dos mais bem-sucedidos de sempre, atingindo uma impressionante quádrupla platina. Tratava-se de 'Saber A Mar', sexto trabalho de originais de um dos grupos favoritos dos adolescentes portugueses das décadas de 80 e 90: os icónicos Delfins.

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De facto, apesar de o referido trabalho os ter catapultado para todo um novo nível de sucesso, os Delfins contavam já com mais de uma década 'na ribalta' aquando do seu lançamento em 1996, sendo um dos nomes mais sonantes da vaga de 'pop-rock' surgida no nosso País durante essas duas décadas ao lado de nomes como Xutos & Pontapés, GNR e Rádio Macau, com os quais partilhavam características como as letras em português e o registo distinto do seu vocalista, o 'bonitão' Miguel Ângelo, também integrante do projecto Resistência. 'Hits' como 'Nasce Selvagem' e 'Um Lugar ao Sol' garantiam ao grupo presença assídua nas principais estações de rádio da época, e ajudavam a manter o colectivo no 'radar' cultural nacional.

O sucesso da banda não se cingia, aliás, aos territórios nacionais, sendo que, por alturas do lançamento do trabalho em causa, o grupo português havia já realizado espectáculos na Expo '92, em Espanha, na sala Zénith, em Paris, e na prestigiada Brixton Academy, de Londres; já dentro de portas, o grupo esgotava concertos por onde passava, fosse a abrir para Tina Turner em Alvalade,, a inaugurar 'de surpresa' o icónico Johnny Guitar ou a 'aquecer' literalmente a plateia no tradicional espectáculo de Ano Novo no Terreiro do Paço, todos em 1990. O Pavilhão Carlos Lopes, a Festa do Avante e o Coliseu dos Recreios de Lisboa foram alguns dos outros icónicos certames a presenciar a ascensão do grupo ao panteão do 'pop-rock' nacional durante aquela que foi a sua época de afirmação definitiva – e que, como já foi referido, acabaria em apoteose, com Miguel Ângelo e companhia a bater recordes de vendas com o seu sexto álbum, a tocarem na Expo '98 e a consumarem a tentativa de internacionalização com um álbum de temas adaptados para o Espanhol ('Azul', de 1998), já depois de o seu líder ter participado, como juiz, no mega-sucesso da SIC, 'Chuva de Estrelas', e dado a voz ao cowboy Woody na excelente dobragem nacional de 'Toy Story - Os Rivais', em 1995.

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Capa do grande êxito do grupo.

Infelizmente, esta tendência não se manteria no Novo Milénjo – apesar dos lançamentos regulares e consistentes (entre álbuns de originais, ao vivo, colectâneas e DVDs, foram onze registos) e da manutenção de um público fiel que 'crescera' com eles, a banda não mais veria os níveis de sucesso atingidos por volta de 1997, inserindo-se antes na categoria de 'instituição nacional', ao lado da maioria dos grupos da mesma vaga. Ainda assim, o estatuto do grupo ainda lhes permite viajar até ao Canadá e a Macau, tocar num cruzeiro em Marrocos, participar na segunda edição do concurso 'Operação Triunfo', e actuar em locais tão icónicos da Grande Lisboa como o Casino Estoril e o Centro Cultural de Belém, bem como no Rivoli do Porto.

Mesmo com toda esta projecção – ou talvez por causa dela – o grupo surpreendia a cena musical portuguesa ao anunciar um hiato, em 2009 – o qual acabaria por durar uma década, tendo a banda cascalense voltado a reunir-se em 2019 para um concerto nas Festas do Mar de Cascais, e celebrado no ano seguinte os quarenta anos de carreira; e embora, a este ponto, o futuro dos Delfins permaneça incerto, a sua trajectória já mais que justificou o seu estatuto de 'lendas' da música portuguesa – para o qual o álbum mais vendido em Portugal no ano de 1997 contribuiu de forma definitiva...

22.01.23

Ser criança é gostar de se divertir, e por isso, em Domingos alternados, o Anos 90 relembra algumas das diversões que não cabem em qualquer outra rubrica deste blog.

No nosso último post, abordámos o tradicional jogo do pião, o qual, apesar de se encontrar em ocaso de popularidade em finais do século XX, divertia ainda muitas crianças de Norte a Sul do País. Nesse post, referimos ainda a existência de um outro tipo de pião, de características, uso e finalidade ligeiramente diferentes; é, precisamente, esse o brinquedo que nos ocupará a atenção neste Domingo Divertido.

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Quase certamente parte integrante da infância dos portugueses nascidos nos últimos anos da década de 80 e primeiros da seguinte (altura na qual deixaram de ser tão prevalentes ou populares) estes brinquedos eram um clássico da era pré-hipermercados, sendo frequentemente comercializados nas lojas de brinquedos tradicionais, de bairro, e sendo uma excelente opção para um 'presente improvisado' numa Saída de Sábado ou visita dos avós ao fim-de-semana, mais ou menos ao mesmo nível dos conjuntos mais básicos da LEGO, Playmobil ou Pinypon. Talvez fosse essa a razão pela qual este produto marcasse presença nos quartos de tantas crianças abaixo de uma certa idade durante o referido período da História – ou talvez esse fenómeno se prendesse com o facto de estes instrumentos conseguirem, efectivamente, proporcionar largos momentos de diversão durante uma tarde 'preguiçosa' em casa.

O modo de operar estes piões musicais (à falta de melhor nome) era tão simples e intuitivo quanto apelativo e viciante: bastava empurrar para baixo a manivela localizada no topo do brinquedo, e logo o mesmo começava a girar, criando uma espécie de 'animação' rudimentar com os motivos que o decoravam, ao mesmo tempo que emitia uma melodia ao estilo 'caixa de música'. Uma combinação que, ligada ao elemento táctil de fazer 'arrancar' o brinquedo, o tornava por demais apelativo para a sua demografia alvo de crianças abaixo dos cinco ou seis anos, sendo capaz de prender a sua atenção durante largos minutos.

Tal como tantos outros dos brinquedos de que aqui falamos, no entanto (entre eles o 'outro' tipo de piões) também estas caixinhas de música giratórias acabaram por perder o interesse com a chegada de novas e excitantes possibilidades tecnológicas; de facto, hoje em dia, numa era em que até as crianças mais pequenas têm 'tablets' nas mãos enquanto passeiam de carrinho, um brinquedo como este fica algures entre o caricato e o pitoresco. Quem cresceu na era pré-digital, no entanto, certamente saberá o nível de diversão que algo tão simples conseguia proporcionar, e terá talvez até ficado com vontade de ir procurar o seu próprio exemplar 'vintage', da infância, para dar aos filhos...

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