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Portugal Anos 90

Uma viagem nostálgica pelo universo infanto-juvenil português dos anos 90, em todas as suas vertentes.

Portugal Anos 90

Uma viagem nostálgica pelo universo infanto-juvenil português dos anos 90, em todas as suas vertentes.

31.05.21

Em Segundas alternadas, o Anos 90 recorda algumas das séries mais marcantes para os miúdos daquela década, sejam animadas ou de acção real.

O primeiro post 'a sério' deste blog, precisamente uma Segunda de Séries, foi dedicada à série de ‘anime’ mais vista de sempre em Portugal, 'Dragon Ball Z'. O post de hoje é dedicado à segunda colocada nessa ‘corrida’ em particular, a saga de um espadachim a soldo no Japão medieval e dos seus companheiros – uma jovem decidida, um órfão pré-adolescente e um ex-soldado do exército japonês. O seu nome? 'Rouronin Kenshin', mais frequentemente conhecida como 'Samurai X'.

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Originalmente produzido entre 1995 e 96, o relato animado das aventuras de Kenshin Himura ‘Battousai’ – o Samurai do título –  chegaria a Portugal já ao ‘cair do pano’ do século XX (e do segundo milénio), ainda a tempo de cativar toda uma geração de jovens, e de aumentar exponencialmente a média de idades dos espectadores do progama onde estreou, o Batatoon. De facto, o ‘anime’ foi das poucas séries de índole mais séria veiculadas pelo popular segmento infanto-juvenil da TVI, e a sua colocação na grelha do mesmo - onde era o primeiro desenho animado a ser exibido - fazia com que muitos dos espectadores mais velhos, pouco ou nada interessados no programa em si, dessem um ‘saltinho’ ao quarto canal durante a meia-hora que durava a série, e mudassem para outra emissão logo a seguir. Quanto aos mais novos – o público-alvo do Batatoon propriamente dito – a série era, para eles, não menos cativante, especialmente pelo seu carácter mais violento (embora em moderação) relativamente aos restantes ‘animes’ transmitidos em Portugal à época, como Sailor Moon.

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O memorável grupo de personagens principais da série.

Este apelo transversal, e quase universal, devia-se a um simples factor: ‘Samurai X’ estava muito, mas mesmo muito bem feito. O material original já era, em si mesmo de grande qualidade – bem escrito, com animação fluida e excelentes temas de abertura e, principalmente, fecho – e a dobragem portuguesa ainda adicionava mais charme ao todo, sendo universalmente considerada uma das melhores e mais cuidadas alguma vez feitas no nosso país (neste aspecto em particular, ‘X’ era o exacto oposto de ‘Dragon Ball Z’, que ficou bem conhecido pela sua ‘gag dub’ maioritamente improvisada.) Os enredos eram empolgantes (e apropriados a todas as idades, o que também não deixava de ser raro) e o esforço de todos os envolvidos com a tradução e localização da série era evidente a cada episódio. Os jovens – que, ao contrário do que normalmente se pensa, são tudo menos parvos – reconheceram essa dedicação, e transformaram ‘Samurai X’ num ‘hit’ de culto, longe da popularidade estratosférica de ‘Dragon Ball Z’, mas ainda saudosamente recordado pela maioria dos ‘putos’ daquela época.

Embora não caísse nos extremismos de 'Dragon Ball Z', 'Samurai X' deixava lugar aos momentos de humor semi-improvisados.

Com a dose certa de mistério, aventura, acção e um toque de humor bem característico, ‘Samurai X’ merece o lugar que ainda ocupa entre os ‘otakus’ portugueses crescidos nos anos 90 – e que, mesmo desde então, apenas ‘Naruto’ conseguiu ameaçar…

Os temas de abertura e fecho do 'anime' ,tão cuidados e memoráveis como os restantes aspectos técnicos

31.05.21

NOTA: Este post é correspondente a Domingo, 30 de Maio de 2021.

Aos Domingos, o Portugal Anos 90 recorda alguns dos principais acontecimentos desportivos da década.

E porque atualmente se vai desenrolando uma emocionante série de cinco jogos destinada a apurar o Campeão Nacional de Basquetebol, nada melhor do que recordar o programa que apresentou este fascinante desporto a toda uma geração, em plena ‘Golden Age’ do mesmo no seu país natal, e durante uma época de ‘vacas magras’ a nível nacional.

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Falamos, claro, do NBA Action, o saudoso programa da RTP2 que terá convertido muitos ‘90s kids’ em fãs confessos da liga profissional de basquetebol norte-americana (a famosa NBA) e de jogadores como ‘Magic’ Johnson, Shaquille O’Neal, Patrick Ewing, Dennis Rodman e, sobretudo, Michael Jordan. Numa época em que os jogos de computador e consola ainda estavam longe de conseguir capturar as emoções fortes e ritmo alucinante de um jogo de verdade, um programa como este – declaradamente estruturado como uma compilação dos melhores momentos de cada jornada do referido campeonato – eram o melhor veículo para transmitir a essência do que era o basquetebol de alta competição da época.

Um exemplo típico do conteúdo do programa

E a verdade é que era difícil a qualquer criança não se entusiasmar com os lances artísticos, contra-ataques e ‘afundanços’ característicos do principal campeonato mundial da bola ao cesto – ainda mais quando estavam montados de forma tão emocionante quanto neste programa, e relatados pelas carismáticas vozes de Carlos Barroca (conhecido por se despedir desejando aos espectadores ‘a continuação de um dia faaaaaaan-tástico!’) e João Coutinho, dois apaixonados do basquetebol cujo gosto pelo desporto transparecia nos seus relatos, tornando os jogos tão emotivos para os espectadores como para os comentadores.

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Carlos Barroca, um comentador 'faaaaan-tástico!'

Com as suas rápidas sequências de jogadas mirabolantes, culminando na inesquecível lista das ’10 melhores jogadas da semana’, e comentários apaixonantes (e apaixonados) o ‘NBA Action’  constituía uma excelente maneira de passar uma hora em frente à televisão, numa tarde preguiçosa de Sábado, e um ainda melhor veículo para fomentar uma nova paixão junto dos jovens espectadores – não será por acaso que, depois da estreia do programa, houve um abrupto aumento nas vendas de ‘merchandising’ alusivo a basquetebol entre a juventude portuguesa…

Claro que, numa era em que o resumo de qualquer jogo está disponível no YouTube minutos depois do fim do mesmo, e em que a televisão portuguesa conta com múltiplos canais desportivos, um programa como o ‘Action’ já não faz grande sentido; ainda assim, esta bem-sucedida tentativa da RTP nos anos 90 serve como forma de recordar uma época menos ‘conectada’ e imediatista, em que o espectador médio dependia deste tipo de formato para saber o que se ia passando no seu desporto favorito, ou até conhecer novos desportos de eleição…

30.05.21

NOTA: Este post corresponde a Sábado, 29 de Maio de 2021.

As saídas de fim-de-semana eram um dos aspetos mais excitantes da vida de uma criança nos anos 90, que via aparecerem com alguma regularidade novos e excitantes locais para visitar. Em Sábados alternados, o Portugal Anos 90 recorda alguns dos melhores e mais marcantes de entre esses locais.

E porque o tempo já vai aquecendo e o sol pede para ser aproveitado, falaremos hoje de um dos grandes ‘rituais’ de infância, tanto nos anos 90 como ainda hoje: a ida ao café.

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Em criança, antes de o nosso sistema ser ‘treinado’ para associar esplanadas e pastelarias ao consumo de café ou cerveja, uma visita a um destes espaços – normalmente na companhia dos pais – significava uma coisa, e uma coisa apenas: um bolo. Podia haver alguns atractivos extra, fossem eles um sumo, uma pastilha elástica ou ‘chupa’, um pacote de batatas fritas ou cigarros de chocolate (quando ainda os havia), uma oportunidade de ajudar os pais com o Totoloto ou Totobola, ou simplesmente um golo do café ou um pouco de espuma da cerveja dos adultos; no entanto, para nós, estes eram apenas complementos para a verdadeira peça central, sem a qual a experiência não ficava completa. Uma criança que estivesse sentada numa esplanada e não tivesse à sua frente um pão de leite, arrufada, queque, bola de Berlim, ‘croissant’, bolo de arroz ou até mesmo um Bollycao, sentia que faltava algo naquele passeio – algo que era, de imediato, sanado, assim que um dos produtos atrás elencados, ou outro equivalente, lhes aparecesse na mesa. Prazeres simples, mas que muitos de nós continuamos a apreciar vinte ou trinta anos depois (por aqui, a perdição é por ‘croissants’ com creme, bolas de Berlim bolo xadrez ou torta de laranja, por esta ordem.)

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Confessem lá - ainda hoje a experiência de ir tomar café não fica completa antes deste momento...

Mais tarde, já adolescentes, a ida ao café tomava toda uma nova dimensão. Uma saída deste tipo era, agora, uma oportunidade de conviver com os amigos e vivenciar a mesma experiência de sempre de uma perspectiva ‘de gente grande’ (quem se esquece da primeira ‘bica’ tomada à frente dos pares?) Os ‘chupas’, batatas fritas, pastilhas, sumos e sobretudo os bolos continuavam presentes (só os cigarros já não eram de chocolate), mas deixava de ser necessário pedir autorização, ou depender da vontade dos adultos sobre quando e onde os comprar. A ida ao café, nos tempos do secundário, era um ritual de passagem à vida adulta, complementar a tantos outros que se experienciavam durante esses anos formativos – e bastante mais prazeroso do que a maioria deles.

Conforme se referiu anteriormente, este não é exactamente um ritual que tenha passado de moda, ou cujas características tenham mudado significativamente desde aquele tempo; não é por isso, no entanto, que ela deve deixar de ser recordada como parte integrante (e marcante) da infância de qualquer criança portuguesa dos anos 90 – ou de outra década qualquer. Fica aqui, assim, a nossa pequena homenagem a uma saída que – tal como a ida ao jardim ou ao parque infantil que relembrámos nas últimas edições desta rubrica – pode a princípio parecer insignificante, mas acaba por se revelar bem merecedora da nostalgia de toda uma geração.

 

29.05.21

NOTA: Este post é relativo a sexta-feira, 28 de Maio de 2021.

Um dos aspetos mais marcantes dos anos 90 foi o seu inconfundível sentido estético e de moda. Em sextas alternadas, o Anos 90 recorda algumas das marcas e modas mais memoráveis entre os jovens da ‘nossa’ década.

E porque hoje está sol, e se aproxima o Verão, nada melhor do que relembrar uma peça essencial da ‘fardamenta’ das crianças dos anos 90: o boné.

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Embora este continue a ser um acessório muito popular entre jovens de todas as idades, existem diferenças fundamentais ao nível do ‘design’ que separam os bonés dos ‘putos’ modernos daqueles que os seus pais ou familiares usavam na mesma idade – a começar, desde logo no formato da pala. Enquanto que hoje em dia, os miúdos se orgulham de usar bonés com a pala impecavelmente e rigorosamente direita, que pode depois ser levantada para trás (os chamados ‘snapbacks’), as crianças dos anos 90 queriam precisamente o oposto. Em finais do século XX, uma pala a direito era para ‘totós’, e a mesma só era usada virada para cima quando se queria ‘gozar’, ou momentaneamente para limpar o suor da testa; antes pelo contrário, a primeira coisa a fazer ao receber um boné novo era dobrar a pala para dentro o máximo que se conseguisse, de forma a esta formar uma cúpula sobre os olhos. Só depois da pala dobrada a ‘preceito’ é que o boné era considerado apto a ser usado (pelo menos virado para a frente; se fosse para usar para trás, ao estilo ‘radical’, as regras eram menos definidas.)

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Ângulo mínimo para uma pala nos anos 90

Outra diferença entre os bonés modernos e os daquela época é a própria forma. Os bonés de hoje em dia tendem a ser altos e largos, dando a quem os usa a chamada ‘cabeça de capacete’; ora, nos anos 90, essa mesma ‘cabeça’ era, também, algo a evitar – o boné ideal ficaria ‘enterrado’ na cabeça, e apertado atrás o máximo possível sem se tornar desconfortável. O formato dos bonés produzidos naquela época traduz essa mesma preferência, sendo, regra geral, mais baixos e estreitos do que os modernos (com uma excepção, de que falaremos já a seguir.)

Estabelecidas que estão as diferenças estéticas entre os chapéus de pala do novo milénio e os do fim do anterior, resta fazer uma rápida retrospectiva dos mais populares tipos de boné encontrados em Portugal nos anos 90. E logo para começar, há que falar de um, incontornável, e que hoje em dia parece estar a retomar a popularidade de que então gozava – seja sinceramente, ou de forma irónica. Falamos, é claro, do boné de rede, esse mítico artefacto da nossa infância que todos tivemos, e que nunca ninguém conseguiu que lhe ficasse verdadeiramente bem.

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Os píncaros do estilo infanto-juvenil no início dos anos 90. Só que não...

Conhecidos nos Estados Unidos como ‘trucker hats’, por serem tradicionalmente utilizados pelos camionistas, estes bonés ganhavam o seu nome português devido ao material de que eram maioritariamente feitos. De facto, à excepção da pala e da zona frontal, o resto destes chapéus era feito de uma fina malha de rede, que tinha como objectivo deixar respirar a cabeça, para contrabalançar o efeito criado pela parte da frente, invariavelmente feita de espuma e, portanto, muito quente. O efeito geral é difícil de descrever sem se ter ‘estado lá’ – não que seja preciso; todos estivemos, certo? – mas tal como os fatos de treino daquele tempo, não é exactamente algo que recordemos como altamente estiloso. Para piorar (ou, na perspectiva infantil da época, MELHORAR) a maioria destes bonés tendiam a ser de índole promocional ou publicitária, sendo a parte da frente normalmente adornada com o simbolo ou logotipo de uma qualquer companhia (o nosso era das Edições Alfa); numa época em que era considerado ‘fixe’ ter vestuário ou acessórios alusivos a marcas de outros quadrantes, no entanto, isto não era o problema, e a ‘morte’ dos bonés de rede só se deu quando a geração em causa cresceu um pouco, olhou para aquela ‘coisa’ que usava na cabeça anos antes, se riu, e a pôs no fundo do armário. E em boa hora o fizemos…

O segundo tipo de boné comum à época era o alusivo a equipas desportivas ‘da moda’, normalmente de um qualquer desporto americano. Estes bonés tendiam a ter palas de duas cores (uma na parte superior, e a segunda na parte inferior) e a parte principal em pano de uma cor escura, normalmente preto ou azul-escuro. Tal como no caso dos bonés de rede, este tipo de chapéu tendia a estar adornado com um logotipo na parte da frente, mas ao contrário dos seus antecessores, o mesmo era bordado directamente no pano, criando um efeito muito mais uniforme. Dos tipos de boné abordados neste artigo, este era considerado o mais ‘fixe’, e qualquer miúdo de meados da década tinha pelo menos um (deste lado, o favorito foi, durante anos, um dos grandes Chicago Bulls.)

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Aquele momento em que se encontra um boné EXACTAMENTE IGUAL ao nosso dos 11 anos numa pesquisa da Google...

O mesmo, embora em menor escala, se pode dizer dos sucessores directos dos bonés de rede – os bonés promocionais de pano. Mistura exacta entre os dois tipos de chapéu anteriormente mencionados, estes bonés eram, normalmente, de uma só cor, com o logotipo bordado ou estampado acima da pala, mas de forma muito mais discreta do que no caso dos bonés de rede, criando um efeito mais sóbrio, e que ficava do ‘lado certo’ da linha invisível que separava o ‘fixe’ do ‘fatela’. Por essa mesma razão, e pela facilidade em adquirir um destes bonés – eram, à época, tão comuns como as suas companheiras espirituais, as t-shirts promocionais - a maioria das crianças tendia a ter vários por onde escolher no seu armário.

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Não encontrámos a dizer 'TMN' nem 'PT'

O único azar – pelo menos no que tocava à popularidade – era se um ou mais desses bonés fossem de elástico, em ver de ajustáveis através dos tradicionais ‘furinhos’; por alguma razão, nem mesmo bonés de elástico de marca ou de clubes se safavam do estigma de não serem ‘fixes’, pelo menos a partir de uma certa idade. Assim, só os mais ‘valentes’ – ou aqueles cujos pais ou colegas de escola menos se importavam com esse tipo de estigma – usavam este tipo de chapéu, optando os restantes por uma das opções mais ‘seguras’ descritas acimas.

‘Fixe’ ou não, de rede ou de pano, com mais ou menos costuras na pala, a verdade é que não havia criança nos anos 90, independentemente do sexo ou idade, que não tivesse e usasse pelo menos um boné – o que tornou ainda mais surpreendente o decréscimo acentuado no ‘cool factor’ deste tipo de acessórios na década seguinte. De facto, os bonés só voltariam a entrar em voga já na segunda década do novo milénio – e mesmo assim, em moldes significativamente diferentes dos seus antecessores de final do século XX. Desde então, no entanto, a popularidade desta peça tem-se mantido em alta, o que faz crer que a ‘moda’ dos bonés está mesmo de volta para ficar – com um pouco de sorte, desta vez, com menos modelos publicitários de ‘redinhas’…

 

27.05.21

Todas as crianças gostam de comer (desde que não seja peixe nem vegetais), e os anos 90 foram uma das melhores épocas para se crescer no que toca a comidas apelativas para crianças e jovens. Em quintas-feiras alternadas, recordamos aqui alguns dos mais memoráveis ‘snacks’ daquela época.

Os cereais de pequeno-almoço fizeram, fazem e provavelmente continuarão a fazer parte da experiência de ser criança. Parte integrante de muitos pequenos-almoços durante os anos formativos, estes produtos apresentam a combinação perfeita entre sabor apelativo, brindes ainda mais apelativos, e uma composição suficientemente ‘no limiar’ da comida saudável para justificar o consumo repetido sem muita insistência junto dos pais. Quer sejam comidos a seco, postos no leite, ou postos na tigela para depois se deitar o leite por cima (por aqui, ainda hoje se opta pela segunda opção), os cereais são daquelas coisas que provavelmente nunca vão desaparecer, ou sequer decrescer em popularidade.

Isto não significa, no entanto, que ‘de quando em vez’ não haja cereais que fiquem para trás na grande corrida às prateleiras. Embora a maioria dos nossos favoritos da infância continuem bem presentes em qualquer superfície comercial, dos básicos Corn Flakes aos Frosties (basicamente a mesma coisa, mas com o açúcar adicionado de antemão, e mascote ‘à maneira’), Estrelitas ou Nesquik, a verdade é que houve mesmo tipos de cereal que foram retirados do mercado – alguns, inclusivamente, na época a que este blog diz respeito. O post de hoje recorda, precisamente, esses cereais que, nos anos 90, faziam as delícias da miudagem, mas que hoje se encontram total ou parcialmente defuntos – curiosamente, todos comercializados pela Nestlé, que se pode considerar ter tido algum ‘azar’ nesse capítulo na década em causa.

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O primeiro exemplo deste fenómeno a ter lugar durante o nosso tempo de vida passou-se com as Crépitas, criadas e comercializadas pela Nestlé nos anos 80, e que desapareceram das prateleiras, sem grande alarido, mais ou menos a meio da década seguinte, deixando pouco ou nenhum rasto. Embora não fosse o cereal preferido de ninguém, as Crépitas constituíam uma escolha relativamente ‘sólida’ quando não se queriam levantar muitas ‘ondas’ com os pais, e terá decerto havido quem lhes tivesse sentido a falta.

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Uma caixa norte-americana contemporânea, e semelhante, à disponível em Portugal

Ainda no início da década, um cereal de caixa vermelho-berrante, também da Nestlé, trazia para as prateleiras portuguesas um conceito irresistível, importado dos Estados Unidos: ‘marshmallows’ multi-coloridos misturados nos cereais de todos os dias. Com uma proposta de valor destas, não admira que os Lucky Charms tenham feito sucesso entre os jovens daquele tempo…!

No entanto, a dada altura, estes cereais desapareceram mesmo de circulação, sem qualquer pré-aviso, obrigando os seus muitos e desconsolados fãs a procurarem uma nova alternativa para a sua refeição da manhã. A alegada razão para esta remoção (a qual, aliás, teve efeito a nível mundial) seria o elevado teor de açúcar dos ‘marshmallows’, que ficava acima dos limites internacionais para alimentos deste tipo; problema esse que, nos anos intervenientes, terá sido devidamente sanado, visto os Lucky Charms terem regressado às prateleiras - pelo menos às americanas. Em Portugal (bem como em outros países, como o Reino Unido) estes cereais continuam a só estar disponíveis em lojas de importação, a preços absolutamente exorbitantes, e certamente proibitivos para aquele que costumava ser o seu público-alvo; já aqueles que, entretanto, cresceram e adquiriram poder de compra, até podem achar graça a dar 7 euros por uma caixa de cereais da sua infância, mas não será certamente uma experiência a repetir todas as semanas…

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Mas se os Lucky Charms regressaram (ainda que em locais específicos, e muito mais caros), outro cereal líder de vendas na década de 90 foi mesmo vítima de extinção total e completa. ‘Patrocinado’, pelo menos em Portugal, pelos sobrinhos do Pato Donald (numa inusitada parceria entre a Nestlé e a Disney) o saudoso Trio foi, como os Lucky Charms, vítima das normas que decretavam uma redução no nível de açúcar dos cereais infantis. Ao contrário do que aconteceu com os cereais do duende Lucky, no entanto, a Nestlé não parece ter arranjado maneira de sanar ESTE problema – até porque o próprio conceito do cereal tornava essa missão praticamente impossível. Ao contrário dos pedaços açucarados localizados e em número limitado dos Lucky Charms, no caso do Trio, os corantes e adoçantes eram aplicados aos próprios grãos do cereal, que surgiam em três cores (e sabores) diferentes – caramelo, mel e baunilha (daí o nome Trio, e o memorável slogan, em que um coro de crianças cantava os três sabores). Pequenas ‘bombas’ de açúcar concentrado, portanto – embora deliciosas quando posta dentro do leite, o qual tingiam com uma pálida tonalidade decorrente da mistura das três cores dos cereais. Talvez o mais saudoso dos três cereais aqui apresentados, mas também aquele cuja extinção é mais fácil de compreender e justificar.

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Dos três cereais mostrados neste anúncio de meados da década de 90, só um ainda está disponível nos dias de hoje...

O Trio foi, no entanto, a última grande perda no campo dos cereais de pequeno-almoço em Portugal; desde o seu desaparecimento, há já quase duas décadas, o leque de escolhas dos consumidores portugueses neste campo tem-se mantido mais ou menos imutável, com as mesmas gamas perenes que já existiam quando os cereais acima relembrados desapareceram. Ao contrário dos EUA, onde cada nova ‘febre’ cultural vem acompanhada de um cereal a condizer, neste país de brandos costumes à beira-mar plantado, ficamos perfeitamente satisfeitos com os nossos Chocapic e Nesquik, Estrelitas e Cheerios, Clusters, Golden Grahams, Corn Flakes e Special K. Ainda assim, vale a pena relembrar que, embora incomum, o fenómeno de desaparecimento de cereais das prateleiras não é, de todo, inédito – e pode ainda dar-se o caso de a geração actual ficar, de um dia para o outro, sem um dos seus pequenos-almoços favoritos. Nós sabemos – passámos pelo mesmo…

26.05.21

Em quartas-feiras alternadas, falamos sobre tudo aquilo que não cabe em nenhum outro dia ou categoria do blog...

…como é o caso da literatura juvenil.

Sim, hoje chegamos, já com (muito) atraso, à parte final da nossa retrospectiva sobre colecções de livros infanto-juvenis dos anos 90. E se nas duas partes anteriores recordámos alguns dos mais populares títulos totalmente concebidos em Portugal, desta feita, a vez cabe àquelas colecções que, apesar de criadas por autores estrangeiros, estiveram tão indelevelmente ligadas à maioria das infâncias portuguesas da época, que quase poderiam ser produto nacional.

Colecções como, por exemplo, a da Anita, que constituiu uma das primeiras experiências de leitura para grande parte dos ‘80s and 90s kids’, em especial para as raparigas (apesar de o melhor amigo de Anita ser um rapaz, a maioria dos leitores do sexo masculino pouco ou nada queriam ter a ver com uma série cheia de bochechas rosadas e desenhos em tons pastel.)

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Alguns dos muitos títulos da série 'Anita'

Com os seus desenhos e capas ‘fofinhos’, letras gordas e histórias inócuas de todos os dias (o primeiro e mais famoso volume da série chama-se ‘Anita Vai À Escola’, e trata precisamente disso) as aventuras da personagem originalmente criada em França como ‘Martine’ ainda hoje continuam a fazer sucesso entre a faixa etária em idade primária e pré-primária, e a constituir um ponto de partida perfeito para leituras mais a sério.

E para as crianças da (segunda metade da) década de 90, o mais natural era que essa evolução tivesse como próximo passo a colecção Arrepios. Lendária nos Estados Unidos, onde apresentou milhares de crianças à literatura de terror, a série da autoria de R. L. Stine chegou ao mercado português em 1997, num formato de revenda invulgar (os livros eram vendidos exclusivamente nas papelarias e bancas de jornais, não estando disponíveis em livrarias convencionais) e a preço muito convidativo para as escassas economias juvenis – cada volume custava apenas 250$00, aproximadamente o mesmo preço de uma revista de super-heróis ou um exemplar da Bravo ou Super Pop.

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Os dois livros do pack promocional original, de 1997

Assim, não é de estranhar que os primeiros volumes da colecção tenham sido sérios sucessos de vendas entre o público-alvo, com particular ênfase nos dois primeiros, ‘Bem-Vindos À Casa da Morte’ e ‘A Cave do Terror’, que eram vendidos ‘costas-com-costas’ num ‘pack’ promocional, em regime ‘leve 2, pague 1’. As traduções algo ‘manhosas’ – tratavam-se, afinal de contas, de edições da Abril-Controljornal – pouca importância tinham para os jovens leitores, que ‘devoraram’ estas histórias de (muito pouco) terror durante uns largos meses, tempo suficiente para a colecção chegar ao número 20. A partir desse mesmo número (uma imitação infantilizada de ‘Tubarão’, de Spielberg) deu-se uma perda de interesse tão súbita quanto inexplicável, e a colecção Arrepios passou de ser a publicação mais lida do recreio ao quase esquecimento, uma tendência que nem mesmo uma linha de livros ao estilo ‘Escolhe a Tua Aventura’ conseguiu inverter.

E já que falamos em ‘Escolhe a Tua Aventura’, esta é a altura perfeita para falar da colecção Aventuras Fantásticas, mais uma ‘febre’ de recreio que durou vários anos. Estes inesquecíveis livros, a maioria da autoria de Ian Livingstone, tinham como principal atractivo consistirem de uma espécie de jogo RPG de tabuleiro, mas em formato escrito. O jogador utilizava dados para determinar factores como a força, esperteza e capacidade mágica, e era também através de dados que se decidiam as lutas e eventos decisivos da trama – sendo que uma rodada mais desafortunada podia fazer derrocar todo o esforço anterior, e conduzir o jogador a um final infeliz.

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Algumas das muitas 'Aventuras Fantásticas' disponíveis

É claro que nem todas as crianças tinham paciência para jogar com os dados - muitas faziam ‘batota’, atribuindo os pontos aleatoriamente e voltando atrás quando as coisas não corriam bem. Ainda assim, a premissa atraente do conceito, aliada a capas igualmente bem concebidas e chamativas para o público-alvo, fez desta colecção um sucesso durante grande parte da década de 90, e uma das mais duradouras ‘febres’ de recreio da época.

E por falar em ‘febres’ duradouras, o final dos anos 90 viu aparecer uma série que, apesar de o seu maior impacto se vir a verificar na década seguinte, ainda foi a tempo de influenciar muitas crianças daquele tempo. Falamos, é claro, das aventuras de um jovem mago e seus amigos, numa escola de magia na Escócia. Sim, a saga de Harry Potter chegou a Portugal ainda nos 90s, e caivou ‘putos’ e adultos de uma forma que poucos outros livros conseguiram repetir desde então. Na altura, eram apenas três os livros disponíveis (quer em Portugal, quer no estrangeiro), e apesar de muitos dos melhores momentos da saga ainda estarem apenas na mente da autora J. K. Rowling, vale a pena destacar a influência que a série já vinha tendo sobre a juventude da época.

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Capa da primeira edição de sempre de 'Harry Potter e a Pedra Filosofal' em Portugal

E terminamos esta retrospectiva de literatura infanto-juvenil de qualidade com uma série que, apesar de menos massificada do que as outras neste post, tinha ainda assim a sua legião de fãs: os Diários Secretos do neurótico adolescente por excelência, Adrian Mole. À época, eram apenas quatro os livros que narravam as desventuras do jovem intelectual de Leicester, na sua cruzada por ver o seu génio reconhecido e conquistar a rapariga dos seus sonhos; e embora nominalmente dirigidos a um público juvenil, todos os quatro continham momentos de humor multifacetado, em que as crianças se podiam rir das piadas mais directas enquanto os adultos se divertiam com o substrato sarcástico e mordaz que os mais novos não compreendiam.

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As primeiras edições dos livros de Adrian Mole em Portugal

Esta polivalência fez com que Adrian Mole fosse relativamente bem-sucedido em Portugal - apesar de, ao contrário de outra saga de que aqui falámos, não ter sido de todo localizado, e manter muita da sua ‘britanicidade’. Ainda assim, uma série de relativo sucesso, que vale a pena incluir nesta retrospectiva.

E é precisamente com o jovem inglês que fechamos esta viagem pelas séries de livros mais marcantes dos anos 90. Havia outras, é claro, algumas já lidas por jovens de outras décadas (como as diversas séries de aventura de Enid Blyton) mas estas foram as que considerámos terem sido especificamente ‘nossas’, isto é, das crianças daquela época. Concordam? Discordam? Faltou alguma? A mesa é vossa! Entretanto, ‘keep reading’!

25.05.21

Porque nem só de séries se fazia o quotidiano televisivo das crianças portuguesas nos anos 90, em terças alternadas, este blog dá destaque a alguns dos outros programas que fizeram história durante aquela década.

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Uma imagem vale mais do que 200 e tal palavras

‘Ponha, ponha, ponha!!! AAAAAAIIII!!!’

Esta frase – que se tornou um ‘meme’ décadas antes de esse conceito ter sido oficialmente inventado – é, ainda hoje, a primeira coisa que vem à memória quando se fala do programa abordado neste post, a ponto de haver quem já nem se lembre do nome, mas ainda se lembre do homem careca, sentado de olhos fechados, aos gritos, enquanto lhe eram postas iguanas na calva.

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Esse homem chamava-se João Muge, e o programa, Agora ou Nunca – um conceito que, à época, até foi bastante popular, sobretudo devido à enérgica apresentação de Jorge Gabriel, mas que hoje tem como único legado esse famoso ‘clip’ e a respectiva citação, incessantemente repetida por esse país afora naqueles idos de 1997.

Baseado, como quase todos os programas nacionais à época, num formato estrangeiro (neste caso, alemão), o programa tinha uma ideia-base simples, que consistia tão somente em ajudar os concorrentes a ultrapassar as suas maiores fobias, através do comprovado método de as expor, em directo, a uma audiência de milhões de portugueses. Uma espécie de sessão de terapia televisionada, em que a maioria das fobias oscilava entre o inusitado e o ridículo, expondo, por isso, os seus detentores ao ridículo, como foi o caso com o Sr. João Muge e as suas iguanas.

Mesmo assim, a maioria dos participantes não se parecia importar grandemente com as ‘figuras’ que ia fazer para a televisão, até porque havia uma inevitável recompensa em dinheiro à espera de quem fosse ‘valente’ o suficiente para enfrentar os seus medos – e os risos da audiência. No caso de João Muge, 225 contos foram a soma recebida em troco da exposição ao ridículo no programa e (ainda que ninguém o antevisse na altura) da entrada no imaginário humorístico popular, com a sua ‘catchphrase’ a virar dichote de recreio, e Herman José – então a atravessar um momento alto da sua carreira – a satirizar a participação de Muge no programa da SIC com uma rábula na sua ultra-popular ‘Enciclopédia’. Estava, assim, criado um 'meme' que perdurou tanto que, literalmente décadas mais tarde, o próprio Jorge Gabriel viria a recriar o momento no programa '5 Para a Meia-Noite' - desta vez, tendo ele próprio a iguana na cabeça...

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O Jorge também não parece gostar lá muito da situação...

Do restante programa, restam muito poucas recordações, pelo menos para quem não foi espectador fiel ou tenha uma memória acima da média (ou ambos.) Comparados com a performance digna de um Óscar de João Muge, os restantes desafios (e respectivos ‘freakouts’) não eram, nem de longe, tão memoráveis, ainda que alguns tivessem tudo para o ser (como a pobre concorrente que, para enfrentar o seu medo de montanhas-russas, se deslocou, não até à Feira Popular de Lisboa, ou na Bracalândia minhota, mas…a Inglaterra.) Assim, vão valendo os gritos de um careca com iguanas na cabeça (e um blog nostálgico de um gajo trintão) para impedir que este tesourinho deprimente caia, de vez, no esquecimento. E para que a memória perdure, aqui fica o registo desse momento lendário da televisão portuguesa...

Vá, força - digam lá 'a frase'. Vocês sabem que não vão resistir...

24.05.21

Qualquer jovem é, inevitavelmente, influenciado pela música que ouve – e nos anos 90, havia muito por onde escolher. Em segundas alternadas, exploramos aqui alguns dos muitos artistas e géneros que faziam sucesso entre as crianças daquela época.

E dado que desde o início desta rubrica temos vindo a falar sobretudo de movimentos e estilos musicais – quer nacionais, como o ‘pimba’, quer importados, no caso do europop ou do rock alternativo – nada mais justo do que abordarmos, esta semana, um movimento que teve um enorme ‘boom’ em território nacional precisamente nos anos 90.

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Falamos, é claro, do pop-rock, estilo que viu alguns dos seus principais representantes nacionais de décadas anteriores entrar em fases de declínio de carreira durante a última década do século XX (casos dos Xutos & Pontapés, GNR, Rui Veloso ou UHF, entre outros) mas assistiu ao nascimento e consolidação de popularidade de outros tantos artistas e colectivos, alguns dos quais relevantes ainda hoje, quase trinta anos após o seu aparecimento. Os anos 90 foram, por exemplo, a década dos Sitiados, Silence 4, Mão Morta, Ornatos Violeta, Pólo Norte, Rádio Macau, Três Tristes Tigres, Quinta do Bill, Pedro Abrunhosa, Clã ou The Gift, entre muitos outros - isto, claro, sem esquecer bandas que transitavam da década anterior ainda no auge da sua forma, como era o caso dos Delfins ou Madredeus. Um verdadeiro panteão de nomes sonantes da música portuguesa, que fazia as delícias de qualquer melómano adepto das vertentes mais melódicas da música ‘de guitarras’.

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Alguns dos muitos artistas pop-rock portugueses de finais do século XX

Um dado curioso é que muitos destes grupos contavam com vocalizações femininas, fossem principais ou secundárias. Clã, Três Tristes Tigres, Rádio Macau, Entre Aspas, The Gift e Madredeus contavam todos com vocalistas femininas, algumas delas figuras bem populares e influentes da cena musical da época, como Xana e Viviane; dos restantes, os Silence 4 também contavam com vozes de apoio femininas (numa dinâmica muito semelhante à dos Pixies, com as devidas distâncias) e os Sitiados tinham em Sandra Baptista a sua segunda figura central, embora esta última não cantasse. Isto sem esquecer, é claro, as duas finalistas do Festival da Canção mais famosas da era pré-Salvador Sobral: Sara Tavares e Anabela (a sério, conseguem nomear o finalista de algum ano sem ser 1993 e 1994?) Enfim, uma excelente representatividade para o sexo feminino, que conseguia tão ou mais sucesso que os grupos e artistas masculinos.

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Quem se lembra?

No cômputo geral, pois, os anos 90 não podem saldar-se como nada menos do que uma década fantástica para a música pop e rock portuguesa – quer em termos comerciais, quer criativos. Bebendo das bases cimentadas na década anterior, os artistas que entraram em voga durante os 90s viriam, eles próprios, a erigir muitas das fundações que informariam a música portuguesa na década seguinte, e um pouco até aos dias de hoje, tornando a última década do século XX uma das melhores de sempre para se ser fã de música em Portugal.

23.05.21

Ser criança é gostar de se divertir, e por isso, em Domingos alternados, o Anos 90 relembra algumas das diversões que não cabem em qualquer outra rubrica deste blog.

E começamos, desde logo, por recordar aquele que foi, talvez, o tipo de brinquedo mais emblemático da década de 90 (e também das duas anteriores): as figuras de acção, ou como eram conhecidas na altura, os ‘bonecos’.

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Antes dos Funko Pops e outras ‘febres’ do género, eram estes os bocados de plástico licenciados avidamente coleccionados pelas crianças, e que faziam as suas delícias em muitas tardes em que os trabalhos de casa já estavam feitos, e não havia desenhos animados. Alusivos a qualquer propriedade intelectual que estivesse ‘na moda’ entre o público-alvo na altura do lançamento, estas figuras – tradicionalmente com cerca de 20cm de altura, embora houvesse maiores – vinham normalmente equipadas com uma característica especial, fosse ela um acessório para colocar no braço da figura ou um qualquer tipo de ‘truque’ accionável através de um gesto ou botão.

De indicadores luminosos a frases pré-gravadas e de pontapés de karaté a armas maiores do que a própria figura, estes bonecos vinham invariavelmente equipados com algum tipo de chamariz destinado a atrair a atenção do público-alvo - e escusado será dizer que o mesmo, quase sempre, resultava. Os ‘bonecos’ estavam entre os brinquedos mais pedidos pelas crianças daquela geração, até por serem mais baratos do que as bicicletas, consolas e outros presentes ‘maiores’ invariavelmente reservados para os anos e Natal, o que significava que podiam, com sorte, ser adquiridos mais frequentemente (numa visita ao hipermercado ou à loja de brinquedos, por exemplo), e em maior número.

De facto, embora no nosso país não se chegasse aos exageros de volume de outros países (com os EUA à cabeça), a criança média portuguesa dos anos 90 tinha, provavelmente, um acervo considerável de ‘bonecos’, das mais diferentes colecções, sendo os mais populares os das Tartarugas Ninja, Power Rangers e Dragon Ball; já as armas e acessórios dos mesmos estavam, invariavelmente, condenadas ao esquecimento (ou desaparecimento) atrás de um sofá ou cama, de onde acabavam por ser ‘desenterrados’ tempos depois pelo aspirador, animal de companhia, ou irmão mais novo. A perda destes ‘acrescentos’ não constituía, no entanto, qualquer entrave para o dono ou dona do brinquedo, que simplesmente passava a encenar lutas a punhos ou pontapés, em vez de com armas, como anteriormente.

Escusado será dizer que nem todos os ‘bonecos’ na colecção de uma criança da época eram oficiais – de facto, havia fortes probabilidades de a maioria (ou pelo menos uma proporção significativa) ter sido adquirida em locais como barraquinhas de feira, mercados e pequenas lojas de bairro, ficando estas a dever algo à autenticidade, quer em termos de embalagem quer de qualidade da propria figura.

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Humm...qual será o produto oficial...?

Mais uma vez, no entanto, este factor não constituía qualquer entrave para a maioria das crianças; pelo contrário, algumas das colecções de figuras ‘piratas’ aparecidas durante o período áureo deste tipo de brinquedos eram tão populares que ainda hoje são recordadas por quem com elas cresceu. De Tartarugas Ninja ligeiramente deformadas a figuras do Dragon Ball Z em embalagens com o grafismo correcto, mas sem qualquer tipo de letreiro, passando por Power Rangers sem articulação nem pintura nas costas, muitas foram as séries de figuras completamente ilegítimas que passaram pelos quartos das crianças daquela época, com mais ou menos discriminação relativamente às autênticas e oficiais - havia quem torcesse o nariz às figuras ‘falsas’ ou ‘de imitação’, como também havia quem as usasse à mistura com as ‘verdadeiras’. (Por aqui, havia uma mistura entre o fascínio pelas figuras falsas e a consciência de que elas eram muito piores do que as outras, e que como tal não valia a pena comprá-las.)

Enfim, fosse qual fosse a abordagem da criança ao coleccionismo de ‘bonecos’, a verdade é que estes estavam sempre presentes na prateleira ou caixa de brinquedos, e acabavam por protagonizar muitos dos melhores momentos passados em brincadeiras em casa. Fosse trabalhando em equipa ou lutando entre si pela supremacia do ‘bando’ (com pouco ou nenhum respeito por quem era ‘bom’ ou ‘mau’), estes pedaços de plástico articulados e moldados à imagem e semelhança dos nossos heróis favoritos terão, sem dúvida, sido parte inseparável da infância de qualquer leitor deste blog – um daqueles produtos que caíram em desuso em décadas subsequentes (substituídos por estátuas e outras figuras de ‘enfeitar’, para ter na estante e não mexer) e que quase nos faz ter pena que as gerações actuais e futuras não tenham podido vivenciá-lo. O brinquedo perfeito, portanto, com o qual iniciar esta nova rubrica no Anos 90.

E por aí? Qual era o boneco preferido? Deste lado, era declaradamente o Tommy, dos Power Rangers, que se sobrepunha ao Batman, ao GI Joe, às duas Tartarugas Ninja (uma oficial, outra falsa) e até ao Son Goku, liderando a equipa dos bonecos de 20cm contra a ameaça do Godzilla de borracha ou do Power Ranger vermelho gigante que dava pontapés de karaté…

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(Um sósia do) melhor boneco de todos os tempos.

Também tinham destas brincadeiras? Partilhem nos comentários!

22.05.21

Os Sábados marcam o início do fim-de-semana, altura que muitas crianças aproveitam para sair e brincar na rua ou no parque. Nos anos 90, esta situação não era diferente, com o atrativo adicional de, naquela época, a miudagem disfrutar de muitos e bons complementos a estas brincadeiras. Em Sábados alternados, este blog vai recordar os mais memoráveis de entre os brinquedos e acessórios de exterior disponíveis naquela década.

Hoje concluímos (já com algum atraso) a ‘trilogia’ de meios de deslocação ‘radicais’ dos anos 90; depois de em edições anteriores desta rubrica termos falado dos patins em linha e das bicicletas BMX, chega hoje a vez de abordarmos um ‘meio de transporte’ que menos crianças da época tinham, mas que quase todas desejavam – o ‘skate’.

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Imaginem isto, mas em amarelo-canário com rodas vermelhas e um desenho em cima...era o nosso

Disseminados entre as massas pela ‘febre’ dos desportos radicais que se instalou um pouco por todo o Mundo durante a década de 90 (e que no nosso país tinha a sua expressão máxima no programa ‘Portugal Radical’), os ‘skates’ passaram ainda alguns anos como equipamentos mais ‘de nicho’ antes de passarem a ocupar o topo das listas de Natal das crianças portuguesas; uma vez essa posição ocupada, no entanto, não mais a largariam, tendo a segunda metade da década ficado marcada pela proliferação de estruturas especificamente destinadas à prática do ‘skate’, bem como dos seus ‘irmãos’ já aqui abordados, os patins e a BMX. Sim, a atual geração que tão bom uso faz dos ‘skate parks’ espalhados um pouco por todo o País tem a agradecer aos seus pais a popularização destes tipos de ‘hobby’, a ponto de serem criados equipamentos específicos para a sua prática.

Mais - onde os ‘skates’ usados pelos ‘putos’ de hoje em dia são do tradicional formato preto em cima e com desenhos mais ou menos ‘radicais’ na base, os dos seus pais eram muito, mas mesmo muito mais ‘fixes’. Maioritariamente no formato ‘banheira com rodas’, entretanto caído em desuso, eram normalmente feitos de plástico colorido (o nosso era amarelo e vermelho, das mesmas cores da bicicleta BMX), e adornados com todo o tipo de motivos. tanto em baixo como na parte superior; alguns traziam, inclusivamente, desenhos alusivos a propriedades intelectuais populares entre  o público-alvo - por aqui, por exemplo, quase caímos para o lado quando percebemos que o desenho do nosso ‘skate’ dos 5-6 anos de idade era uma reprodução em cores algo estranhas de uma ilustração de…Dragon Ball Z!!

Enfim, embora fossem menos ergonómicos e bastante mais ‘matacões’ do que os modelos de décadas posteriores, estes ‘skates’ ganhavam-lhes largamente em termos de ‘estilo’ – e de apelo para o público mais jovem.

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Exemplo de uma 'parte de baixo' de 'skate' com desenhos licenciados - neste caso, das Tartarugas Ninja

Infelizmente, tal como os patins em linha, o ‘skate’ era daquelas coisas para que todos queriam ter ‘jeito’, mas nem todos conseguiam. Mesmo com capacete e protecções (não tantas quanto nos tempos modernos, mas chegávamos a pôr) os ‘trambolhões’ eram mais que muitos, e como consequência, muitas crianças usavam o skate mais como um adorno, uma coisa ‘fixe’ para ter no quarto ou na garagem. Ainda assim, aqueles que conseguiam dominar a arte eram olhados com admiração e inveja, e davam por vezes azo a mais umas quantas tentativas frustradas de fazer o mesmo, antes de o ‘skate’ voltar para o seu lugar de honra contra a parede…

Ao contrário dos outros instrumentos de que falámos nesta rubrica, que acabaram por cair em desuso com o passar dos anos (e o virar da década, século e milénio), os ‘skates’ continuam a gozar de enorme popularidade entre os jovens até aos dias de hoje – muito por culpa de uma certa e imensamente bem-sucedida série de videojogos cujo primeiro título foi lançado, precisamente, nos anos 90. Ainda assim, há que mostrar a essa nova geração de onde veio e como era o seu passatempo de eleição no tempo em que os ‘velhotes’ trintões eram da sua idade…algo que, espera-se, este post terá conseguido fazer. Fica, agora, a faltar falar do último desporto radical adoptado pela juventude daquela época, e que também ainda retém a sua popularidade - mas isso será no próximo post. Por agora, fiquem com uma reportagem de época (precisamente do 'Portugal Radical') sobre um dos primeiros eventos portugueses totalmente dedicados ao (então) novo fenómeno que acabámos de abordar...

 

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