Saltar para: Posts [1], Pesquisa [2]

Portugal Anos 90

Uma viagem nostálgica pelo universo infanto-juvenil português dos anos 90, em todas as suas vertentes.

Portugal Anos 90

Uma viagem nostálgica pelo universo infanto-juvenil português dos anos 90, em todas as suas vertentes.

07.04.21

Em quartas-feiras alternadas, falamos sobre tudo aquilo que não cabe em nenhum outro dia ou categoria do blog...

…como é o caso da literatura juvenil.

Não, não estamos a falar de banda desenhada; neste post, falamos de livros ‘à séria’, daqueles com capítulos e enredos, só que especificamente criados para agradar a um público infanto-juvenil - aquilo a que nos EUA se chama ‘middle-grade literature’. E os anos 90 foram, sem dúvida, pródigos em exemplos deste tipo de livro, muitos deles orgulhosamente ‘made in Portugal’, e cuja leitura nenhuma criança com alguma propensão para a palavra escrita dispensava.  É precisamente dessas séries de produção inteiramente nacional que este post vai tratar, ficando a próxima Quarta de Quase Tudo reservada para os representantes estrangeiros e traduzidos do género.

No que toca a séries infanto-juvenis concebidas e escritas por autores portugueses, destacam-se de imediato duas, ambas dirigidas ao tal público ‘middle-grade’ (compreendido, sensivelmente, entre o final da escolaridade primária e o final do 3º ciclo do ensino básico) e que fizeram, em maior ou menor grau, parte da infância de qualquer ‘puto’ com queda para a leitura.

eba326ded25e2ba3080aac4181a4a3eb-754x394.jpg

Alguns dos títulos da colecção Uma Aventura

Começando pelos produtos nacionais, não poderíamos escrever um post sobre literatura infanto-juvenil em Portugal e deixar de fora o seu expoente máximo. Concebida e iniciada ainda em inícios dos anos 80, a colecção Uma Aventura continua a ser publicada até aos dias de hoje, contando já com 62 volumes (estando o 63º previsto para sair neste ano de 2021) e prestes a completar quarenta anos de presença constante nos escaparates – e nas estantes das crianças portuguesas. E isto sem nunca ter sido redesenhada a nível do grafismo, ou cedido a quaisquer modismos desse género!

A razão do sucesso de Uma Aventura – que já foi adaptada para televisão e cinema, sempre com boa recepção – não é difícil de perceber. Tal como todas as melhores obras infanto-juvenis, a prosa trata os leitores como seres inteligentes, e perfeitamente capazes de perceber e apreciar livros escritos em linguagem simples, mas não simplista, e com enredos bem pensados e adaptados à sua realidade. Junte-se a isso um ‘cast’ de personagens memorável (incluindo os dois cães) e ilustrações cuidadas e com um estilo distinto e imediatamente reconhecível (da autoria de Arlindo Fagundes, colaborador das autoras desde o primeiro volume da colecção), e está concebida uma série intemporal, e pronta a agradar a gerações de crianças – como, aliás, vem sendo o caso.

download.jfif

O elenco de uma das adaptações televisivas da série

A receita aparentemente simples desta colecção – basicamente ‘Os Cinco’ adaptados à realidade portuguesa de finais do século XX – continua a revelar-se surpreendentemente versátil e ‘elástica’, e é de imaginar que enquanto a dupla de autoras Ana Maria Magalhães e Isabel Alçada tiver inspiração e público-alvo, a colecção não deixe de somar números. Qualquer que seja o seu futuro, no entanto, a verdade é que Uma Aventura já faz parte da malha cultural portuguesa, e que os anos 90 foram responsáveis por uma boa parcela do seu sucesso.

Ao mesmo tempo que Pedro, Chico, João e as Gémeas defrontavam malfeitores nos mais diversos lugares, um outro grupo de personagens disputava com eles o coração dos leitores entre os 7 e os 14 anos. Tratava-se do Clube das Chaves, uma série mais voltada para o mistério em detrimento da aventura, mas que partilhava com a sua principal ‘concorrente’ a escrita sofisticada, os enredos inteligentes e envolventes, e as ilustrações apelativas.

clube-das-chaves.jpg

As capas originais d''O Clube das Chaves', com as excelentes ilustrações de Luís Anglin

De facto, as ilustrações de Luís Anglin eram tão sinónimas com a série como as de Arlindo Fagundes com Uma Aventura, e se possível, ainda melhores que as da série da Caminho, com um estilo arredondado e ‘cartoony’ que traduziria muito bem para um formato de BD ou animado. Infelizmente, a série nunca fez sucesso que justificasse qualquer destes veículos, embora, como Uma Aventura, tivesse sido adaptada para TV, cinco anos após a publicação do último livro da série.

ac61506687531b671b836964f1259dae.jpg

O elenco da adaptação televisiva d''O Clube das Chaves', de 2005

A principal diferença da série de Maria Teresa Maia Gonzalez e Maria do Rosário Pedreira em relação a Uma Aventura, além do tom menos aventuroso e mais detectivesco, foi o facto de a mesma ter tido uma conclusão definida e, tudo indica, planeada. No total, a colecção teve 21 volumes, espalhados ao longo de exatos dez anos, o último dos quais fechou com ‘chave de ouro’ – passe o trocadilho – a epopeia dos irmãos Pedro e Anica, dos seus primos Guida, André e Vasco e do amigo Frederico para decifrar os mistérios das chaves do avô Cosme. No final da série - e um pouco ao contrário dos personagens algo ‘parados no tempo’ da série rival - todos os jovens eram fisicamente mais velhos, e por consequência mais maduros e com personalidades mais moldadas, oferecendo assim uma perspetiva muito realista do processo de crescimento e da adolescência.

Além destas duas séries, que constituíam leituras ‘por prazer’ para muitos jovens portugueses dos anos 90, destaque ainda para uma autora algo mais ‘mal-amada’ por aquele setor, sobretudo pelo facto de lhes ser ‘impingida’ na escola. Falamos, é claro, de Sophia de Mello Breyner Andresen, cujas obras ‘A Menina do Mar’ e ‘O Cavaleiro da Dinamarca’ foram parte inescapável da disciplina de Língua Portuguesa para muitas crianças do 3º ciclo durante aqueles anos (e, muito provavelmente, ainda hoje.)

abc7cd7daaae5cfa6201daa185a12699.jpg

Uma capa memorável para a maioria das crianças portuguesas dos anos 90 - pelas melhores ou piores razões...

Embora seja inegavelmente uma das grandes escritoras portuguesas contemporâneas, e a sua morte tenha significado uma perda considerável para a literatura nacional, Sophia é (ou era) bem menos consensual entre as crianças do 7º, 8º e 9º anos naquela década de 90. Apesar de praticar um estilo simples, as suas histórias apresentavam-se algo ‘pesadas’, não captando o interesse da maioria dos alunos forçados a passar um par de horas com elas, duas a três vezes por semana. Ainda assim, seria uma omissão de monta falar em literatura infantil nacional nos anos 90 sem mencionar estas obras, que – uns anos depois, e em retrospectiva – se afiguravam bem escritas e até algo envolventes.

Antes de darmos este post como concluído, espaço, ainda, para recordar outras séries de algum sucesso entre o público infanto-juvenil da época, como o Detective Maravilhas (de Maria do Rosário Pedreira, co-autora do Clube das Chaves, e com ilustrações novamente a cargo de Luís Anglin) ou O Bando dos Quatro, de João Aguiar, e baseada numa série televisiva. Embora nenhuma destas colecções tenha tido o sucesso de Uma Aventura ou O Clube das Chaves, ambas forneceram às crianças portuguesas de finais da década de 90 bom material de leitura, justificando a sua inclusão neste artigo.

15780746._SX120_.jpg500x.jfif

As séries 'Detective Maravilhas' e 'O Clube dos Quatro'

Como mencionado no início do post, em termos de Parte I, ficamos por aqui; a segunda parte deste tema será publicada daqui a 15 dias. Até lá, a sala é vossa – liam estas séries, ou outras? Qual a vossa favorita? Faltou-nos falar de alguma? Deixem as vossas opiniões nos comentários!

 

06.04.21

Porque nem só de séries se fazia o quotidiano televisivo das crianças portuguesas nos anos 90, em terças alternadas, este blog dá destaque a alguns dos outros programas que fizeram história durante aquela década.

Logótipo_de_Batatoon.png

Está no ar

O Batatoon

A alegria já está para chegar

Chegou o Batatinha, sempre a sorrir

E o Companhia para atrapalhar…!

Pois é, depois de na semana passada termos falado do ‘rei’ dos programa infantis durante a década de 90, hoje, chegou o momento de falarmos do principal rival – ou antes, sucessor – de Ana Malhoa nos corações das crianças portuguesas: o palhaço Batatinha, e o seu inesquecível e inimitável Batatoon.

No ar a partir de 1998, na ‘outra’ estação independente da televisão portuguesa, o Batatoon desfrutou – pensadamente ou não – do ‘timing’ perfeito para se tornar campeão das audiências infantis. Isto porque foi, precisamente, em 1998 que o Buereré deixou de lado o formato de auditório, para se tornar apenas mais um bloco de desenhos animados no horário pós-escolar das tardes de semana. O caminho estava, assim, aberto para que António Branco e Paulo Guilherme – mais conhecidos pelas suas identidades artísticas como a dupla de palhaços Batatinha e Companhia – apanhassem a ‘bola’ largada por Ana Malhoa e, no canal rival, erguessem um programa muito semelhante, e com tanto (ou mais) sucesso.

batatoon-e1547912374500.png

A dupla de apresentadores do programa

Por comparação com o Buereré, o Batatoon afirmava-se como um programa menos ‘foleiro’ e ‘over-the-top’, mais centrado nas rábulas dos dois palhaços e nos desenhos animados em si, e menos em convidados ou grandes números musicais coreografados – o que não impedia que o genérico inicial e final fossem acompanhados de coreografias próprias, das quais a mais conhecida e memorável é o inesquecível esbracejar ao som de ‘Ba-Bata-Batatooooooon!’

No entanto, tirando esses dois momentos, e o ocasional aniversário de um participante (também com música e danças a condizer), o programa deixava de parte o lado musical em favor das vinhetas em estilo ‘pastelão’ dos dois apresentadores, cujos vários anos de trabalho em conjunto – primeiro no ‘Circo Alegria’ da RTP, e mais tarde no ‘Vamos ao Circo’ da SIC – lhes outorgavam uma química invejável, que resultava em muitos e bons momentos de humor, sempre concluídos com o Companhia a levar um chuto em direção à mítica ‘portinha’ (que se presume fosse a propria porta de saída do estúdio, embora isso ficasse a cargo da imaginação dos espectadores.) O restante tempo era, para além dos próprios desenhos animados, preenchido por jogos e passatempos, tanto com a participação das crianças convidadas a assistir em estúdio como de participantes externos, através do telefone. A estes, o Batatinha fazia sempre questão de enviar um ‘presentão’ através do telefone, normalmente um produto licenciado do próprio programa.

E já que falamos em produtos licenciados, o Batatoon teve-os em número e variedade surpreendentes. Dos tradicionais puzzles e jogos a CDs de música, uma revista oficial, e até objetos mais insólitos como gabardines e guarda-chuvas, Batatinha e Companhia deram a cara – literalmente ou em versão ilustrada – a muito ‘merchandise’ durante aqueles anos, sempre com boa aceitação e vendas.

bracadeiras_0.jpg

Exemplo de um produto licenciado algo insólito, neste caso decorado com as versões ilustradas dos apresentadores do programa

No entanto, como é óbvio, este sucesso não se devia apenas ao carisma dos apresentadores e aos bons guiões do programa; tal como o Buereré, o Batatoon devia grande parte da sua audiência e popularidade aos desenhos animados que a estação de Queluz comprava e exibia. E, neste aspeto, o programa de Batatinha nada ficava a dever ao seu ‘rival’ de Carnaxide – pois se o Buereré havia tido os ‘Power Rangers’ e viria a ter as primeiras temporadas de ‘Pokémon’, o Batatoon tinha ‘Samurai X’ – ‘só’ o segundo anime mais popular da década em Portugal – ‘Alvin e os Esquilos’ e a série original de ‘Digimon Adventure’, além do também bem aceite ‘Sonic Underground’, e ainda séries como ‘Homens de Negro’ e ‘Godzilla’. Foi esta invejável selecção de ‘cartoons’ que levou tantas crianças a sintonizarem o quarto canal de TV, nas tardes de semana, entre 1998 e 2002. Como dizem os anglófonos, ‘they came for the cartoons and they stayed for the clowns’.

Samuraix.jpg

Provavelmente a série de maior sucesso da televisão portuguesa em 1998-99

Mas, como tudo o que é bom e faz sucesso, também o Batatoon encontrou, inevitavelmente, o seu fim. Fim esse que, rezam as lendas, se deveu a um arrufo, ao vivo e no ar, entre os dois apresentadores e parceiros criativos por trás do programa, que teria terminado à ‘batatada’ – ou seria à ‘Batatinha’ – e desfeito a ‘Companhia’… No entanto, uma rápida pesquisa na Internet revela que esta versão dos acontecimentos poderá não ser mais do que um mito urbano – dos quais aqueles anos estavam absolutamente pejados…

Ainda assim, para a história ficam quatro anos de enorme sucesso – metade dos do Buereré, mas a um nível talvez mais intenso no que toca a exposição mediática – e muitas séries que, sem Batatinha e Companhia, as crianças portuguesas talvez nunca tivessem visto. Por isso, deixem nos comentários as vossas homenagens a este marco da televisão infantil portuguesa. Até lá, beijinhos, abraços, muitos palhaços...e MÚSICA, MAESTRO!

             

 

 

05.04.21

NOTA: Por lapso, este post e o da passada sexta-feira foram publicados na ordem inversa. Retomaremos a ordem correta das rubricas no próximo ciclo.

Os anos 90 estiveram entre as melhores décadas no que toca à produção de filmes de interesse para crianças e jovens. Às sextas (ou às vezes às segundas, quando nos confundimos com a ordem do calendário) recordamos aqui alguns dos mais marcantes.

The-19-Greatest-Action-Stars-of-The-90s.jpg

E se no primeiro post desta série falámos de desenhos animados, hoje, rumamos no sentido quase exatamente oposto, e examinamos uma das outras grande ‘trends’ cinematográficas entre os miúdos daquela década, sobretudo os rapazes: os filmes de ação do tipo ‘explosivo’.

Todos (ou pelo menos todos os que gostavam do género) nos recordamos deles – os grandes épicos de ‘porrada’, tiros e explosões, protagonizados por machões com talento artístico inversamente proporcional ao tamanho dos seus músculos, nominalmente para adultos, mas (graças ao milagre do VHS e a grelhas televisivas algo previsíveis) vorazmente consumidos por toda uma geração ali a partir dos 7, 8 anos de idade.

Com expansão nos anos 80, e com génese nos filmes ‘exploitation’ da década anterior, estes filmes continuaram a estrear com regularidade, ao ritmo de dois ou três por ano, até pelo menos a meados da década de 90, com toda uma ‘segunda linha’ de série B a aparecer nos videoclubes em formato ‘direct-to-video’. Estes últimos eram, normalmente, protagonizados por ‘estrelas’ do calibre de Mark Dacascos, Don ‘The Dragon’ Wilson, ou a ‘Sonya Blade da vida real’, Cynthia Rothrock; no entanto, as produções maiores e mais caras apresentavam, normalmente, um de cinco ‘durões’ no papel principal:

arnold-schwarzenegger-in-last-action-hero-1993-alb

Schwarzenegger em 'O Último Grande Herói'

- Arnold Schwarzenegger. O futuro ‘Governator of California’ transformaria o estrondoso sucesso de ‘Total Recall’ e ‘Exterminador Implacável 2’ em mais uma década na ‘ribalta’, com filmes típicos do seu naipe, como ‘Eraser’ e ‘True Lies – A Verdade da Mentira’, e outros mais atípicos e voltados para a comédia, como ‘Junior’ ou o grande ‘Um Polícia no Jardim-Escola’. No entanto, muito do seu legado era devido à tecnologia VHS e à propria televisão, através dos quais as crianças ficavam a conhecer antigos sucessos como ‘Comando’. Eram dele, sobretudo, os filmes de tiros e explosões, embora, como mencionado, também tivesse revelado uma surpreendente veia cómica.

download.jfif

Stallone em 'Demolition Man'

- Sylvester Stallone. Qualquer realizador que precisasse de um brutamontes de poucas palavras e perpétua cara de mau tinha no ‘Italian Stallion’ a sua estrela de eleição. Com ‘Rocky’ já no retrovisor mas ‘Rambo’ ainda em grande (sobretudo, novamente, devido ao VHS), Stallone apresentava-se à nova geração através de ‘thrillers’ como ‘Cliffhanger’ e filmes de ficção científica como 'Demolition Man' ou 'Judge Dredd', enquanto arriscava, como Schwarzenegger, em alguns papéis mais cómicos. No entanto, neste aspeto, ficava bem atrás do austríaco, e os poucos filmes que tentou nesta veia rapidamente caíram no esquecimento. O que o público queria, verdadeiramente, era vê-lo a dar tiros e socos aos mauzões – e foi isso que rapidamente voltou a fazer.

original-6693-1514925016-6.jpg

JCVD na pose que o tornou famoso

- Jean-Claude Van Damme. Com este, não havia espaço para comédias - o ‘Muscles from Brussels’ derrotava mauzões a pontapés de karaté, e ponto final. Um dos atores mais lendariamente limitados da história do cinema de ação, o belga era, ainda assim, um ídolo entre os mais novos, muito graças a papéis em clássicos como ‘Kickboxer’ e ‘Força Destruidora’, além dos então recentes ‘Duplo Impacto’ e ‘Knock-Off – Embate’, este de John Woo. Haveria, ainda, tempo para JVCD deixar a sua marca naquele que é considerado um dos piores filmes de sempre, o mítico ‘Street Fighter – O Filme’, que vê o belga (com sotaque a condizer) interpretar o estereotipadamente americano Coronel Guile. Ainda assim, o ‘star power’ de JCVD era tanto que nem este papel descarrilou a sua carreira – pelo contrário, o filme foi um sucesso entre as crianças dos 90…

c3c0a4704286ae320ffb2102c4314f0c.jpg

Bruce Willis em 'Assalto Ao Arranha-Céus'

- Bruce Willis. ‘Die Hard’. ‘Nuff said. Embora menos popular entre a miudagem portuguesa que os restantes atores nesta lista, o eterno John McClane fazia ainda assim sucesso junto dos mesmos, com os seus filmes de ação brutos, diretos e cheios de explosões – com o bónus de, ao contrário dos outros, ser verdadeiramente bom ator.

download (1).jfif

Steven Seagal nos anos 90, ainda elegante

- Steven Seagal. E por falar em filmes de ação brutos, diretos e cheios de explosões, eis o rei dos mesmos. Antes de se tornar uma auto-caricatura anafada, Seagal era um artista marcial de cinema ao nível de Jean-Claude Van Damme, e a única razão porque era menos conhecido da miudagem portuguesa é que os seus filmes passavam menos por cá.

A par de outros nomes lendários, mas já em declínio (como Chuck Norris, Dolph Lundgren ou Patrick Swayze), eram estes os ‘role models’ cinematográficos dos rapazes dos anos 90, aos quais, no decorrer da década, se juntaria um sexto nome:

54075a70fb1d8d63e78bab62a5c09fd1.jpg

Keanu em 'Speed - Velocidade Sem Limites'

- Keanu Reeves. Revelado enquanto ator de ação pelo filme ‘Speed’, de 1994, o ex-ídolo romântico adolescente passaria o resto da década a fazer cinema ali na fronteira entre o ‘blockbuster’ e a série B até, em 1999, obter o papel principal num certo filme de ficção científica, e se tornar (ou voltar a ser) ídolo de toda uma geração. A reputação como ator de ação, mantém-na até hoje, graças a filmes como 'John Wick'.

Na segunda metade dos anos 90, este panorama alterar-se-ia um pouco, com o ocaso de Arnie e Stallone e as derrocadas de JCVD e Seagal, e com o aparecimento, nos seus lugares, de nomes como Wesley Snipes e Jason Statham, sem esquecer o contigente asiático, muito bem representado por Jet Li e Jackie Chan.

tumblr_onjk7xJZWr1v6w3juo1_500.jpg

Li e Chan nos anos 90

Ainda assim, durante três-quartos da década de 90, este tipo de filme revelou-se tão popular que até atores de géneros completamente ‘à parte’, como Will Smith ou Tom Cruise, tentaram a sua sorte – e com algum sucesso! Com o dealbar do novo milénio, a progressão natural do cinema – incluindo do cinema de ação – ditou a morte gradual deste tipo de filme; no entanto, qualquer ‘90s kid’ que veja – por exemplo – um dos filmes das séries ‘Missão Impossível’, ‘Velocidade Furiosa’ ou ‘Os Mercenários’ certamente se recordará daqueles tempos em que Van Damme ou Stallone representavam o píncaro da masculinidade, e em que vê-los dar ‘coças’ a vilões e seus capangas era suficiente para justificar um bilhete de cinema…

E vocês? Eram fãs deste tipo de filme? Qual o vosso ‘leading man’ favorito? Por aqui, era-se ‘team JCVD 4 lyfe’. Deixem os vossos testemunhos nos comentários!

04.04.21

É Domingo de Páscoa, e apesar de as tradições portuguesas não terem mudado muito desde aquela época - continuam a existir as amêndoas, os ovos e a caça aos mesmos, as missas e as interrupções letivas - porque não recordar um tempo em que na escola se passavam os últimos dias do período a pintar desenhos de coelhinhos, e em que receber um brinquedo extra-grande num ovo de Páscoa da Kinder era motivo de júbilo?

Boa Páscoa a todos!

9789722122627_1564509935.jpg

 

03.04.21

As saídas de fim-de-semana eram um dos aspetos mais excitantes da vida de uma criança nos anos 90, que via aparecerem com alguma regularidade novos e excitantes locais para visitar. Em Sábados alternados, o Portugal Anos 90 recorda alguns dos melhores e mais marcantes de entre esses locais.

E se da última vez falámos dos hipermercados, hoje vamos falar de um conceito que, a partir da segunda metade da ‘nossa’ década, passou a estar intimamente ligado aos mesmos: o do ‘shopping center’ moderno.

04a5.jpg

Inaugurado, em Portugal, pelo C. C. Amoreiras, aberto em 1985, o conceito de ‘shopping’ como hoje o conhecemos não viria, no entanto, a popularizar-se até inícios da década seguinte, com o aparecimento do CascaiShopping, em 1991. Ao passo que o Amoreiras era, ainda, apenas uma versão em ‘ponto maior’ dos centros comerciais de bairro, o CascaiShopping assumia, desde logo, o repto de ser a primeira versão portuguesa dos ‘malls’ norte-americanos, então também a viver o seu período de maior popularidade. Não obstante a sua localização periférica – bem menos acessível do que é hoje – a nova grande superfície não deixou de atrair a sua quota-parte de curiosos, enquanto os que não podiam ir sonhavam com salas inteiras só com máquinas de jogos ou mini-feiras populares completas localizadas no interior do recinto, entre outros encantos que se dizia existirem naquele local mágico…

                           cascais shopping 2.jpgdownload (1).jfif

A entrada do CascaiShopping e a famosa 'Divertilândia', localizada no seu interior, tal como eram em 1991

Apesar da existência destes precursores e pioneiros, no entanto, a verdadeira data de início da ‘moda’ dos ‘shoppings’ em Portugal seria o ano de 1996, em que o Norte apresenta ao resto do País a sua própria mega-superfície, o ArrábidaShopping, situado na zona com o mesmo nome, em Vila Nova de Gaia. Dois anos depois, em ano de Expo mundial, Lisboa aumentava a parada, inaugurando, de uma assentada, duas superfícies deste tipo: o Centro Comercial Colombo, na zona da Luz/Benfica, e o Centro Comercial Vasco da Gama, situado no próprio recinto da Expo 98, o hoje denominado Parque das Nações. A zona do Porto ‘empataria’ a partida ainda nesse mesmo ano, com a abertura do NorteShopping, em Matosinhos, ficando assim cada cidade com duas mega-superfícies.

download.jfif

A entrada principal do C. C. Colombo, em Lisboa

Agora, sim, Portugal tinha as suas próprias versões dos ‘malls’ americanos, as quais rapidamente se viriam a tornar tão populares como estes. Em Lisboa, o Colombo suscitava excursões organizadas e ‘romarias’ de fim-de-semana, semelhantes às que haviam ocorrido aquando da abertura do primeiro hipermercado em Portugal, conforme descrito na nossa última ‘Saída.’

Entre os mais fiéis ‘devotos’ destas novas superfícies estavam, é claro, os mais novos, que viam subitamente reunidos num só local vários dos seus principais interesses: hipermercados (e respetivas secções de brinquedos), cinemas, salas de jogos ‘arcade’ e, claro, diversas opções de comida ‘fast food’, desde as mais populares até outras recém-chegadas. Esta combinação de fatores, à época única, tornava os denominados ‘shopping centers’ autênticas ‘terras prometidas’ para os mais novos, e pontos de encontro de fins-de-semana e feriados para os um pouco mais velhos, para quem estas superfícies tinham o atrativo adicional das lojas de roupa ou tecnologia. No fundo, a cultura de ‘shopping’ em Portugal, conforme a conhecemos hoje em dia, teve aqui os seus inícios.

Ao longo da década seguinte (já no novo milénio) a presença deste tipo de superfícies em Portugal viria a aumentar exponencialmente um pouco por todo o País, ao ponto de as mesmas se tornarem corriqueiras e já sem o mesmo encanto daqueles primeiros representantes. ‘Shoppings’ como o El Corte Inglés ou o Freeport, que tinham propostas algo diferenciada, ainda conseguiram suscitar algum interesse e excitação, mas de modo geral, este tipo de superfícies tornou-se só mais uma parte da paisagem urbana portuguesa do Século XXI. Hoje em dia, até dentro de estádios já se podem encontrar cinemas ‘multiplex’ e áreas de consumo de ‘fast food’, algo outrora impensável fora do contexto de um hipermercado ou mega-shopping.

Para a história, no entanto, ficam aqueles primeiros ‘shoppings’ de Lisboa e Porto, que maravilharam e fizeram as delícias de toda uma geração. E vocês? Faziam parte deste número? Quais as vossas melhores memórias deste tipo de superfícies? Partilhem nos comentários!

02.04.21

Qualquer jovem é, inevitavelmente, influenciado pela música que ouve – e nos anos 90, havia muito por onde escolher. Em segundas alternadas (e às vezes às sextas, quando nos distraímos com a ordem do calendário), exploramos aqui alguns dos muitos artistas e géneros que faziam sucesso entre as crianças daquela época.

E se no nosso post inaugural falámos de um género que cativava quase todos os fãs mais jovens de música, hoje, falamos de outro – nomeadamente, o chamado ‘Europop’, ou ‘Eurodance’, aquele estilo feito, como o nome indica, por artistas oriundos do continente europeu, e que mistura batidas ‘techno’ com letras bem ‘cheesy’ e algum sentido de humor, para criar ‘hits’ feitos à medida para os meses de Verão.

Screen Shot 2013-10-02 at 12.34.20 PM.png

Alguns dos mais populares artistas do movimento Europop.

Durante os anos 90, parecia não passar uma única época estival sem que aparecesse um novo artista destes, com mais um hit pronto a ser cantado por crianças de Norte a Sul do País, e que normalmente desaparecia tão logo terminasse a referida época de férias. Havia exceções a esta regra, é claro; grupos como os lendários Aqua ou os não menos memoráveis Vengaboys conseguiram ter vários ‘hits’ seguidos retirados dos seus discos de estreia (chegando mesmo, no caso dos dois primeiros, a lançar segundos álbuns bem-sucedidos) e tornar-se parte da cultura ‘pop’ contemporânea, ainda que apenas com o estatuto de ‘meme’. No entanto, na esmagadora maioria dos casos, a tendência era mesmo para este tipo de grupos se transformar num ‘one-hit wonder’, daqueles que décadas depois suscita comentários do tipo ‘eh pá, lembras-te dos…?’

De Corona com o seu ‘Rhythm of the Night’ (de 1993) ao mítico ‘Blue (Da Ba Dee)’, lançado pelos Eiffel 65 já na reta final da década (e do século/milénio), vai quase uma década de ‘hits’ ‘eurodance’ que fizeram sucesso entre os jovens portugueses. A lista inclui ainda nomes como Whigfield (com o seu ‘Saturday Night’), Scatman John (intérprete de ‘Scatman (Ski Ba Bop Ba Dop Bop)’), Fun Factory (com a sua versão de ‘Do Wah Diddy’, original de Manfred Mann), Lou Bega (com o inesquecível 'Mambo Number 5') ou Cartoons, já para não falar dos referidos Aqua, Vengaboys e Bomfunk MCs - estes últimos autores da lendária ‘Freestyler’, hit máximo do Verão de 1998 em Portugal.

                 

Quando isto 'batia'...era a pura da loucura.

Claro que nenhuma destas músicas foi feita para se tornar um clássico; pelo contrário, o Europop era quase sinónimo com música descartável, para consumo imediato, e para vender milhões de discos no mais curto espaço de tempo possível. No entanto, um pouco por todo o Mundo (incluindo em Portugal) o efeito foi exatamente o contrário: as músicas não só se tornaram clássicos entre a geração mais jovem quando saíram, como aqueles que eram de uma certa idade na altura ainda hoje recordam com algum carinho os refrões da maioria delas (quem não deu por si a cantar pelo menos uma das músicas citadas no parágrafo anterior, que se acuse.) Mesmo quem passou a gostar de estilos mais ‘sérios’ e menos virados ao comercialismo e ‘airplay’ radiofónico retém dentro do coração um cantinho onde cabem todos esses ‘hits’ da infância e adolescência, algures entre a prateleira da música pimba e a dos Oasis, Guano Apes, Limp Bizkit ou Slipknot.

É claro que o movimento ‘Eurodance’ não se limitou aos anos 90 - a década seguinte teria também a sua quota-parte de ‘hits’ deste género, com a tão memorável quanto irritante versão de ‘Axel F’ pelo boneco Crazy Frog à cabeça. Mais tarde, artistas um pouco mais ‘sérios’, como David Guetta, seriam também inseridos neste estilo, dando-lhe assim alguma legitimidade. No entanto, não há também como negar que foi naqueles anos que a esmagadora maioria das canções mais memoráveis deste movimento foram lançadas, obtendo enorme sucesso junto de um público extremamente recetivo.

Hoje em dia, com a juventude mais virada para estilos como o ‘trap’ e o chamado ‘Soundcloud rap’, é pouco provável que artistas coloridos e inocentes como os que vimos naqueles anos voltem a singrar no meio ‘mainstream pop’ mundial; no entanto, é também verdade que os ‘hits’ lançados naquela década continuam a gozar de enorme popularidade, mesmo entre quem não é tão dado a nostalgias, justificando plenamente a sua presença neste nosso blog.

images.jfif

Não, este cartaz não é de um concerto de 1998. 'Europop is not dead'.

E vocês? Que memórias têm deste tipo de músicas? Quais as vossas favoritas? Deste lado, ficamos com ‘Dr. Jones’, dos Aqua, ‘Uncle John From Jamaica’, dos Vengaboys, e claro, a imortal ‘Freestyler’. Concordam? Discordam? Façam-se ouvir nos comentários!

01.04.21

Trazer milhões de ‘quinquilharias’ nos bolsos, no estojo ou na pasta faz parte da experiência de ser criança. Às quintas, o Portugal Anos 90 recorda alguns dos brindes e ‘porcarias’ preferidos da juventude daquela época.

as-cadernetas-de-cromos_DBz4-1.png

E se inaugurámos esta secção com os inesquecíveis Matutazos, hoje, falamos de algo não menos memorável e icónico para os ‘putos’ daquela geração: as cadernetas de cromos, sobretudo as editadas pela Panini, que detinha o monopólio quase absoluto deste género de publicação, e à qual poucas concorrentes ousaram fazer frente, e sempre sem sucesso.

logo-panini.png

Nos anos 80 e 90, este símbolo era praticamente sinónimo de colecções de cromos...

Apesar de os cromos ainda existirem e serem vendidos hoje, ninguém pode negar não só que os mesmos já não têm a mesma expressão que em tempos tiveram, como que os tempos áureos para este tipo de passatempo foram os anos 80 e 90. Durante estas duas décadas, cada nova propriedade ou moda que cativasse a criançada tinha direito a caderneta de cromos própria, a qual era (mais ou menos) avidamente colecionada e completada pela miudagem de Norte a Sul do País.

E dizemos ‘mais ou menos’ porque um dos principais fatores de fazer colecções de cromos era saber escolher QUAL a colecção a fazer. Por muito ‘fixe’ ou ‘in’ que uma propriedade ou ‘franchise’ fosse, se não houvesse uma quantidade significativa de outras crianças também a fazer a colecção, não valia de nada investir tempo nem dinheiro, pois não só não haveria com quem trocar os ‘repetidos’, como também se perderia outra das principais características deste tipo de coleccionismo: o direito a exibir a caderneta completa aos amigos que ainda continuavam à procura dos últimos cromos que lhes faltavam. Se mais ninguém estivesse interessado, tudo o que restava era uma caderneta, que a criança entretanto perdia a vontade de completar. Terá talvez sido por isto que tantas cadernetas de cromos caíram no esquecimento, com a maioria dos ‘putos’ a preferir investir nas perenes colecções do futebol – expoente máximo deste passatempo apreciado, sobretudo, pelos rapazes – ou esperar para ver o que ‘pegava’ no grupo de amigos ou lá na escola.

as-cadernetas-de-cromos_DBz6.pngDSCF0303.jfif

Duas das mais populares colecções de cromos nos anos 90, ambas editadas pela Panini.

Quando uma caderneta se tornava popular, no entanto, não havia volta atrás – até os jovens mais velhos, já demasiado ‘crescidos’ para tais criancices, entravam na onda, e eram vistos a trocar cromos nos corredores da escola tão afanosamente quanto qualquer ‘puto’ mais novo.

Era precisamente este aspeto coleccionista, de desafio e ‘gabarolice’, que tornava o ‘hobby’ dos cromos tão especial e divertido – e que, ao mesmo tempo, fazia com que as colecções lançadas já completas, com a caderneta e todos os cromos necessários e sem os famosos ‘repetidos’, se afigurassem tão pouco lógicas e fossem repudiadas pela maioria das crianças adeptas deste passatempo. Afinal, qual era a graça de ter ‘a papinha toda feita’, sem ter de trocar com os amigos nem comprar 30 saquetas numa semana à procura daquele cromo raro que ninguém parecia ter? Sem estes aspetos, mais uma vez, tudo o que sobrava era uma caderneta algo ‘parva’, e que nem demorava assim tanto a tornar ‘bonita’…

panini-batman-80-years-stickers-cards-blister.jpg

Exemplo de uma colecção lançada já 'pronta a completar'.

Terá, talvez, sido também por isso que o passatempo dos cromos caiu em desuso entre a geração ‘do ecrã’, que prefere o imediatismo de ter o conteúdo todo disponível de uma só vez, ao invés de ter de porfiar, esperar e trabalhar para o conseguir ter completo. Ironicamente, a Geração Z talvez gostasse daquelas cadernetas já completas que os Ys repudiavam – afinal, tratavam-se da versão em cromos daquelas series da Netflix, lançadas na Plataforma todas de uma só vez…

Ainda assim, um tipo de cromo resiste ainda e sempre ao invasor. Por mais que as gerações se sucedam e os seus gostos mudem, o futebol nunca, mas nunca passa de moda, pelo que não é de surpreender que as colecções dedicadas ao desporto-rei sejam das poucas a ainda sobreviver no formato ‘clássico’ que tanto deliciou as crianças dos finais do Século XX. É, no entanto, pouco provável que se venha a assistir a um renascer do ‘hobby’ dos cromos, tal como ele era naqueles tempos – a sociedade ocidental mudou demasiado para que pequenos pedaços de plástico adesivo possam cativar as crianças do mesmo modo que o costumavam fazer… Como diriam os Metallica, ‘Sad But True’.

Os ‘90s kids’, no entanto, nunca esquecerão este passatempo de eleição nos recreios de escolas, encontros de amigos ou atividades extra-curriculares. Pelo que resta perguntar: qual a mais memorável colecção de cromos da vossa juventude? Por aqui, foram a do Dragon Ball Z (claro), a da França 98, e também a da World Wildlife Fund e das motos de corrida, estas ainda nos anos 80. E vocês? De quais mais gostaram? Partilhem nos comentários!

Pág. 3/3

Mais sobre mim

foto do autor

Subscrever por e-mail

A subscrição é anónima e gera, no máximo, um e-mail por dia.

Arquivo

  1. 2024
  2. J
  3. F
  4. M
  5. A
  6. M
  7. J
  8. J
  9. A
  10. S
  11. O
  12. N
  13. D
  1. 2023
  2. J
  3. F
  4. M
  5. A
  6. M
  7. J
  8. J
  9. A
  10. S
  11. O
  12. N
  13. D
  1. 2022
  2. J
  3. F
  4. M
  5. A
  6. M
  7. J
  8. J
  9. A
  10. S
  11. O
  12. N
  13. D
  1. 2021
  2. J
  3. F
  4. M
  5. A
  6. M
  7. J
  8. J
  9. A
  10. S
  11. O
  12. N
  13. D
Em destaque no SAPO Blogs
pub