Os Sábados marcam o início do fim-de-semana, altura que muitas crianças aproveitam para sair e brincar na rua ou no parque. Nos anos 90, esta situação não era diferente, com o atrativo adicional de, naquela época, a miudagem disfrutar de muitos e bons complementos a estas brincadeiras. Em Sábados alternados, este blog vai recordar os mais memoráveis de entre os brinquedos, acessórios e jogos de exterior disponíveis naquela década.
Já porváriasvezesaquimencionámos que, por vezes, os conceitos mais simples são mais do que suficientes para entreter uma criança ou jovem – e o item de que falaremos neste 'post' é prova disso mesmo. Isto porque, apesar de não ser o brinquedo MAIS básico de sempre, o tema deste Sábado aos Saltos não deixa de ser pouco mais do que um pedaço de plástico ou borracha moldado numa forma arredondada – o que não o impede de ser um dos divertimentos mais populares um pouco por todo o Mundo desde, pelo menos, de finais do século XX.
Dois 'primos' diferentes, mas de propósitos muito semelhantes.
Falamos, claro, dos clássicos 'discos voadores' (conhecidos internacionalmente como 'frisbees'), e dos seus 'irmãos mais novos', os ringues de borracha – dois tipos de produto que, em Portugal, constituíam mesmo a principal alternativa às raquetes e à tradicional bola (insuflável ou de futebol ou vólei) como o jogo de Verão por excelência. Embora tivessem, em relação aos mesmos, um 'handicap' considerável – nomeadamente, o facto de estarem sujeitos aos caprichos do vento, o que resultava em lançamentos muito pouco precisos que obrigavam, a maioria das vezes, a que um dos jogadores fosse buscar o brinquedo a uma distância considerável – estes dois 'primos direitos' colmatavam essa pecha com o facto de serem, como as raquetes, universalmente aceites por jovens e adultos de todas as idades, constituindo portanto um excelente divertimento familiar.
Também à semelhança das raquetes, os 'discos voadores' em plástico continuam a ser vendidos em larga escala hoje em dia, ainda que a sua presença nas praias e jardins portugueses seja, agora, muito menor, e o seu uso esteja maioritariamente confinado aos donos de cães de companhia – o que, aliás, acontece também com os ringues de borracha; quem cresceu em finais do século passado, no entanto, certamente terá memórias associadas a 'correrias' pela areia atrás de um disco que, de tão alta e rapidamente que voava, parecia em riscos de ir parar à praia seguinte...
Os anos 90 estiveram entre as melhores décadas no que toca à produção de filmes de interesse para crianças e jovens. Às sextas, recordamos aqui alguns dos mais marcantes.
Já anteriormente aqui abordámos o facto de, apesar de o género da ficção científica ter rendido muito mais clássicos nos anos 80 do que na década seguinte, os poucos grandes filmes do género que saíram durante os anos 90 terem, quase universalmente, adquirido o estatuto de clássicos desde a sua estreia; de 'O Exterminador Implacável 2' e 'O Dia da Independência' a 'Matrix' e 'Episódio I - A Ameaça Fantasma', a lista de mega-producções de temática futurista da última década constituiu um verdadeiro ror de êxitos de bilheteira, os quais almejaram também, muitas vezes, o consenso entre a sempre exigente crítica especializada.
Curiosamente, o ano de 1997 acabou por ser particularmente prolífero nesse campo, oferecendo às salas de cinema mundiais vários filmes de qualidade dentro deste género. De 'Homens de Negro' já aqui falámos; a 'O Enigma do Horizonte', atempadamente chegaremos; no entrementes, chega a altura de falar de um filme que celebrou há pouco mais de duas semanas o vigésimo-quinto aniversário da sua estreia nas salas portuguesas – facto que, por um lapso de calendarização, não chegámos na altura a assinalar. Neste 'post', corrigimos esse erro, e dedicamos finalmente umas linhas a 'O Quinto Elemento'.
Realizado pelo excêntrico francês Luc Besson, conhecido pelos seus filmes de acção estilosos e com cenas 'a mil à hora', 'O Quinto Elemento' destoa um pouco na filmografia do cineasta, tendo muito pouco a ver com o anterior 'Léon, o Profissional', com o futuro mega-sucesso 'Taken' ou com a série 'Taxi', onde Besson foi guionista e produtor; onde esses eram filmes relativamente simples, de ambiente (mais ou menos) realista e focados na acção pura e dura, a longa-metragem de 1997 leva-nos até um futuro distante, claramente influenciado pelo clássico 'Blade Runner', e adopta um tom mais próximo deste do que da habitual linha 'Guy-Ritchie-parisiense' das obras de Besson. Em comum com muita da restante obra do francês, o filme tem a componente visual – repleta de penteados e perucas mirabolantes, a concorrer com o inevitável 'neon' que qualquer filme futurista tem que incluir – e o cuidado no desenvolvimento de personagens marcantes, com particular destaque para o andrógino empresário da vida nocturna Ruby, interpretado por Chris Tucker, hoje em dia talvez o elemento mais icónico e lembrado do filme.
O excêntrico e andrógino Ruby de Chris Tucker é um dos personagens mais memoráveis do filme
Estes pequenos toques ajudam, em grande medida, a colmatar a história, que nada tem de especial, sendo a habitual trama sobre um polícia futurista (o Korben Dallas de Bruce Willis), também claramente herdada de 'Blade Runner', mas que é, ainda assim, apresentada e contada com competência acima da média, proporcionando duas horas de entretenimento garantido - como é, aliás, apanágio do realizador francês.
Em suma, 'O Quinto Elemento' é um filme bem típico da época estival (apesar do ambiente escuro e pós-apocalíptico) e que constituiu, à época da sua estreia, uma desculpa mais do que válida para escapar do sol de finais de Agosto para o frescor de uma sala de cinema; hoje, vinte e cinco anos depois desse momento, a obra de Luc Besson, além de continuar a 'aguentar-se' bastante bem, tem o prestígio adicional de não só ter inspirado futuras incursões do cineasta pelo ramo da ficção científica – como 'Lucy' ou o mais recente 'Valerian e a Cidade dos Mil Planetas' – como também se contar entre os melhores lançamentos do género a sair da década de 90, tendo-se merecidamente tornado um clássico dos videoclubes da viragem de milénio. Razões mais que suficientes para que lhe dediquemos (ainda que já atrasadamente) esta mão-cheia de parágrafos...
Todas as crianças gostam de comer (desde que não seja peixe nem vegetais), e os anos 90 foram uma das melhores épocas para se crescer no que toca a comidas apelativas para crianças e jovens. Em quintas-feiras alternadas, recordamos aqui alguns dos mais memoráveis ‘snacks’ daquela época.
A experiência de ingressar oficialmente na escola é sempre um marco para qualquer criança, independentemente da nacionalidade ou do período em que viveu - sobretudo pelo sem-fim de trâmites e rituais que acarreta, da aquisição do material e roupa à mudança de rotinas diárias, até então, aparentemente imutáveis. Uma destas rotinas é, precisamente, a da refeição à mesa familiar, que, para muitas crianças, se torna a excepção, em vez da regra, a partir do momento em que iniciam o pré-escolar ou a instrução primária.
Como forma de 'suavizar' esta transição, e de colmatar quaisquer falhas na alimentação das crianças decorrentes da mesma, a Direcção Geral de Educação portuguesa inaugurou, ainda em finais dos anos 70, um programa que visava a distribuição, em escolas primárias e preparatórias, de cerca de dois decilitros de leite a cada aluno, sendo os mesmos, a princípio, criados sobre o lume a partir de leite em pó e, mais tarde, providenciados nas 'caixinhas' Tetrapak com que este tipo de produto alimentício viria a ficar conotado em décadas subsequentes.
As pequenas 'obras de arte' descartáveis em que o leite era distribuído.
Foi neste formato que o Leite Escolar (como era, singelamente, apelidado) penetrou na infância das crianças da época a que este blog diz respeito, e é precisamente por ele que é, por elas, nostalgicamente recordado; isto porque o principal motivo de interesse deste leite não era o sabor (que não suplantava a mediania entre os leites com chocolate da época) mas sim a forma como os pacotinhos eram decorados – no caso, com desenhos criados por outras crianças, que davam a cada caixinha um aspecto distinto, e que quase faziam ter pena de a deitar fora depois de vazia - haverá aliás, quase certamente, quem se tenha mesmo dado ao trabalho de guardar as caixinhas, dispondo hoje, assim, de uma colecção que talvez até valha algum dinheiro. Já para quem tinha menos sensibilidades artísticas, a principal memória deste leite será do estampido que o pacote vazio fazia quando se lhe aterrava em cima a pés juntos – um barulho que, certamente, muita gente estará neste preciso instante a 'ouvir' mentalmente, após o ter provocado (ou com ele se ter assustado) na sala de aula da infância.
Curiosamente, ao contrário de muitos dos alimentos que aqui têm vindo a ser recordados, o Leite Escolar ainda existe, continuando a ser distribuído em escolas de Norte a Sul do País exactos 45 anos após a criação do programa – embora, actualmente, apenas em agrupamentos que optem por aderir à iniciativa. Ainda assim, haverá pouco quem dispute (sobretudo entre a demografia a que este blog possa interessar) que o programa teve o seu auge em finais do século e milénio passados, quando as caixinhas distribuídas duas vezes por dia marcaram época entre as crianças de então...
NOTA: Este post é respeitante a Quarta-feira, 07 de Setembro de 2022.
NOTA: O Anos 90 lamenta a morte da Rainha Isabel II, de Inglaterra, aos 96 anos. Que descanse em paz.
Em quartas-feiras alternadas, falamos sobre tudo aquilo que não cabe em nenhum outro dia ou categoria do blog.
Ao longo da História, têm sido várias as figuras incontornáveis na cultura popular e mediática; e se muitas delas atingem esse estatuto por se verem constantemente envolvidos em escândalos e outras 'aventuras', outras há que o conquistam, pura e simplesmente, por serem boas pessoas, parecendo deixar um vazio quando (mais ou menos) inevitavelmente, desaparecem.
Curiosamente, as primeiras semanas de Setembro do ano de 1997 – a época sobre a qual passam agora exactos vinte e cinco anos – viram serem 'levadas', em pouco mais de uma semana, duas das principais figuras habitualmente conotadas com a segunda categoria acima citada: Diana, a Princesa de Gales, e a religiosa e Prémio Nobel da paz Madre Teresa de Calcutá. E apesar de as suas mortes terem ocorrido em circunstâncias radicalmente distintas – como, aliás, tinha também sido o caso com as suas vidas - a proximidade das datas, bem como as características em comum que ambas partilhavam, acabaram por ligar indelevelmente estas duas mulheres na consciência colectiva mundial.
As duas mulheres em causa, em encontro directo
Isto porque tanto Diana Spencer como Anjezë Gonxhe Bojaxhiu dedicaram grande parte das suas vidas à filantropia, e a ajudar, como podiam, os pobres, necessitados, fracos e oprimidos: Diana através da aplicação da sua fortuna pessoal (ainda ampliada aquando do seu ingresso na Família Real britânica) em causas que a tocavam a nível pessoal, Teresa através do trabalho missionário e esforços humanitários, muitas vezes em colaboração directa com instituições como a Cruz Vermelha. E se a Princesa de Gales teve pouco menos de metade da sua vida para a prossecução destes propósitos, tendo falecido com apenas trinta e seis anos, Madre Teresa dedicou-lhes mesmo a maior parte de uma vida que só terminou aos oitenta e sete anos de idade.
Diana na imprensa britânica e mundial
A filantropia e as datas de falecimento curiosamente próximas são, no entanto, os únicos pontos em comum entre as duas mulheres, cujas vidas não podiam, no restante, ter sido mais diferentes. Diana Spencer (que antes de ser princesa treinava para ser jornalista) era loira, de tez clara, filha de nobres britânicos, casada com um homem com o dobro da sua idade e algo dada a 'aventuras' românticas que preenchiam, frequentemente, as primeiras páginas dos tablóides e revistas 'cor-de-rosa' mundiais, sendo mesmo ao lado de um dos seus amantes que viria a falecer, na sequência de um aparatoso acidente automóvel em Paris; já Teresa de Calcutá era morena, de tez escura, e – apesar de filha de um político Macedónio – encontrou no seminarismo religioso e trabalho humanitário a sua vocação e modo de vida, surgindo na imprensa, sobretudo, como presença constante em cenários de crise ou como receptora de múltiplas condecorações e prémios (não obstante algumas opiniões menos favoráveis veiculadas a seu respeito por membros da imprensa mundial) e vindo a morrer de causas naturais, após uma vida longa e cujos feitos lhe valeram a canonização após a morte.
Duas mulheres muito diferentes, portanto, mas que ficam ligadas não só pela proximidade das datas das respectivas mortes (com menos de uma semana entre si, causando um momento de 'choque duplo' à população da época) como também pela paixão que partilhavam pelas boas acções e pela ajuda aos necessitados – duas características comuns que continuam, um quarto de século após a sua morte, a uni-las na mente de quem recorda aquela semana trágica de final do Verão de 1997.
NOTA: Este post é correspondente a Terça-feira, 06 de Setembro de 2022.
Porque nem só de séries se fazia o quotidiano televisivo das crianças portuguesas nos anos 90, em terças alternadas, este blog dá destaque a alguns dos outros programas que fizeram história durante aquela década.
Para quem foi adolescente em Portugal na ponta final do século XX e inícios do novo milénio, os nomes de Rui Unas e Fernando Alvim terão, decerto, um significado bastante distinto do que têm para os restantes dos comuns mortais; isto porque, enquanto a população geral conhece estes dois homens, sobretudo, pelo seu trabalho no popular '5 Para a Meia-Noite', da RTP1, para os jovens daquele tempo os mesmos são não só 'uns gandas malucos', como a melhor dupla de apresentadores de sempre de um dos melhores programas televisivos juvenis de sempre.
Estreado mesmo na recta final do século XX, a 15 de Setembro de 1999, o 'Curto Circuito' (ou 'CC', como era familiarmente conhecido) deu aos jovens daquele final de Segundo Milénio e inícios de Terceiro aquilo que eles já de há muito não tinham – um espaço verdadeiramente dirigido a si, e aos seus interesses, que oferecia, sem condescendências nem paternalismos, informações sobre cinema, música, videojogos, tecnologia, desporto, e até alguns temas 'de debate', sempre dentro de campos relevantes para a demografia-alvo. Escusado será dizer que a fórmula criada por Unas e Pedro Miguel Paiva foi abraçada quase de imediato por essa mesma demografia, para quem o programa – que, à época, contava com uma cara bem conhecida dos jovens portugueses como coadjuvante de Unas, no caso Rita Mendes, do Templo dos Jogos – constituía a única razão para sintonizar o hoje defunto CNL (ou Canal de Notícias de Lisboa) onde o formato começou por ganhar vida.
Rapidamente, no entanto, se tornou igualmente óbvio que o 'CC' era demasiado 'grande' para os confins daquele modesto canal, e não tardou até o programa ter nova casa; escassos dezoito meses após a sua estreia, e após uma estadia (muito) temporária no então Canal Programação da TV Cabo (e já com Alvim a fazer parelha com o 'maluco' Unas) o formato é escolhido como 'âncora' de um novo projecto ligado à SIC – um canal totalmente dirigido e dedicado ao público jovem, que levaria o nome de SIC Radical.
Os 'gandas malucos' originais ...
Do que se segue, reza a História da televisão portuguesa: dois apresentadores em absoluto estado de graça, um programa que cresce e se expande paralelamente ao canal que representa (e com idêntico grau de sucesso), bonecos amarelos, segmentos e rubricas que adquirem estatuto de culto (como o espaço dedicado ao rock pesado apresentado semanalmente por António Freitas), e a passagem progressiva de testemunho a outros futuros ídolos da juventude lusa, dos quais se destacam nomes hoje tão conhecidos como Diogo Beja, Pedro Ribeiro – já bem conhecido desse mesmo público enquanto apresentador de outro 'clássico' da década de 90, o Top + - João Manzarra, Diogo Valsassina e, claro, Bruno Nogueira, talvez o mais incontornável e consensual apresentador do programa desde a dissolução do duo Unas/Alvim, e ainda hoje um dos mais populares comediantes nacionais.
...e o outro grande 'duo dinâmico' do programa
Infelizmente, os conteúdos do programa em si nem sempre acompanharam a qualidade da apresentação, sendo o período com apresentação de Bruno Nogueira e Carla Salgueiro normalmente considerado o último grande momento do 'CC' antes do declínio; ainda assim, as sucessivas gerações de espectadores do programa claramente não pareceram incomodados, como se pode comprovar pelo facto de o programa continuar no ar até aos dias de hoje, quase exactamente vinte e três anos após a sua primeira emissão, posicionando-se assim - a par de formatos lendários como 'O Preço Certo em Euros' – como um dos mais longevos programas da televisão portuguesa actual - proeza que consegue sem nunca se ter desviado do seu objectivo inicial, e tendo mantido sensivelmente o mesmo formato, um feito admirável, independentemente do que se pense sobre o estado do programa hoje em dia.
Quem 'esteve lá' no início, no entanto, sabe que, por melhor que o 'CC' actual seja, tempos houve em que o programa conseguiu ser, ainda, muito, muito melhor, e constituir a referência que a 'malta jovem' daquele tempo tanto procurava – tempos esses que esperamos ter conseguido reviver (ainda que apenas parcialmente) nestas breves linhas de tributo a um dos mais históricos formatos para jovens da História da televisão portuguesa moderna.
O 'ganda maluco' Rui Unas com a verdadeira estrela da fase inicial do programa
NOTA: Este post é respeitante a Segunda-feira, 05 de Setembro de2022.
Qualquer jovem é, inevitavelmente, influenciado pela música que ouve – e nos anos 90, havia muito por onde escolher. Em segundas alternadas, exploramos aqui alguns dos muitos artistas e géneros que faziam sucesso entre as crianças daquela época.
Para a juventude portuguesa de finais dos anos 90 (como, presumivelmente, para as de outras décadas) há músicas que ficam, indelevelmente, ligadas a certos anos, e sobretudo à época de Verão, em que a disponibilidade e oportunidades para ouvir e apreciar música aumentam; e se o Verão de 1997 foi, sem dúvida, dominado pelo êxito dos escandinavos Aqua, 'Barbie Girl', houve outra música que – sobretudo para fãs de videojogos ou de música mais alternativa – também não deixou de marcar a segunda metade daquele ano, e a primeira do seguinte.
Falamos de 'Firestarter', primeiro single retirado do terceiro álbum de um colectivo britânico que, apesar de vir já 'fazendo algumas ondas' no seu país natal, era ainda maioritariamente desconhecido por terras lusas, situação que se alterou quando o referido tema surgiu como parte da banda sonora de 'Wipeout 2097', o jogo de corridas futurista que constituiu um dos maiores sucessos do ano - e de toda a biblioteca das consolas em que foi lançado, a Playstation e a Sega Saturn – muito graças à sua banda sonora, que incluía nomes tão sonantes no meio da electrónica como Chemical Brothers, Underworld, e o colectivo em causa, The Prodigy.
Formados no condado de Essex, a sul de Londres, logo no início da década, o projecto liderado por Liam Howlett e que tinha como 'cara' o dançarino e vocalista Keith Flint tinha, desde então, vindo a construir 'a pulso' a sua reputação entre os 'ravers' britânicos, tendo os seus dois primeiros álbuns – os excelentes 'The Prodigy Experience', de 1992, e 'Music For The Jilted Generation', de 1994 – granjeado desde logo considerável sucesso não só junto dessa mesma demografia, mas também de uma população generalista - os dois singles retirados de 'Experience', por exemplo, chegam ao Top 5 de música nas Ilhas Britãnicas, e 'Music...' ocupa o primeiro posto do 'top' de álbuns do país logo desde o seu lançamento.
No estrangeiro, no entanto, o nome 'The Prodigy' só se popularizaria mesmo após o lançamento de 'Firestarter', que – com a irreverente prestação vocal de Flint e os característicos coros de 'hey-hey-hey' – ajuda também a propulsionar as vendas do terceiro álbum do colectivo, 'The Fat of the Land'. Longe de se 'apoiar' no single e mega-sucesso, no entanto, o álbum com o icónico caranguejo na capa oferece a quem o adquire um punhado de músicas tão boas como 'Firestarter' (ou mesmo melhores, como o segundo single, 'Breathe', um dos clássicos do grupo) o que só ajuda a cimentar a reputação de Howlett, Flint e companhia junto da sua demografia-alvo – que, curiosamente, inclui uma parcela considerável de fãs de 'rock', um sector da população que, regra geral, não tende a gravitar para grupos de electrónica pura e dura como é o caso dos ingleses; o controverso tema de abertura do álbum, 'Smack My Bitch Up', era mesmo alvo de atenção por parte de rádios de pendor mais 'rock', o que talvez tenha contribuído para este sucesso inter-demográfico.
Escusado será dizer que, obtido o reconhecimento, o nome e a música dos Prodigy não tardou em começar a aparecer associado a outros meios, ficando particularmente na memória o assombroso 'trailer' da 'Manga Vídeo' editado ao som de 'Voodoo People', outro clássico do grupo, este retirado do seu segundo álbum. Naquele Verão de 1997 e inícios de 1998, o colectivo britânico parecia inescapável, tendo mesmo conseguido a 'proeza' de render a então todo-poderosa MTV aos seus encantos – 'Smack My Bitch Up' arrecadava não um, mas dois prémios na edição de 1998 dos igualmente influentes Video Music Awards realizados anualmente pelo canal.
Um dos melhores anúncios alguma vez exibidos em Portugal teve música do colectivo
O que ninguém podia prever, no entanto, era que os Prodigy entrassem em hiato menos de dois anos após o lançamento do seu maior êxito discográfico; foi, no entanto, precisamente isto que se passou, com a saída de Leeroy Thornhill, parceiro de Flint na 'linha da frente', a precipitar uma 'pausa' de três anos na carreira do colectivo. O regresso dava-se com 'Always Outnumbered, Never Outgunned', de 2001, álbum de sonoridade pouco característica e, como tal, considerado inferior e algo 'esquecido' na discografia do grupo; o verdadeiro 'som Prodigy' só retornaria, pois, em 'Invaders Must Die', de 2008, que se posiciona como o sucessor natural de 'Fat', não só pela sonoridade mas também por assinalar a reunião dos três membros originais do grupo, com Thornhill a regressar finalmente ao seio da banda. 'Omen' e a devastadora faixa-título são excelentes cartões de visita, mostrando o grupo no seu melhor e juntando-se merecidamente à lista de clássicos dos Prodigy,
Após este lançamento, no entanto, o grupo volta a não conseguir atrair atenções com os próximos dois álbuns, ficando tanto 'The Day Is My Enemy', de 2015, como 'No Tourists', de 2018, restritos apenas a uma audiência de 'fiéis convertidos' – fiéis esses que recebem com choque e horror a notícia da morte de Keith Flint, encontrado sem vida na sua casa em Essex a 4 de Março de 2019. Longe de acabar com a carreira do projecto, no entanto, a morte do vocalista, dançarino e fundador apenas inspira os dois membros restantes do projecto a lançar nova música e a partir em digressão – um objectivo que realizam em 2022, com uma série de dez datas no seu país natal a assinalar um quarto de século sobre o lançamento de 'The Fat of The Land'. E a verdade é que, ainda que esse álbum tenha, sem dúvida, apresentado o grupo a muitos futuros fãs, para outros tantos jovens portugueses, o mesmo continua a ser sinónimo com a música do grupo, e o único elemento da mesma que alguma vez conheceram. Mesmo esses, no entanto, não hesitarão em reconhecer o 'poder de fogo' de 'Firestarter', um dos maiores sucessos musicais entre a 'malta jovem' não só do seu ano, mas de toda a ponta final do século XX.
Aos Domingos, o Portugal Anos 90 recorda alguns dos principais acontecimentos e personalidade do desporto da década.
O avançado africano parco em técnica mas que compensa esse defeito com muita velocidade e boa compleição física é uma das figuras clássicas do futebol, não só português, como mundial; e se mesmo na era do futebol moderno e 'rendilhado' é possível encontrar exemplos deste tipo de futebolista um pouco por todo o Mundo, escusado será dizer que, na época em que o desporto-rei era bem mais físico e 'feio', os mesmos eram presença constante, sobretudo em clubes e ligas mais 'periféricos'. Portugal não constituiu de todo, excepção a esta regra, bastando lembrar nomes tão icónicos dos campeonatos dos anos 90 e 2000 como Chiquinho Conde, Douala, Cafu (um dos exemplos mais 'acabados' deste tipo de futebolista) ou o 'Grande dos Pequenos' que focaremos esta semana, Faye Fary.
Nome tão conhecido de quem acompanhava o futebol português da época como qualquer dos anteriores, o avançado senegalês chegava a Portugal na segunda metade da década de 90, pela mão da modesta União de Montemor, após ter sido 'descoberto' a jogar na desconhecida ASC Diaraf, do seu país natal, e contratado para reforçar o plantel da referida equipa para a época 1996/97. Seguir-se-iam duas auspiciosas épocas de estreia no futebol europeu, com Fary a não acusar a transição para o futebol europeu (algo que continua a afectar um grande número de futebolistas oriundos de outros continentes, mesmo nos dias que correm) e facturando um total de quarenta golos em pouco menos de sessenta jogos – uma marca admirável, mesmo numa divisão inferior.
Foi, portanto, sem surpresas que a pré-época de 1998-99 viu Fary dar o 'salto' profissionalizante, ao ingressar no histórico Beira-Mar, um dos dois clubes 'pequenos' de que se viria a tornar 'Grande'; no total, foram cinco épocas equipado de aurinegro, durante as quais participou em 165 jogos e marcou 63 golos (tendo-se mesmo afirmado como Bola de Prata da I Liga na temporada 2002-2003), venceu uma Taça de Portugal (logo na sua época de estreia), visitou palcos europeus, e se assumiu como parte importante da equipa principal dos aveirenses, com os quais empreendeu uma viagem de 'ida e volta' entre a I Divisão Nacional e a então chamada II Divisão de Honra.
Os 18 golos do jogador valeram-lhe a Bola de Prata em 2002/2003
Foi já no novo milénio, no entanto, que Fary deu o passo que o tornaria nome de charneira nos campeonatos portugueses, e cimentaria o seu estatuto como 'Grande dos Pequenos' – a transferência para o Boavista, clube onde se viria a tornar símbolo, não obstante a alarmante falta de golos (apenas dezassete em cinco épocas e cem jogos pelo emblema axadrezado), constituindo uma das principais constantes na verdadeira 'montanha russa' que foram os anos após a conquista do campeonato nacional pelos axadrezados, que seriam relegados à II Divisão B umas meras três épocas após o histórico feito.
O senegalês com a camisola do segundo clube de que se viria a tornar ídolo
Os anos seguintes veriam o avançado senegalês reforçar ainda mais o seu lugar no coração dos adeptos dos dois emblemas nortenhos, primeiro com um regresso ao Beira-Mar, por duas épocas (embora, desta vez, como peça bastante secundário, tendo amealhado umas parcas trinta exibições e quatro golos ao longo desse período) e, mais tarde, com novo ingresso no Boavista, onde viria a fazer as últimas quatro épocas da sua carreira profissional, cimentando o seu estatuto como representante da 'mística' boavisteira no balneário, e recuperando mesmo a sua veia goleadora, com uns honrosos 31 golos apontados em 79 aparições (incluindo 15 em uma época, que lhe valiam o título de melhor marcador da II Divisão B em 2012/2013), o seu melhor registo pessoal desde a viragem do milénio. Pelo meio, ficava uma passagem apagada pelo Desportivo das Aves de 2010-2011, onde nunca 'contou para o Totobola', e que o impede de conquistar a marca bonita de ter representado apenas dois clubes nas suas quinze épocas de carreira no século XXI.
Apesar dos percalços e passos em falso, no entanto, a carreira de Faye Fary não deixa de ser um exemplo perfeito de brio profissional e dedicação a (neste caso) dois emblemas, características que compensavam algumas deficiências técnicas que (presumivelmente) terão sido o único obstáculo a que o senegalês ingressasse num dos 'três grandes' portugueses; ainda assim, aquando da sua reforma - aos quarenta (!!) anos – o jogador podia orgulhar-se de ter sido ídolo de mais do que uma agremiação histórica do futebol português, e de ter verdadeiramente adquirido o estatuto de 'Grande dos Pequenos'. E pensar que tudo começou nas divisões amadoras de meados dos anos 90...
O tributo de um adepto boavisteiros ao jogador, aquando do fim da sua carreira, mostra bem o estatuto de que Fary gozava no seio dos axadrezados
Os Sábados marcam o início do fim-de-semana, altura que muitas crianças aproveitam para sair e brincar na rua ou no parque. Nos anos 90, esta situação não era diferente, com o atrativo adicional de, naquela época, a miudagem disfrutar de muitos e bons complementos a estas brincadeiras. Em Sábados alternados, este blog vai recordar os mais memoráveis de entre os brinquedos, acessórios e jogos de exterior disponíveis naquela década.
As primeiras edições desta rubrica foram dedicadas a alguns dos mais populares meios de locomoção assistida entre o público infanto-juvenil da época, como as bicicletas BMX, os skates ou os patins em linha; concomitantemente a todos eles, no entanto, existia um outro 'meio de transporte' que, não sendo tão generalizado como os acima referidos, não deixava de proporcionar excelentes Sábados aos Saltos a quem o possuía.
Um modelo clássico do brinquedo em causa, que poderia perfeitamente ter pertencido a qualquer criança de finais do século XX
Falamos dos 'karts' a pedal, veículos ainda hoje populares em certas partes do Mundo (como a América do Sul) e que também chegaram a ter o seu 'momento ao sol' em Portugal, em finais dos anos 80 e inícios de 90 – embora, conforme já referimos, em muito menor escala do que os seus congéneres, presumivelmente devido ao preço mais elevado.
De funcionamento semelhante ao de uma bicicleta (ou, pelo número de rodas, um triciclo), mas com os pedais colocados na frente (nas posições em que, normalmente, estariam o acelerador e travão de um kart eléctrico ou a motor) estes veículos constituíam - até à chegada dos Playcenters de 'shopping' e respectivas pistas de 'karts 'a sério' - a melhor (e única...) opção para quem queria simular a emoção de uma corrida deste tipo no seu quintal, pátio, ou até na rua; no entanto, a falta de velocidade por comparação a uma bicicleta ou até a uns patins, bem como a maior complexidade e lentidão da manobra, poderão ter jogado contra os 'karts' a pedal no tocante a popularidade - o que, aliado ao já referido preço algo elevado, terá contribuído para que poucas crianças da época tivessem conseguido (ou, até, querido) desfrutar da experiência de conduzir um destes veículos. Uma pena, já que os 'karts' a pedal poderiam perfeitamente (e talvez até merecessem) ter tido uma palavra a dizer no mercado da locomoção divertida de finais do século XX, e ter sido bem mais do que os 'parentes pobres' dos outros veículos mencionados ao longo deste texto.
Um dos aspetos mais marcantes dos anos 90 foi o seu inconfundível sentido estético e de moda. Em sextas alternadas, o Anos 90 recorda algumas das marcas e modas mais memoráveis entre os jovens da ‘nossa’ década.
Não há ex-adolescente de finais dos anos 90 e inícios de 2000 que não se lembre delas. Juntamente com as calças boca de sino (ou as chamadas 'pata de elefante') e as 'sweats' (com ou sem capuz) ou 'pullovers' de malha formavam parte integrante da indumentária da grande maioria das raparigas do ensino secundário da altura, que não hesitavam em as exibir numa variedade de cores, apesar de as mais comuns serem os habituais branco-sujo, azul, preto e vermelho (o chamado 'esquema de cores Converse'.)
Falamos das solas de plataforma, uma moda transversal às duas décadas acima referidas, primeiro aplicada a ténis (durante os anos 90) e, mais tarde, às famosas 'socas', que dominaram o calçado adolescente feminino durante a primeira década do novo milénio. E a verdade é que, de um ponto de vista prático (ou, se preferirem, adulto e meio 'chato') não é difícil perceber a razão do sucesso destes sapatos, já que, além das considerações puramente estéticas, os mesmos ofereciam uma série de vantagens. Senão, veja-se: além de ficarem 'a matar' com os modelos de calças acima referidos, também impediam que as mesmas roçassem pelo chão, danificando assim a base das pernas das mesmas, algo com que os rapazes da época se debatiam frequentemente em relação aos seus próprios modelos de calças largas; além disso, este tipo de calçado permitia, ainda, adicionar uns centímetros consideráveis à altura, um efeito explorado em pleno pelas bandas de 'hard rock' dos anos 80 e 90, e que não deixava de constituir também um ponto a favor para raparigas mais baixas, ou mais envergonhadas em relação à sua altura – ainda que, para as suas colegas mais altas, o efeito fosse o oposto.
Em suma, um sapato tão versátil quanto estético (quanto ao conforto, infelizmente, não nos podemos pronunciar...), que ganhou definitivamente o coração de toda uma geração de adolescentes em finais do século XX e inícios do XXI, e que - como tantas outras modas daquela época - está a ser alvo de uma reemergência no mercado, sendo bem possível que, em anos vindouros, venhamos novamente a ver adolescentes do sexo feminino a equilibrarem-se em cima deste tipo de calçado a caminho da escola...
NOTA: Este post é respeitante a Quinta-feira, 01 de Setembro de 2022.
Os anos 90 viram surgir nas bancas muitas e boas revistas, não só dirigidas ao público jovem como também generalistas, mas de interesse para o mesmo. Nesta rubrica, recordamos alguns dos títulos mais marcantes dentro desse espectro.
Apesar de não figurar entre os interesses mais imediatos da juventude portuguesa dos anos 90, a moda não deixava de encontrar parte do seu mercado entre a referida demografia, mais concretamente entre o sector adolescente feminino, o qual, entre procurar respostas para questões afectivas e identitárias e admirar celebridades atraentes, reservava também algum tempo para se colocar a par das novas tendências de vestuário, acessórios e aparência; assim, não é de admirar que, quando uma das maiores e mais históricas publicações internacionais nesse campo se decidiu 'aventurar' pelo mercado nacional, a mesma tenha sido recebida com entusiasmo e sucesso imediato, e desfrutado de uma longa e ilustre carreira nas bancas nacionais.
Falamos da Elle Portugal, a versão adaptada para o mercado luso da histórica líder de mercado francesa, cujo primeiro número sairia ainda na década de 80 (em Outubro de 1998), e que lograria manter-se nas bancas durante mais de três décadas, até as acentuadas mudanças no mercado dos periódicos a nível mundial terem forçado o seu cancelamento – o qual, ainda assim, se processou de forma digna e honrosa.
O primeiro número nacional da revista, lançado em 1988.
Com estética e conteúdos em linha com as suas congéneres de outros países, o título editado pela RBA não seguia, no entanto o mesmo caminho adoptado por outras publicações 'importadas' da época, nomeadamente, o da simples localização de conteúdos originalmente escritos em outros idiomas; talvez ciente da reputação que o seu nome acarretava, a revista tentava, ao invés, oferecer às suas leitoras (e leitores) conteúdos originais e adaptados à realidade portuguesa, resultando numa publicação de enorme interesse para quem gostava de moda e decoração; no caso do mercado adolescente, acrescia ainda o facto de a Elle ser uma revista, a todos os níveis, sofisticada e adulta, algo distante das outraspublicações habitualmente encontradas em mesas de sala de espera ou na 'pilha' em casa da avó, e cuja leitura proporcionava algum 'élan', elemento sempre crucial para a demografia em causa.
O sucesso da revista foi tal, aliás, que a RBA viria, mais tarde, a lançar também uma versão portuguesa da publicação-irmã, a Elle Decoration, dedicada (como o próprio nome indica) exclusivamente a artigos sobre decoração de interiores e exteriores; além disso, a boa recepção à Elle Portugal motivaria, quase uma década e meia depois, o lançamento de uma edição portuguesa para outro periódico 'histórico' do mundo da moda – a Vogue Portugal, cuja trajectória nas bancas nacionais foi mais curta, mas também consideravelmente bem-sucedida.
Exemplar da Elle Decoration portuguesa.
Conforme referimos, as alterações no mercado dos jornais e revistas, derivados da rápida transição para o digital e agravados pela pandemia, forçaram ao cancelamento, em 2021, da edição fisica daquela que foi a primeira revista de moda internacional a ser lançada em Portugal após o 25 de Abril, e que se conseguiu manter na vanguarda não só da moda e beleza, mas também de questões como os direitos cívicos e a cidadania – tornando, assim, mais que merecida esta pequena eulogia, em homenagem à influência que exerceu sobre todo um sector da população nacional durante o período englobado por este blog.