Um dos aspetos mais marcantes dos anos 90 foi o seu inconfundível sentido estético e de moda. Em sextas alternadas, o Anos 90 recorda algumas das marcas e modas mais memoráveis entre os jovens da ‘nossa’ década.
E se em ocasiões anteriores aqui falámos das camisolas da No Fear e Mad + Bad, entre outras, calha hoje a vez a outra ‘griffe’ marcante dos anos 90, embora esta um pouco ‘Esquecida Pela Net’ nos dias de hoje.
Falamos da Quebra-Mar, marca 100% nacional e conhecida, sobretudo, pelos atraentes e inovadores ‘designs’ das suas ‘t-shirts’ e ‘sweatshirts’, os quais não deixavam de apelar ao públco infanto-juvenil – embora, como era o caso com a No Fear, estes não constituíssem necessariamente o público-alvo.
Famosa pelos seus desenhos quase simétricos ao estilo ‘jogo das diferenças’ – em que normalmente só uma das imagens era notoriamente diferente – as roupas desta marca faziam furor entre um certo segmento da população jovem durante a década de 90 e inícios da seguinte, embora os preços algo proibitivos das mesmas as relegassem, inevitavelmente, para a categoria de ‘roupas de betinhos’ – uma associação que talvez não fosse totalmente inocente, visto a marca estar fortemente ligada à prática dos desportos náuticos, tradicionalmente associados às classes altas, e – talvez mais significativamente - ter sido criada, precisamente, em Cascais…
‘Betices’ à parte, a verdade é que muitas crianças e jovens daquela época tinham, ou queriam ter, uma peça desta marca, fosse da sempre apetecível colecção principal ou da menos popular linha ‘Kids’. Assim, não deixa de ser motivo de espanto que, hoje em dia – quando tudo se vende no OLX ou sites similares – haja tão poucos vestígios da presença da Quebra-Mar na vivência portuguesa daquela época. Para além do site da marca, e de uma ou outra referência às suas peças modernas, não se encontra uma única camisola ou t-shirt para venda em lado nenhum; é quase como se as mesmas nunca tivessem existido - embora, tratando-se de roupa de criança, se possa dar o caso de as peças terem, pura e simplesmente, 'caido de velhas'.. Seja qual for o caso, no entanto, quem viveu o período áureo da marca certamente concordará que a popularidade da mesma durante aqueles anos justifica plenamente esta pequena tentativa de evitar que esta seja, definitivamente, ‘Esquecida Pela Net…’
Trazer milhões de ‘quinquilharias’ nos bolsos, no estojo ou na pasta faz parte da experiência de ser criança. Às quintas, o Portugal Anos 90 recorda alguns dos brindes e ‘porcarias’ preferidos da juventude daquela época.
Os jogos de cartas foram, desde sempre, um dos passatempos preferidos da juventude, não só os tradicionais (com os reis, rainhas, ases, etc.) como também outros mais complexos ou elaborados, como o Uno ou os diversos títulos da série Top Trumps, de ambos os quais falaremos paulatinamente nesta mesma secção.
A segunda metade dos anos 90 viu ser acrescentado a esta lista um novo tipo de jogo de cartas, surgido aparentemente do nada, mas que rapidamente conquistou a população em idade escolar - sobretudo a do sexo masculino, devido à sua temática de fantasia, repleta de monstros e guerreiros, e com todo um mundo por detrás, que o jogo usava como cenário para os seus enredos de aventura e acção.
O primeiro 'deck', ou baralho, que muitas crianças da época terão tido
Falamos, é claro, de Magic: The Gathering, um dos dois chamados ‘collectible card games’ - ou simplesmente CCG - a fazer furor entre a juventude portuguesa (o outro, Pokémon, chegaria já nos anos 2000, ficando assim fora do âmbito deste blog.) Não é claro porque é que foram estas as duas únicas colecções deste tipo a ‘pegar’, enquanto CCG de propriedades tão famosas como ‘Ficheiros Secretos’ eram sumariamente ignorados; terá sido, supõe-se, uma questão puramente de ‘modismo’…
Considerações à parte, no entanto, a verdade é que o Magic (como era simplesmente conhecido nos recreios deste país) gozou de uma longevidade invejável para ‘moda de recreio’, conseguindo manter a sua relevância entre os mais jovens por quase uma década, antes de se tornar novamente habitante exclusivo do reino dos ‘geeks’ – tal como, aliás, aconteceu na mesma época com o ‘anime’. A partir das suas Quarta e Quinta Edições, em meados da década, este jogo passou de obscuro a super-popular, não havendo praticamente nenhum jovem do sexo masculino em idade pré-adolescente ou adolescente que não tivesse, pelo menos, um punhado de cartas – a maioria, provavelmente, na icónica tradução brasileira - e uma cor favorita, de entre as cinco oferecidas pelo jogo (por aqui, jogava-se com vermelho e verde, sendo o preto a cor menos apreciada.)
Exemplos do visual típico das cartas do jogo, incluindo as icónicas 'costas' castanhas, comuns a todas as edições lançadas até hoje
Nem mesmo a complexidade das regras de Magic – que levava, em alguns casos, a simplificações e tentativas de ‘batota’ – prejudicava a popularidade do jogo entre o público-alvo, que (à boa maneira infanto-juvenil) aprendia o que tivesse de aprender para se conseguir divertir com os amigos – embora apenas até certo ponto. De facto, poderá bem ter sido o excessivo complexificar das mecânicas do jogo a ditar o fim da popularidade do Magic, sendo que, a certa altura, até o mais empedernido e ‘geeky’ dos jogadores começava a achar aquilo tudo demasiado complicado para valer o esforço – especialmente quando já mais ninguém jogava…
Fosse qual fosse a razão, a verdade é que, a partir de meados dos anos 2000, o jogo deixou de ter a popularidade que tinha ainda poucos anos antes, sendo extremamente difícil encontrar jogadores fora dos locais apropriados, como as lojas de BD ou de jogos de fantasia. O passatempo tornava, assim, ao seu reduto como actividade de ‘culto’.
Ainda assim, Magic foi dos poucos passatempos declaradamente ‘geeky’ a ter conhecido, e por um período mais prolongado do que alguém se atreveria a esperar, o doce sabor da popularidade no recreio da escola; graças a este jogo, durante um breve período em finais de 90 e inícios de 2000, metade dos jovens em Portugal foram um bocadinho 'totós', com interesse activo em torneios e listagens de preços de cartas - e isso, convenhamos, é uma proeza de que muito poucos produtos infanto-juvenis daquele tempo se podem gabar...
Em quartas-feiras alternadas, falamos sobre tudo aquilo que não cabe em nenhum outro dia ou categoria do blog...
…como é o caso da literature infantil.
Sim, hoje voltamos a abordar aquele que tem sido o principal tema destas Quartas de Quase Tudo, desta vez, para recordar uma colecção de cariz mais didático do que de entretenimento, mas que mesmo assim, conseguia acertar na ‘fórmula’ certa para cativar o seu público-alvo.
Falamos da colecção História Júnior, das Edições Asa, uma série de volumes de capa dura alusivos aos principais acontecimentos da História de Portugal e do Mundo, que muitos certamente recordarão pelas suas características e memoráveis capas cor-de-laranja vivo, que tornavam impossível NÃO ver um dos volumes da colecção na prateleira da livraria ou biblioteca. Quando combinada com os desenhos também bastante apelativos – pelo menos para quem gostava de cenas de acção ou batalhas – esta colorização da capa constituía o primeiro ‘chamariz’ para a demografia a quem a série se destinava.
No entanto, nem só de capas vive uma colecção de sucesso, e as Edições Asa sabiam-no; felizmente, a colecção História Júnior não deixava nada a desejar em termos de conteúdo, sendo exímia a transmitir factos e informações de cariz educacional sem, por isso, deixar de apelar aos gostos dos jovens. Teria sido muito fácil para a Asa replicar a abordagem dos livros de História que esses mesmos jovens estudavam na escola, mas tal não teria, decerto, rendido à colecção em causa o sucesso (ainda que relativo) de que conseguiu gozar. A estratégia da Asa – assente em mapas de página inteira, ilustrações, actividades e outros complementos ‘divertidos’ à informação veiculada – rendeu bem mais dividendos, e terá certamente havido quem usasse estes livros como auxiliares de estudo por altura dos testes de História – e com bons resultados!
Exemplo do conteúdo típico de um livro da colecção
Hoje em dia, com (literalmente) toda a informação do Mundo à distância de uns cliques e uma pesquisa, deixou de haver lugar na sociedade ocidental para este tipo de livros - quem quer estudar História, fá-lo com recurso às fontes quase ilimitadas do Google. Ainda assim, vale a pena recordar esta instância em que uma editora portuguesa conseguiu ensinar ‘a brincar’, ganhando assim o seu lugar no coração nostálgico dos ex-jovens portugueses apaixonados pela História.
Porque nem só de séries se fazia o quotidiano televisivo das crianças portuguesas nos anos 90, em terças alternadas, este blog dá destaque a alguns dos outros programas que fizeram história durante aquela década.
Por muito estranho que possa parecer no mundo hiper-tecnológico de hoje em dia, houve um tempo, ainda bastante recente, em que não bastava agarrar o dispositivo mais próximo para saber informação sobre um qualquer tópico ou produto; pelo contrário, era preciso não só pesquisar como, em certos casos, esperar até que os ditos dados pudessem ser veiculados. Era uma era pré-Internet, em que as revistas, os programas de televisão e outros veículos semelhantes se revestiam de uma importância que o advento dos motores de pesquisa lhes veio retirar.
Era neste mundo, especificamente em Portugal, que, em 1995, estreava um programa destinado a tornar-se um favorito entre o seu público-alvo, precisamente por veicular alguma dessa preciosa e inatingível informação, sobre um dos temas do seu interesse; um programa que erguia um lugar de oração a uma das principais formas de entretenimento dos anos 90, e que se viria a tornar uma parte lendária da grelha programática da época, por uma variedade de razões.
Falamos, claro, do ‘Templo dos Jogos’, o principal magazine de entretenimento informático e digital do Portugal dos 90s. Transmitido pela SIC no horário reservado ao público infanto-juvenil, este programa constituiu, durante muito tempo, única maneira de ver em movimento os principais jogos lançados para as consolas da época, sem estar fisicamente junto a uma delas – o que, numa época em que a única alternativa para os ‘gamers’ eram as algo dispendiosas revistas de jogos, ajudou a assegurar a popularidade do programa.
Nem só de vídeos exclusivos vivia o ‘Templo’, no entanto; havia também segmentos dedicados a truques e dicas para os jogos mais populares da época - mais uma vez, algo que hoje se consegue em matéria de segundos, mas que na altura só era acessível mediante a compra de uma revista, e mesmo assim, em número limitado a cada mês – e críticas aos principais lançamentos do mês, as quais constituíam um ‘meme’ involuntário por serem sempre, mas S-E-M-P-R-E, avassaladoramente positivas. Esta característica era de tal forma exacerbada, que jogos que eram ‘destruídos’ por toda a restante imprensa saíam do Templo com, talvez, vá, 70%, os melhores, nunca abaixo de 80-85%, e notas de 95-100% não eram, de todo, raras. Esta abordagem não era, claro, nada boa para a credibilidade, mas por outro lado, ninguém de entre o público-alvo tinha o ‘Templo’ como fonte credível de perspectiva critica; não era exactamente para isso que se via o programa.
Este jogo não devia ser grande 'espingarda'...
Outro factor que ajudava o ‘Templo’ a destacar-se era a apresentação, bem ao estilo anos 90, com duos de apresentadores masculino e feminina, os quais adoptavam um estilo enérgico, mas sem exageros, e simples, sem ser simplista – exactamente o que o programa e a sua audiência pediam. Assim, não é de estranhar que alguns dos nomes que pregaram no ‘Templo’ tenham tido carreiras honrosas no mundo da apresentação de televisão; neste campo, o destaque vai todo para a atraente Rita Mendes, e para o futuro pivot da TVI, João Maia Abreu.
A mais famosa apresentadora do programa
Em suma, apesar de à luz de 2021 ser um programa quase pitorescamente datado e ‘de época’, à época da sua estreia, o ‘Templo dos Jogos’ foi revolucionário. Foi, afinal, graças a este programa que muitos jovens tiveram pela primeira vez contacto com ‘Super Mario 64’ (o mais famoso 100% da história do 'Templo’), ‘Ocarina of Time’ (o segundo mais famoso) e tantos outros jogos hoje considerados históricos; apesar de, eventualmente, ter sido extinto pela Internet (como tantas outras coisas no virar do Milénio), o programa conseguiu ser marcante o suficiente para ainda hoje ser lembrado com carinho por quem, na altura, o viu. Pela sua junção de valor quando era atual com valor nostálgico, o ‘Templo dos Jogos’ sai do Anos 90 com…100%.
Qualquer jovem é, inevitavelmente, influenciado pela música que ouve – e nos anos 90, havia muito por onde escolher. Em segundas alternadas, exploramos aqui alguns dos muitos artistas e géneros que faziam sucesso entre as crianças daquela época.
NOTA: Este post é dedicado à Maria Ana, de quem esta é uma das bandas favoritas.
Num país de enorme tradição folclórica, como é Portugal, só seria surpreendente se NÃO surgissem bandas e artistas apostados em explorar as sonoridades mais tradicionais, e em misturá-las com géneros de música mais internacionais e contemporâneos. Nos anos 90, esta vontade era expressa não por uma, mas por duas bandas, quase exactamente contemporâneas, e com trajectórias muito parecidas. De uma delas, falaremos na próxima Segunda de Sucessos, ficando a de hoje reservada a um breve resumo da carreira da outra.
Surgidos em 1987 pela mão de três ex-elementos dos Meteoros, os Sitiados teriam, no entanto, de esperar até à década seguinte para disfrutar dos seus quinze minutos de fama; seria apenas em 1992, já depois de várias mudanças de formação e com uma atraente loira no lugar do acordeonista original, que o grupo da Linha de Cascais conseguiria deixar a sua marca no universo pop-rock português. No entanto, quem conhece o grupo, e o seu legado, certamente concordará que a espera valeu a pena; porque a verdade é que, quando os Sitiados ‘explodiram’, o país inteiro abanou com o impacto.
O veículo desse impacto, e talvez a maior canção do Verão de 1992, chamava-se ‘Vida de Marinheiro’, e quem lá esteve em ‘tempo real’ certamente já estará a cantarolar o seu marcante refrão composto por vocalizações ‘nonsense’; mas que ao mesmo tempo fazem todo o sentido. Uma ‘malha’ de folk rock guiada pelo acordeão de Sandra Baptista e, sobretudo, pela inconfundível voz do líder João Aguardela,, que não ficaria mal na discografia de uns Pogues (inspiração declarada do grupo da Grande Lisboa), Dropkick Murphys ou Flogging Molly, e cujo estrondoso sucesso convenceu de uma vez por todas o grupo de que sim, valia a pena investir ‘naquilo’.
Assim, não demorou muito até o grupo entrar novamente em estúdio, com vista a compor o seu segundo registo. Saído pouco mais de um ano após o seu antecessor, ‘E Agora…?!’ cumpriu com louvor a sua missão de manter os Sitiados na ribalta da música popular portuguesa, muito graças a mais um ‘single’ bem ‘catchy’ e de grande exposição nas rádios nacionais, no caso ‘O Circo’ (ou, como é muitas vezes erroneamente chamada, ‘Vamos ao Circo’).
A receita era exactamente a mesma de ‘Vida de Marinheiro’ – folk-rock com mais do primeiro do que do segundo, com atmosfera de festa, e letra baseada no humor acérbico típico de Aguardela – e o furor ficou apenas ligeiramente atrás do causado pelo primeiro ‘single’ do grupo, sendo este tema presença tão constante nos recreios portugueses como havia sido o seu antecessor, embora desta vez não houvesse qualquer cantilena marcante para cantarolar.
Infelizmente, a partir desse momento, a trajectória dos Sitiados iniciaria uma pronunciada curva descendente, da qual não mais se recomporia. Apesar de participações honrosas em tributos a Zeca Afonso e António Variações, e de actuações que continuavam a cativar pela sua energia contagiante, ‘O Triunfo dos Electrodomèsticos’, lançado em 1995 (e segundo algumas opiniões cá de casa, o melhor disco da carreira do grupo) ficou aquém do sucesso estratosférico dos dois primeiros álbuns, e para os dois registos seguintes, a situação ainda se viria a agravar mais – ao ponto de duvidarmos bastante que alguém sequer soubesse que os Sitiados tinham lançado cinco álbuns, ou que tinham perdurado até ao virar do milénio! Nem mesmo a participação no disco de tributo aos Xutos & Pontapés, em 1999 (mesmo ano do último álbum, ‘Mata-me Depois’) ajudou a restituir visibilidade ao grupo, que se retirou discretamente de cena apenas um ano depois, para não mais ressurgir.
Dos membros originais, só Aguardela permaneceria (mais ou menos) na consciência colectiva nacional, graças a projectos como A Naifa e Megafone, embora nenhum deles tenha atingido sequer uma fracção do sucesso vivido pelos Sitiados no seu auge; a morte do líder absoluto em 2009 – vítima de um cancro, e com apenas 39 anos – poria um ponto final no legado daquela que foi uma das bandas mais conhecidas do início dos anos 90, mas que sofreu com o gosto volátil e efémero do público consumidor de música popular. Em suma - a Vida de Marinheiro pode não ter dado cabo deles, mas as modas deram.
Ainda assim, o grupo conseguiu gozar uma fama breve, mas mais merecida que a de muitos, e será para sempre lembrado nos anais da música portuguesa por duas grandes canções de folk-rock, que puseram o país inteiro a cantar nos primeiros anos da década…
Ser criança é gostar de se divertir, e por isso, em Domingos alternados, o Anos 90 relembra algumas das diversões que não cabem em qualquer outra rubrica deste blog.
Poucas ex-crianças portuguesas dos anos 90 conseguirão negar que as bonecas eram o principal brinquedo ‘para meninas’ daquela década. Bastava visitar a ala ‘feminina’ de uma qualquer loja de brinquedos ou hipermercado (particularmente na altura do Natal) para nos vermos subitamente rodeados por um verdadeiro 'mundo’ de cor-de-rosa, cor obrigatória nas caixas quer da mega-popular Barbie, quer de alternativas mais originais como as Polly Pocket, quer daquele que foi, e é, o mais famoso representante do conceito de ‘boneco bebé’ - o Nenuco.
O formato mais tradicional do boneco
Criado em Espanha pela Famosa – à época também sinónima de brinquedos para raparigas no nosso país – o Nenuco teve a sua génese, como tantos outros brinquedos da ‘nossa’ época, na década anterior, tendo o boneco original da famosa série sido lançado no início dos anos 80. No entanto, embora tenha atingido um sucesso considerável durante esse período, foi mesmo na década seguinte que o nome do boneco bebé penetrou definitivamente no léxico infanto-juvenil português, tendo-se tornado quase de imediato sinónimo com este tipo de brinquedo na mente do seu público-alvo, para quem qualquer boneco deste tipo era invariavelmente conhecido como ‘um Nenuco’.
E houve muitos, mas mesmo muitos bonecos deste tipo, desde os mais simples, que traziam uma roupinha e talvez alguns acessórios, até aos famosos modelos com funções especiais, como simulação de choro, de períodos de sono, ou até de funções escatológicas. Qualquer que fosse a variante no entanto, era quase certo que encontraria enorme aceitação entre o público feminino de uma certa idade, que invariavelmente contava mais do que um destes bonecos na prateleira do quarto ou caixa de brinquedos.
Para além do conceito em si – o qual é, inegavelmente, apelativo para o seu público-alvo - grande parte deste sucesso devia-se aos lendários anúncios para os diferentes bonecos da linha, que eram presença constante nos intervalos de programas infantis (bem como na programação generalista por alturas do Natal) com as suas melodias ‘açucaradas’ e imagética típica. Tal como acontecia com os anúncios de carros telecomandados ou figuras de acção entre os rapazes, estes ‘spots’ tinham um apelo quase irresistível para as meninas da época, que se já queriam um Nenuco, o passavam a querer ainda mais!
Um anúncio típico da linha, neste caso já do final da década
Não que o Nenuco precisasse deste ‘auxiliar de popularidade’; de facto, nem mesmo o fim da era dos anúncios para crianças – ou, mais tarde, o progressivo desinteresse das crianças por brinquedos convencionais – conseguiram fazer esmorecer a presença cultural deste boneco, que recentemente celebrou umas honrosas quatro décadas no mercado com uma edição especial comemorativa do seu tradicional formato ‘boneca e acessórios’.
A edição comemorativa dos quarenta anos da linha no mercado
E ainda que se possa facilmente prever o fim eventual deste ‘período de graça’ (afinal, nada dura para sempre, e ainda menos quando se trata de um produto infantil) a verdade é que o Nenuco já excedeu, em muito, a sua esperança média de vida no século da tecnologia digital – o que, sem dúvida, deixará altamente satisfeitas as suas adoptantes originais, hoje mães de bebés de carne e osso, mas para sempre nostálgicas quanto aos seus primeiros ‘filhos’…