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Portugal Anos 90

Uma viagem nostálgica pelo universo infanto-juvenil português dos anos 90, em todas as suas vertentes.

Portugal Anos 90

Uma viagem nostálgica pelo universo infanto-juvenil português dos anos 90, em todas as suas vertentes.

31.10.21

Ser criança é gostar de se divertir, e por isso, em Domingos alternados, o Anos 90 relembra algumas das diversões que não cabem em qualquer outra rubrica deste blog.

O fim dos anos 89 e início da década seguinte viu despontar no mercado infanto-juvenil uma tendência, algo insólita, para figuras moldadas em borracha monocromática e de dimensões extremamente reduzidas. A primeira linha deste tipo a obter sucesso (ainda que nem tanto em Portugal) foram os lutadores de M.U.S.C.L.E., os quais – com os seus modelos baseados em minotauros ou em forma de mão – acabaram por abrir caminho à linha de que falamos hoje: Monsters in My Pocket.

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Algumas das figuras da linha

Lançada pela Matchbox – sim, a dos carrinhos – mesmo no dealbar da década de 90, esta linha de figuras seguia exactamente o mesmo princípio de M.U.S.C.L.E., mas substituindo o tema inspirado na luta-livre daquela série por outro baseado nos monstros clássicos, tanto da mitologia como do cinema. Frankenstein e Drácula conviviam, assim, lado a lado com figuras baseadas na mitologia grega, como a Hidra ou a Medusa, para além de alguns monstros mais 'genéricos' e sem qualquer filiação especial, mas ainda assim muito bem desenhados e moldados, fazendo jus à reputação da Matchbox como fabricante de brinquedos de qualidade.

Também a mecânica de jogo – sim, estas figuras eram criadas para servir como instrumentos de jogo – era semelhante à de M.U.S.C.L.E., com cada figura a ter impresso nas costas um número, correspondente ao seu 'poder'; a vertente competitiva consistia em pôr frente a frente duas figuras e comparar os respectivos números, ganhando – previsivelmente – o jogador que tivesse o número maior. Um processo tão simples que mal contava como 'jogo', mas que era ainda assim suficiente para cativar o público-alvo de rapazes pré-adolescentes, sempre dispostos a 'medir forças' seja sob que pretexto fôr.

Como seria de esperar para qualquer linha infanto-juvenil de sucesso nos anos 90, Monsters in My Pocket (que, estranhamente, nunca viu o seu nome traduzido para português) teve direito a uma série de itens de 'merchandise', dos mais bizarros (um jogo para a Nintendo original, ou NES) aos mais previsíveis, como a obrigatória caderneta de cromos da Panini.

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A inevitável caderneta da Panini

Apesar de tudo, no entanto, a 'febre' das figuras em miniatura em Portugal foi algo menor do que noutros países (incluindo a vizinha Espanha) tendo esta linha, como as suas congéneres, sido algo ofuscada por outras ofertas da altura, como os Pega-Monstro; ainda assim, a mesma afirmou-se como suficientemente memorável para merecer uma menção nas páginas deste nosso blog, ainda que sómente no contexto de um Especial Halloween...

30.10.21

As saídas de fim-de-semana eram um dos aspetos mais excitantes da vida de uma criança nos anos 90, que via aparecerem com alguma regularidade novos e excitantes locais para visitar. Em Sábados alternados, o Portugal Anos 90 recorda alguns dos melhores e mais marcantes de entre esses locais.

Nas primeiras edições desta rubrica, abordámos o fenómeno dos hipermercados e dos shoppings, e o fascínio que – por factores como a dimensão e a novidade – os mesmos exerciam nos jovens portugueses dos anos 90; hoje, damos conscientemente um passo atrás, a fim de demonstrar como uma ida ao bom e honesto supermercado do bairro podia, também, ser uma experiência divertida e fascinante, ainda que não tão memorável quanto as atrás descritas - até porque bastante mais corriqueira.

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De facto, ao passo que uma ida ao hipermercado implicava, muitas vezes, um planeamento cuidado de todo ou quase todo o dia, a visita ao supermercado fazia-se de forma bem mais espontânea, estando o único planeamento relacionado com a execução de uma lista de compras e uma vista de olhos ao folheto, para perceber onde cada produto se poderia encontrar mais barato. A partir daí, bastava pôr pés a caminho até à sucursal local do supermercado pretendido e adquirir os produtos necessários.

A simplicidade e mundaneidade deste processo escondiam, no entanto, um atractivo adicional para as crianças e jovens mais curiosos. Isto porque os supermercados dos anos 90, muito menos padronizados e mais individuais que os de hoje em dia, escondiam mil e uma surpresas, fossem os carrinhos que apenas se soltavam após a inserção de uma moeda, os expositores de nozes a granel (das quais se conseguiam sempre 'roubar' algumas para a boca) as secções de brinquedos (bem mais pequenas que as dos hipermercados, mas ainda assim de algum interesse) ou até simplesmente produtos bem do agrado das crianças, como bolachas, sobremesas, bolos, iogurtes ou cereais - já para não falar da oportunidade de ajudar os pais ou familiares a procurar cada produto, tirá-lo do expositor e colocá-lo no carrinho, um acto simples, mas que deixava muitos de nós pouco menos que ufanos da nossa utilidade.

Para as crianças mais pequenas, havia ainda o divertimento de se sentar dentro do próprio carrinho e ser 'conduzido' numa visita guiada às prateleiras, sendo que alguns supermercados incorporavam mesmo uma área para este fim nos seus carrinhos, talvez a fim de evitar que as crianças tivessem de se sentar na área destinada às compras. No fim da visita, para os mais bem comportados, havia ainda a (forte) possibilidade de ser presenteado com um doce – como um chupa-chupa, um chocolate, um pacote de Sugus ou uma simples pastilha – ou uma banda desenhada, como recompensa pela maturidade demonstrada. Razões mais do que suficientes para considerar a simples e singela visita ao supermercado da esquina, na companhia dos pais ou avós, como parte integrante da experiência da infância, quer nos anos 90, quer hoje em dia.

29.10.21

Os anos 90 estiveram entre as melhores décadas no que toca à produção de filmes de interesse para crianças e jovens. Às sextas, recordamos aqui alguns dos mais marcantes.

E porque entramos agora em fim-de-semana de Halloween (e apesar desta data não ter qualquer tradição em Portugal) nada melhor do que recordar alguns dos principais filmes para crianças dos anos 90 cuja temática envolve bruxas, monstros e outros seres afins.

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E começamos, desde logo, por um filme que se passa, precisamente, na data em causa; trata-se de 'Hocus Pocus', uma produção da Disney datada de 1993, e que tem estatuto de culto um pouco por todo o Mundo. Com uma estética típica dos filmes de fantasia infantis da época, cheia de cores como o roxo e o verde, a longa-metragem segue a demanda de três irmãs bruxas para conseguir levar a cabo um feitiço que as faça ficar para sempre jovens – pretendendo para isso sugar as energias vitais das crianças que saíram à rua para celebrar o Halloween! Cabe, portanto, a três dessas mesmas crianças travá-las antes que levem a cabo o seu pérfido desiderato...

Em tudo bem típico da época em que foi produzido, este é um filme que tem de ter sido visto em criança para gerar qualquer tipo de culto, já que da perspectiva de um adulto (pelo menos um adulto do sexo masculino) não passa de uma maneira razoável de passar 90 minutos, sem mais. Ainda assim, quem viu em criança certamente terá ficado colado ao ecrã, maravilhado com os efeitos especiais e entretido com os diálogos entre as bruxas, e das mesmas com as crianças. Quem tiver filhos pequenos tem bem pior para lhes mostrar neste fim-de-semana assustador do que este filme divertido e inofensivo.

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Outra boa opção – talvez até melhor do que 'Hocus Pocus' - é 'As Bruxas', baseado no livro do mesmo nome, da autoria de Roald Dahl. Alvo de um 'remake' algo frouxo (excepção feita à sempre magnífica Anne Hathaway) o filme segue a epopeia de dois rapazinhos transformados em ratos pela chefe de todas as bruxas (Anjelica Huston) após descobrirem, por acidente, que o hotel onde passam férias é palco de uma convenção das ditas-cujas.

Com cenas verdadeiramente assustadoras para o público-alvo (este é daqueles filmes para crianças dos anos 90 que não faz quaisquer concessões ao politicamente correcto) trata-se de um filme que retrata fielmente o (já de si excelente) material em que se baseia, e que merecia ser mais reconhecido e lembrado entre os cinéfilos nostálgicos.

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E por falar em Anjelica Huston, não podíamos escrever um post deste tipo sem mencionar um dos 'franchises' cinematográficos mais populares do início dos anos 90, a Família Addams, cujos dois filmes fizeram, à época, sucesso no nosso país. Centrados numa família de monstros, e nas suas tentativas de manter vivas as suas tradições no Mundo moderno, tanto 'A Família Addams', de 1991, como a sequela, lançada dois anos depois, são filmes bem divertidos para toda a família, e alicerçados em excelentes interpretações de Guston, do saudoso Raul Julia, da futura estrela Christina Ricci e de um Christopher Lloyd em papel duplo, como o filho da vilã e como o irmão do patriarca Gomez, Fester, aqui num visual verdadeiramente marcante, careca e de maquiagem branca. Dois filmes bem divertidos para ver em família no Halloween.

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Quem tiver filhos mais crescidos, ou achar que os mesmos aguentam algo um pouco menos inocente, tem também uma excelente opção em 'A Lenda do Cavaleiro Sem Cabeça' (1999), um dos melhores frutos da parceria entre Johnny Depp e Tim Burton, que se baseia na história de Washington Irving, e assenta numa atmosfera verdadeiramente fantasmagórica e em excelentes interpretações de Depp, Christopher Walken e Christina Ricci, que se vinha por esta altura transformando numa 'scream queen' para o público intelectual; já quem quiser algo para ver e 'desligar o cérebro', pode apostar em 'Halloween H20', a celebração de vinte anos do mítico 'franchise' de terror iniciado por John Carpenter e que marca o regresso de Jamie Lee Curtis à série, aqui como uma versão adulta da sua personagem (papel que, aliás, viria a retomar dez anos depois, no filme que marcaria o trigésimo aniversário do 'franchise'.)

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Qualquer que seja a opção tomada em termos cinéfilos, no entanto, uma coisa é certa: qualquer destes filmes se deverá afirmar ideal para ajudar os nostálgicos da 'geração rasca' e respectivos filhos a entrar no espirito do Halloween, ao estilo dos anos 90 – mesmo que, por essa altura, tal celebração ainda não existisse em Portugal...

29.10.21

Nota: Este post é relativo a Quinta-feira, 29 de Outubro de 2021.

Trazer milhões de ‘quinquilharias’ nos bolsos, no estojo ou na pasta faz parte da experiência de ser criança. Às quintas, o Portugal Anos 90 recorda alguns dos brindes e ‘porcarias’ preferidos da juventude daquela época.

Hoje em dia, a Matutano dos anos 90 é, sobretudo, recordada pela febre extrema e até hoje inigualada que foram os Tazos; no entanto, a verdade é que a marca de batatas fritas teve várias outras promoções de sucesso ao longo da década. De uma delas, os Pega-Monstros, já aqui falámos, e das Matutolas, falaremos noutra ocasião; desta vez, e porque é Halloween, vamos falar do brinde que a marca lançou em 1993 – as Caveiras Luminosas.

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Ao contrário dos Tazos e das Tolas, não há muito que saber sobre os pequenos moldes plásticos em forma de esqueleto que passaram a sair nas batatas por volta de 1996 ou 97. De facto, este é daqueles produtos em que a informação está (quase) toda contida no próprio nome; tratam-se de Caveiras que brilham no escuro – portanto, Luminosas. A parte do 'quase' diz respeito ao facto de estes brindes terem, cada um, um capuz ou carapuço distinto – o qual 'servia' a todas as outras figuras da colecção, permitindo assim trocar as caras e criar, essencialmente, Caveiras novas e diferentes, num sistema de constante mutação que tornava a linha essencialmente infinita – bem como um buraco na parte inferior, onde uma cabeça real ligaria ao pescoço. O objectivo deste orifício, e um dos principais pontos distintivos da colecção das Caveiras Luminosas, era permitir às crianças usar as suas caveiras na ponta dos dedos, de um lápis, ou de qualquer outra superfície onde as mesmas coubessem – um toque inteligente, que ajudava a dar alguma versatilidade às Caveiras, e que ajudou a torná-las populares entre a juventude da época.

Não que a colecção precisasse de qualquer ajuda, atenção – com as suas caras ao estilo Skeletor do He-Man, os carapuços estilo Ceifeira da Morte e o esquema de cores estilo álbum de heavy metal clássico da década anterior, as Caveiras eram feitas à medida para o público-alvo (essencialmente rapazes em idade pré-adolescente, embora possam também ter sido do agrado de jovens mais velhos de inclinação gótica) e conseguiram uma recepção previsivelmente positiva por parte do mesmo. Sem chegar ao nível dos Tazos (mas nada, nunca mais, chegou) estes brindes eram também avidamente trocados e coleccionados nos recreios do Portugal de então, e conseguiram afirmar-se como a última de três promoções verdadeiramente bem-sucedidas por parte da Matutano (quatro, se quisermos incluir os Pega-Monstros) durante a década de 90 – além do assunto perfeito para uma viagem nostálgica por brindes e quinquilharias por alturas do Halloween...

 

27.10.21

Em quartas-feiras alternadas, falamos sobre tudo aquilo que não cabe em nenhum outro dia ou categoria do blog.

Em plena segunda década do século XXI, numa altura em que é possível ver filmes, comunicar por vídeo, fazer compras, reservar viagens e até actualizar documentos a partir de uma só peça de equipamento, pode tornar-se difícil de acreditar que, há escassas duas décadas e meia, quem quisesse comunicar com família, amigos ou colegas de trabalho a partir de um espaço público tinha de apostar numa combinação de sorte e preparação; sorte, porque os únicos sítios que permitiam levar a cabo tal objectivo (as cabines telefónicas) apenas eram encontradas em localizações estratégicas, quase todas elas de cariz urbanizado, e preparação, porque mesmo que se conseguisse encontrar uma cabine, ou convencer o dono de um qualquer café a ceder temporariamente o seu telefone, era preciso ter no bolso dinheiro suficiente para assegurar que o referido telefone conseguia não só ser activado, mas conectar a chamada durante o tempo necessário.

E no entanto, era precisamente isto que se passava, ainda, em finais dos anos 90, um pouco por todo o país; mesmo depois de os telemóveis serem já um acessório conhecido e em fase de rápido crescimento e globalização, grande parte das chamadas feitas do exterior ainda eram efectuadas das velhinhas cabines, com recurso às boas e velhas moedas de 10, 20, 50 ou 100 escudos.

Terá, pois, sido para pôr cobro – ou, pelo menos, facilitar – a situação dos viajantes frequentes desta era das telecomunicações nacionais que a Portugal Telecom (então ainda conhecida como Telecom Portugal) terá introduzido, na década de 90, o conceito do Credifone, uma espécie de 'cartão de crédito' para chamadas telefònicas públicas, cujo modo de funcionamento antecipava já aquilo que viriam a ser os cartões pré-pagos das redes móveis, cerca de uma década depois.

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O modelo inicial de Credifone

O modo de utilização dos Credifones era, por demais, simples; tratavam-se de cartões pré-carregados com um determinado número de impulsos, adquiríveis em qualquer tabacaria ou estabelecimento semelhante, e que podiam ser utilizados em qualquer cabine compatível, isto é, equipada com a ranhura para inserção do referido cartão, de aspecto muito semelhante à de uma caixa Multibanco. Uma vez inserido, cada cartão permitia utilizar livremente o número correspondente de impulsos, findos os quais a chamada era desconectada. Um método bem mais simples do que a anterior busca frenética por 'trocos' para continuar a chamada e que, como tal, rapidamente contou com considerável adesão por parte da população portuguesa.

No entanto, uma das mais interessantes particularidades do Credifone prende-se com o facto de, para um determinado sector da referida população, o seu interesse ir muito além da conveniência no momento de efectuar chamadas em cabines públicas; de facto, para muitas crianças e jovens daqueles anos 90, os cartões telefónicos da PT tornaram-se, antes, objectos de coleccionismo, religiosamente reunidos (depois de vazios, claro) e guardados nas proverbiais caixas ou capinhas, com o intuito de serem, mais tarde, revisitados ou mostrados aos amigos; cada nova edição especial deste tipo de cartões – ou cada espécime diferenciado encontrado numa qualquer cabine por esse país fora – se tornava, portanto, motivo de regozijo para estes mini-coleccionadores, pela oportunidade que apresentava de aumentar, expandir e embelezar as suas colecções. Não é, pois, de estranhar que a maioria das memórias da 'nossa' geração relativamente a estes cartões tenha mais a ver com o coleccionismo do que propriamente com o uso...

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Uma das muito cobiçadas edições especiais, que faziam as delícias dos coleccionadores quando encontradas abandonadas numa qualquer cabine...

Qualquer que tenha sido o seu impacto na vida de cada um, no entanto, é inegável que os Credifones marcaram época, afirmando-se como uma solução inovadora para um problema existente – e que, por isso mesmo, encontrou facilmente o seu nicho de mercado – e, ao mesmo tempo, uma pioneira daquilo que viriam a ser as tecnologias da comunicação nos dez a quinze anos seguintes. E embora, hoje em dia, as cabines telefónicas já sejam quase unicamente uma relíquia do passado (pelo menos em Portugal) continua, ainda, a haver no nosso país uma enorme simpatia por aquele cartãozinho que, em inícios da década de 90, veio revolucionar a forma de comunicar em espaços públicos na era pré-telemóveis...

26.10.21

Porque nem só de séries se fazia o quotidiano televisivo das crianças portuguesas nos anos 90, em terças alternadas, este blog dá destaque a alguns dos outros programas que fizeram história durante aquela década.

Quem acompanhou os primórdios de emissão da TVI, nos idos de 1993 – quando ainda era conhecida como 'a 4' e directamente conotada com a Igreja Católica – certamente se lembrará de um programa apresentado por uma senhora loira, com ar de professora de Português do quinto ano e uma personalidade muito energética, que perguntava aos convidados se queriam 'a chave ou o dinheiro' enquanto tirava prémios de uma espécie de 'cacifos' a um canto do cenário e mandava o seu assistente bater num 'gongo' sempre que um participante dizia 'sim' ou 'não'.

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Por muito que esta sinopse possa soar a delírio da imaginação febril de um indivíduo seriamente intoxicado, não é; o programa em causa existiu mesmo, e marcou época nos anos intermédios da década de 90. Tratava-se de 'A Amiga Olga', a primeira investida da recém-nascida emissora de Queluz no campo dos concursos, e – a par do óbvio 'A Casa do Tio Carlos', especificamente dirigido às crianças - talvez o programa de maior interesse para o público infanto-juvenil de entre os que compunham aquela grelha inicial de programas da '4'.

Isto porque, para além dos concursos serem já de si um dos tipos de emissão televisiva favorecidos pelo referido público, a apresentadora (e 'estrela da tarde') Olga Cardoso tinha uma daquelas personalidades exuberantes que, quase por si só, fazia com que valesse a pena ver o programa (um pouco à semelhança do que acontecera com Herman José na 'Roda da Sorte', anos antes, ou do que se viria a passar mais tarde com Fernando Mendes n''O Preço Certo em Euros'.)

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A apresentadora do concurso, junto a um dos prémios mais apetecíveis do mesmo

Para além disso, havia ainda o atractivo adicional de ver se os concorrentes que passavam à segunda ronda do programa arriscariam escolher a icónica 'Caixa Mistério', preterindo assim da soma em dinheiro que a apresentadora oferecia, e correndo o risco de ir para casa com um prémio 'parvo', como uma escova de cabelo – um cenário que acontecia com frequência suficiente para fazer as delícias da demografia mais nova.

Nem só as crianças, no entanto, gostavam de passar as tardes com 'A Amiga Olga'; o concurso fez, durante um determinado perìodo em meados dos anos 90, sucesso generalizado entre os espectadores portugueses. Foi, portanto, certamente com algum pesar que os mesmos viram o programa ser retirado do ar pouco mais de um ano após a estreia, privando milhares de crianças da sua dose de gargalhadas diárias ao ver mais um concorrente sair do estúdio cabisbaixo, levando na mão uma qualquer bugiganga em vez do carro ou das férias que certamente teria preferido. No entanto, a verdade é que, como tantos outros concursos, também 'A Amiga Olga' acabou por ver terminar o seu ciclo, cedendo o seu lugar a novos e potencialmente entusiasmantes projectos concebidos pela cada vez mais desenvolvida estação de Queluz. Ainda assim, quem passou as tardes de semana daquele ano-e-pouco com a 'Amiga Olga' certamente terá uma sucessão de 'flashbacks' nostálgicos ao ver os vídeos que abaixo partilhamos; por aqui, pelo menos, foi exactamente essa a reacção desencadeada...

25.10.21

Qualquer jovem é, inevitavelmente, influenciado pela música que ouve – e nos anos 90, havia muito por onde escolher. Em segundas alternadas, exploramos aqui alguns dos muitos artistas e géneros que faziam sucesso entre as crianças daquela época.

Nasúltimas semanas, temos falado nesta rubrica de bandas com atitudes e posturas intencionalmente cómicas ou humorísticas, seja nas letras, seja na parte musical, presença em palco, ou até simplesmente no grafismo do disco. Para estes grupos, a música e a comédia são formas de arte complementares, e usadas em conjunto, de forma consciente, para criar uma amálgama bem balanceada de ambas as vertentes.

O que aconteceria, no entanto, se um artista criasse algo que se pudesse classificar como comédia, mas o fizesse de forma involuntária? Se, durante todo o processo de criação, o mesmo estivesse seguro de estar a criar uma obra capaz de ser levada a sério, mas que de facto apenas viria a despertar a chacota tanto dos seus pares, como do público em geral?

Quem se interessa por cinema de culto já sabe a resposta a esta pergunta, bastando para tal olhar para as obras de cineastas como Tommy Wiseau e Neil Breen; no entanto, quem cresceu em Portugal durante os anos 90 já conhecia o conceito de 'so bad it's good' muito antes de 'The Room' ser sequer um projecto na mente do seu criador.

Isto porque, em finais da década a que este blog diz respeito, surgiu na cena musical popular portuguesa (a chamada música 'pimba') um sujeito de risco ao lado com brilhantina e 'ondinha' à Super-Homem, casaco 'blazer' de lantejoulas, lacinho a preceito, e falha nos dentes da frente; um sujeito cuja habilidade vocal rivalizava com a de um qualquer universitário bêbedo num karaoke do Bairro Alto às três da manhã, com a diferença de que o referido universitário não chegará, com sorte, a ver a sua 'performance' gravada e lançada em disco para o grande público.

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Falamos, claro, de Zé Cabra, o lendário intérprete de hinos como 'Deixei Tudo Por Ela' e 'São Lágrimas', cujo conceito de afinação e tom tinha mais em comum com os de Natália Andrade do que de qualquer dos artistas até excessivamente artificiais da cena em que se inseria. Só quem lá esteve poderá descrever o que era ouvir Zé Cabra cantar, mas se imaginarem um cruzamento entre a referida Natália Andrade e Florence Foster Jenkins, mas no masculino e com composições ao estilo 'festa da aldeia', estarão muito próximos de perceber tal experiência (e se for esse o caso, as nossas condolências.)

Cliquem por vossa conta e risco; ficam avisados...

O desastre era tal que havia quem postulasse que Zé Cabra fazia de propósito, utilizando uma espécie de manobra 'troll' – muito antes desse conceito ter sido popularizado – para ganhar notoriedade e fama, e se destacar dos artistas em molde 'linha de montagem' que compunham a cena 'pimba' portuguesa da altura; no fundo, uma manobra semelhante à que, anos antes, tornara Saul Ricardo parte da consciência popular do país. Se esta teoria for verdade, então, tiramos-lhe o chapéu, Sr. Casimiro António Serra Afonso; o mais provável, no entanto, é que o referido senhor tenha sido explorado pela indústria, sem nunca lhe ter sido revelado o grande segredo da sua carreira – nomeadamente, o facto de que o seu público não se estava a rir COM ele, mas sim DELE. No entanto, se tiver verdadeiramente sido este o caso, parece que o próprio acabou mesmo por perceber o que se passava, dado ter admitido abertamente, em entrevista, que não sabia cantar...

Com ou sem talento, no entanto, a verdade é que Zé Cabra fez o suficiente para ganhar os seus cinco minutos na ribalta – e parece não ter querido mais do que isso. Prova desse mesmo facto é que, enquanto muitos dos seus pares continuam a percorrer activamente o circuito das feiras e romarias, Zé Cabra mudou-se, sem grande alarde, para França, onde se dedica ao seu outro 'hobby', a pintura (!) Como seu legado na consciência popular, o artista deixa dois 'singles' inenarravelmente maus, mas que fizeram dessa falta de qualidade o principal argumento para – à sua maneira – se tornarem parte da História da música popular portuguesa...

25.10.21

NOTA: Este post é respeitante a Domingo, 25 de Outubro de 2021.

Ser criança é gostar de se divertir, e por isso, em Domingos alternados, o Anos 90 relembra algumas das diversões que não cabem em qualquer outra rubrica deste blog.

Cavalos, castelos, arco-íris, flores, guloseimas, cores pastel e poderes mágicos benignos – estas são algumas das preferências mais declaradas da maioria das raparigas de uma certa idade, e alguns dos principais elementos a explorar por alguém que deseje dirigir o seu produto a esta faixa etária. Mas e se essa pessoa (ou companhia) desse o passo seguinte, e misturasse TODAS essas coisas num só conceito?

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Foi precisamente isso que a fabricante de brinquedos norte-americana Hasbro decidiu fazer, no início dos anos 80, aquando do lançamento da linha conhecida como My Little Pony (em português, O Meu Pequeno Pónei.) E o resultado, como em seguida veremos, não poderia ter sido melhor, tendo a linha sido um sucesso de vendas tanto no imediato como ao longo dos quarenta (!) anos seguintes.

Nascida a partir de um único brinquedo – um pónei com feições interactivas chamado My Pretty Pony e criado por uma ilustradora e um escultor – a linha Meu Pequeno Pónei teve o seu início oficial em 1982, e começou de imediato a cativar a imaginação de milhares de rapariguinhas, primeiro nos Estados Unidos e depois no resto do Mundo. Com os seus esquemas de cores pastel, olhos grandes, crinas longas e extremamente 'penteáveis' e imagética centrada em temas como flores, doces e arco-íris, estes produtos não poderiam ser uma intersecção mais perfeita dos interesses do seu público-alvo, o que ajuda obviamente a explicar o sucesso de que gozaram logo após o seu lançamento no mercado.

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Um exemplar bastante típico da linha original 

 

Daí até à criação de todo um mundo e mitologia em torno destes cavalinhos 'fofos' foi um pequeno passo, e apenas dois anos após a sua criação, os Pequenos Póneis surgiam nos cinemas, sob a forma de um filme animado. Estava lançado um império que, entre altos e baixos, se conseguiria no entanto manter relevante até aos dias que correm.

Portugal não ficou, como é óbvio, imune a este fenómeno, tendo a linha original de póneis chegado aos escaparates ainda na década de lançamento, e gozado o seu período de maior sucesso entre finais dos anos 80 e meados da década seguinte, altura em que chegou a passar na televisão nacional a série animada nela baseada. À medida que as bonecas se iam sofisticando, e que outros brinquedos iam aparecendo e captando a atenção do público-alvo dos póneis de cores pastel, a linha foi gradualmente decrescendo em popularidade, ainda que nunca tivesse desaparecido totalmente do imaginário infantil feminino.

De facto, a linha provou ser tão popular que conseguiu inclusivamente sobreviver à inevitável transição de gerações, adaptando as suas linhas às preferências das crianças modernas (um pouco à semelhança do que já havia acontecido com as bonecas Barbie, ainda que em menor escala) e conseguindo recuperar uma posição dianteira nas preferências das mesmas, através de uma nova série animada que rapidamente se afirmou como a mais bem sucedida de sempre, com oito temporadas produzidas entre 2010 e 2020, e uma sequela já produzida e inaugurada por intermédio de um filme CGI, já este ano. Há, portanto, que juntar a adaptabilidade e resiliência à lista de características da linha Meu Pequeno Pónei – e com base no que verificou na última década, é de crer que estas qualidades permitam aos cavalinhos da Hasbro manterem-se 'vivos' e relevantes durante pelo menos mais uma década, e conquistar os corações de ainda mais uma geração de crianças, não só em Portugal como um pouco por todo o Mundo.

24.10.21

NOTA: Este post corresponde a Sábado, 23 de Outubro de 2021.

Os Sábados marcam o início do fim-de-semana, altura que muitas crianças aproveitam para sair e brincar na rua ou no parque. Nos anos 90, esta situação não era diferente, com o atrativo adicional de, naquela época, a miudagem disfrutar de muitos e bons complementos a estas brincadeiras. Em Sábados alternados, este blog vai recordar os mais memoráveis de entre os brinquedos e acessórios de exterior disponíveis naquela década.

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Qualquer criança que interaja pelo menos uma vez com um grupo da sua faixa etária adquire conhecimentos e herda tradições que ninguém sabe muito bem de onde vieram, nem como foram perpetuados, mas que toda a gente sabe como funcionam; e nenhum exemplo ilustra melhor este fenómeno do que os jogos infantis, nomeadamente os disputados na rua, que se afirmam como verdadeiros estudos de caso no que toca à transmissão de conhecimentos adquiridos entre as crianças.

Quer o futebol de rua, nas suas diferentes permutações – 'baliza a baliza', 'toques'. 'todos contra todos', fintas, penalties – quer os jogos mais convencionais, como a 'Macaca', 'Mamã Dá Licença', 'Barra do Lenço', 'Estátuas', 'Macaquinho do Chinês', elástico, corda, futebol humano, apanhada ou escondidas, são brincadeiras que qualquer criança, de qualquer época, soube e sabe jogar, sem precisar de ser ensinada. Sim, as regras podem por vezes variar – levando a situações de algum desconforto quando se joga com um grupo diferente do habitual e as regras a que estamos habituados passam a ser consideradas 'batota' – mas a essência da brincadeira permanece a mesma, e é conhecida e compreendida sem ser necessária qualquer explicação.

No futebol, por exemplo, podem ou não valer 'bujas', mas o jogador mais fraco continua a ir à defesa, e o mais gordo à baliza; na apanhada ou escondidas, a récita a declamar à chegada ao 'coito' pode variar, mas a acção de bater com a mão no local designado antes de quem está a apanhar continua a dar ao jogador o direito de 'salvar todos', e iniciar uma nova ronda de jogo. Estas são convenções ancestrais, já observadas pelos nossos pais ou avós, e que continuarão certamente a ser observadas pelas gerações vindouras – isto, claro, se todas estas brincadeiras não se tornarem, entretanto, estritamente virtuais...

Seja qual for o futuro destes jogos, no entanto, restam algumas certezas; por um lado, que os mesmos se continuarão a afirmar como estudos de caso para a transmissão inata e oral de tradições e conhecimentos inatos, e por outro, que nada conseguirá apagar a memória de muitos bons momentos vividos em disputas renhidas de um ou vários dos mesmos, fosse durante o recreio, no bairro após a escola ou, sim, durante um Sábado aos Saltos...

23.10.21

Uma das nossas primeiras Sextas com Style de sempre aqui no blog recordou as icónicas sweat-shirts da No Fear que todos usámos em meados dos anos 90; pois bem, a marca preferida de todo o miúdo de dez anos daquela época está de volta, e logo com uma colaboração 'em grande' – nada mais, nada menos do que com a conhecidíssima e super-popular cadeia de lojas H&M.

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Aquela que é a segunda colaboração da marca com um 'franchise' de vestuário e acessórios – após a tímida tentativa de regresso há alguns anos, em parceria com a inglesa Sports Direct – irá ter um âmbito global, e colocar o inconfundível logotipo dos anos 90 numa vasta selecção de produtos comercializados pela marca, conforme noticiado no próprio site internacional da H&M.

Como blog sempre atento às questões de revivalismo dos anos 90, não podíamos obviamente deixar passar em branco esta oportunidade, tendo a agradecer à Maria Ana – autora do nosso blog irmão, o Lookout – por nos ter dado a conhecer esta informação. Quanto aos nossos restantes leitores, agora é a oportunidade de comprar aquela 'sweat' que queriam mas não tiveram em pequenos – afinal, um quarto de século não tornou a roupa da No Fear menos 'fixe', antes pelo contrário...

 

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