30.09.22
Os anos 90 estiveram entre as melhores décadas no que toca à produção de filmes de interesse para crianças e jovens. Às sextas, recordamos aqui alguns dos mais marcantes.
Na passada edição das Quartas aos Quadradinhos, falámos de como o Juiz Dredd – um dos mais populares super-heróis de culto, e porta-estandarte da '2000 AD', uma das mais bem-sucedidas revistas de BD britânicas – tinha 'passado ao lado' dos leitores portugueses dos anos 90, tendo o seu impacto entre os bedéfilos nacionais da época sido praticamente nulo; nesse post, referimos ainda que esse mesmo facto era tanto mais surpreendente quanto o justiceiro de Mega City havia sido alvo de uma adaptação cinematográfica nessa mesma década, e com ninguém menos do que Sylvester Stallone (um dos maiores e mais reconhecíveis heróis de acção de finais do século XX) no papel do vingador futurista. Agora, na nossa habitual rubrica sobre filmes e cinema da época a que este blog diz respeito, chega a altura de analisar o referido filme, e a razão pela qual não conseguiu ter impacto no destino do personagem em Portugal.
O cartaz do filme era, há que admitir, apelativo.
Produzido e lançado em 1995 (muito antes de os filmes baseados em BD terem algum tipo de respeito entre a demografia cinéfila, e com alguma razão) como 'blockbuster' de Verão, 'O Juiz' (um daqueles nomes tão incrivelmente genéricos como perfeitamente desnecessários) foi, à altura, apenas mais um exemplo do porquê de este tipo de filmes ter demorado tanto tempo a fazer a transição do seu nicho de culto para uma apreciação mais generalista; isto porque, apesar do orçamento considerável, o filme acaba por ser vitimizado por muitos dos problemas que assolavam a maioria dos 'filmes de BD' na era pré-'Homens de Negro' (e, mais tarde, 'X-Men', o verdadeiro revolucionador deste paradigma). Apesar do 'casting' perfeito para o papel principal – Sly não só tem a musculatura 'de respeito', mas também a laconicidade 'mastigada' que caracteriza Dredd – os restantes aspectos do filme deixam algo a desejar, com alguns a serem efectivamente detrimentais à apreciação do mesmo, como a presença do insuportável Rob Schneider no seu habitual papel de 'tagarela que tenta ter piada, e falha', ou o facto de o filme ter começado como um 'Maiores de 16' e ter 'vindo ao Mundo' como um 'Maiores de 12', tendo as alterações sido feitas literalmente semanas antes da data planeada para lançamento. E se a ideia de um Juiz Dredd 'para toda a família', soa absurda, é porque o é, já que a BD original não faz qualquer tentativa nesse sentido - antes pelo contrário, a violência gráfica explícita é uma das suas principais características!
Stallone foi a escolha perfeita para Dredd; infelizmente, o restante filme não ficava à altura desta escolha.
O que resta, depois de todo o 'retalhar' feito pela Paramount e pelo próprio Stallone, é um filme que não sabe muito bem o que quer ser (obra de ficção científica relativamente 'séria' ou entretenimento leve para toda a família) e acaba por falhar todos os alvos a que aponta; não é, pois, de surpreender que, mesmo com uma forte campanha de 'marketing' e publicidade por detrás, a película de Danny Cannon seja hoje em dia lembrada, sobretudo, pelos aficionados de filmes de série B, ou de culto – coisa que 'Juiz Dredd' nunca quis ser, antes pelo contrário, Tão-pouco surpreende que o nome do Juiz de Mega City tenha continuado a andar 'pelas ruas da amargura' entre os cinéfilos e bedéfilos generalistas (em Portugal e não só) durante mais de uma década e meia após o lançamento do filme, até o excelente 'Dredd', de 2012 (com Karl Urban no papel principal) ter redimido a sua 'honra' e posto o nome Dredd nas bocas tanto de toda uma nova geração, pronta a receber de braços abertos mais material alusivo ao personagem, como dos ex-jovens a quem o filme original, da 'sua' época, havia desapontado ou simplesmente passado despercebido; e ainda que o mesmo também não tenha sido suficiente para 'lançar' definitivamente o Juiz no panorama bedéfilo português da década desde então decorrida, pelo menos permitiu ao personagem da DC britânica 'sair de cena' em alta – missão em que o seu antecessor falhou rotundamente...