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Portugal Anos 90

Uma viagem nostálgica pelo universo infanto-juvenil português dos anos 90, em todas as suas vertentes.

Portugal Anos 90

Uma viagem nostálgica pelo universo infanto-juvenil português dos anos 90, em todas as suas vertentes.

20.04.22

Em quartas-feiras alternadas, falamos sobre tudo aquilo que não cabe em nenhum outro dia ou categoria do blog.

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Quem foi jovem na viragem dos anos 90 para o século e milénio seguinte, certamente terá ainda programada, algures no seu ser, uma resposta inata, quase 'pavloviana', a uma determinada maneira de pronunciar as palavras 'Oh, Elsa' - nomeadamente, responder na mesma moeda, com precisamente a mesma entoação ao estilo cântico de futebol ('Oh Ellll-saaaaa!') e no máximo de volume que conseguir.

Isto porque, durante um determinado espaço de tempo entre o Verão de 1998 e finais da década, esse cântico foi omnipresente entre uma determinada camada da população portuguesa, afirmando-se como um daqueles 'memes' que antecedem a criação do próprio termo, e até da Internet 2.0. Durante aqueles 12 ou 18 meses, o grito foi entoado em pátios de escola, em transmissões em directo de jogos de futebol, em estádios, nos festivais de música de Verão onde tivera origem, por participantes em colónias de férias...enfim, onde houvesse 'malta jovem', aí se ouviria esse cântico, independentemente do contexto ou até sentido do mesmo naquela situação.

Mais curioso era que muitos dos que berravam a plenos pulmões pela Elsa nunca chegaram a saber de quem a mesma se tratava, ou de onde o grito surgira; muitos julgavam ter tido o mesmo origem num anúncio que passava na época (embora também esse simplesmente aproveitasse a febre) e para os restantes, era simplesmente uma coisa que se passara a fazer, que surgira de parte incerta e estava agora na moda. E a verdade é que mesmo a suposta origem do grito (alegadamente ideado como forma de um grupo de participantes no Festival do Sudoeste '98 localizarem uma amiga, chamada precisamente Elsa, e rapidamente tornado 'viral' entre os restantes campistas e, daí, para o resto do Mundo) pode não passar de uma 'lenda urbana'; na verdade, ninguém sabe ao certo a verdadeira origem do 'Oh Elsa' - com a possível excepção, claro, de quem o tenha criado.

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O Festival do Sudoeste, suposto local de origem do grito

Fosse qual fosse a sua origem, no entanto, uma coisa é certa - o cântico pegou, e durante mais tempo do que costuma ser regra para este tipo de coisa. Com o seu balanço ideal de potencial 'memético-viral', valor alto no 'irritómetro' e factor 'malta fixe', o grito passou, durante um breve mas marcante período, a constituir mais um elemento aglutinador e identificador da demografia jovem, que - ao contrário de outros - ultrapassava demarcações de 'tribos' ou níveis de popularidade, unindo toda a população nacional abaixo de uma certa idade num único e ensurdecedor clamor pela quase mítica Elsa, então (presume-se) já de há muito encontrada pelos seus colegas de festival, e para quem deverá ter sido no mínimo estranho ouvir, durante mais de um ano, metade do País utilizar o menor pretexto para berrar a plenos pulmões por ela...

19.04.22

Porque nem só de séries se fazia o quotidiano televisivo das crianças portuguesas nos anos 90, em terças alternadas, este blog dá destaque a alguns dos outros programas que fizeram história durante aquela década.

Quando se fala de humor feito em Portugal, pelo menos na era pré-Gato Fedorento, um nome se levanta acima de todos os outros: Herman José. Com carreira iniciada ainda no tempo do preto-e-branco, o actor e humorista (cuja carreira não dá, aliás, sinais de abrandar) atingiu o seu auge na década de 80, tendo explanado o seu humor entre o brejeiro e o satírico (e sempre no limiar do politicamente incorrecto) ao longo uma série de programas de enorme sucesso, como 'O Tal Canal' e 'Hermanias'; na década seguinte, no entanto, o luso-alemão sofreu uma inflexão na carreira, que o tornou conhecido, sobretudo, como apresentador de concursos e programas de variedades, entre os quais se destacam 'A Roda da Sorte' e 'Parabéns', dois programas de que paulatinamente aqui falaremos.

Já no final da referida década, no entanto, Herman sentiu o 'bichinho' da comédia (que nunca, verdadeiramente, o abandonara) 'morder' de novo, e não tardou a reunir novamente a sua posse de fiéis seguidores e cúmplices, com vista à criação de um novo programa de 'sketches' humorísticos, semelhante aos que o haviam notabilizado nos 'velhos tempos'; o que nem ele, nem ninguém poderia saber é que o mesmo se tornaria, aos olhos de muitos, não só o seu melhor programa, como um sério concorrente ao título de melhor programa de humor português de sempre.

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Falamos, é claro, da mítica 'Herman Enciclopédia', sobre cuja estreia se celebrararam neste fim-de-semana pascal exactos vinte e cinco anos (foi ao ar pela primeir vez a 15 de Abril de 1997) mas que continua, de uma forma ou de outra, a influenciar o humor criado em território nacional até aos dias de hoje.

Larga porção dessa influência deve-se ao facto de a geração que hoje cria programas de humor ter crescido com Herman, e ter provavelmente passado uma grande parte da sua infância e adolescência a citar ou até imitar cenas da 'Enciclopédia'. De facto, a penetração do programa na cultura popular portuguesa de finais do século XX foi tal que até mesmo quem não via conhecia (e utilizava no dia-a-dia) todos os principais personagens e bordõe; do mítico Diácono Remédios, para quem nunca 'habia nexexidade, ze, ze' (e respectiva mãe, sexóloga liberal) à não menos lendária Super Tia e o seu 'caturreiraaaa!', passando pelos televendedores Mike e Melga, da MELGASHOP, para quem tudo era 'fantáááástico!' ou pelos 'pastiches' de Artur Albarran (vivido por José Pedro Gomes, e conhecido por iniciar cada segmento com as palavras 'a tragédia, o drama, o horror') ou Lauro António (Lauro Dérmio, sinónimo com a sugestão 'let's luque et da treila'), foram inúmeros os 'bonecos' introduzidos pela 'Enciclopédia' no imaginário popular, muitos dos quais ainda nostalgicamente recordados por quem assistiu 'em tempo real' ao seu aparecimento.

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Diácono Remédios, provedor da 'Enciclopédia' e talvez o personagem mais popular de todos os introduzidos pelo programa.

Pode parecer incrível que um programa com este tipo de penetração e impacto cultural apenas tenha tido direito a duas temporadas, mas acredite-se ou não, foi esse o tempo de vida da 'Herman Enciclopédia' na televisão portuguesa; período talvez curto para uma emissão com o sucesso de que esta desfrutou, mas mais que suficiente para que, um quarto de século depois, toda uma geração retenha, ainda, memórias vívidas e nostálgicas das criações de Herman e seus asseclas, fazendo com que haja - ao contrário do que o Diácono Remédios poderia pensar - mesmo muita 'nexexidade' de prestar homenagem, por alturas do seu aniversário, a mais este marco da televisão portuguesa.

18.04.22

Qualquer jovem é, inevitavelmente, influenciado pela música que ouve – e nos anos 90, havia muito por onde escolher. Em segundas alternadas, exploramos aqui alguns dos muitos artistas e géneros que faziam sucesso entre as crianças daquela época.

Quando se pensa no estereótipo de uma estrela 'pop' ou de rádio, especialmente de sucesso entre o público jovem, tem-se sempre, quer se queira quer não, uma certa imagem em mente; e o mais provável é que a mesma não seja a de um trintão, com sentido de estllo duvidoso e visual algures entre Joe Satriani e Rob Halford, de voz rouca, e cuja música se enquadraria melhor no átrio de um clube de 'jazz' do que na aparelhagem ou 'walkman' de um adolescente.

E, no entanto, foi um músico com precisamente essas características o responsável por um dos maiores 'hits' radiofónicos em Portugal no início dos anos 90, tanto entre o público mais maduro como - mais significativamente - entre os jovens. Tratava-se de Pedro Machado Abrunhosa, um cantor e compositor portuense que - em conjunto com a sua banda de apoio, apelidada Bandemónio - conheceria inusitado sucesso durante um par de anos da referida década.

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Este homem parece-vos uma 'superstar' do pop-rock radiofónico? Pois...

Fruto da cena 'académica' da música portuguesa, com estudos e posterior leccionamento em vários institutos especializados da sua área de residência, Pedro Abrunhosa era já 'entradote' (na escala dos artistas 'pop', muito semelhante à dos jogadores de futebol) quando vê ser editado o disco de estreia dos Bandemónio, em 1994. No entanto, nem a idade avançada e aspecto de 'gajo normal' do vocalista, nem o estilo 'jazz' em modelo Tom Waits das composições da banda (elementos que, em condições normais, os remeteriam para uma categoria de nicho dentro do Mundo da música) foram impedimento ao sucesso imediato do grupo portuense, que viu não uma, não duas, não três, mas CINCO das músicas do disco ganharem tracção quase imediata nas rádios nacionais - ao tema de abertura, 'Não Posso Mais', seguiram-se a faixa diametralmente oposta no alinhamento, 'Tudo O Que Eu Te Dou', 'Socorro', 'Lua', e ainda 'É Preciso Ter Calma', sendo que esta última nem sequer havia sido lançada como 'single'! Nenhum destes temas soava remotamente como mais nada que tocasse nas rádios na altura, mas a verdade é que o seu sucesso catapultou o álbum para vendas de tripla platina e transformou, da noite para o dia, Pedro Abrunhosa de anónimo professor de música do Porto em nova sensação do pop-rock nacional.

É claro que, com um álbum de estreia de tamanho sucesso, seria fácil imaginar que Pedro Abrunhosa e os Bandemónio se ficariam pelo estatuto de 'one-hit wonder'; nada mais longe da verdade, no entanto. Pelo contrário, a lista de sucessos de Abrunhosa e companhia viu-se acrescida primeiro de um livro (!) e depois de 'Se Eu Fosse Um Dia O Teu Olhar', tema do filme 'Adão e Eva' (também ele um sucesso) que soava exactamente como todos os outros 'singles' lançados pelo músico até então, e que talvez por isso tenha sido bem acolhido por quem já adorara 'Viagens'.

O sucesso desta música permitiu manter o perfil do artista elevado o suficiente para granjear a 'Tempo', o segundo álbum do músico, um sucesso ainda maior que o de 'Viagens' - mais de quatro anos após o seu período de relevância (e sem nada que sequer se aproximasse do sucesso dos 'singles' do primeiro disco) Abrunhosa e os renovados Bandemónio conseguiam ainda vendas de quádrupla platina, um verdadeiro testamento ao poder que o nome de um artista pode ter sobre os volumes de vendas de uma obra. Participações de Rui Veloso, Carlos do Carmo e da banda de Prince, a New Power Generation, garantem ao álbum aquela aura de 'obra séria', fazendo de 'Tempo' um digno sucessor da estrondosa estreia.

Como dizia George Harrison, no entanto, 'tudo o que é bom deve findar', e o virar do milénio representou o fim do 'lugar ao sol' de Abrunhosa em meio ao pop-rock radiofónico português; os trabalhos seguintes do músico já não granjearam a mesma atenção dos dois primeiros discos dos Bandemónio, relegando o 'jazzman' portuense não só para a categoria 'de nicho' a que normalmente teria sempre pertencido, mas também para a vasta lista de artistas (na qual se incluem também uns Silence 4 ou Santos e Pecadores) que, apesar de terem continuado a gravar regularmente novos materiais, desapareceram totalmente da consciência colectiva nacional. Ou antes - totalmente, não; existe, ainda, uma geração para quem uma simples 'mirada' ao título de um dos seus grandes êxitos evoca imediatamente uma memória, com mais de um quarto de século, de um refrão, cantado naquela voz roufenha e com o característico sotaque portuense. Apenas mais uma prova de que a influência de certos artistas na respectiva cena vai muito além da visibilidade e sucesso de vendas...

16.04.22

Os Sábados marcam o início do fim-de-semana, altura que muitas crianças aproveitam para sair e brincar na rua ou no parque. Nos anos 90, esta situação não era diferente, com o atrativo adicional de, naquela época, a miudagem disfrutar de muitos e bons complementos a estas brincadeiras. Em Sábados alternados, este blog vai recordar os mais memoráveis de entre os brinquedos e acessórios de exterior disponíveis naquela década.

E numa altura em que se celebra a quadra pascal, nada melhor do que dedicar algumas breves linhas àquela que, para muitas crianças portuguesas, era uma das partes mais divertidas do fim-de-semana: a tradicional caça aos ovos.

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Embora, em outros países, actividades semelhantes a esta se desenrolem em moldes bem mais sofisticados (a ponto de poderem ser consideradas actividades organizadas, dignas de uma Saída de Sábado) em Portugal, o jogo reveste-se de moldes bem mais simples: essencialmente, as crianças apenas têm de descobrir os ovos de chocolate escondidos pelos pais (sob a guisa do clássico Coelhinho da Páscoa) na noite anterior, ficando cada ovo de posse de quem o encontrar, salvo se houver etiqueta a indicar o contrário.

É claro que existem nuances (quem mora num apartamento terá uma missão menos longa e variada do que quem tem quintal, por exemplo) mas os traços gerais pouco se alteram em relação ao anteriormente descrito; um conceito bem simples, mas capaz de ocupar a atenção das crianças portuguesas (quer as dos anos 90, quer as actuais) durante largos minutos na manhã de Domingo, especialmente por ter uma recompensa bem desejável e atractiva - e que, por isso mesmo, merece lugar de destaque aqui no blog nesta quadra pascal.

15.04.22

Os anos 90 estiveram entre as melhores décadas no que toca à produção de filmes de interesse para crianças e jovens. Às sextas, recordamos aqui alguns dos mais marcantes.

Para a geração que tinha uma certa idade nos anos 90, o humor cinematográfico era personificado, essencialmente, por dois nomes: Jim Carrey e Robin Williams. E se o primeiro gozou de uma daquelas décadas de fazer inveja a qualquer novato (à revelação com Ace Ventura - Detective Animal seguiram-se Doidos À Solta, A Máscara, Ace Ventura em África, Batman Para Sempre e O Mentiroso Compulsivo, antes da viragem para filmes mais sérios com os excelentes The Truman Show e Homem Na Lua) o segundo - de quem Carrey foi, em certa medida, sucessor, e cujo papel no terceiro filme de Batman acabou por 'usurpar' - efectivou nos anos 90 uma viragem de carreira, deixando de parte os papéis algo mais sérios que desempenhara nos anos 80 e retornando às suas raízes mais cómicas e direccionadas a um público mais infantil.

E o mínimo que se pode dizer é que essa opção foi extremamente bem sucedida, tendo o actor caído nas boas graças do público pré-adolescente da época, graças aos seus desempenhos em sucessos como O Fabricante de Sonhos, Aladdin (um dos melhores filmes da chamada 'Renascença' da Disney, em que interpretou, memoravelmente, o Génio da Lâmpada), Ferngully: As Aventuras de Zack e Krysta na Floresta Tropical, Papá Para Sempre, Hook (de Steven Spielberg) Jumanji ou Jack (de Francis Ford Coppolla) entre outros.

Foi, precisamente, em meio a este estado de graça que Williams aceitou representar um professor distraído (numa altura em que Eddie Murphy revivia a carreira com um papel muito semelhante, num filme também baseado num clássico do cinema a preto a branco) num 'remake' de uma comédia familiar da Disney, hoje algo esquecido - para ser sincero, algo justificadamente - mas cuja data de estreia em Portugal completou recentemente 24 anos.

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Falamos de Flubber - O Professor Distraído, estreado em Portugal a 27 de Março de 1998 e que procurava ser mais um na longa lista de sucessos infanto-juvenis de Williams, bem como na lista de 'remakes' bem-sucedidos de obras de décadas passadas (onde se contam também O Professor Distraído e Doutor Doolittle, de Murphy, e a versão em 'acção real' do clássico animado Os 101 Dálmatas, produzida no ano anterior.) No entanto, apesar do bom desempenho do filme nas bilheteiras mundiais, o mesmo é, hoje em dia, bem menos lembrado do que os seus congéneres acima mencionados, talvez por se tratar de um daqueles filmes que entretêm no imediato, mas caem no quase total esquecimento algum tempo depois de terem sido vistos.

De facto, apesar de as aventuras do professor Phillip Brainard (Williams) e da sua criação, a borracha voadora Flubber (corruptela de 'flying rubber') terem tudo para agradar ao público a que o filme se destina - a começar por muito, mas muito humor tipo 'pastelão' - existem, na mesma época e com a mesma demografia em mente - opções muito mais bem conseguidas, como Space Jam (também de 1997), Pequenos Soldados, do ano seguinte, ou o próprio Jumanji, em que Williams participara pouco mais de um ano antes. Comparado com estes, o filme de Williams sai, definitivamente, a perder, sendo a sua exibição recomendada apenas àqueles pais já falhos de opções para entreter os filhos, e que não querem recorrer ao 'Baby Shark' ou à Porca Peppa.

De realçar, ainda, que, em Portugal, a estreia de 'Flubber' ficou marcada pela oferta da novelização oficial do filme - numa daquelas traduções manhosas e meio 'às três pancadas' a que a Abril já habituara os jovens leitores com a série 'Arrepios' - como brinde numa edição da revista 'Super Jovem', então já na fase final da sua existência. E ainda que, presumivelmente, tal estratagema tenha ajudado a gerar interesse pelo filme por parte do público-alvo à época, o certo é que nem a mais bem conseguida campanha publicitária conseguiria transformar 'Flubber - O Professor Distraído' em algo mais do que uma das produções 'menores' da fase 'imperial' de Williams, um filme 'engraçado' para ver uma vez, mas que não chega aos calcanhares da obra anterior do actor (o clássico 'O Bom Rebelde') e que, quase um quarto de século após a sua estreia, se afirma como relevante apenas num contexto de recordação do passado, como o proposto por este blog; para o público cinéfilo em geral, o filme merece mesmo continuar no esquecimento...

14.04.22

Trazer milhões de ‘quinquilharias’ nos bolsos, no estojo ou na pasta faz parte da experiência de ser criança. Às quintas, o Portugal Anos 90 recorda alguns dos brindes e ‘porcarias’ preferidos da juventude daquela época.

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Quando se é criança, 'vale tudo' para 'desligar', mesmo que por momentos, de uma aula chata; e nos anos 90, quando os telemóveis ainda eram mais excepção que regra e os 'tablets' ainda nem eram ideia no cérebro de um qualquer cientista, uma das principais formas que as crianças de todo o Mundo encontravam para 'matar tempo' nessas alturas mais chatas (quando não estavam a passar papéis entre si, claro) eram as confecções em papel, criadas com as folhas dos cadernos e 'dossiers'.

Da mais famosa destas - o quantos-queres - já falámos numa edição anterior desta rubrica; hoje, dedicaremos a nossa atenção às outras principais categorias de criações deste tipo - a saber, os barcos, os chapéus e, claro, os aviões de papel.

Dos três tipos, o mais universal era, sem dúvida, o último, até por um avião de papel ser tão fácil de criar - e a definição do que constituía uma criação deste tipo tão lata - que até quem não tinha grande jeito podia rapidamente 'fabricar' um destes artefactos e gerar algum entusiasmo, fosse na sala de aula ou cá fora, no recreio (as competições para ver que avião voava mais longe eram praticamente um ritual entre jovens de uma certa idade); por contraste, os barquinhos requeriam água nas proximidades (e tendiam a desfazer-se rapidamente) e os chapéus deixavam de servir após uma certa (pouca) idade. Ainda assim, qualquer destes três elementos constituía uma 'quinquilharia' artesanal perfeitamente válida - e, mais importante, uma forma divertida de fazer 'acelerar' o tempo num dia de escola mais lento...

13.04.22

A banda desenhada fez, desde sempre, parte da vida das crianças e jovens portugueses. Às quartas, o Portugal Anos 90 recorda alguns dos títulos e séries mais marcantes lançados em território nacional.

De inícios da década de 80 ao dealbar do novo milénio, a editora Abril Morumbi (mais tarde apenas Abril) foi sinónima com a publicação de banda desenhada Disney nas bancas portuguesas, sendo praticamente impossível encontrar um produto literário da companhia americana que não tivesse a chancela da casa luso-brasileira; mas enquanto que a maioria dos títulos lançados pela editora eram e continuam a ser fáceis de encontrar, um ou outro conseguiu, ainda assim, reter um estatuto obscuro o suficiente para, à entrada para a terceira década do século XX, poder ser considerado Esquecido Pela Net.

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Frente e verso da capa do álbum

É o caso do volume que hoje apresentamos, uma publicação de 1990 que leva o tão descritivo quanto anónimo título de 'Álbum Disney - Mickey' - uma designação genérica o suficiente para dificultar (e muito!) a procura de informação sobre ele na Internet, especialmente dada a quantidade de colecções diferentes lançadas ao longo dos anos, precisamente com o mesmo título, algumas das quais já aqui abordadas. Este 'Álbum Disney´ nada tem a ver com qualquer delas, sendo (tanto quanto podemos aferir) uma entidade única, e uma experiência nunca repetida pela Abril - o que talvez ajude a explicar o seu estatuto obscuro no panorama da banda desenhada nacional.

Seja qual for o motivo para a sua situação actual, o certo é que este álbum não merecia tal fado, dado tratar-se não só de uma experiência válida, mas também de uma aquisição indispensável para qualquer interessado na História da banda desenhada, tanto da Disney quanto em geral. Isto porque, ao contrário de outras edições especiais da Abril (como os álbuns criados em exclusivo para uma promoção da Nestlé) o livro não apresenta qualquer história (à época) contemporãnea do protagonista, assumindo, logo desde a capa, a sua intenção de servir como veiculo para a publicação em Portugal de histórias clássicas de Mickey e companhia - no verdadeiro sentido da palavra, já que a totalidade do material contido nas suas páginas foi publicado quase sessenta anos antes da edição do próprio álbum, na década de 1930!

De facto - de acordo com as curtas mas informativas notas presentes no início e a meio do livro - as quatro histórias (mais uma mão-cheia de 'tiras') que perfazem esta obscura publicação começaram por surgir, em formato serializado, nos jornais em que as histórias de Mickey eram publicadas, entre 1932 e 1938; e apesar de, aqui, surgirem em formato 'corrido', é ainda bastante evidente onde cada porção originalmente acabava.

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Uma página de 'O Covil de Wolf Barker', demonstrativa do estilo de Floyd Gottfredson (esquerda) e o frontispício e página de notas de 'Hoppy, o Canguru' (centro e direita).

Nada, no entanto, que diminua a experiência de ler estas 'pérolas', a maioria da autoria de Floyd Gottfredson, um dos mais lendários artistas dos primeiros tempos do estúdio, Da pura aventura de 'O Covil de Wolf Barker' (cujo enredo caberia perfeitamente numa revista Mickey dos anos 80 ou 90) à comédia de 'Os Sobrinhos do Mickey' e 'Hoppy, o Canguru' (ambos também adaptados para desenho animado) há neste livro material para satisfazer todos os gostos, sempre com o atractivo extra do contexto histórico, que torna a leitura ainda mais prazerosa para qualquer conhecedor de BD.

Fica, pois, claro, que este 'Álbum Disney' não merece, de todo, o esquecimento a que foi (seja pela sua raridade, pelo título excessivamente genérico, ou por qualquer outro motivo) vetado; e embora se afigure praticamente impossível encontrá-lo à venda hoje em dia, vale bem a pena a qualquer apreciador da era de ouro da banda desenhada Disney o esforço extra para tentar adquiri-lo - quanto mais não seja, pelo valor histórico que apresenta...

13.04.22

NOTA: Este post é respeitante a Terça-feira, 12 de Abril de 2022.

A década de 90 viu surgirem e popularizarem-se algumas das mais mirabolantes inovações tecnológicas da segunda metade do século XX, muitas das quais foram aplicadas a jogos e brinquedos. Às terças, o Portugal Anos 90 recorda algumas das mais memoráveis a aterrar em terras lusitanas.

E numa altura em que as salas de cinema nacionais e internacionais acolhem o segundo filme em 'acção real' de Sonic, o porco-espinho azul que é mascote da Sega desde finais da década de 80, nada melhor do que recordarmos o(s) jogo(s) homónimos do filme, e que em certa medida o inspiraram.

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Capas das três versões do jogo

Lançado em 1992, dois anos depois do popularíssimo original (que, em Portugal, era normalmente oferecido na compra de uma Mega Drive, garantindo-lhe um lugar na colecção da maioria das crianças e jovens que possuiam a consola), 'Sonic the Hedgehog 2' tem a distinção de ter sido um dos últimos títulos lançados para a moribunda Master System, a primeira consola caseira da Sega, à época largamente suplantada pela sucessora de 16-bits, que também recebia uma versão do jogo. A terceira e última variante surgia na Game Gear, a portátil que então ainda se pensava poder competir com o Game Boy, da Nintendo.

Ao contrário do primeiro jogo, no entanto - em que a versão para Master System pouco mais era do que uma variação mais simplista da 'irmã mais velha' para Mega Drive - o segundo título do porco-espinho azul destacava-se pelo facto de cada uma das três versões ser marcadamente diferenciada das restantes; os elementos-base mantinham-se os mesmos (como a estrutura de tipo 'plataforma', os anéis que, em número suficiente, davam uma vida extra, os 'power-ups' ou a introdução da raposinha Tails) mas cada um dos três jogos tinha elementos distintos que lhe davam uma identidade própria, como os níveis em que Sonic pilota carrinhos de mina ou asa-deltas, os 'bosses' e as habilidades extra das versões 8-bits ou os níveis pseudo-3D e a possibilidade de uma experiência a dois jogadores do título de 16-bit, com o segundo jogador a assumir o controlo de Tails. Apesar de a essência do jogo se manter a mesma, estas subtis mas significativas diferenças tornavam os títulos de 8 e 16 bits suficientemente diferentes para quase contarem como dois jogos distintos, ambos muito bem recebidos tanto pela imprensa especializada como pelos próprios 'gamers'.

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As versões 8-bits do jogo (esquerda e centro) tinham níveis com elementos distintos, não presentes na de 16-bits (direita) - que, em contrapartida, permitia o jogo a dois.

Hoje, praticamente 30 anos após o seu lançamento, ambas as versões de 'Sonic the Hedgehog 2' continuam a constituir excelentes experiências de 'retro-gaming', com gráficos agradáveis, jogabilidade cuidada e intuitiva, e (pelo menos na versão 16-bit) uma excelente banda-sonora. E embora ambos os titulos representem, talvez, o apogeu da carreira da mascote supersónica da Sega, a mesma conseguiria, de uma forma ou de outra, manter-se relevante durante outras três décadas - proeza a que nenhuma outra mascote da Sega conseguiria almejar, e que esteve, durante esse período, apenas ao alcance de outros 'escolhidos', a maioria criada pela Nintendo. A estreia do (já segundo) filme do porco-espinho (tendo o primeiro sido surpreendentemente bem recebido) é apenas mais uma prova da longevidade da franquia Sonic, grande parte de cujo sucesso se deve à qualidade e popularidade dos primeiros dois jogos...

12.04.22

NOTA: Este post é respeitante a Segunda-feira, 11 de Abril de 2022.

Em Segundas alternadas, o Anos 90 recorda algumas das séries mais marcantes para os miúdos daquela década, sejam animadas ou de acção real.

As décadas de 80 e 90 representaram, talvez, o auge do cinema de acção exagerado, em que heróis musculados fazem rebentar 'a esmo' estruturas, matando dezenas ou mesmo centenas de inimigos de uma só vez, sem jamais serem atingidos. E se, no cinema, este estilo de trama ficou imortalizado, à época, pelos filmes da 'trinca' Schwarzenegger-Willis-Stallone, na televisão de 'acção real', a mesma é mais comummente associada a um nome: 'The A-Team'.

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Criada em 1983, a série é, em muitos aspectos, perfeitamente típica, e até emblemática, da 'era Reagan' dos Estados Unidos, com a sua nostalgia pelo Vietname e conceito centrado num grupo de ex-combatentes dessa guerra, transformados em mercenários após serem injustamente condenados de um crime militar; mesmo sem esse enquadramento contextual, no entanto, é extremamente fácil situar esta série no tempo após apenas alguns minutos de visualização, já que os elementos típicos do cinema de acção da época estão absolutamente todos presentes, a ponto de a série se ter tornado sinónima com os estereótipos desse género cinematográfico. Semana após semana, ao longo de quatro anos e cinco temporadas, Hannibal, Faceman, 'Howlin' Mad' Murdoch e, claro, o inesquecível e inimitável B. A. Baracus enfrentaram inimigos de mira muito pouco afinada, explodiram bases e locais-chave para a estratégia dos mesmos e realizaram arriscadas fugas na sua icónica carrinha, a fim de defender inocentes moçoilas e honestos agricultores dos poderes que os queriam prejudicar; uma fórmula tão previsível que beirava a auto-paródia, mas que conseguiu cativar toda uma geração de jovens americanos (tanto da parte Norte como Sul) e nada menos do que DUAS gerações de portugueses.

Isto porque, em território nacional, a série teve duas transmissões distintas: primeiro em versão original, logo no ano seguinte à estreia nos EUA e com o título 'Soldados da Fortuna', e mais tarde na icónica dobragem brasileira (sim, de Herbert Richards!) que transformava o grupo no 'Esquadrão Classe A'. Terá sido esta a versão a que a maioria dos leitores deste blog terá assistido nas manhãs em que não havia escola, e será nesta que o presente post, maioritariamente, se centrará.

O lendário genérico de abertura da série, na sua versão brasileira

Exibida pela TVI ali por volta de meados da década, 'Esquadrão Classe A' é até hoje tida como o exemplo perfeito de uma dobragem que supera o original; isto porque a adaptação para português do Brasil era tão, mas tão bem feita que ajudava a tornar a série ainda mais aliciante para o público-alvo do que ela já era. O trabalho dos actores brasileiros era (foi) tão marcante, que quem tenha visto sequer um episódio desta versão da série certamente não esquecerá, por exemplo, a exclamação do Baracus de Mr. T, que jurava a cada episódio 'não entrar em avião nenhum' - invariavelmente, momentos antes de ser visto a bordo de um avião. Estes pequenos detalhes, que também se podiam encontrar, por exemplo, nas dobragens dos filmes Disney da época, ajudavam a acentuar o sub-texto cómico da série, dando-lhe o balanço perfeito entre acção e momentos mais 'leves' - receita quase infalível para o sucesso de qualquer série da época.

Apesar de essa dobragem ter sido o principal motivo pelo qual 'The A-Team' perdurou na memória da 'Geração X' e 'millennial' portuguesas, no entanto, a mesma foi sumariamente deixada de parte em subsequentes transmissões da série na televisão nacional: tanto a repetição que passou na SIC Radical como a que a RTP Memória exibiu se baseavam na versão 'Soldados da Fortuna', exibida nos anos 80 com a trilha sonora original legendada em Português; uma pena, já que, para muitas ex-crianças e jovens da época, 'The A-Team' é daquelas séries que (como Power Rangers, por exemplo) nunca parece totalmente 'certa' sem os personagens a falar português...

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