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Portugal Anos 90

Uma viagem nostálgica pelo universo infanto-juvenil português dos anos 90, em todas as suas vertentes.

Portugal Anos 90

Uma viagem nostálgica pelo universo infanto-juvenil português dos anos 90, em todas as suas vertentes.

31.08.22

A banda desenhada fez, desde sempre, parte da vida das crianças e jovens portugueses. Às quartas, o Portugal Anos 90 recorda alguns dos títulos e séries mais marcantes lançados em território nacional.

Ao longo do tempo de vida desta rubrica, temos vindo a traçar breves biografias das carreiras dos principais artistas e criadores de BD portugueses, de Carlos Roque e José Garcês a Fernando Relvas, António Jorge Gonçalves ou Luís Louro; agora, chega a vez de acrescentar mais um nome a essa curta mas honrosa lista – o de José Carlos Fernandes, por vezes conhecido apenas como JCF, e que se destaca por ser um dos mais prolíficos autores do panorama da banda desenhada em Portugal.

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O autor na actualidade

Tal como Luís Louro, Fernandes faz parte da 'nova geração' de quadrinistas, cuja carreira se inicia já depois do fim dos principais veículos nacionais do meio – as revistas 'Tintin' e 'Mundo de Aventuras', onde a maioria da geração anterior se estreou nas lides da BD; assim, coube a estes jovens encontrar outros meios para se expressar e se dar a conhecer, tendo José Carlos Fernandes tomado o caminho das 'fanzines'. Os primeiros anos da carreira do artista foram, pois, passados a criar histórias para uma audiência muito reduzida, e à espera do grande 'momento' – o qual viria a surgir em 1989, quando uma paródia de duas páginas do herói franco-belga Alix é publicada na fanzine Shock, distribuída na região de Lisboa.

Ficava, assim, dado o mote para uma carreira inacreditavelmente prolífica, qualquer resumo da qual ocuparia muitas linhas e levaria muito tempo, para além de resultar num texto extremamente aborrecido; isto porque o autor viu publicados, nas duas décadas seguintes, uma média de dois a três títulos por ano, tendo um presumível surto de inspiração no ano de 1997 resultado no lançamento de NOVE (!!) obras de JCF num período de doze meses. Destaque, ainda assim, para as duas primeiras obras 'a sério' do artista, 'Controlo Remoto', de 1993, e 'A Lâmina Fria da Lua', a sua verdadeira obra-revelação, publicada em 1994 (ambas pela Associação Neuromanso, em parceria com a Comicarte e a ASIBDP, respectivamente), bem como para o galardoado 'A Pior Banda do Mundo', produzido quase uma década depois.

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Uma de quase uma dezena de obras de JCF editadas em 1997

O ritmo tresloucado de produção não afectava, no entanto, a diversidade ou criatividade da obra de Fernandes, a qual se estendia da ficção pura e dura à BD institucional em parceria com entidades estatais, e rendia ao autor distinções de fontes tão diversas quanto a Câmara Municipal de Lisboa (que lhe atribuiu por três vezes o Prémio Rafael Bordalo Pinheiro) e a organização do reputado, e entretanto malogrado, Festival de BD da Amadora, que considerou 'A Pior Banda...' a melhor obra nacional do evento em dois anos consecutivos. A fama de Fernandes estendia-se, aliás, a Espanha, onde chegou a ganhar o primeiro prémio do Festival de BD de Ourense, em 1995 – ano em que ganharia, também, essa distinção no Festival de BD de Matosinhos.

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O mais premiado álbum da carreira do artista, publicado em 2002

Em suma, e apesar de não dar 'novidades' desde 2011, José Carlos Fernandes é, já, figura maior da banda desenhada humorística em Portugal, possuindo um estilo muito próprio e inconfundível, inspirado pela ficção científica e pelo 'rock' alternativo, que sem dúvida contribui para que granjeie pontos junto das gerações mais jovens – tanto nos dias que correm como, decerto, quando vivia o seu 'estado de graça' em meados dos anos 90.

 

30.08.22

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A semanada ou mesada de muitos dos leitores deste blog, à época - e o número de posts que hoje atingimos.

Este post marca as 500 publicações neste nosso blog, a esmagadora maioria das quais dedicada a celebrar conteúdos nostálgicos da infância e adolescência de toda uma geração. O Anos 90 agradece a todos os leitores, novos ou antigos, que se dignaram acompanhar esta nossa viagem por uma das melhores décadas para se ser criança, e espera que nos continuem a acompanhar nas próximas etapas da mesma. Até lá!

 

29.08.22

Em Segundas alternadas, o Anos 90 recorda algumas das séries mais marcantes para os miúdos daquela década, sejam animadas ou de acção real.

Qualquer criança ou adolescente que tenha crescido entre finais dos anos 80 e inícios do Terceiro Milénio saberá que esse mesmo intervalo constitui o período áureo para os desportos radicais, cuja globalização ajudou a atrair o interesse da camada da população sempre 'à coca' de novos 'hobbies' e passatempos; assim, não é de estranhar que essa 'febre' rapidamente tenha sido apropriada pelas corporações mediáticas e comerciais e utilizada como chamariz na divulgação dos mais variados produtos e serviços. Os personagens 'radicais', de crista, boné para trás e dialecto a condizer – mas sempre com bom coração e preocupados com questões como o ambiente ou a solidariedade social, claro - não só tomaram conta das prateleiras de supermercado, como também dos ecrãs, tanto de cinema como de televisão.

Este último campo, em particular, viu surgir, em finais dos anos 80, um dos exemplos mais flagrantes desta tendência, e que a combinava descaradamente com outro grande foco de interesse da demografia-alvo da altura, os dinossauros, e com o também sempre apetecível conceito das viagens no tempo, para criar o sonho de qualquer dirigente televisivo da altura – uma série perfeitamente sinergética e pronta a fazer sucesso entre os jovens daquela época.

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A série em causa, 'Denver, O Último Dinossauro' provou ter 'pernas' suficientes para não só se 'esticar' para uma segunda temporada como ser exportada internacionalmente, uma honra que nem todas as séries almejavam (em Portugal, passou na RTP, em versão dobrada, logo nos dois anos seguintes à sua estreia nos Estados Unidos). E apesar de, trinta anos volvidos, parecer uma daquelas séries que é tão 'de época' que chega a doer – ao mesmo nível de 'Power Rangers' ou 'Tartarugas Ninja' – foi precisamente essa especificidade que lhe permitiu ganhar tracção entre o público jovem do seu tempo.

De facto, a 'datação em carbono' desta série poderia ser feita simplesmente com base na premissa, que vê quatro jovens praticantes de skate e BMX descobrirem e albergarem um dinossauro (ou aquilo que, à época, se entendia como um) que ensinam a falar, a andar de skate (obviamente) tocar guitarra eléctrica (naturalmente) e a usar óculos escuros 'radicais' (claro) e que, em troca, os leva a viajar pelo tempo até à Pré-História, permitindo-lhes aprender mais sobre a vida durante esse período. Uma espécie de mistura entre 'ET' e 'Bill e Ted', que resulta numa daquelas sinopses mirabolantes que só podia mesmo ter vindo de um período em que répteis especialistas em artes marciais e ratos antropomórficos aficionados de Harley-Davidsons eram considerados conceitos normais para a programação infantil.

Infelizmente, 'Denver' nunca chega a esse patamar de qualidade, ficando-se pelo nível médio de séries da altura – onde se incluem outros programas contemporâneos, como 'Widget' ou 'Capitão Planeta' – e sendo sobretudo memorável (além de por ter servido de inspiração a um dos brinquedos 'movidos a moedas' mais comuns daquele tempo) pelo seu 'bem esgalhado' tema de abertura, um dos muitos clássicos que a época em causa nos proporcionou, e que (juntamente com o conceito totalmente 'ver para crer') lhe merece lugar de destaque nesta nossa rubrica nostálgica.

A versão portuguesa do mítico tema de abertura da série (em cima) e alguns episódios-tipo da mesma (em baixo)

29.08.22

NOTA: Este post é respeitante a Domingo, 28 de Agosto de 2022.

Ser criança é gostar de se divertir, e por isso, em Domingos alternados, o Anos 90 relembra algumas das diversões que não cabem em qualquer outra rubrica deste blog.

Já por diversas vezes aqui mencionámos os jogos de tabuleiro como sendo uma das principais (e melhores) maneiras de passar um Domingo bem Divertido em família nos anos 90. O que nunca referimos, no entanto, é que – como em todas as áreas – também dentro deste género de passatempo existia uma hierarquia claramente delimitada, com alguns jogos a serem bastante mais bem aceites e apetecíveis para a criança ou jovem médio português do que outros; e, dentro dos primeiros, não podem restar dúvidas de que um dos mais populares era o lendário Quem É Quem?

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A única imagem alusiva à versão portuguesa do jogo descoberta na respectiva pesquisa Google

Embora algo Esquecido Pela Net hoje em dia (pelo menos pela portuguesa, já que é fácil encontrar referências ao mesmo oriundas de outros países) o icónico jogo de adivinhar caras proporcionou muitas horas de diversão a toda uma geração de crianças portuguesas, para as quais o título era presença quase obrigatória na prateleira do quarto, e parte integrante das escolhas para uma tarde de brincadeira com familiares ou amigos.

As razões para tal preferência são simples de explicar, e resumem-se, basicamente, ao equilíbrio perfeito entre simplicidade, interesse e competitividade que o jogo reunia. De facto, apesar de a ideia de um 'interrogatório' destinado a adivinhar a carta detida pelo adversário parecer mais próxima de um teste psicológico do que de um jogo para crianças, a verdade é que o Quem É Quem conseguia fazer este conceito resultar em pleno, sobretudo por dar às crianças liberdade total no respeitante às perguntas, não estando as mesmas restritas às questões sugeridas pelo jogo; uma das vertentes mais divertidas do mesmo prendia-se, aliás, com a criatividade necessária para elaborar novas perguntas após esgotadas todas as mais corriqueiras (uma ocorrência que não era, de todo, infrequente). E havia ainda, claro, o 'frisson' de ver o adversário reduzido a apenas duas cartas (ou caras) e não saber que pergunta efectuar para 'matar' de vez o jogo...

Em suma, um conceito relativamente simples, mas divertidíssimo, e que fomentava a criatividade, imaginação e capacidades de dedução de uma forma que poucos outros jogos não declaradamente educativos conseguiam. Não é, pois, de espantar que se possa encontrar, no mercado actual uma edição actualizada (em formato de viagem) do referido jogo, pronta a conquistar toda uma nova geração; resta, pois, saber se o mesmo terá, para esta, o mesmo interesse que teve para a dos seus pais...

29.08.22

NOTA: Este post é respeitante a Sábado, 27 de Agosto de 2022.

NOTA: Dado o carácter temporalmente relevante deste post, o Sábado aos Saltos programado foi adiado uma semana. Assim, os próximos dois Sábados serão ambos de Saltos.

As saídas de fim-de-semana eram um dos aspetos mais excitantes da vida de uma criança nos anos 90, que via aparecerem com alguma regularidade novos e excitantes locais para visitar. Em Sábados alternados (e, ocasionalmente, consecutivos), o Portugal Anos 90 recorda alguns dos melhores e mais marcantes de entre esses locais.

Apesar da enorme diversidade de títulos de qualidade para crianças e jovens, a leitura nunca foi, e continua a não ser, um passatempo consensual entre esta demografia: no entanto, para quem gosta de ler, há um evento anual que vem, desde há décadas, constituindo um dos pontos altos do calendário de cada ano: a Feira do Livro, o tradicional certame que, durante duas semanas de cada ano, reúne num só local todas as principais editoras nacionais, cada uma numa das tradicionais e icónicas 'barraquinhas', e todas oferecendo promoções e preços exclusivos para visitantes do referido evento.

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A Feira do Livro do Porto

Com lugar, habitualmente, de finais de Maio a meados de Junho (apesar de este ano terem sido adiadas um par de meses, tendo finalmente aberto na semana que ora finda, especificamente a 25 de Agosto) as Feiras do Livro de Lisboa e Porto podem já não ter o atractivo que outrora tiveram – na de Lisboa, por exemplo, sente-se a falta das tradicionais barracas coloridas, tendo a opção por um esquema de cores uniformizado em preto e castanho retirado ao certame muito do seu 'charme' visual – mas continuam a ser ponto de passagem obrigatório, a cada Verão, para os fãs de leitura (e intelectuais em geral) das duas principais cidades do País, oferecendo uma excelente oportunidade de colmatar lacunas na biblioteca pessoal, descobrir novos títulos em negócios de ocasião ou contactar em primeira mão com autores e editores. Assim, não é de todo de admirar que ambos os eventos continuem a ter níveis de adesão bastante consideráveis por parte das respectivas populações locais – até porque a localização de cada Feira (em bonitos parques do centro de ambas as cidades) propicia, e até convida, a um passeio, mesmo que não se tenha grande interesse em livros...

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O Parque Eduardo VII, a icónica localização da Feira do Livro de Lisboa

Conforme referido, no entanto, as Feiras do Livro perderam algum do charme e individualismo de que gozavam em finais do século XX e inícios do Terceiro Milénio, seguindo hoje um formato bastante mais padronizado e, como tal, menos interessante; ainda assim, a relevância e interesse deste certame no calendário cultural português continua a justificar plenamente a sua realização, que – espera-se – continuará em anos vindouros; afinal, qualquer incentivo à leitura, principalmente entre os jovens, apenas poderá ser considerado positivo...

 

26.08.22

Um dos aspetos mais marcantes dos anos 90 foi o seu inconfundível sentido estético e de moda. Em sextas alternadas, o Anos 90 recorda algumas das marcas e modas mais memoráveis entre os jovens da ‘nossa’ década.

As toalhas de praia estavam entre os muitos elementos que as crianças e jovens dos anos 90 utilizavam como meio de afirmar a sua identidade, quer individual, quer enquanto parte de um grupo; e, durante uma parte significativa da segunda metade da referida década, houve uma toalha de praia em particular que se tornou visão frequente em praias de Norte a Sul do País, sobretudo em locais que reunissem altos volumes de 'malta nova'.

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Lá por casa, houve uma muito semelhante a esta...

Falamos, claro, da mítica toalha da Coca-Cola, um daqueles items cuja popularidade é tão difícil de explicar quanto inegável. O que é certo é que a dado ponto, algures entre o ponto médio da década de 90 e os primeiros anos do novo milénio, a toalha vermelha com o clássico símbolo da marca impresso sobre o comprimento tornou-se O 'item' de praia a ter, destronando as suas tradicionais antecessoras com padrões de palmeiras, pôr-do-sol e barcos à vela sobre fundos multi-cores, e até mesmo as igualmente desejáveis toalhas aveludadas e com motivos de desenhos animados. Curioso foi, também, o facto de (ao contrário do que acontecia, na mesma altura, com os iô-iôs comercializados pela Russell) esta 'febre' não se ter estendido a qualquer outro logotipo ou tipo de bebida - as toalhas 'da moda' eram APENAS, e só, as da Coca-Cola.

As origens da súbita 'proliferação' deste tipo de toalha poderão ter estado na mesma promoção que também ajudou a popularizar os 'bips' entre toda uma geração, mas a certa altura, os referidos items extravasaram os confins de qualquer iniciativa profissional, aparecendo (e com frequência) em lojas tanto de lavores como de praia, ao lado de outros artigos não associados a qualquer marca - coincidindo este período com o da sua maior popularidade entre as crianças e jovens.

Fosse qual fosse o contexto que deu origem a esta breve mas marcante 'febre', a verdade é que, durante vários Verões de finais do século XX, uma larga fatia da população jovem portuguesa 'trabalhou para o bronze' sobre um logotipo da Coca-Cola, provavelmente ao lado de vários amigos que ostentavam, com orgulho, precisamente o mesmo item - prova cabal, como se ainda fosse necessário, do poder que um logotipo memorável e uma boa estratégia de 'marketing' podem ter junto de uma determinada demografia...

25.08.22

Os anos 90 viram surgir nas bancas muitas e boas revistas, não só dirigidas ao público jovem como também generalistas, mas de interesse para o mesmo. Nesta rubrica, recordamos alguns dos títulos mais marcantes dentro desse espectro.

Hoje em dia - quando quase todas as páginas de Internet ligadas ao comércio possuem uma funcionalidade que permite deixar críticas sobre os serviços ou produtos adquiridos - saber o que pensam os especialistas ou consumidores sobre seja o que for é tão fácil, que é já tomado como adquirido até (sobretudo) pelas gerações mais velhas. No tempo em que essas mesmas gerações viveram, no entanto, o panorama era significativamente diferente, sendo necessário esperar pela opinião publicada ou publicamente veiculada de um especialista - a qual, além de constituir apenas uma opinião de um único utilizador, era também, necessariamente, subjectiva, e sujeita a todo o tipo de deturpações.

Nos últimos anos da década de 70, num esforço para equipar a sociedade portuguesa da era pré-Internet com um leque de opiniões mais variado, a Associação Portuguesa para a Defesa do Consumidor (vulgarmente conhecida como DECO, mas que não deve ser confundida com o ex-futebolista do mesmo nome) lançava a Pro-Teste, uma revista dedicada, precisamente, ao teste de bens de consumo de distribuição em massa, independentemente do seu raio de acção, podendo um mesmo número apresentar testes a gamas de produtos tão variadas como ovos, micro-ondas, detergentes da loiça ou antivírus para computador.

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O denominador comum entre todas estas análises era o facto de serem testadas, não por um único especialista, mas por todo um painel, e mediante uma série de critérios pré-definidos, invariavelmente publicados numa tabela juntamente com os próprios resultados dos testes. As notas obtidas nas diferentes categorias (devidamente fundamentadas no texto do artigo em si) eram, então, sujeitas a um cálculo de média, que ditava a classificação final de cada produto; o produto com melhor média final e aquele que apresentasse melhor relação qualidade-preço tinham as honras de receber a recomendação Pro-Teste, a qual, naquele tempo, equivalia praticamente a um selo de qualidade.

Esta fórmula, bem conhecida dos portugueses até uma determinada geração, manteve-se praticamente incólume até aos dias de hoje (sim, a Pro-Teste continua a ser publicada, embora o seu âmbito e influência tenham diminuído consideravelmente) e atingiu, quiçá, o seu auge nos anos finais do século XX, em que a revista tinha praticamente o estatuto de Bíblia para os consumidores nacionais, que invariavelmente lhe recorriam na hora de escolher ou comprar um determinado tipo de produto; o sucesso era tanto, aliás, que, no novo milénio, o catálogo da Edideco - a editora fundada pela DECO para o lançamento de publicações próprias - se expandiu para uma série de outros títulos, dedicados aos conselhos de saúde, financeiros e de investimento, além de publicar uma série de guias sobre os mais variados temas ligados à defesa do consumidor.

Apesar de direccionados, sobretudo, a adultos, todos estes títulos - e, em especial, a Pro-Teste original - apresentavam um fascínio especial para as crianças de então, talvez por apresentarem uma vertente de comparação e 'competição' entre diferentes modelos, que tende a despertar o interesse inato de qualquer jovem; e ainda que as gerações mais novas vão buscar os seus conselhos, opiniões e críticas a outros locais, para os seus pais (e até avós) há uma fonte cujas análises se continuam a sobrepôr a todas as outras, nem que seja por virtude de, em tempos, terem sido o único órgão a disponibilizá-las...

24.08.22

Em quartas-feiras alternadas, falamos sobre tudo aquilo que não cabe em nenhum outro dia ou categoria do blog.

Para qualquer criança ou jovem, independentemente da era em que viveu e cresceu, a posse de cartões em nome próprio era, e continua a ser, motivo de enorme orgulho - sejam os mesmos referentes a documentos autênticos (há, por exemplo, muito poucos ex-jovens que não se recordem da experiência de receber o seu primeiro cartão de identidade) ou simplesmente cartões de membro de um qualquer clube de fãs ou clube de jovens, o lugar de destaque na carteira está praticamente garantido a qualquer rectângulo plastificado com o nome da pessoa em causa.

Não seria, portanto, de espantar se o Cartão Jovem, talvez o documento mais sinónimo com os anos 90 em Portugal, tivesse feito sucesso simplesmente por virtude de se inserir nessa categoria; no entanto, o cartão lançado pelo Governo português e destinado a jovens abaixo dos vinte e seis anos oferecia o incentivo adicional de permitir ao público-alvo usufruir de ofertas exclusivas em áreas, bens e serviços verdadeiramente relevantes para os seus interesses e estilo de vida.

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Uma imagem icónica para toda uma geração.

Com ofertas e descontos transversais a diversas áreas, desde o lazer ao alojamento, formação, comércio ou mobilidade - entre os quais, famosamente, se contavam os descontos em estadias na rede de Pousadas da Juventude, à época alvo de grande procura por parte da demografia em causa - o Cartão Jovem não podia deixar de se afirmar como um retumbante sucesso junto do público-alvo, tendo inclusivamente havido repetidas sugestões, ao longo dos anos, no sentido de alargar a faixa de idades abrangida pelo documento - algo que acabaria mesmo por suceder, podendo o Cartão, hoje, ser pedido por cidadãos até aos vinte e nove (!) anos, regra que 'estica' o conceito de 'Jovem' até ao seu limite máximo...

O prestígio deste Cartão durante a referida década era tal, aliás, que para a faixa mais jovem da demografia-alvo o pedido do mesmo constituía um daqueles rituais de passagem tão próprios da juventude, que ajudava a assinalar o portador do documento como um verdadeiro adolescente, e constituía motivo de inveja entre os seus contemporâneos ainda sem acesso ao mesmo, ainda que da mesma idade. E apesar de esse 'élan' do Cartão Jovem ter, com o passar das décadas e aumento da acessibilidade de muitos serviços, diminuído consideravelmente - a ponto de muita gente, provavelmente, nem saber que o mesmo ainda continua a ser disponibilizado - a verdade é que quem quiser, e tiver a idade certa, pode, ainda hoje, inscrever-se para ter acesso ao documento, e aos ainda muitos descontos que o mesmo (ou, em alternativa, a inevitável app) proporciona; de facto, pode até vir a suceder que, dentro do actual ambiente social propício à nostalgia e recuperação de elementos obsoletos da sociedade pré-digital, o Cartão Jovem seja alvo de um 'renascer' no seio da geração digital - afinal de contas, já se verificaram, nos últimos anos, fenómenos bem mais insólitos e inesperados...

'Spots' publicitários alusivos ao documento, de 1992 e 1995, respectivamente.

24.08.22

NOTA: Este post é respeitante a Terça-feira, 23 de Agosto de 2022.

Porque nem só de séries se fazia o quotidiano televisivo das crianças portuguesas nos anos 90, em terças alternadas, este blog dá destaque a alguns dos outros programas que fizeram história durante aquela década.

O conceito de 'programa de Verão' traz, normalmente, à memória imagens de apresentadores saltitantes e artificialmente entusiasmados e artistas 'pimba' fazendo 'playback' dos seus mais recentes êxitos. Trata-se de uma fórmula com décadas de existência e que, pelo sucesso que sempre vem acarretando, dificlmente é ou virá a ser alvo de grandes alterações - de facto, o mais provável é que qualquer português que ligue a televisão durante uma tarde de fim-de-semana deste mesmo Verão de 2022 dê de caras com um exemplo deste tipo de programa, que nem a pandemia de COVID-19 conseguiu travar, muito menos 'matar'.

Apesar de o ditado popular rezar que 'em equipa que ganha, não se mexe', no entanto, foi precisamente isso que a SIC decidiu fazer durante alguns Verões do fim do Segundo Milénio e inícios do Terceiro: criar um programa de Verão que interessasse activa e directamente ao público infanto-juvenil, especificamente ao segmento pré-adolescente e adolescente. O resultado foi o Dá-lhe Gás!, um formato centrado na realização de jogos e provas físicas de cariz competitivo e com banda sonora composta por artistas 'da moda', que viria a almejar sucesso suficiente para justificar a realização de precisamente cem programas, divididos ao longo de sete Verões.

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Apresentado por um trio constituído por Jorge Gabriel, Raquel Prates e Catarina Pereira - todos, à época, nomes 'em alta' no segmento 'jovem' da televisão portuguesa - o concurso reunia concorrentes de escolas de todo o País, que disputavam entre si uma série de eventos de cariz físico e desportivo, muitos deles de índole 'radical', ou não fossem aqueles os anos de maior sucesso e interesse por desportos extremos em Portugal; o ambiente de entusiasmo e animação era, conforme já referimos, auxiliado pela música escolhida pela produção, que consistia de 'hits' electro-pop tão conhecidos e icónicos para a época como 'Follow The Leader', 'Blue (Da Ba Dee)', 'Ooh La La La' ou 'Samba de Janeiro' - todos, aliás presentes no alinhamento da colectânea em CD alusiva ao programa, lançada no ano 2000, um ano depois da estreia do mesmo, e durante a sua fase de maior sucesso.

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Capa do CD alusivo à banda sonora do programa, lançado em 2000

A fórmula, no entanto, provaria ter ainda 'pernas' para se aguentar nada menos do que mais seis anos, vindo o programa a terminar apenas no Verão de 2006, quando o panorama televisivo nacional já começava, definitivamente, a distanciar-se do paradigma de finais dos anos 90, e a demografia que acompanhara o programa durante os anos anteriores perdia gradualmente o interesse no mesmo; ainda assim, essa mesma demografia não terá, decerto, deixado de criar memórias nostálgicas de tardes de Verão passadas em frente à televisão, acompanhando os esforços de outros jovens da sua idade e, certamente, desejando poder tomar parte numa edição futura do programa...

Emissão completa do programa, que, embora sem música, permite ver a estrutura e formato do mesmo.

23.08.22

NOTA: Este post é respeitante a Segunda-feira, 23 de Agosto de 2022.

Qualquer jovem é, inevitavelmente, influenciado pela música que ouve – e nos anos 90, havia muito por onde escolher. Em segundas alternadas, exploramos aqui alguns dos muitos artistas e géneros que faziam sucesso entre as crianças daquela época.

Quase todos os Verões têm uma música - um tema que, de tão omnipresente nas ondas de rádio e na cultura popular, acaba por servir de banda sonora a quase tudo o que se passa durante aqueles quatro meses. As épocas estivais de meados dos anos 90 não foram excepção neste particular, tendo as crianças e jovens da altura tido como 'pano de fundo' sonoro para as suas férias grandes uma sucessão de clássicos 'azeiteiros' ainda hoje apreciados, quase todos inseridos no movimento conhecido como 'europop' ou 'eurodance', de 'Saturday Night' de Whigfield a 'Boom Boom Boom Boom' dos Vengaboys, passando pelo a dada altura inescapável 'Freestyler', dos Bomfunk MCs e, claro, por 'Barbie Girl', o sucesso que apresentou ao Mundo uma banda de estética 'neon' e com uma vocalista de timbre estilo 'balão de hélio', chamada Aqua.

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O que poucos dos jovens que saltaram e deliraram ao som desta música durante aquele Verão sabiam era que essa mesma banda já contava, à época do seu aparecimento na consciência popular, com nada menos do que oito anos de carreira, tendo-se formado em 1989, sob o nome de Joyspeed, então ainda sem a vocalista Lene Nystrom; foi só depois do seu primeiro projecto enquanto grupo - a criação da banda sonora para um filme produzido na sua Dinamarca natal - que o vocalista René Dif (o icónico 'careca' com a ainda mais icónica voz quase caricaturalmente profunda) reparou na sua futura coadjuvante, quando a mesma actuava no 'ferry' de ligação entre a Noruega e a Dinamarca. A vocalista foi, então, prontamente convidada a integrar o projecto, que estabeleceria assim a sua formação definitiva.

Estabelecidos os elementos básicos, o grupo não perdeu tempo a entrar em estúdio para a gravação do seu primeiro 'single'; 'The Itsy Bitzy Spider' seria lançado em exclusivo para o mercado sueco em 1994, mas não conseguiria atingir qualquer tipo de sucesso, perdendo-se na ponta final dos 'tops' locais, e desanimando de tal forma o grupo que o mesmo prontamente cancelaria o contrato vigente que tinham com uma pequena independente daquele país. Felizmente, este primeiro revés não foi, ainda assim, significativo o suficiente para fazer os quatro músicos desistir totalmente do 'sonho' - apenas repensá-lo. Assim, o nome do grupo foi mudado para Aqua, a estética passou a girar em torno das cores vivas e tons 'neon', e a sonoridade tornou-se mais declaradamente 'pop', em vertente puramente 'bubblegum', com músicas assentes em batidas dançáveis e na propositalmente exagerada dicotomia vocal entre o ultra-roufenho Dif (que quase poderia ser o vocalista de uma das muitas bandas de thrash metal da sua região de origem) e o timbre hiper-agudo e infantilizado, ao estilo 'Betty Boop', de Nystrom.

Everdade é que o primeiro fruto comercial desta nova abordagem, a contagiante 'Roses Are Red', granjeou ao grupo o sucesso que lhes escapara sob o seu anterior nome, atingindo vendas de platina na Dinamarca natal do grupo, e permanecendo nos tops locais durante mais de dois meses - registo que o segundo 'single', a quase idêntica (mas ainda melhor) 'My Oh My', viria a eclipsar, atingindo a marca de ouro em apenas seis dias e levando o grupo ao primeiro lugar dos tops dinamarqueses.

Por muito bem-sucedidos que ambos esses lançamentos tivessem sido, no entanto, as suas prestações comerciais viriam a ser largamente eclipsadas pelo êxito meteórico do terceiro 'single' do grupo, 'Barbie Girl'. Viabilizada já depois do lançamento do álbum de estreia do grupo, 'Aquarium', no seu país natal, e também do lançamento internacional de 'Roses Are Red', a faixa serviu de 'cartão de visita' dos Aqua no mercado fonográfico mundial, e a recepção não podia ter sido melhor, tendo a música chegado ao primeiro lugar dos tops musicais do Reino Unido e Austrália, e até conseguido a proeza de entrar no 'top 10' do famoso 'Billboard 100', um feito raro para bandas europeias. Estava dado o mote para um Verão em que não haveria jovem abaixo de uma certa idade que não soubesse acompanhar, de cor, a letra da música, do diálogo inicial do Ken de Dif com a Barbie de Nystrom até ao epílogo, também em registo falado, em que Ken atira um profético 'estamos só a começar'.

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O vídeo de 'Barbie Girl' é tão icónico quanto a própria música

E era, de facto, esse o caso - 'Barbie Girl' representava apenas o início do sucesso dos Aqua, tendo, naturalmente, ajudado a impulsionar as vendas mundiais de 'Aquarium', do qual viriam a ser extraídos nada menos do que mais quatro singles: 'Lollypop (Candyman)' e a fabulosa 'Dr. Jones' (ambas em registo semelhante ao das primeiras canções lançadas pelo grupo) e 'Turn Back Time' e 'Good Morning Sunshine', o tipo de baladas totalmente plásticas que ficavam a um registo vocal de distância de ser uma faixa de Britney Spears - isto além da recuperação de 'My Oh My' para o mercado internacional. O sucesso, esse, era continuado na Europa, e em particular no Reino Unido, onde o grupo igualava as marcas de Westlife e Spice Girls (de quem, paulatinamente, aqui falaremos, tal como de Spears) nas listas de êxitos locais; só os Estados Unidos se mostravam algo 'frios' aos novos esforços do grupo, que foi, naquele país, um verdadeiro 'one-hit wonder', tendo-se eclipsado após 'Barbie Girl'.

Apesar de o sucesso atingido pelo álbum de estreia e respectivos 'singles' indicarem uma carreira longeva e produtiva, no entanto, a mesma situação se viria a comprovar no resto do Mundo aquando do lançamento do segundo álbum do grupo, o confusamente intitulado 'Aquarius', de 2000, que provou o quanto podia mudar em três anos; apesar de ainda ter contribuido um êxito para a lista pessoal do grupo (a auto-consciente 'Cartoon Heroes', que teria cabido perfeitamente no registo anterior) o momento do grupo - e do movimento 'europop' como um todo - havia passado, e os restantes 'singles' retirados do álbum teriam um desempenho relativamente anónimo nos 'tops' mundiais, ditando o final definitivo da onda de sucesso gozada pelo grupo desde o seu 'aparecimento' na cena mundial, em finais de 1996; pouco depois, a braços com um processo judicial da Mattel por uso indevido da sua personagem, a banda viria a separar-se, mas não sem antes registarem uma exibição memorável no Festival Eurovisão 2001, marcado por uma interpretação algo controversa e, digamos, 'adulta', do mega-êxito 'Barbie Girl'.

Não terminaria aí, no entanto, a carreira do grupo, já que os Aqua viriam a reunir-se para uma digressão de Verão, em 2008, aproveitando ainda para disponibilizar a sua segunda compilação de êxitos; mais surpreendente seria o aparecimento, em Setembro de 2011, de um novo álbum, 'Megalomania' - mais de uma década depois do último sinal de vida do grupo!

Megalomania2.jpg

'Megalomania', o surpreendente álbum de regresso dos Aqua, lançado em 2011.

Desde então, a carreira do grupo tem-se pautado por uma série de digressões periódicas, que continuam até aos dias de hoje, mesmo depois da saída do guitarrista e membro fundador Claus Noreen. Fãs de 'Barbie Girl' que queiram reviver a nostalgia daqueles anos mais simples podem, pois, assistir a uma prestação do grupo ainda este ano, ou até no próximo, transformando as 'bonecas' do 'europop' num daqueles nomes que parecem perfeitamente satisfeitos em fazer parte do circuito nostálgico do mundo musical; um final honroso para uma banda que, por um ou dois Verões em finais dos anos 90, foi uma das maiores do Mundo para toda uma geração de crianças e jovens...

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