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Portugal Anos 90

Uma viagem nostálgica pelo universo infanto-juvenil português dos anos 90, em todas as suas vertentes.

Portugal Anos 90

Uma viagem nostálgica pelo universo infanto-juvenil português dos anos 90, em todas as suas vertentes.

08.02.22

Porque nem só de séries se fazia o quotidiano televisivo das crianças portuguesas nos anos 90, em terças alternadas, este blog dá destaque a alguns dos outros programas que fizeram história durante aquela década.

Nota: Este post estava originalmente planeado para ser sobre a Arca de Noé, programa do qual análisamos os LP's de banda sonora no nosso último post. No entanto, a Maria Ana fez-nos chegar a informação de que se celebrou, na semana transacta, um aniversário marcante, suscitando-se assim uma mudança de tema; a Arca de Noé fica a próxima, e hoje celebraremos os 36 anos da criação do Vitinho. Obrigado, Maria Ana, pela informação!

A presença de mascotes variadas para tentar vender um produto, serviço, ou até ideia ou conceito ao público mais jovem não é nada de novo – dos vários bicharocos das caixas de cereais a criações mais inusitadas como o Luzinha, mascote da EDP durante parte dos anos 90, esta prática tem um longo e ilustre historial, tanto em Portugal como no estrangeiro.

Poucas são, no entanto, as mascotes que transcendem o produto a que são normalmente associadas e se tornam parte de uma vertente completamente diferente da cultura popular. O exemplo que vem imediatamente à memória será, talvez, o de Fido Dido, cuja popularidade eclipsou, nos anos 80 e 90, o seu estatuto de simples mascote da 7-Up; logo atrás do boneco monocromático, no entanto, virá concerteza (para quem foi criança naquela época, pelo menos) um outro, bastante mais jovem e de feições bem mais humanas, enfiado numas jardineiras três tamanhos acima,com chapéu de palha a condizer, e que foi presença constante não só nas caixas de papas para bebé que foi originalmente concebido para vender, mas também em fontes tão díspares quanto animações televisivas e sinais autocolantes de 'Bebé a Bordo' para colar nos retrovisor do carro.

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Falamos, é claro, do Vitinho, a carismática mascote infantil da Milupa que celebrou, no passado dia 2 de Fevereiro, os seus trinta e seis anos de criação – como se ainda fossem precisas mais provas de que estamos todos a ficar velhos...

Iniciava-se, efectivamente, o ano de 1986 quando o ilustrador José Maria Pimentel cria o menino agricultor de cabelo castanho, bochechas rosadas e roupa da cor daquilo que, presumivelmente, semeava – nomeadamente, o trigo de que eram feitas as papas infantis Miluvit, a que o boneco dava a cara. No entanto, e pese embora o sucesso de vendas do referido produto ao longo dos dez anos seguintes, não seria na qualidade de embaixador de papas de trigo que Vitinho ficaria imortalizado entre a juventude portuguesa das décadas de 80 e 90; pelo contrário, a verdadeira fama da criação de Pimentel seria adquirida no desempenho das suas outras funções – as de personagem principal de uma série de animações musicais transmitidas diariamente pela RTP como forma de marcar o início do seu horário nobre, e que foram, em parte, responsáveis por mandar toda uma geração de crianças para a cama.

A primeira, e mais famosa, animação do Vitinho, exibida ainda nos anos 80

No total, foram quatro as animações exibidas pela emissora estatal entre 1986 e 1997 – tempo suficiente para o personagem, e as respectivas cantigas, conquistarem um lugar no coração não só de quem nasceu nos anos 80, mas também dos seus irmãos e irmãs mais novos, já da década de 90. Para ambas estas sub-gerações, o Vitinho foi presença constante e infalível, noite após noite, servindo como uma espécie de 'sinal de alarme' para o facto de que o dia havia acabado, e era hora de iniciair os preparativos para a cama – para que, no dia seguinte, pudessem acordar frescos e bem-dispostos, prontos a comer um prato de Miluvit...

O personagem no seu 'ambiente natural' - um anúncio às papas Miluvit - em que também é revelado o seu 'sotaque' saloio

Sim, as animações genericamente conhecidas como 'Boa Noite, Vitinho' foram um dos primeiros – e melhores – exemplos de 'marketing sinergístico' em território nacional, sendo que o Miluvit não era mencionado uma única vez em nenhum dos quatro clips; a estratégia de marketing da Milupa consistia, pura e simplesmente, em tornar o seu personagem conhecido do público-alvo do seu produto.

E, nesse aspecto, a campanha foi estrondosamente bem-sucedida, tendo-se o Vitinho tornado a cara não só da banda sonora dos seus próprios anúncios (tanto á época como por ocasião do 30º aniversário dos mesmos), como de outras (de que é exemplo o primeiro LP da Arca de Noé), e ainda dos referidos autocolantes para o retrovisor e de um livro sobre os cereais, com textos de Maria Alberta Menéres, na altura uma das mais conceituadas autoras de literatura infanto-juvenil em Portugal. Claro que as vendas do Miluvit acabaram por também beneficiar de toda esta popularidade, embora, paradoxalmente, a maioria das crianças talvez pensasse que era a marca que tinha posto o boneco da televisão na sua caixa, e não o contrário.

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Capa do primeiro LP com músicas do Vitinho, lançado em 1988

Quando, ao fim de onze anos, o percurso do mini-agricultor na consciência popular chegou finalmente ao fim (sensivelmente em simultâneo com a produção das papas que promovia), a presença de Vitinho na cultura portuguesa era tão enraizada que o mesmo deixou um 'buraco' que demorou mais de um ano a preencher – e, quando tal aconteceu, o produto proposto pela RTP foi substancialmente diferente.

A verdade é que, nos vinte anos subsequentes, não voltou a haver outra mascote nacional tão carismática como o Vitinho, nem tão-pouco outro produto mediático como as suas canções de 'embalar' animadas. Por esses motivos, e pela marca que deixou nas infâncias de todos nós, a mascote da Milupa merece bem os votos de parabéns que aqui lhe deixamos, por intermédio deste 'post'. Que contes muitos, Vitinho – e, como não podia deixar de ser, boa noite...

 

07.02.22

Qualquer jovem é, inevitavelmente, influenciado pela música que ouve – e nos anos 90, havia muito por onde escolher. Em segundas alternadas, exploramos aqui alguns dos muitos artistas e géneros que faziam sucesso entre as crianças daquela época.

Nos anos 90, como em décadas anteriores, ver ser lançado um disco relativo a um qualquer programa de grande popularidade entre os jovens não era nada de novo. Tal como acontecia com o cinema, e as respectivas bandas sonoras com músicas 'constantes ou inspiradas' no filme em causa, a produção musical era vista como apenas mais um de muitos meios possíveis para facturar com um determinado produto mediático, comparável a aspectos como o vestuário (oficial ou pirata), os brinquedos ou os jogos de computador; e a verdade é que - de programas 'de auditório' com apresentadores carismáticos, como o Buereré, o Batatoon, a Hora do Lecas ou o Muita Lôco, até programas educativos como a Rua Sésamo, ou mesmo alternativas menos óbvias, como as animações d'Os Patinhos ou (reza a lenda) o Dragon Ball Z - foram muitos e bem variados os programas que beneficiaram desta estratégia em Portugal durante aquela época.

Menos comum, no entanto, era ver lançamentos discográficos associados a concursos televisivos, o que não deixa, bem vistas as coisas, de fazer sentido; afinal, é difícil imaginar um álbum de canções baseado na Amiga Olga ou na Roda da Sorte, por exemplo. No entanto, na década a que este blog diz respeito, houve pelo menos um exemplo dessa estratégia a ser aplicada a um programa deste tipo, nomeadamente, os dois LP's com músicas retiradas do programa 'Arca de Noé'.

Verdade seja dita, a 'Arca de Noé', da qual aqui falaremos muito em breve, prestava-se melhor a este tipo de empreitada do que a maioria dos outros concursos, não só por ser declaradamente dirigida ao público infanto-juvenil, como por ser apresentado por Carlos Alberto Moniz, mais tarde também conhecido como Tio Carlos, dono de uma Casa num canal rival, e já na altura um conceituado compositor de músicas para crianças. A junção destes factores – a demografia-alvo do programa e o talento do apresentador – resultou, naturalmente, na produção de vários temas musicais centrados em torno do tema do programa, a saber, os animais e a vida selvagem.

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Foram estes temas, num total de catorze – já contando com duas repeitições do memorável e contagiante genérico do programa, a abrir e a fechar, tal como na televisão – que perfizeram o alinhamento do primeiro LP da 'Arca de Noé', lançado mesmo no dealbar da nova década pela editora Ariola, e que contava com a presença, na capa, do Vitinho, mascote da Milupa, marca associada ao programa na qualidade de patrocinador. Não que o disco precisasse desta 'recomendação' extra para ser, previsivelmente, um sucesso de vendas entre a criançada, vinculado como estava a um dos mais populares programas infantis portugueses da altura.

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Como também seria de esperar, a boa prestação deste primeiro álbum no mercado levou à produção de uma mais que natural sequela. Lançado dois anos depois do original – e com o sucesso do programa-pai ainda no auge, o que diz muito sobre a aceitação do mesmo entre o público-alvo – 'Arca de Noé 2' seguia exactamente os princípios de uma boa sequela, do título óbvio e pouco original à filosofia 'mais e maior', que via duplicar o número de discos deste segundo capítulo, e expandir-se o número de músicas de catorze para vinte e quatro (seis por lado de cada um dos LP's), mais uma vez precedidas e antecedidas por duas repetições do tema-genérico do programa. Ao contrário da maioria das sequelas, no entanto, neste caso o segundo capítulo tinha tanta qualidade como o primeiro, e os volumes de vendas voltaram a reflecti-lo, com o público-alvo novamente a aderir à proposta de Moniz e companhia.

Como disse em tempos George Harrison, no entanto, 'tudo deve passar', e o ciclo da 'Arca de Noé' como ponto alto das tardes de semana das crianças dos anos 90 acabou mesmo por chegar ao fim, antes que o apresentador e respectiva equipa de produção pudessem conceber um terceiro volume de músicas alusivas ao programa. Ainda assim, os dois LP's lançados constituem um excelente exemplo de música infantil de qualidade produzida em Portugal durante aqueles anos, exibindo uma vertente menos simplista e comercial que um título como 'As Canções do Lecas', sem por isso serem menos memoráveis ou atractivas para o seu público-alvo; no fundo, os mesmos princípios que haviam tornado o programa-pai num dos maiores êxitos da televisão infantil de inícios daquela década, ainda hoje lembrado com carinho por quem a ele assistiu. Desse aspecto, no entanto, falaremos num próximo post; até lá, aqui fica um dos melhores temas de qualquer dos álbuns, para vos animar a noite...

06.02.22

Ser criança é gostar de se divertir, e por isso, em Domingos alternados, o Anos 90 relembra algumas das diversões que não cabem em qualquer outra rubrica deste blog.

Os anos 80 e 90 foram, no que toca a brinquedos, estranhamente pródigos em linhas de figuras assexuadas e que procuravam retratar tanto a vida quotidiana como cenários algo mais fantasiosos; e depois de já aqui termos falado, em edições passadas desta rubrica, da LEGO (cujas linhas de mini-figuras e acessórios cobriam desde profissões a cenas de lazer da vida quotidiana, passando por versões romanceadas de períodos históricos) e da Pinypon (que procurava reproduzir tanto o quotidiano de uma criança em idade pré-escolar como as fantasias da sua imaginação) chega hoje a vez de falarmos do terceiro membro daquilo que se podia considerar uma espécie de 'Santíssima Trindade' dos brinquedos infantis da época – a Playmobil.

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Criada pelo alemão Hans Beck em 1974 – e chegada à Península Ibérica dois anos depois, então com a designação Famobil - foi, no entanto, nas duas décadas seguintes que a Playmobil viveu o seu período de maior popularidade internacional, tornando-se um êxito de vendas - e presença obrigatória nos anúncios televisivos, catálogos de brinquedos e prateleiras de hipermercados por alturas do Natal - em muitos países, entre os quais Portugal.

Tal facto não é, de todo, surpreendente quando se considera que a linha alemã tem exactamente o mesmo conceito da LEGO, e que mais tarde viria a ser adoptado também pela Pinypon – nomeadamente, figuras estandartizadas, a maioria iguais entre si (os únicos elementos díspares entre os personagens Playmobil eram, normalmente, a cor da camisola, a cor do cabelo, quaisquer potenciais acessórios, e quiçá um qualquer detalhe da pintura, como uma barba, embora também existissem figuras infantis) e que viviam tanto situações perfeitamente quotidianas como mais aventurosas ou romanceadas, sendo muitas destas últimas baseadas em cenários comuns de obras de aventuras, como o Velho Oeste ou a época dos piratas (para a História fica o fabuloso barco pirata comercializado pela marca, um dos presentes de Natal mais cobiçados da década, sobretudo pelo sexo masculino.)

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Uma imagem que dispensa maiores legendas. Admirem, e babem-se.

O facto de a maioria destas figuras mal terem articulação (ao contrário das mini-figuras da LEGO, nos bonecos Playmobil, apenas era possível mexer os braços, e apenas em linha recta) não era impedimento à diversão, já que a maioria dos acessórios e cenários eram especificamente adaptados a esta característica – os cavalos dos 'cowboys' e índios, por exemplo, tinham costas suficientemente largas para encaixarem no ângulo de pernas dos bonecos, permitindo-lhes assim montá-los. Isto tornava as brincadeiras simples e intuitivas, e, como tal, convidativas à exploração alargada e demorada das possibilidades de cada conjunto. A maioria das crianças não se fazia rogada, sendo a linha Playmobil opção recorrente para sessões de 'imaginação' em tardes preguiçosas de fim-de-semana, ou até mesmo depois da escola.

Também à semelhança das suas contemporâneas da LEGO e Pinypon, a linha Pluymobil persiste até aos dias de hoje, tendo, inclusivamente, tido direito a uma adaptação cinematográfica em 2019, a qual passou, no entanto, bem mais despercebida do que a sua congénere da LEGO, anos antes. Também como os LEGOs, e ao contrário do que aconteceu com os Pinypon, os brinquedos da Playmobil mantêm, em grande medida, a sua identidade intacta, embora – novamente como aconteceu com a LEGO – a marca se tenha visto obrigada a diversificar a sua proposta, e a aumentar os seus preços, embora a um nível menor do que o da rival dinamarquesa.

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Como a LEGO, também a Playmobil tem, hoje, linhas licenciadas

Ao contrário do que acontece com a marca das mini-figuras amarelas, no entanto, a Playmobil perdeu, nas três décadas desde o seu apogeu, muita da sua preponderância, sendo hoje pouco mais do que uma recordação nostálgica para a geração que com ela cresceu. Ainda assim, os membros dessa mesma geração podem, hoje em dia, trocar impressões e memórias no portal online Playmogal, que (apesar de pouco participado) prova que, ainda que muito menos preponderante do que em tempos já foi, a marca alemã está longe de estar totalmente desaparecida, e pode ainda – quem sabe – voltar a fazer as delícias das demografias mais novas em anos vindouros...

05.02.22

Os Sábados marcam o início do fim-de-semana, altura que muitas crianças aproveitam para sair e brincar na rua ou no parque. Nos anos 90, esta situação não era diferente, com o atrativo adicional de, naquela época, a miudagem disfrutar de muitos e bons complementos a estas brincadeiras. Em Sábados alternados, este blog vai recordar os mais memoráveis de entre os brinquedos e acessórios de exterior disponíveis naquela década.

Como o nosso post sobre os jogos tradicionais cabalmente demonstrou, nem sempre são necessários acessórios sofisticados para uma criança se conseguir divertir com os amigos numa tarde de sol; de facto, do futebol de rua ao salto à corda, passando pelo elástico que inspira o jogo do mesmo nome, são muitas vezes os brinquedos e brincadeiras mais simples que mais minutos de diversão proporcionam neste tipo de situação, explicando a sua popularidade continuada e universal entre as demografias mais jovens. O conjunto de jogos de que falamos hoje dá ainda mais validade a esta linha argumentativa; porque a verdade é que, independentemente da idade, sexo ou nacionalidade, difícil será encontrar um cidadão ocidental que não os tenha jogado pelo menos uma vez, num recreio de escola, parque ou jardim solarengo.

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Uma visão universal e intemporal

De facto, os jogos de 'palminhas' – aqueles jogados com um parceiro, e que envolvem a coordenação entre as duas partes a fim de completar uma espécie de 'coreografia' manual que acompanha uma cantilena – estão entre os poucos assuntos abordados neste blog que podem ser considerados, verdadeiramente, intemporais; enquanto que a maioria das modas acaba por rapidamente passar, e a maioria dos brinquedos por cair, eventualmente, na obsolescência, é perfeitamente possível passar por qualquer escola do país (e não só) nos dias que correm, e ver duas ou mais crianças sentadas ou ajoelhadas uma em frente à outra, com as mãos ao nível do peito e as palmas viradas para fora, prontas a iniciar a complexa série de movimentos respeitante a seja qual for a récita por que optaram – precisamente como o haviam feito os seus pais, avós e até bisavós ao longo do anos.

As próprias cantilenas que acompanham os jogos são, elas mesmas, escolhida de entre uma série praticamente imutável de opções, que qualquer ex-criança será, com certeza, capaz de enumerar; do 'Popeye' ao 'Toyota' ou 'Dominó', estas pequenas composições quase 'nonsense' acompanham os respectivos jogos de uma geração para a seguinte, num daqueles processos de transmissão oral quase por osmose de que os jogos tradicionais de recreio são, regra geral, exemplo. Ninguém precisa que lhe seja formalmente explicado como jogar ao 'Popeye' – mesmo para a mais leiga das crianças, basta uma rápida explicação da parte de quem já tenha jogado, sendo que o resto vem com a prática.

Uma característica curiosa da maioria destes jogos é o seu carácter cooperativo; ao contrário da maioria dos restantes jogos de recreio – e com excepção do também clássico jogo da 'sardinha', uma espécie de versão competitiva dos jogos de que aqui se fala – estas brincadeiras envolvem um esforço conjunto por parte de ambos os jogadores, a fim de atingirem um objectivo comum – no caso, o fim da cantilena. Só isto já os torna distintos entre o leque de diversões de exterior disponíveis para a maioria das crianças, posicionando-os ainda como uma excelente alternativa para quem não gosta de competir (ou perder...) e prefere, tão-sómente, testar as suas habilidades, e ajudando a explicar a sua intemporalidade. E apesar de poder ser considerado 'batota' falar neste blog de um jogo cujo contexto não é específico ou restrito aos anos 80, 90 ou inícios de 2000 (nem, tão-pouco, a Portugal em particular) que atire a primeira pedra quem, em pequeno, nunca jogou estes jogos e, já adulto, tentou ensiná-los aos seus filhos...

04.02.22

Um dos aspetos mais marcantes dos anos 90 foi o seu inconfundível sentido estético e de moda. Em sextas alternadas, o Anos 90 recorda algumas das marcas e modas mais memoráveis entre os jovens da ‘nossa’ década.

Todos as quisemos. Muitos as tivemos. Lisas, às riscas ou aos quadrados, com o 'boneco' bordado nas costas, em grande, ou apenas em pequeno à frente, lá estavam elas orgulhosamente penduradas em qualquer feira de finais dos anos 90 e inícios dos 2000 onde houvesse bancas de roupa – ou não fosse essa, precisamente, uma das épocas de ouro da contrafacção têxtil. As autênticas, essas, apenas estavam ao alcance de alguns, sendo um dos 'ex-libris' dos chamados 'betinhos', que – evidentemente – nunca seriam vistos com uma daquelas 'da feira'.

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A dada altura dos 90, isto foi símbolo de status entre os adolescentes portugueses - e não só. (Crédito da foto: Ainda Sou do Tempo)

Falamos, é claro, das lendárias camisas da Sacoor, até hoje, o único item de vestuário associado à marca lisboeta (inicialmente conhecida como Modas Belize) por toda uma geração de ex-crianças e jovens portugueses. Isto porque, durante um determinado momento acima mencionado, as referidas camisas (autênticas ou bem copiadas o suficiente para 'colarem') foram uma das peças de roupa mais desejadas pela população jovem nacional, ao mesmo nível das camisolas da No Fear, alguns anos antes, ou das contemporâneas sweat-shirts da Gap, pólos de rugby, blusões da Duffy e t-shirts da Quebramar. Pura e simplesmente TODA a gente queria ter uma – isto, claro, se já não a tivesse no armário.

E a verdade é que o sucesso desta camisa (que baralhou Nuno Markl ao ponto de este lhe dedicar toda uma rubrica da sua Caderneta de Cromos) não é difícil de explicar, pelo menos entre o público mais jovem; para além do conhecido efeito 'toda-a-gente-tem' habitual entre esta faixa etária, as referidas camisas conseguiam um excelente balanço entre o 'estilo' que todos queríamos ter naquela idade e uma certa irreverência que muitos também procuravam nas suas roupas do dia-a-dia – aqui representada pelo ratinho 'cartoon', de expressão amalucada, que não podia deixar de parecer apelativo a um público que (por muito adulto que quisesse ser, ou parecer) ainda alguns anos antes seguia as aventuras de personagens como este nos desenhos animados televisivos.

Fosse qual fosse o motivo por detrás da popularidade desenfreada destas camisas durante os últimos anos do século XX e os primeiros do anterior, a mesma é inegável. Por muito distante que estivesse (e esteja) do restante catálogo da Sacoor Brothers, esta camisa (nas suas diversas variantes) continua a ser um dos maiores sucessos de sempre para a marca de Malik, Moez, Rahim e Salim Sacoor. E mesmo tendo o seu momento de glória sido efémero – como tende a acontecer com a maioria das modas relativas a vestuário, sobretudo as dirigidas aos mais jovens – a verdade é que o 'ratinho da Sacoor' se revelou icónico o suficiente para, ainda hoje, mais de duas décadas depois do seu auge, as camisas onde orgulhosamente corria e saltava continuarem a ser tema de conversa sempre que o assunto é a nostalgia pelos anos 90 e 2000. Nada mau para um ratinho anafado...

03.02.22

Todas as crianças gostam de comer (desde que não seja peixe nem vegetais), e os anos 90 foram uma das melhores épocas para se crescer no que toca a comidas apelativas para crianças e jovens. Em quintas-feiras alternadas, recordamos aqui alguns dos mais memoráveis ‘snacks’ daquela época.

No esquema global dos doces dirigidos a crianças, os simples quadrados de fruta mastigáveis podem, a princípio, parecer não ocupar lugar de grande destaque; no entanto, como os rebuçados da Penha continuam, cabalmente, a provar, existe mesmo um mercado para este tipo de guloseima entre o público infanto-juvenil – quanto mais não seja, como presença perene, indiscutível e indispensável das mesas de festa de anos (e, nos anos 90, também dos respectivos saquinhos de recordação.)

O doce que hoje abordamos, no entanto, nem carecia da justificação ou contexto de um aniversário para ser atractivo para o seu público-alvo; tão clássicos quanto os rebuçados da Penha (e, tal como estes, ainda largamente disponíveis nos dias de hoje) os Sugus eram, e continuam a ser, simultaneamente uma das mais simples e mais bem sucedidas guloseimas comercializadas em Portugal, havendo pouco quem desdenhe destes quadradinhos de fruta a meio caminho entre o rebuçado e a pastilha elástica.

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O que grande parte dos consumidores de Sugus, tanto à época como actuais, talvez não saiba é que estes doces têm já quase um século de História, tendo sido primeiramente comercializados na sua Suíça natal em inícios dos anos 30. Não menos espantoso é o facto de, desde essa altura, a sua essência pouco se ter alterado, tendo os Sugus resistido a inúmeras mudanças no mercado em que se inserem com pouco mais do que uma mudança de embalagem ou mascote (antes do macaquinho que todos conhecemos, a linha era representada por dois jovens cuja estilização étnica levantaria hoje, sem dúvida, vários pares de sobrancelhas.)

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Errrrmmm...pois...eram outros tempos...

O produto, esse, continua a ser exactamente o mesmo – mais sabor, menos sabor – e a fazer as delícias de geração após geração de crianças, as quais, por muito que a sociedade avance, continuam a ter enorme dificuldade em resistir ao chamamento de um quadrado de puro açúcar com vago sabor a laranja ou cereja, e embrulhado num papel da cor da fruta a que supostamente sabe. Uma receita simples, mas que prova - se tal ainda fosse necessário - que nem sempre um produto tem de ser muito elaborado ou sofisticado para ganhar tracção no mercado: por vezes - como estes quadradinhos de fruta tão bem demonstram - é mesmo na simplicidade que reside o segredo do sucesso...

 

02.02.22

NOTA: As imagens deste post foram retiradas do 'site' pessoal de António Jorge Gonçalves, em http://www.antoniojorgegoncalves.com/livros-books.

A banda desenhada fez, desde sempre, parte da vida das crianças e jovens portugueses. Às quartas, o Portugal Anos 90 recorda alguns dos títulos e séries mais marcantes lançados em território nacional.

Na última edição desta rubrica, falámos de 'Lisboa Às Cores', um esforço conjunto entre o ilustrador António Jorge Gonçalves, o escritor Nuno Júdice e o Pelouro da Cultura da Câmara Municipal de Lisboa distribuído pelas escolas primárias da região metropolitana de Lisboa em 1993 e destinado a sensibilizar as crianças da capital, não só para a arte, como para a beleza da sua cidade.

Mas se para os mais novos este foi o primeiro contacto com os desenhos de Gonçalves, para o público um pouco mais velho, o ilustrador já era bem conhecido, nomeadamente por ter ganho, nesse mesmo ano de 1993, o prémio de Melhor Álbum Português no maior festival de banda desenhada em Portugal (o da Amadora) com o seu volume de estreia, 'Ana' - a primeira de três obras criadas em parceira com Nuno Artur Silva (já presente nestas páginas através do seu trabalho com Hemran José, e mais tarde fundador das Produções Fictícias, responsáveis por alguns dos melhores programas de humor da História da televisão e rádio portuguesas) e que tinham como protagonista o detective privado Filipe Seems.

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'Ana', o álbum de estreia do ilustrador, premiado na esição de 1993 do Festival de BD da Amadora 

Naturalmente, este prémio acabou mesmo por impulsionar uma carreira que, durante a restante década, viu serem produzidos, além do referido livro institucional para a CML, um segundo volume das aventuras de Filipe Seems, logo no ano seguinte, e dois livros mais experimentais: 'A Arte Suprema' (1997) considerado o primeiro romance gráfico português e criado em parceria com Rui Zink, e 'O Senhor Abílio' (1999) uma obra a solo, sem texto, e mais catártica, destinada como era a ajudar Gonçalves a processar as emoções inerentes a uma mudança para Londres, e que surgiu primeiramente sob a forma de tiras, num lugar algo inusitado para a criação artística – a revista 'Linhas Cruzadas', publicação interna da companhia telefónica portuguesa Portugal Telecom.

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Capa da colectânea de tiras 'O Senhor Abílio', de 1999

O novo milénio veria a carreira de Gonçalves continuar de vento em popa, com a publicação do terceiro e último volume das aventuras do detective Seems, em 2003, a abrir caminho para mais uma série de obras (a última das quais em 2018) que ajudaram a cimentar ainda mais o nome do autor entre os fãs de banda desenhada nacional. Foram, no entanto, aqueles primeiros trabalhos lançados na 'nossa' década que verdadeiramente revelaram António Jorge Gonçalves ao Mundo, pelo que se afigura mais do que justa a singela homenagem prestada nesta página àquele que é, ainda hoje, um dos maiores nomes da banda desenhada independente e contemporânea em Portugal...

01.02.22

A década de 90 viu surgirem e popularizarem-se algumas das mais mirabolantes inovações tecnológicas da segunda metade do século XX, muitas das quais foram aplicadas a jogos e brinquedos. Às terças, o Portugal Anos 90 recorda algumas das mais memoráveis a aterrar em terras lusitanas.

Numa era de constantes e infindáveis descobertas tecnológicas, como foram os anos 90, não constitui de todo motivo de espanto saber que as empresas e corporações de venda de produtos e serviços procuraram, precisamente, utilizar essa tecnologia como ferramenta para mover mais unidades dos seus produtos, através do estabelecimento de uma ligação entre os mesmos e a nova vaga tecnológica, especialmente na vertente informática.

Nos anos antes do advento da Internet, e subsequente nascimento dos sites de jogos em Flash, redes sociais e outros veículos hoje indissociáveis da experiência informática corporativa, a divulgação destes produtos, e subsequente atracção de novos clientes, fazia-se de forma um pouco diferente – nomeadamente, através da criação de jogos promocionais, destinados a serem oferecidos como brindes na compra do produto, ou contra o envio de provas de compras ou outro elemento semelhante; e apesar de em Portugal esta estratégia só se ter verdadeiramente popularizado na década seguinte - nos Estados Unidos, era já prática corrente em plataformas como a Nintendo original, cuja biblioteca inclui jogos da McDonald's e Domino's Pizza - a verdade é que a mesma ainda chegou a tempo de render um ou outro exemplo bem interessante desta tendência durante os anos 90.

O jogo dos douradinhos Croustibat, 'clonado' da série 'Gobliiins!', da Sierra

De um deles, 'Croustibat' (um clone directo de 'Gobliiiins! 2', da Sierra, com gráficos e história substancialmente alterados, e cerca de quinze minutos de conteúdo jogável) já falámos no post sobre os falhados aspirantes a concorrentes dos Douradinhos lançados pela Findus, e que o jogo ajudava a divulgar junto do público jovem; existe, no entanto, pelo menos mais um jogo lembrado com saudade e carinho por quem consumia produtos alimentares destinados ao público mais jovem durante aquela época: o jogo da Nesquik, disponibilizado em disquete (!) juntamente com os produtos da popular linha da Nestlé, em 1994-95.

Infelizmente, só existe na 'net' com textos em Alemão...

Oficialmente intitulado 'Tricky Quicky', trata-se de um jogo de plataformas bem típico da época, com gráficos coloridos, ao estilo Sonic, e que oferece uns generosos quinze níveis (espalhados por cinco 'mundos') através dos quais o jogador deve comandar a mascote da marca, evitando inimigos e recolhendo bolinhas do cereal Nesquik (que pode depois utilizar para eliminar os referidos inimigos com o poder do chocolate) bem como caixas inteiras do produto, e ainda as letras da palavra Nesquik espalhadas em cada nível, bem ao estilo dos jogos de Donkey Kong da época. Não faltam, claro está, as batalhas com o 'chefe' do jogo, um cientista malvado que procura apoderar-se da receita do popular achocolatado.

Um jogo absolutamente genérico para a altura em que foi lançado, mas que usufruía do factor novidade (não era habitual os cereais de pequeno-almoço oferecerem jogos de computador, ainda menos completos) e da cara reconhecível da mascote que o protagonizava para garantir a criação de memórias entre as crianças e jovens de meados de 90.

O jogo da LEGO Bionicle oferecido com os cereais da Nestlé, em 2001

Talvez tenha mesmo sido o sucesso deste jogo que motivou as companhias a, na década seguinte, expandirem a indústria de jogos promocionais oferecidos como brinde na compra dos próprios produtos, já que o início do século XXI foi palco de diversas iniciativas deste estilo, de um jogo da série Bionicle (da LEGO) oferecido novamente com os cereais Nestlé, até um jogo de corridas com a chancela de Tony the Tiger disponível com os cereais Kellogg's, além de muitos jogos licenciados, com ligação aos principais filmes, desenhos animados e mascotes da época.

Com o passar do tempo, e o crescimento da Internet, estes jogos acabaram por encontrar o seu 'habitat' natural, como elementos em Flash nos websites e redes sociais das respectivas companhias: no entanto, para a primeira geração a crescer com computadores (e última a fazê-lo sem Internet) ficará, para sempre, na memória a sensação entusiasmante de voltar do supermercado com os pais, abrir a caixa de barrinhas de pescada ou cereais para pequeno-almoço acabada de adquirir, e encontrar como brinde um jogo de computador completo, prontinho a ser explorado no PC lá de casa numa tarde de fim-de-semana...

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